| Nº  158 - Trigo de InvernoJosé González Muñoz
 Os  camponeses russos, quando termina o outono e ainda podem trabalhar a terra,  aram os campos úmidos e semeiam uma variedade de trigo. Depois caem as  primeiras nevadas, o solo se congela, preservando com o frio a semente e a umidade  durante todo o inverno. Os camponeses se guarnecem em suas magníficas casas de  campo, ao redor da lareira que preserva o calor do lar, fazendo artesanatos,  lendo e jogando xadrez. Quando chega a primavera e os campos descongelam, o  trigo começa a germinar e a brotar, pois tem umidade até que amadurece. Vem a  colheita e outros trabalhos. A Rússia se autoabastece de trigo e assa saborosos  pães. Para eles, o pão é um símbolo da pátria.
 
 Aqui  em Mendoza, um oásis com rega artificial em meio ao deserto, há cultivos  parecidos com esse, de árvores frutíferas e vinhedos. Depois da vindima, ao  terminar o outono, é feita a última rega, enquanto as folhas ficam vermelhas,  amarelas e caem. As plantas parecem secas, esperando. Quando começam as  primeiras geadas fortes, com temperaturas abaixo de zero, os vinhateiros podam  as plantas, deixando alguns brotos para que cresçam na próxima estação. Amarram  as plantas nos arames e não regam mais, até que, na primavera, aparecem os  brotos verdes. Começam então a regar e a cuidar das plantas, incluindo  coberturas mecânicas contra granizo e aquecedores para as geadas. O mesmo  acontece com as árvores frutíferas. Quando chega o verão, colhem, fazem vinhos,  desidratam as frutas e dão trabalho a uma grande indústria de alimentos, que  abastece o mercado interno e exporta para todos os lugares. Nesta província, o  vinho é símbolo regional.
 
 A  Humanidade se encontra na grande mudança. Terminaram as manifestações desta  civilização com espetaculares festivais, a seu modo: guerras, tsunamis,  tornados, miséria e esplendores, o que vemos nos meios de informação todos os  dias. Uma quantidade desconhecida de homens novos se esconde em sua intimidade,  protegendo-se da tempestade, como o trigo do inverno enterrado nos campos da  Rússia e as raízes dos vinhedos, nos sulcos de Mendoza. Pão e vinho, símbolos  das espécies do Redentor, que são expressos nas missas, universalmente. As  almas aquarianas permanecerão refugiadas por muito tempo, até que passe o  inverno da História das Raças e novamente chegue a primavera da época  Americana, conduzida pelo Maitreya. Não tenham medo, se virem somente neve e  terra gelada. Chegará o tempo do sol, quando os Santos Mestres houverem  comprovado que os homens velhos desapareceram e que os novos surgem.
 
 O  único modelo sistemático para o começo da Raça Americana foi criado e dirigido  nos primeiros anos pelo Mestre Santiago, Precursor do Maitreya, e se estendeu  desde Buenos Aires em várias direções, chegando a outros países americanos. Em  1962, teve que deixar a obra aparentemente pela metade, para cumprir outra  missão. E Cafh começou a declinar, até seu término em 1984. Como um peixe fora d’água,  malogrou começando pela cabeça. Foi impossível impedir a dispersão das almas e elas  ficaram boiando nas correntes do mundo. Mas o Mestre havia deixado escrita a  Doutrina da Renúncia e bem guardada, havendo encomendado que a expandissem por  todo o mundo. Isso aconteceu no primeiro minuto do terceiro milênio - ano 2001  – através da Internet. E depois de dez anos, as Ensinanças estão sendo  consultadas e estudadas em todas as nações, em vários idiomas.
 
 Cafh  foi uma tentativa falida do Mestre Santiago para começar as primeiras  experiências americanas. Mas as tremendas tensões na crise dos foguetes  cubanos, a ponto de desencadear a guerra nuclear, abortaram-nas. Leia-se as  Ensinanças Doutrinárias e as Conferências de Embalse, e compreender-se-á quão  próximo esteve de chegar a uma estabilidade. Mas não era o momento. As duas  guerras mundiais não foram suficientes para produzir a mudança. Pelo contrário,  acentuaram os pares de opostos e a derrocada da condição humana. Primeiro os  homens da civilização cristã terão que cair, sem nenhuma possibilidade de  regeneração, antes que os brotos do trigo de inverno apareçam sobre o gelo.
 
 A  missão da Mensagem da Renúncia, expandida por todo o mundo, é recomendar aos  homens de boa vontade que se protejam, que vivam no mundo como estrangeiros,  sem que ninguém perceba o germe de nova vida que levam no coração. As  Ensinanças do Mestre Santiago não são para as massas nem as organizações. O  fracasso de Cafh é uma prova inconfundível. As Ensinanças são para o segredo da  alma, para a oração, para fortificar o homem nas experiências duras da vida  moderna e mais duras ainda em um futuro imediato. É o legado dos Santos Mestres  que devemos guardar zelosamente, como o fizeram aquelas Ordenadas que  custodiaram e protegeram as cópias das matrizes, as quais, no momento propício,  começo do terceiro milênio e da Raça, foram a base fiel das 777 Ensinanças do  Cânon.
 
 O  trigo russo dorme e espera vivo, protegido sob a terra gelada, enquanto na  superfície se intensificam os temporais. As raízes das videiras também  descansam no inverno de Mendoza, prontas para sair quando a seiva as  impulsionar para cima. As almas eleitas não descansam nem dormem. Elas  transladam o centro de suas atividades ao mundo interior, esse vasto espaço  desconhecido que espera ser descoberto através das múltiplas propostas da nova  Raça. A alma eleita é virgem e pura, e esperará ativamente durante todo o tempo  necessário, até que o sol da vida a chame novamente à ação, como se diz nas  primeiras frases da Ensinança 1, Hidrochosa.
 
 Há  muitas almas que vivem a mística da Renúncia, ainda que não sejam conscientes  disso nem defendam publicamente seu estilo de vida. São espontâneas e nasceram  com essa condição. Quando eram crianças se manifestavam naturalmente, como uma  qualidade da infância. Mas transcorreram os anos e as etapas da vida, chegaram  à idade adulta e permaneceram desprendidas das atrações da sociedade. Não vão  aos templos, não fazem as quatro orações de Maomé nem estão afiliadas a nenhuma  instituição religiosa. Repudiam a Festa da Vindima em seus diversos momentos e  não vão passar férias no mar. Mantêm a família com seu trabalho profissional,  comercial ou camponês e educam seus filhos como eles necessitam. Assistem pouca  TV ou nada. Algumas nem têm televisão nem Internet. Relacionam-se discretamente  com familiares e amigos. E, pode-se vê-las tranquilas, seguras, sem ambições  nem cobiça de posses alheias. A casa que têm, o jardim e um automóvel são  suficientes. Se se conversa com essas pessoas, percebe-se que estão conformes e  nunca falam de projetos de aparência nem de viajar a outros países, ainda que  estejam em condições de fazê-lo. Alguns pagam um dízimo de ingresso para alguma  obra de beneficência e entendem que isso é parte de sua responsabilidade pelos  dons que receberam da comunidade: educação, remédios, livros, água corrente,  eletricidade, alimentos, etc.
 
 Esta  maneira de ser e de viver, compartilhada com os seres queridos, não parece ser  uma corrente espiritual porque não tem títulos nem cerimônias - que sempre são  exteriores, para o que dirão. As almas que estamos descrevendo e que conhecemos  vivem intimamente o segredo da Renúncia, completamente interior. E ainda que  não haja publicidade, como nas religiões ritualistas, os resultados se  manifestam livremente no ser, em sua forma de viver harmoniosa e no respeito  que inspiram.
 Como  nas metáforas que utilizamos no princípio da Reflexão - o trigo e a videira,  ocultos na terra esperando a estação propícia para oferendar todas as suas  possibilidades - assim estas almas simples cumprem com as obrigações básicas em  meio a uma civilização adversa, guardando os tesouros da vida futura, contidos  na Mensagem da Renúncia.
 
 Acabo  de receber o jornal de Mendoza, quarta feira, 18 de maio. Aí está o mundo  moderno como todos os dias, descarnado, cruel, sem futuro.
 
 Notícias  internacionais: o Diretor Geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique  Strauss Kahn, espera julgamento em uma cela de alta segurança no cárcere de  Rikers Island em Nova Iorque, por agressão sexual e violação de uma criada, em  um hotel de prestígio dessa cidade. Foi detido a bordo de um avião da Air  France, quando tentava escapar para a França, procurando impunidade.
 
 Notícias  nacionais: A agenda da presidenta Cristina Fernández é segredo de Estado,  devido a seu mau estado de saúde. Será dada a conhecer, dia a dia. Cinco meses  antes das eleições, o vazio opositor deixou o governo solitário com seus  fantasmas, tanto em matéria política como nas mais imparáveis questões  econômicas.
 
 Notícias  locais: Comoção pelo brutal assassinato de uma jovem em Rodeo da Cruz, Mendoza.  Uma escola por dia é objeto de ataques vandálicos.
 
 Em  todos os recantos do planeta, tudo é igual. A Humanidade está globalizada não  só pelas comunicações, mas também pelos delitos cometidos. Essas notícias que  copiamos acima poderiam ter ocorrido em qualquer lugar do mundo e, de fato,  ocorrem. As massas atuam com a mesma conduta andróide em todos os âmbitos. Nos  lugares escuros e afastados da cidade acontecem violações, como as de Nova  Iorque. E seus atores têm o mesmo nível mental: Strauss Kahn do FMI em um hotel  de luxo e um peão agrícola em um descampado de Lujam de Cuyo, Mendoza.
 
 Temos  que aprender as leis da Renúncia e a praticar a reversibilidade. Quando não se  pode viver fora porque começa o inverno, a vida entra em recesso, refugiamo-nos  na interioridade, longe dos acontecimentos destrutivos. Na vida interior, como  o trigo enterrado e a raiz em descanso, sonhamos com um futuro potencial, os  atos que queremos realizar quando chegue o tempo vindouro, tornando-nos fortes  em nossa identidade, aprendendo a resistir.
 
 O  inverno da história é muito longo, muitas gerações, séculos, até que se produza  a mudança. Seguramente não veremos a primavera, mas somente a destruição. A  missão é preservar e difundir a Mensagem da Renúncia que nos foi entregue pelos  Santos Mestres, até que os homens novos possam ver o sol da primavera.
 Maio de 2011
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