REFLEXÕES
O Sr. José González Muñoz partiu para os planos do espírito no dia 5 de agosto de 2011. No arquivo de seu computador, encontramos sua última Reflexão, inconclusa, não corrigida, que incluímos no site do Mestre Santiago, como contribuição final de sua obra escrita. Assim, sua inspiração e a Graça da Divina Mãe permitem anunciar a despedida de nosso grande amigo e companheiro. A Humanidade reconhecerá no futuro, José, como um Filho da Divina Mãe que teve que enfrentar enormes dificuldades em sua passagem terrena e que deixou o legado do Mestre Bovisio para todos os homens, sem separatividade, que é a base do homem do novo tempo. Em um parágrafo de sua última Reflexão, José medita: “O Caminho para o Céu é íntimo, secreto e tem um só espectador, seu protagonista, o caminhante... O Caminho para o Céu é meu, seu, dos homens e apenas começa”.
Nº 162 – O Céu e a Terra
As tradições de todos os tempos falam das origens do mundo e de seus criadores, qualquer que seja o lugar e o grau de evolução cultural. Até os povos primitivos, esquimós, bosquímanos, têm suas concepções sobre o Céu e as expressam a seu modo, com personagens e animais fantásticos, como dragões, gigantes e anões. Alguns, por trás das formas populares, escondem uma grande concepção cosmogônica, como o Popol Vuh, as lendas chinesas. Outros se expressam com ideias e linguagem mais próximas a nós, como o Gênese, as religiões assíria, babilônica, os Vedas, a mitologia grega. Conhecer as origens é uma necessidade inconsciente e assim como reconhecemos nossos pais humanos, avós e os anteriores, a Humanidade quer conhecer seu ponto de partida. Até os sábios da Física estão empenhados, junto a grandes organizações internacionais e grandes orçamentos, em descobrir essa porta inicial: na Europa, foi ativado o maior acelerador de partículas, um túnel circular de 25 quilômetros sob a terra, esperando repetir o fenômeno da Criação da matéria, o chamado efeito Big Bang, já predito pelos hindus com “a respiração de Brahman”.
Nas Ensinanças esotéricas do Mestre Santiago, “Cosmogonia”, “O Sistema Planetário”, “O Devenir”, é dada uma ampla informação sobre as tradições mais antigas que seguiram a corrente egípcia, totalmente diferente da filosofia judaico-cristã. Mas, umas e outras deixam insatisfeitos os estudantes modernos porque não ensinam os caminhos para ter acesso ao Céu, ao Criador do mundo. Vivemos separados. As Ensinanças que descrevem os diferentes planos das dimensões astrais, mentais e outros mais sutis, em outras idades do passado, eram vida cotidiana para os Atlantes e agora só o são para uma pequena minoria de clarividentes. O homem comum os ignora. Vive na matéria e no que este mundo pode oferecer-lhe, com grandes sacrifícios e em pequena escala: comer, reproduzir-se, os prazeres, as ilusões da televisão, ganhar nas competições. Depois, as doenças, a velhice e a morte, como conta a lenda de Sidarta, o Buda.
O Caminho da Renúncia ensina o modo de ter acesso aos Céus por meio do esforço continuado, do desapego de todas as coisas humanas, do afastamento da sociedade de massas, como está bem explicado em “A Mística das Cinzas de São Paulo da Cruz”. A mística, em suas diferentes formas, é a Escada para o Céu e não há outra. Passará o tempo e a nova Raça a percorrerá.
Para que um Caminho para o Céu seja certo e efetivo tem que estar ao alcance de todos. Alguns confessionais, como os dos místicos das Ordens monásticas de clausura, Carmelitas, Trapenses, Capuchinos, Tibetanos, Sufis, etc.. Outros para pessoas comuns, que encontram a disciplina mais adequada a seu temperamento e situação social, acatando-a honestamente, trabalhando em escritórios e no campo, praticando a oração operativa, de acordo com o que está estabelecido. Os que têm capacidade intelectual, aprendendo e ensinando os conhecimentos das ciências, em salas de aula e em laboratórios. Além desses, os valentes defensores da liberdade nos movimentos revolucionários, Vietnã, Palestina, Afeganistão. Leia-se o “Bhaghavad Gita” e o “Ramayana”.
O Caminho para o Céu é democrático, para falar na maneira popular atualizada. Teoricamente, está ao alcance de todos os que estão em condições de empreender a caminhada. Mas, desgraçadamente, são tão poucos os que o desejam e o entendem, que a brecha é intransponível, salvo para alguns desconhecidos que, secretamente, dão os primeiros pasos. O principal obstáculo é a opressora presença da sociedade moderna, com todos os seus instrumentos psicológicos funcionando plenamente, que já denunciamos centenas de vezes nestas páginas. E será preciso esperar muitos anos, antes que Hidrochosa comece a atuar para sua mudança. Antes que isto ocorra, a sociedade moderna terá que desaparecer, como já está acontecendo entre seus protagonistas, devido a contradições internas insuperáveis. Com 7.000 milhões de seres humanos ocupando o globo terrestre, a única preocupação que têm é sobreviver, já sejam os favelados de Buenos Aires, os imigrantes ilegais nos Estados Unidos ou os milionários bolsistas de Nova Iorque.
O Caminho para o Céu é íntimo, pequeno, secreto e tem um só espectador, seu protagonista, o caminhante. Nada a ver com as grandes figuras das religiões do passado, São Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, as crianças de Fátima, nem com os personagens internacionais do presente, o Papa Ratzinguer, o Dalai Lama, o Patriarca de Moscou e tantos outros funcionários das instituições espirituais das nações. Estas personagens pertencem ao passado, à velha Raça das coletividades de massa e arrastam as normas, os sentimentos e as ideias que as fizeram crescer. O que se pode fazer com elas? Nada. Prosperam, à medida que acrescentam seu patrimônio material e cultural, até chegar a limites inquietantes, como as viagens de João Paulo II pelo mundo, enchendo os estádios de futebol com milhares de fiéis. Jesus não tinha nada, economicamente falando, só o Evangelho e sua vida. E ele a deu! Esse é o mundo velho que está terminando ante nossos olhos, a civilização cristã. O Caminho para o Céu é meu, seu, dos homens e apenas começa.
Há muitos anos, no verão de 1960, eu vivia na Comunidade de Ordenados de Embalse, Córdoba. Um dia, depois do silêncio da tarde e do lanche, caminhava para meu trabalho e, ao passar frente à casinha do Mestre, dom Santiago saiu com um pedaço de pão na mão, mastigando com prazer. “Que gostoso é o pão, senhor José”. Não respondi. Ele praticava a mesma observância que nós. Passaram-se os anos. O Mestre morreu. E agora, nas montanhas de Mendoza, sob o Cordón del Plata nevado, quando me levanto cedo e vou à lareira, tomo um gole de água da jarra e repito: “Que gostosa é a água, Mestre!”. Depois, quando o fogo começa a crepitar com alegres chamas de troncos, repito: “O fogo é a coisa mais bonita neste mundo”. E penso na mãe Abbumi, a máxima autoridade astral da Ordem do Fogo. Assim começo a cada dia meu Caminho para o Céu, um milímetro mais alto que ontem. Começar bem o dia é avançar a metade da jornada.
A maioria das tradições mostra os deuses fundadores da espécie humana trabalhando intensamente no princípio, formando todos os elementos necessários para a vida, alimentos, segurança, inteligência e as coisas básicas para começar a evolução. Salvo na mitologia grega, onde os deuses se misturavam e intervinham diretamente nos acontecimentos humanos, na Guerra de Tróia, na Odisseia e em outros. No Gênese é diferente. Deus trabalha intensamente durante seis dias, contruindo o mundo e o homem. Mas depois descansa e deixa os homens à mercê dos vaivens da luta diária, para bem e para mal. De vez em quando, os Santos Mestres enviam um grande Iniciado para que corrija o desenvolvimento integral do homem, de acordo com as etapas do Plano Divino. Passou-se a metade das Raças, as quais começaram há milhões de anos. Em algumas, como a Atlântida, os homens com poderosas forças psíquicas viviam em permanente contato com o Cosmos e com os diversos planos da realidade. Na atual Raça Ária, perderam suas qualidades superiores e, abandonados ao mundo, estão conquistando integralmente a matéria como comprovamos diariamente. As Ensinanças da Renúncia explicam amplamente estes processos que agora transcorrem em um momento crítico de mudança, no encontro com a sub-Raça Americana ou Aquário.
O Céu e a Terra estiveram separados durante muito tempo na consciência humana. Os textos dos místicos ensinam que os Mestres podem escutar e ver todas as coisas dos humanos, e que eles ajudam em segredo. Mas os homens não podem ver os Deuses, com exceção dos clarividentes. Além disso, comportam-se como se eles não existissem e atendem somente seus impulsos. Já é hora de que se estabeleça um diálogo mútuo entre Aqueles que dirigem o destino e nós, os terrestres cegos e surdos. Já é hora da mudança…
José González Muñoz
Agosto de 2011
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