INDICE:

Ensinança 1: Esquemas de Meditação
Ensinança 2: A Transição
Ensinança 3: Textos para a Meditação Discursiva

Ensinança 4: Meditação Afetiva sobre a Dama Negra e o Abismo
Ensinança 5: Meditação Afetiva sobre Os Dois Caminhos e o Estandarte
Ensinança 6: Meditação Afetiva sobre O Templo de Ouro e O Véu de Ahehia
Ensinança 7: Meditação Afetiva sobre a Ressurreição de Hes
Ensinança 8: Meditações Afetivas Passivas
Ensinança 9: Outras Meditações Afetivas Passivas
Ensinança 10: Meditações Afetivas Estimulantes
Ensinança 11: Outras Meditações Afetivas Estimulantes I
Ensinança 12: Outras Meditações Afetivas Estimulantes II
Ensinança 13: Outras Meditações Afetivas Estimulantes III
Ensinança 14: Fim das Meditações Afetivas Estimulantes
Ensinança 15: Monólogo de Preparação para a Meditação
Ensinança 16: Monólogos Imaginativos de Preparação para a Meditação

Ensinança 1: Esquemas de Meditação

Em Cafh, o primeiro voto marca o nascimento a uma nova vida.
Ele implica a necessidade de rever os velhos conceitos que estruturavam o modo de sentir, pensar e atuar.
Esta estrutura determinada de sentimentos, pensamentos e de seu correlativo agir, compunham o Homem Velho e havia sido edificada a partir de premissas que davam como única realidade, a constituída pelo corpo físico e por suas necessidades. Depois do voto, segue-se sendo homem, mas agora, unido à Divina Mãe. Começa a apontar outra escala de valores e começa a perfilar-se, timidamente, outro qualificativo: novo. Homem Novo. Depois do voto a alma cede sua vontade e a aplica para se dirigir ao Divino. Desde aquele momento, deseja-se ser alma, e para isso é necessário aplicar a vontade em utilizar todos os recursos humanos, para se dirigir ao Divino, para responder ao chamado do Amor Divino. Esta resposta amorosa pode ser atualizada mediante o ato da meditação. É possível utilizar os mesmos meios, dados pelo fato de ser homem – e que antes serviam somente para afirmar falsamente a preeminência do físico, do corporal, tornando-os, em muitos casos, fins em si – em sua pura condição de meios para responder ao chamado divino. Isto supõe um exercício: o exercício da meditação. Não se deve esquecer que se tenta utilizar os mesmos meios para fins diferentes. Antes, todos eles serviam para incentivar os valores mentais e pessoais; com o exercício da meditação, vamos conseguindo, através de um novo hábito, que eles atuem exclusivamente sobre a alma.
Utilizando o símile do rádio poder-se-ia dizer que o amor da Divina Mãe equivale às ondas hertzianas; os valores mentais e sentimentais equivalem ao aparelho rádio receptor. O esforço para sintonizar equivale ao exercício de meditação. O estado de meditação equivale ao alcance do ponto exato de sintonia. A maravilhosa sinfonia do Amor Divino está presente em tudo, mas para captá-la, dispõe-se unicamente do rádio receptor formado por pensamentos e sentimentos. Estes devem ser utilizados e, para encontrar a sintonia anelada, deve-se experimentar, movendo continuamente o dial. Esta atitude de busca pode ser assimilada à atitude assumida no exercício da meditação. Quando foi encontrado o ponto de sintonia, quando a sinfonia divina se manifestou, sem interferências, para quê seguir movendo o dial? Mover o dial foi um meio para afinar o aparelho e fazê-lo apto a captar o Divino.
O Superior há de ser aquele que regula e administra o desenvolvimento dos diferentes tipos de exercícios de meditação. É aconselhável que o Filho, em sua conferência com o Superior, informe-lhe até o mínimo detalhe, sobre todas as experiências acontecidas em sua prática, sejam formais ou de fundo.
Meditação Discursiva: criação da imagem. Dialoga-se com ela. Duas metas: uma natural e a outra sobrenatural. A natural: discernir sobre as coisas da vida diária para fazê-las gravitar em um método digno do Homem Novo; um método de vida exterior adaptado à idiossincrasia íntima; mas tudo isto, para a meta sobrenatural; ser cada vez mais apto para captar o Amor da Divina Mãe, conseguindo que os atos cotidianos sejam um reflexo da comunhão cada vez mais próxima com Ela.
Meditação Afetiva: divinização do sentimento. Toda a gama de sentimentos comuns, elevados a um plano superior e transcendente por amor à imagem criada. Invocação: passo preparatório onde se consegue aquietar os vórtices exteriores e internos, concentrando a aspiração íntima na súplica. Quadro Imaginativo: inicialmente, para facilitar, tomados os quadros da vida pessoal que hajam provocado determinadas sensações. Sensações: à medida que se descreve este quadro, vão sendo liberadas, por assim dizer, capas emocionais jacentes no subconsciente, até elevá-las ao nível da consciência que agora está alerta por uma vontade amorosa. Nas Sensações, são valorizadas; especula-se com elas. Depois, elevam-se ao plano espiritual, realizando-se uma verdadeira transmutação de valores humanos em valores divinos. Propósitos: hão de ser simples, concretos , sobretudo, humildes. É mais fácil para o homem morrer por seus princípios do que viver de acordo com eles. Exemplo: se foi suscitado um sentimento de aborrecimento pelo caráter irritável, nada de generalizações dizendo: prometo não me irritar nunca mais. Antes, dizer: prometo que durante o dia de hoje controlarei meu caráter, elevando meu pensamento à Divina Mãe no momento preciso em que algo possa irritar-me; e, se cair, serenar-me, pedindo perdão à Divina Mãe. Conseqüências: passo de esclarecimento e conclusões. Especula-se, não já com o sentimento provocado, como nas Sensações, mas sobre os efeitos produzidos. Chegou-se a compreender. Resumo Místico: verdadeiro quadro sinóptico que serve para gravar as partes essenciais da meditação realizada.
Meditação Sensitiva: recreiam-se interiormente, por um esforço imaginativo da mente, as sensações que poderiam ser percebidas, utilizando-se cada um dos sentidos físicos. Prescinde-se deles, desenvolvendo-se assim os sentidos astrais. Amplifica-se desta maneira, o raio de ação, dando à consciência a possibilidade de utilizar e dominar outro veículo para sua experimentação. Lembrar que esta, apesar de ser importante, não é a meta superior. Esta consiste na transmutação consciente e amorosa dessas sensações criadas imaginativamente e tingidas de um sentimento predeterminado, em um bem da alma, um bem espiritual. Consta de: Invocação: as mesmas características do mesmo passo das meditações afetivas. Sensações: a fim de evitar a interrupção da atenção, é recomendável fixar de antemão uma direção de cima para baixo, segundo a localização dos diferentes órgãos dos sentidos, começando por: olhos, ouvidos, nariz, boca e pontas dos dedos. Súplica: neste passo, pede-se à Divina Mãe a ajuda para que todas estas sensações, espiritualizadas, fiquem como poderosa vivência na alma.


Ensinança 2: A Transição


O fato de que as coisas deste mundo morram, é um juízo que surge no entendimento do homem, por meio da mais simples observação.
O Sem Princípio, o que É, o Imortal, é intuição, vislumbre irracional de uma ordem divina, daqueles seres que puderam e souberam potencializar seus valores internos e essenciais.
O homem comum só pode comprovar facilmente que tudo o que nasce, o que tem um princípio neste seu mundo, leva em si o germe de sua destruição. Sabe-se então, que tudo o que nasce há de morrer.
Mas esta terrível certeza, que a própria razão entrega ao homem, faz com que o Homem Velho, que não quer morrer nem quer saber da morte das coisas necessárias e queridas para ele, invente mentiras para si e que, sobre elas, edifique um método de vida, com o qual possa defender suas conquistas. E, como todas elas fenecem, já que o eterno não é seu atributo, engana-se uma vez mais, buscando o perdurável na quantidade. Muitos amores, muitos conhecimentos, muito dinheiro, muito poder.
Algumas mentiras do Homem Velho podem ser sutilíssimas, como as que lhe oferecem uma falsificação de eternidade, através do “sobreviver em meus filhos” ou “sobreviver em minha obra”, fazendo, em ambos os casos, ainda em seu aspecto mais idealista, prolongações de sua própria personalidade e, como tais, prolongações ao rés do chão.
Mas o homem que quer deixar de ser o Homem velho, que quer ser Homem Novo, não se engana.
Quando a parte superior de sua alma ilumina internamente seu ser com luz que é Divina e Eterna, e lhe mostra a senda em um vislumbre – e ainda quando depois, seu fulgor se atenua e volta à carga, a parte inferior de sua alma com seu arsenal de mentiras – o nascente homem novo, sustentado pelo Amor da Divina Mãe, aguça seu olhar interior, observa expectante na transitória obscuridade e medita sobre os valores dessas mentiras.
Reflete, entre outras coisas, sobre a morte, sobre “sua morte”. E como agora olha desde sua parte essencial, vê a morte como algo transcendental e solene, mas já não a teme. “Sabe” que a morte é como um portal através do qual se prolonga essa senda que vislumbrou, para outro mundo de possibilidade. E se prepara para quando lhe caiba franqueá-la. Preparar-se para a morte significa não perder um só instante em alimentar apegos a coisas transitórias e ao próprio “eu” mortal, mas pelo contrário, exercitar-se na contemplação das coisas divinas, ajudado por hábitos novos que, como o da meditação, sirvam-lhe para transmutar seus valores humanos e pessoais em valores divinos e unitivos que façam de sua vida um amoroso cumprimento dos planos da Divina Obra.
Quando chegue a hora em que terminem suas possibilidades atuais, poderá assim morrer como o santo que, havendo vivido segundo a Vontade da Divina Mãe, entra na morte anelante de seguir participando da Grande Obra. 


Ensinança 3: Textos para a Meditação Discursiva


Qualquer que seja a atividade que um homem empreenda, tem necessidade de orientação.
Se essa afirmação tem, para todos, a simplicidade e a força de um axioma, para o ser que quer seguir pela senda espiritual há de converter-se em um anelo fervoroso e íntimo de fazer-se apto para captar a ajuda que, desde os planos superiores suprafisicos, os Santos Mestres estão oferecendo constantemente.
O ser espiritual sabe que as debilidades de sua parte humana e sua própria razão obscurecem o caminho a percorrer e que somente com a guia dos Santos Mestres poderá chegar à Divina Meta.
No caso particular dos Filhos, eles sabem que essa ajuda divina é captada pelo Superior, e que chega, por esse canal, aos Filhos.
Mas, deve-se insistir no símile do rádio receptor. Essa ajuda, essa guia divina, só pode fazer-se efetiva no Filho que, com amorosa vontade, esforça-se em sintonizar com ela.
Esse anelo amoroso da alma pode chegar a ser diminuído em seu poder e ainda desaparecer, pela influência dos véus negativos que se espessam na proporção em que o Filho é indolente em cumprir com as práticas da vida espiritual.
É nesses momentos que os hábitos envelhecidos recobram forças e o Filho sente o frio do desamparo; não pode negar a presença invisível dos Mestres, mas nota que se faz morno o fogo místico que ardeu com força nos momentos de entusiasmo e exaltação.
Tudo isso foi possível porque permitiu à personalidade dirigir sua eleição e porque as coisas brilhantes e espetaculares do exterior atraíram sua atenção, fazendo com que voltasse para fora aqueles mesmos valores pessoais que antes se havia esforçado em transmutar – através da oração, da meditação, das asceses espirituais – em bens da alma.
Mas, como o amor e a ajuda dos Santos Mestres estão compenetrando ininterruptamente toda a criação, pode o Filho voltar desse vazio, dessa obscuridade, para a luz dessa graça eternamente presente e reencontrar-se em sua essência com o Mestre que, amorosamente, esperou seu retorno.
É então quando o Filho, pela glorificação dos Santos Votos pronunciados, remove as pedras de seu sepulcro de carne e personalidade e, fervoroso, dirige-se para os céus abertos de uma verdadeira ressurreição. Vai deixando atrás de si, como humildes oferendas à Santa Mãe, a carga de seus apegos humanos. Vazios dolorosos ficam em seu interior cada vez que desarraiga um daqueles, mas logo são cumulados pelo Amor divino e pela Verdade divina que inundam sua alma através do reatado diálogo amoroso com o Mestre.
E esse reconhecimento íntimo e secreto que o Filho sente, de que a Grande Obra de Deus se está cumprindo em sua alma, ilumina a senda do retorno para o Lar Eterno.
O Filho deve esforçar-se e não deve se desesperar, atento sempre em amorosa vigilância para não claudicar na luta por chegar à Grande Meta vislumbrada e, assim como fez na senda da dor das pequenas e grandes renúncias, seguir avançando agora que ressuscitou para a verdadeira vida, para o encontro unificador com o Divino Mestre. 

 
Ensinança 4: Meditação Afetiva sobre a Dama Negra e o Abismo

       Um homem sem projeção para o sobrenatural, que reflete sobre o que percebe das relações humanas, chegará à conclusão de que tudo está perdido para ele.
Comprovará, por exemplo, que as palavras - especialmente aquelas que designam atitudes morais ou éticas, pronunciadas pelos homens de hoje - são meros sons convencionais que traduzem aspectos parciais, superficiais e, na maioria das vezes, falsos, daquelas atitudes. Amor é prazer carnal, luxúria, posse para si; pureza, hipocrisia; liberdade, irresponsabilidade; bondade, debilidade de caráter, e assim por diante, com todas.
Dito de outra forma, comprovará que o sentido das palavras perdeu essencialidade, como conseqüência de pensamentos limitados, intranscendentes, egoístas.
Deste tipo de pensamentos nasce, por lógica, um modo de viver limitado, intranscendente e egoísta. E quem se limita, quem não transcende, quem vive para si, está sempre preocupado em viver o exterior, criando separatividades que, finalmente, convertem-se em suas inimigas, em novas fontes de mal.
Um homem assim é como um parasita no jardim de Deus. Tudo o que está fora dele, quer para si, tudo engole e o que não pode digerir, expulsa, mas manchado, marcado, envenenado por seu próprio rancor, ao não poder utilizá-lo.
O Filho da Divina Mãe comprova tudo isto, mas sabe que Ela não abandona Seus Filhos. Percebeu seu chamado doce e débil, desde o profundo de seu próprio coração e iniciou o lento caminhar, assistido pelos Santos Mestres que o orientam através dos labirintos que a Dama Negra levanta diante dele.
Sem essa ajuda dos Santos Mestres, não poderia sair deles; mas, como é ele quem deve passá-los, também necessita de todas as suas forças e de todos os seus esforços para vencer.
Arma-se então com o aborrecimento de todos esses males que o tornavam um parasita do jardim de Deus. Com o aborrecimento de seus próprios males, cumpre-se a inicial mudança fundamental que o faz apto a transitar a senda do retorno a seu Tabernáculo Sagrado, onde o espera amorosamente a Divina Mãe.
Mas essa senda se afunda no escuro Abismo da Desolação.
À medida que caminha nessa direção espiritual, vai se afastando cada vez mais da pátria dos homens. A Pátria Celeste está distante ainda, oculta, misteriosa. Inflamado de amor pela Divina Mãe, renunciou a seu passado, aborreceu tudo o que antes o identificava com o meio ambiente da pátria velha. Pronuncia então, as mesmas palavras que os demais. Mas, como seu sentido variou, não encontra compreensão. E se dilacera em sua solidão entre a morte agônica de sua personalidade passada e o chamado do novo amor que o levou a esse transe de renascimento, onde se agita desnudo e inerme como um recém-nascido.
E, como um recém-nascido, encontra mãos carinhosas para cuidar dele e defendê-lo; clama por alimento, e são os Santos Mestres aqueles que o dão. E a desolação terrível se faz porvir espiritual. Por ela, o recém-nascido se faz menino, e logo será o Homem Novo, Peregrino incansável em direção à União Substancial com a Divina Mãe.


Ensinança 5: Meditação Afetiva sobre Os Dois Caminhos e o Estandarte

       O ser que, com a ajuda dos Santos Mestres, aborreceu sua vida anterior e se aprofundou no abismo da desolação, tem ante si o Caminho que leva até o cimo do Monte. Não pode então, permanecer unicamente aborrecendo sua personalidade e sentir-se desolado entre um mundo que rechaçou e o Céu que vislumbra, porque o novo caminho que enfrenta, é um imperioso convite ao caminhar liberador.
Impõe-se, por isso, a reforma de sua vida. Deve transformar-se no Homem Novo para o Caminho Novo.
Quando uma coisa é reformada, algo dela morre. E quando um ser quer reformar sua vida, deve morrer naqueles hábitos que estruturavam sua velha personalidade.
Seus velhos hábitos faziam com que fosse um parasita no jardim de Deus. Suas potências pessoais estavam estendidas agressivamente para fora, em uma permanente atitude de defesa contra o meio ambiente e, ao mesmo tempo, como um vampiro, sugando tudo o que pudesse nutrir sua personalidade.
São estes hábitos os que devem morrer e, para isso, o ser há de fazer novos hábitos. Mas trocar os hábitos exteriores é coisa relativamente fácil, se forem substitui por outros. O verdadeiro valor dos novos radica somente em que sejam capazes de favorecer a morte verdadeira: a interior.
Porque os hábitos interiores são os mais difíceis de desarraigar. Os afetos humanos, os passados prazeres, os triunfos que louvaram a própria vaidade, as velhas idéias, os preconceitos interesseiros. Todos eles não podem ser, como os exteriores, substituídos por outros. Cada vez que o ser se desarraiga de um deles, fica em sua alma um vazio que somente pode ser preenchido pelo Amor da Divina Mãe. Mas, para que esse Amor Divino possa realizar na alma sua ação cumulativa, o ser deve se fazer mais e mais puro; seu eu pessoal e ilusório deve morrer mais e mais.
Este é o verdadeiro Grande Desapego. Aquele que é íntimo, interior, secreto.
Aquele com o qual o ser se desarraiga de hábitos que antes lhe pareciam sua própria alma e que pouco a pouco, dolorosamente, vai deixando atrás de si como oferendas à Divina Mãe.
Todo esse desapego, todo esse doloroso verter gota a gota de seu sangue humano, não é em vão.
O olhar exterior do Homem velho já não é seu olhar. Agora que olha como Homem Novo, vislumbrou o Estandarte onde sabe que, em luminosas letras, está escrito seu verdadeiro nome, aquele que perdeu de vista quando se cobriram seus olhos espirituais com os véus da ilusão.
O ser se identifica desde já com esse Estandarte Sagrado. Fixa seu novo olhar nele, percorre o Caminho. Aprendeu que esse Caminho passa pelo mundo dos homens. Desde ali, olha o mundo com olhar compreensivo e amoroso; vive no mundo desde seu novo posto, mas já não pertence a ele; é um estrangeiro que ama todos os homens, pelo simples fato de saber que existem pela Vontade da Divina Mãe, quer dizer, ama-os pelo que são em sua essência, mas não se apega ao que aparentam ser.
Ele já fez sua Eleição Única: viver no mundo, trabalhar no mundo, sem apegar-se aos frutos de sua ação.
Transita pelo místico caminho, aquele que leva ao cimo da perfeição, onde flameja o Estandarte com seu Nome Espiritual.
Ao divinizar sua vida, enquanto vive e trabalha no mundo, diviniza e transforma esse mundo com o exemplo de seu desinteresse pelas coisas exteriores e materiais.

 
Ensinança 6: Meditação Afetiva sobre O Templo de Ouro e O Véu de Ahehia

     Acostumado a projetar-se para o exterior, como reminiscência daquelas lutas que, no começa da Raça, levou a cabo contra as forças hostis da natureza, o homem atual também busca consolo fora de si: busca o consolo humano.
Suas penas, suas dores e sua angústia acumuladas em seu interior, pressionam-no e afogam-no. Ele não tem nenhum altar interno para poder oferendá-las a algo superior que não seja a sua personalidade. Ele o faz então, exteriorizando-as, para conseguir a compaixão, o louvor e com isso, o consolo. 
Assim como a felicidade está descrita como o prêmio de Deus, a pena deve ser sua justiça. Toda dor interna procede da resistência que o homem opõe a ser iluminado com sua Luz Divina. É então uma ensinança que o ser desperdiça ao expô-la à compaixão de outro homem, em lugar de identificar-se com ela em sua intimidade para descobrir a mensagem da Divindade.
E como pede consolo a coisas relativas, o consolo que recebe será relativo, será antes um paliativo que durará pouco. Desta maneira, engana-se a si mesmo, cada vez mais, pois ao não encontrar o consolo absoluto, único, duradouro, substitui-o equivocadamente por muitos consolos que nascem e morrem como toda coisa criada pelo homem.
Como em outras coisas, sacrifica uma qualidade divina e absoluta por uma quantidade humana e relativa.
O Homem velho diz: “pena compartilhada, pena diminuída”.
Mas o Filho sabe que desde o momento de seu sagrado primeiro voto, a Divina Mãe fez germinar a semente da Verdade em seu interior; e que é seu germinar, seu expandir-se, o que vai pressionando contra os apegos que endurecem a alma, produzindo dor.
Se isso provém da Divina Mãe, que homem pode mitigar essa dor?
Só no silêncio de seu recolhimento interior, a Divina Mãe poderá ensiná-lo que, cada vazio interno deixado por um apego arrancado será ocupado por um broto novo dessa semente divina, transmutando assim a dor do desarraigamento em uma amorosa e expectante antecipação, em um consolo divino.
Viva o Filho seu silêncio; ele tem um altar em seu próprio coração para oferendar suas penas e dores do crescimento espiritual, à Divina Mãe.
Mortifique-se no esforço de não exteriorizá-los; mortifique-se no silêncio; não persista como o Homem velho na busca de muitos consolos humanos e achará em si mesmo o único, puro, eterno consolo divino.
O Homem velho vive em um contínuo anelo de gozar, de conseguir prazer, utilizando meios materiais.
Como são estes meios materiais os que lhe proporcionam prazer, esforça-se por possuí-los, transforma-os em fins em si, e desta forma se ata ao objeto de prazer com um apego angustiante. O medo de perdê-lo ou a real perda, por tratar-se de coisas perecedouras afinal, tortura-o constantemente. Procura então enganar-se, perseguindo a eternidade anelada no prazer, em um gozo após outro, interminavelmente.
Além disso, o homem, levando em seu interior a chispa de sua imortal essência – aquela que busca integrar-se ao Fogo Único – é impelido sem sabê-lo, inconscientemente, à busca do Absoluto. Mas o homem velho, degradando esse impulso de perfeição, pretende satisfazer essas ânsias da alma em coisas cambiantes, perecedouras.
Desse antagonismo entre sua parte essencial - que busca o Essencial – e sua parte humana – que crê encontrar o Essencial no contingente – nasce a amargura, o fastio que o homem sente depois de haver provado um gozo humano.
Só um gozo é perdurável: o de poder sentir a presença divina em si, o de ter o vislumbre dessa presença.
Quando o ser sente a presença divina em seu interior, sente-a em tudo que o rodeia. Sente-a no próximo, na nuvem, nas estrelas, na flor, em tudo o que o rodeia, porque a presença divina em seu interior tinge de Amor Divino seu olhar, o qual, pousado sobre as coisas, penetra a superfície de suas formas, buscando o essencial, a presença divina oculta no formal.
O Filho deve escapar do engano dos gozos humanos e ser fiel a esse Amor que o ilumina por dentro.
Por essa fidelidade amorosa poderá o Filho renovar-se no esforço, esperar pacientemente e oferendar seus apegos e gozos efêmeros, um a um, em aras dessa presença divina, a qual reconhece como única fonte do gozo interior, do gozo insensível, do gozo único, do Divino.


Ensinança 7: Meditação Afetiva sobre a Ressurreição de Hes

      O Homem velho vive, mas não integralmente, ainda no caso em que, como ser humano, somente, desenvolva totalmente suas possibilidades.
O ser humano vive. O Homem velho não vive completamente. Pode-se considerar vida integral quando se vive dissociado da Fonte Divina?
O Homem Novo vive ou se esforça por conquistar um viver integral, através de um método de vida orientado para conseguir a harmonização, em seu interior, dos valores divinos e humanos.
No Homem velho, o que vive é sua personalidade e, como tal, manifesta-se no mundo como ente separado, egoísta, limitado. Influenciado pelos hábitos adquiridos, tanto externos como internos, constrói dois mundos separados: o humano e o divino.
No mundo humano, coloca-se a si mesmo e aos outros homens, que considera seus iguais; e no mundo divino, coloca alguns seres, com aparência de homens, mas que ele chama de santos, simplesmente para diferenciá-los da espécie humana à qual ele pertence.
Aceita que esses santos que vivem no mundo divino possam sacrificar-se, renunciando ao poder e à glória materiais, por amor a uma Entidade, abstrata e ideal, chamada Deus, que vem a ser como o criador e mantenedor desse mundo divino. Aceita isto, como se fosse uma tarefa, uma obrigação imperativa e inerente à condição de santo. Por isso, frente à possibilidade de ser ele aquele que se sacrifique e renuncie, escapa, dizendo: “eu sou homem; não sou um santo”.
O Filho que já se reconhece como alma imortal e que anela ter o vislumbre divino deve morrer a seu eu.
O Filho sabe que seu eu pessoal são as muitas roupas envelhecidas, as quais necessitou para realizar as experiências da vida. Ele as foi vestindo, ao mesmo tempo que, equivocadamente, apegava-se a elas, até acabar por acreditar que ele era essas roupas.
Renunciar aos hábitos e preconceitos interiores - que pretendem fazê-lo seguir acreditando nisso - é a tarefa urgente do Filho. A falsa vida interior desses hábitos é o que deve morrer.
Só a obediência amorosa do Filho vai levando paulatinamente à morte interior desses hábitos, que se consuma através da renúncia.
A renúncia a si mesmo que deve ser acariciada e amada pelos Filhos, leva a esse estado de morte interior que os fará aptos para a gloriosa ressurreição à Nova Vida.
O dissociado se haverá transformado em Uno e se cumprirão as palavras de São Paulo: “não sou quem vive, senão Ele que vive em mim”.

   
Ensinança 8: Meditações Afetivas Passivas

  Deve-se recordar que a Meditação Afetiva, como exercício, procura fazer com que os sentimentos comuns sejam transmutados interiormente em bens da alma, fazendo-os aptos para levá-la a uma identificação cada vez maior com a imagem que se criou na prática do exercício da Meditação Discursiva.
Tal como se viu até agora, a Meditação Afetiva é ativa.
Nela, o ser se esforça, luta volitivamente, tenta projetar a potência que se gerou ao criar um sentimento interior com a finalidade de conseguir sensações que são forçadas através de uma atividade contínua, e que se procura que sejam de um impulso ativo.
Esta criação do sentimento interior é buscada por intermédio de Quadros Imaginativos detalhados, argumentativos, factuais e, portanto, com profusão de palavras que tendam a um surgir interno quase violento, quase em torvelinho.
Geralmente, a forma ativa responde e se adapta a uma característica própria do ser humano, no qual a vida se manifesta especialmente como uma luta contra o meio ambiente e contra suas próprias fraquezas, o que supõe um viver expressado por uma contínua atividade, em impulsos e em uma constante aplicação da vontade por sua imperiosa e inerente necessidade de decidir ininterruptamente.
Mas, às vezes, o exercício da Meditação Afetiva Ativa cansa o ser.
Se esse cansaço, se esse fastio não provêm de causas físicas ou morais, é conveniente o exercício em sua forma passiva. Mas sua prática deve ser sempre orientada.
É aqui onde é preciso lembrar a importância extraordinária que tem para o Filho o não ser negligente em manifestar a seu Superior toda dificuldade que se apresente na prática do exercício da Meditação. Só o Superior, por seu desinteresse e amor, pode discernir, através dessas manifestações, que tipo de meditação será adequado ao momento especial pelo qual a alma do Filho está passando.
Na forma passiva do exercício da Meditação Afetiva, as idéias são simples, o Quadro Imaginativo feito com base em uma só imagem, e nada mais do que em uma, e com Sensações suaves, aquietadas, ainda que firmes e bem definidas, estruturando o todo com a menor quantidade possível de palavras, mercê à eliminação de todas as que sejam inúteis e vãs. Estas poucas palavras são repetidas lentamente. Procura-se que penetrem no ser que, em estado receptivo, fruto da passividade, permita ser penetrado por elas, sem luta, em um deixar-se estar - no qual somente se mantém a atenção necessária para não se desviar - mas existindo, ao mesmo tempo, um certo abandono.


Ensinança 9: Outras Meditações Afetivas Passivas

A fé é o reconhecimento íntimo, pelo ser humano, da identidade de sua essência com a Divina Mãe. Que a fé atue sobre o homem com maior ou menor benefício, depende da espessura dos véus com que este se rodeou.
Assim, de certa forma, é verdade que a fé se faz, se por isto for estendido o permitir que ela – eterna, mas oculta no próprio centro do ser – irradie sua luz cada vez mais brilhantemente, à medida que se vá despojando dos véus da ilusória personalidade.
A perseverança se nutre e cresce na fé. Acrescentando a influência da fé, o homem assim estimulado persevera em seu afã de perfeição. Com a fé, renova sua força interior que o faz cada vez mais apto para viver em adoração à Divindade, no verdadeiro silêncio interior, aquele pelo qual está firme e seguro frente ao mal. Com a perseverança, aumenta sua resistência aos embates da Dama Negra, vivendo então em uma amorosa vigilância que se traduz em uma fidelidade cada vez mais inalterável à Divina Mãe.
Os Filhos recebem a ajuda permanente dos Santos Mestres, a qual, devidamente correspondida pelo esforço próprio, faculta e possibilita para seguir a senda propiciatória que o Regulamento e o Método de Cafh marcam.
A Ensinança, o Raio de Estabilidade, a Meditação, o conselho amoroso e desinteressado do Superior, e tantos outros bens que são dados à alma, são meios para conseguir esse reconhecimento íntimo e unitivo, fortalecendo a fé e a perseverança.
Então, que consolo e gozo humanos, que humano arroubamento pode ser comparado com aqueles proporcionados por saber que a Divina Mãe mora em nosso interior e que, além disso, todos podem chegar a viver cada vez mais em Sua Divina Presença, utilizando os meios de liberação mencionados?


Ensinança 10: Meditações Afetivas Estimulantes

Dentro das meditações afetivas, encontra-se o tipo chamado estimulante.
Tal como o nome indica, ao realizar este tipo de exercício de meditação, o Filho procura estimular-se com um Quadro Imaginativo de força emotiva, compenetrando-se dele.
No tipo de meditação afetiva ativa vista até agora, nota-se que o Quadro Imaginativo serve para suscitar sensações inferidas analogicamente.
Nas meditações estimulantes, em troca, as sensações são inferidas por uma verdadeira identificação da alma do Filho com o Quadro Imaginativo.
Nas primeiras, o Quadro Imaginativo atua como um catalisador que provoca, só por sua presença, as reações anímicas correspondentes.
Nas meditações estimulantes, o Filho se compenetra, absorvendo o quadro, confundindo-se com ele, vivenciando-o como se ele se houvesse transmutado na própria imagem criada por sua imaginação.
Nas primeiras, o Filho vê uma enorme pedra obstruindo seu caminho, a qual compara com sua personalidade.
Nas meditações estimulantes, essa pedra é o próprio Filho que, por haver absorvido em si a imagem do quadro, converteu-se em uma pedra e se sente pedra.
Quando a Dama Negra, utilizando algumas de suas armadilhas, consegue aprisionar o Filho numa tentativa de retê-lo na dúvida, na desorientação, no desânimo, ele tem, nas meditações estimulantes, um meio poderoso e efetivo para sair dessa situação.
Procure então o Filho, apoiando-se em seu Voto de Fidelidade à Divina Mãe, fazer-se forte em sua vontade de sair da armadilha. Clame por sentir a sensação estimulante transmitida pelo Quadro Imaginativo, e exemplificadora, absorvendo-o e absorvendo-se nele; e verá como essa labareda emotiva queima as escórias grosseiras de sua alma e um santo entusiasmo, concretizado em ferventes propósitos, perdurará em seu ânimo, ajudando-o a atravessar a aridez do momento, até que o Amor da Divina Mãe seja uma expansão de sua alma e reconquiste assim a paz e a serenidade próprias da alma que confia no Amor Real.  


Ensinança 11: Outras Meditações Afetivas Estimulantes I


Através das ensinanças deste curso, os Filhos foram tomando conhecimento de diferentes modalidades do exercício da meditação afetiva.
Todas elas formam um verdadeiro arsenal de onde o Filho pode extrair a arma adequada ao tipo de batalha que deva travar contra a Dama Negra, de acordo com seus estados anímicos. Com isso, consegue-se não dar alimento às fraquezas humanas para, sob pretexto de tal ou qual estado de ânimo, achar aquele que justifique a não realização do exercício da meditação.
Já foi dito que, quando o Filho está invadido pelo fastio e pela falta de vontade de pronunciar muitas palavras ou de imaginar quadros com muitos detalhes, argumentativos, poderia recorrer ao tipo de meditação afetiva passiva, sobre a base de uma só imagem simples e muito poucas palavras, em um deixar-se penetrar, passivamente, pelos suaves efeitos das sensações, mas mantendo o mínimo de atenção necessária para não ser desviado do processo meditativo.
No exercício da meditação afetiva estimulante, o Filho tem uma variante para utilizar em tais estados anímicos de fastio e de falta de vontade.
O Filho sabe ou intui que esse estado provém de sua natureza humana rebelde, não obstante a influência espiritual e, havendo conhecido já momentos de entusiasmo e exaltação em que anelava fervorosamente pelo instante de poder estar em íntimo colóquio com a Divina Mãe, busca o amparo e a força de seu Voto de Fidelidade para renovar em si essa ânsia de estar ante Sua Divina Presença.
Todos os sentimentos comuns e pessoais continuam estando nele; só que, nesta situação, falta-lhe a iniciativa, a orientação, para utilizá-los na adoração à Divina Mãe e transmutá-los em bens espirituais.
É então quando pode propor-se convulsionar seu foro interno, sair desse estancamento negativo e egoísta, recorrendo às meditações estimulantes.
Não se deve esquecer que se trata de um exercício e que, como tal, realiza-se mediante a prática de ações humanas. No caso deste tipo de exercício, as ações são: propor confundir-se, compenetrar-se, fazer-se um com o quadro imaginado e, além disso, o tom fervoroso dado às palavras.
Por exemplo, uma poesia lida fervorosamente, com uma leitura intensa que adentre a alma nos conceitos ou cenas descritas pelo poeta pode mobilizar uma emoção tal que provoque as lágrimas; enquanto que uma leitura displicente da mesma poesia não provocará no leitor nenhum tipo de emoção.
Assim, neste tipo de meditação, o Filho, com o fervor de suas palavras, com o tom dramático, exaltado e entusiasta em que as pronuncie, com seu querer vibrar com a unção dada à descrição do quadro e das sensações, gerará em seu interior uma força que por simpatia, irá se estendendo a todo seu ser, despertando seus sentimentos comuns adormecidos, e poderá facilmente transmutá-los a um plano superior, convertidos em jóias espirituais, verdadeiro tesouro com que a alma do Filho adorna seu amor à Divina Mãe.


Ensinança 12: Outras Meditações Afetivas Estimulantes II


Deve-se recordar que a finalidade do exercício da Meditação Afetiva do tipo estimulante é a de provocar na alma uma verdadeira comoção, similar ao balançar de cabeça que o homem adormecido dá para acordar rapidamente.
A diferença entre isto e os exercícios de meditação ativa comum é, em realidade, mais de tom do que de fundo. Já é sabido que, como o nome de ativa indica, o ser busca nestes exercícios conseguir um efeito e o faz mediante um esforço de vontade, tanto para fixar a atenção - toda sua atenção - no objetivo buscado, como para predispor-se, com todo seu ser posto na busca da sensação desejada.
Nas que são ativas, mas também estimulantes, tudo isto se aplica perfeitamente, mas com um acréscimo. Esse algo mais são o tom e dramaticidade dados à voz, o fervor posto na pintura do Quadro Imaginativo, construído com imagens vívidas, descritas com unção, preparatório da veemência com o que serão expressas as sensações, onde se utilizam analogias emotivas e exaltadas.
Isto pareceria, à primeira vista, uma atitude hipócrita, forçada, superficial. Mas, não se deve esquecer que se está tentando dominar um exercício, e que a sinceridade e a oferenda verdadeira do Filho estão somente na alegre predisposição com que diariamente ou ainda mais freqüentemente, ele vai ao sagrado encontro para ir se fazendo cada vez mais apto a entrar no verdadeiro estado de meditação. E nesse estado não há falsidades ou hipocrisias que valham, pois não pode havê-las no divino dialogar da alma com a Divina Mãe.
A presente ensinança, com seu exemplo de meditação, no qual se procura um efeito de consolo, é um exemplo preciso de como a alma pode elevar a dor à categoria de coadjuvante para sua redenção. Com efeito, através de um Quadro Imaginativo de matizes sombrios, dominado pela visão da Cruz e pelas sangrentas chagas de Cristo, o Filho sente, em sua identificação com o Divino Sofredor, o consolo de saber que, imitando-O, pode oferendar suas próprias dores, sofridas em silêncio no Monte Calvário do viver diário, e ser assim, por sua vez, exemplo e apoio de outras almas.
Porque, que maior consolo que o de encontrar um sentido para a dor humana e mais ainda, se esse sentido se identifica com o exemplo de Jesus, fazendo-nos partícipes no ato sagrado da Redenção do mundo?


Ensinança 13: Outras Meditações Afetivas Estimulantes III


Deve-se ter bem presente a diferença entre prazer e gozo espiritual.
O prazer é coisa da carne e, portanto, fugaz e perecedouro como ela. Muitos homens crêem que o prazer é um prêmio de Deus e que a dor é Seu castigo, sem perceberem que ambos não são mais do que conseqüências da satisfação ou da privação de um apetite sensual próprio de sua natureza humana.
Assim considerada, a dor é o contrário do prazer e este, por sua vez, quando deixa de ser experimentado, converte-se em dor. Porém, o gozo espiritual está acima do prazer e da dor. Estes são conseqüências de nosso egoísmo, enquanto que o primeiro é uma expansão da alma imortal, que busca o caminho de retorno que a leve a fundir-se com a Fonte Primeira.
Nasce no momento em que o homem descobre que todas as suas potências pessoais, exercidas até esse instante para procurar prazeres para sua natureza humana ou para fugir da dor, podem ser utilizadas para elevar-se por caminhos sobrenaturais a outros planos de consciência, onde começa a entrever sua identidade divina.
É então quando começa a comprovar que tudo o que acreditava ser, seus preconceitos, seus hábitos, seus apegos, enfim, tudo o que constitui sua personalidade presente, são, em realidade, os retalhos de que está feito o disfarce sob o qual oculta seu verdadeiro ser, aquele que reconhece como única meta, a sua unidade com a Divina Mãe e procura, por amor a Ela, identificar-se com todas as almas, mediante a luta interior para destruir todo conceito de separatividade.
Por isso, o gozo espiritual não sente os efeitos da dor física nem dessa outra dor que provém da não satisfação dos desejos sensuais. Pelo contrário, muitas vezes, para um ser que começou a vislumbrar a unidade na diversidade, a dor anímica de suportar a carga e os embates dos apetites da carne, pode ser um estímulo para encontrar forças para voar cada vez mais alto, até ali onde se apagam as fronteiras do meu e do teu e onde resplandece somente o Amor Real da Divina Mãe.


Ensinança 14: Fim das Meditações Afetivas Estimulantes


Tema: A Ressurreição de Hes – Efeito: Arroubamento
Um entardecer, uma alvorada, a visão do tranqüilo vale desde o cimo de uma montanha, os raios lunares sobre as inúmeras ondas do mar, o sorriso puro de uma criança, enfim, toda a beleza do mundo penetra e vulnera as fronteiras limitantes do ser, libertando sua alma que, ainda que fugazmente, tem um vislumbre maravilhoso de sua identidade com todo o criado. São esses instantes em que parece que a alma, burlando a vigilância da vontade concretizadora que a encadeava ao ser, eleva-se nas asas da consciência expansiva para fundir-se com a essência da Criação, única e eterna, oculta detrás das variáveis e transitórias formas com que se manifesta.
Mas todos estes raptos de identificação cósmica gerados por estímulos dos sentidos físicos do ser não devem ser confundidos com o Arroubamento Espiritual mesmo sabendo quão grande é o bem que fazem à alma.
O arroubamento espiritual é uma graça da Divina Mãe que, arrebatando a consciência do ser, faz com que ela entreveja o mundo divino, com prescindência de seus sentidos. Isso explica porque os santos e místicos de todos os tempos, ao voltar de seus estados de arroubamento espiritual, não encontravam palavras para descrever o que vivenciaram, mas confessam que para voltar a vivenciá-los – e se essa fosse a Vontade da Divindade – satisfeitos renderiam sua vida terrena.
Mas, pelo exemplo e ensinanças desses santos, o homem sabe que essa graça divina requer, para ser alcançada, a predisposição amorosa do ser, manifesta pela reta intenção de conseguir a pureza de sua mente e de seu coração.
Para consegui-la, o Filho sabe que deve chegar a ter seu pensamento e seu amor postos unicamente na Divina Mãe. Mas sabe também, pela experiência legada por outros seres mais adiantados, que para alcançar essas sagradas metas deve percorrer um caminho íntimo, feito de renúncias a seus apegos, de recolhimento interior, de oferendas amorosas. Para isso, o Filho conta com a ajuda dos Santos Mestres, do Método de Vida de Cafh e de suas Ensinanças e Dons Espirituais, da Oração e do Exercício de Meditação. 


Ensinança 15: Monólogo de Preparação para a Meditação


Por seu livre arbítrio, um homem que busque a Deus, pode converter-se em uma máquina movida automaticamente pelo aparente propósito de conseguir esse fim. Bastará para isso permitir que a rotina suplante o impulso de seu primeiro amor, aquele que o levou um dia a realizar o sacramento de seu primeiro voto. A rotina sobrevém, inexoravelmente, quando esse homem começa a considerar como um fim o cumprimento de todas as exigências de sua ascese, esquecendo que todas elas não são mais do que meios que o levam a aproximar-se paulatinamente do ideal sagrado.
O rotineiro buscador de Deus ou, melhor dito, o pseudo buscador de Deus, evidencia-se por sua falta de entusiasmo, pela carência de fervor. Cumprirá, relógio na mão, com regularidade mecânica, com todas as atitudes que crê servirem para a busca; orará na hora certa, lerá – minutos exatos – livros piedosos; frente a situações cotidianas similares, recitará o versículo que corresponda; fará jejuns e mortificações; enfim, cumprirá estritamente com todos os exercícios espirituais. Mas, como esqueceu para o que os faz, termina por preocupar-se somente em fazê-los e cumpri-los bem, atendendo unicamente a suas respectivas formas exteriores.
Depois de um tempo, terá conseguido fortificar sua vontade, e sua mente será uma máquina quase perfeita, flexível para concentrar-se nos precisos instantes de que disponha. Mas, tendo perdido a consciência da meta suprema e transcendente, o fruto da potência, acrescentado de seus valores pessoais, só servirá para alimentar seu egoísmo. Isto é, chegará a estar mais afastado de Deus do que no primeiro dia em que apoiou pela primeira vez seus pés no Caminho.
Para não cair na rotina ou, melhor, para não perder de vista a sagrada presença da Divina Mãe, o Filho deve atualizar constante e fervorosamente, no silêncio íntimo de seu coração, a sagrada promessa de seu Voto de Fidelidade.
A mãe compra um brinquedo para seu filho, não porque lhe agrade, mas porque quer alegrá-lo. O Filho oferenda à Divina Mãe suas renúncias, seus sacrifícios, seus apegos, não porque isso o agrade, mas simplesmente, porque deseja fervorosamente demonstrar-Lhe seu amor e evidenciar-Lhe como A leva constantemente em seu coração.
Com esta base, o Filho jamais teme mecanizar-se na rotina. Pode desenvolver as paulatinas graduações de sua ascese, utilizando os muitos exercícios espirituais que Cafh lhe vai ensinando e até a própria variedade desses exercícios constitui um motivo a menos para cair na rotina.
Considere-se, por exemplo, o exercício da meditação. Os sete temas para desenvolver nas formas discursiva, afetiva e sensitiva, cada uma das quais conta com variantes como as passivas, as ativas e as ativas estimulantes e agora, além da indicação de monólogos preparatórios, prestam-se com largueza a adaptar-se a todos os possíveis estados anímicos do meditante, fazendo impossível o fastio e oferecendo ao Filho uma grande quantidade de meios diferentes, de maneira a praticar, sem enfastiar-se, essas tentativas de contato com a Divina Mãe.


Ensinança 16: Monólogos Imaginativos de Preparação para a Meditação


No modo de viver dos homens de hoje, tudo está preparado para viver exteriorizando-se, dissipando energias.
A imensa maioria dos homens, não tem nem segue nenhuma norma de vida, senão que improvisa os atos de seu existir, acossada compulsivamente pela necessidade de satisfazer os desejos que a angustiam.
A propaganda, em grande escala, realizada sob o lema: “é preciso criar mais desejos”, os espetáculos públicos, as diversões coletivas, nasceram para recolher o excedente de energia que o indivíduo não sabe utilizar para fins superiores e transcendentes e, com o correr do tempo, fizeram-se monstruosas aberrações da vida social. De simples efeitos da pobreza de vida interior dos seres, chegaram a converter-se em uma necessidade absorvente, cuja falta de satisfação torna os homens frustrados e neuróticos.
A comoção sentimental que lhes produz a desgraça do próximo é tão fugaz e tão superficial como a produzida por haver ficado sem entradas para presenciar uma apresentação de revista musical, cuja baixeza moral e cultural corre a par com a altissonante publicidade que a recomenda.
Comovem-se, à flor da pele, quando a caminho do cinema, lêem no jornal as notícias de massacres, torturas e pilhagens de outros homens, para depois, em poucos instantes, rirem-se, às gargalhadas, ante as piadas do comediante em moda.
Mas, em meio a este viver exterior, entre todos estes homens que saltam de uma emoção passionalmente satisfeita a outra passionalmente desejada, há muitos que podem salvar-se dos redemoinhos dessa voragem. Por uma predestinação misteriosa, são capazes de deter-se nessa louca corrida, esvaziar-se de racionalismos dirigidos desde fora e gozar, nesse sagrado momento de introspecção espiritual, do vislumbre de outros horizontes mais grandiosos. É em um desses momentos sublimes, por exemplo, que um homem, abandonando-se a uma humildade criadora, alcança a graça divina que o habilita a emitir seu primeiro voto, do qual surge convertido em Filho da Divina Mãe e em parte integrante do Corpo Místico de Cafh.
Mas, embora já seja Filho, nem por isso cessa a pressão que sobre ele exercem o meio ambiente e seus próprios hábitos de vida. Ainda o subconsciente coletivo, verdadeiro pântano, onde se agitam os instintos, agressividades, ânsias de poder e posse da Raça, encontra para suas densas vibrações uma correspondência quase perfeita nas, igualmente pesadas, vibrações de sua própria subconsciência pessoal. Mas, e apesar de tudo isso, agora já conhece o único que pode ser amado, o ideal absoluto do Amor e da perfeição: a Divina Mãe, e, além disso, agora, Cafh lhe dá um método de vida novo, orientado exclusivamente para ensinar-lhe a utilização de suas potências internas, para ampliar o ângulo da consciência de sua identidade divina.
Em lugar dos velhos caminhos que não levam a nenhum lugar, tem agora uma meta sagrada, um Caminho e um Método que lhe ensina a percorrê-lo.
Por amor à Divina Mãe, ame pois o Filho o Regulamento e o método de vida, praticando suas normas com entusiasmo. Renove diariamente em seu próprio coração os votos emitidos até fazê-los uma vivência de sua alma.
Suas virtudes internas, assim potencializadas e sublimadas pelo Divino Amor, regerão seus menores atos e a força de seu exemplo na vida diária, atrairá, sem dúvida, outras almas desorientadas e desejosas também de descansar e fundir-se no amoroso regaço da Divina Mãe.
Todas estas considerações, realizadas pelo Filho com o matiz próprio de cada um, suas individuais experiências e reações frente ao impacto da louca e superficial forma de viver característica do vale, oferecem um temário inesgotável para monologar preparando o exercício da meditação.
Se o Filho pratica o monólogo preparatório, além de exercitar-se em um razoar, que logicamente há de fazer mais nítidos os perfis de seus conceitos intelectuais, relacionados com o ideal que sustenta com sua fé, obterá uma fonte permanente de quadros imaginativos.


INDICE:

Ensinança 1: Esquemas de Meditação
Ensinança 2: A Transição
Ensinança 3: Textos para a Meditação Discursiva

Ensinança 4: Meditação Afetiva sobre a Dama Negra e o Abismo
Ensinança 5: Meditação Afetiva sobre Os Dois Caminhos e o Estandarte
Ensinança 6: Meditação Afetiva sobre O Templo de Ouro e O Véu de Ahehia
Ensinança 7: Meditação Afetiva sobre a Ressurreição de Hes
Ensinança 8: Meditações Afetivas Passivas
Ensinança 9: Outras Meditações Afetivas Passivas
Ensinança 10: Meditações Afetivas Estimulantes
Ensinança 11: Outras Meditações Afetivas Estimulantes I
Ensinança 12: Outras Meditações Afetivas Estimulantes II
Ensinança 13: Outras Meditações Afetivas Estimulantes III
Ensinança 14: Fim das Meditações Afetivas Estimulantes
Ensinança 15: Monólogo de Preparação para a Meditação
Ensinança 16: Monólogos Imaginativos de Preparação para a Meditação

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