Ensinança 1: A Doutrina de Cafh
Estive fazendo estatísticas e pode-se dizer que todas as religiões têm mais ou menos a mesma quantidade de fiéis. Qual delas é a universal? Qual delas abarca toda a humanidade? Nenhuma.
Mas, se a Providência dispôs que se adaptem segundo o país, caráter das pessoas que o habitam, clima; se permitiu que se desenvolvessem, quer dizer que essas religiões são mensageiras da Revelação, que têm uma tradição que remonta à origem primordial de nossa Raça.
Se estudarmos profundamente os dogmas e doutrinas das religiões, veremos que concordam, que têm uma base fundamental e que as divergências que existem são sempre os mistérios que não se podem solucionar. Quem pode solucionar o mistério de: se prima a graça ou o livre arbítrio? Se Deus criou o mundo do nada ou se o fez emanar de si? Quem pode saber isto? Nenhum ser humano.
Todas as religiões derivam da verdadeira religião universal, que é a que dirige nossa Raça desde seus começos.
A tradição e a revelação das religiões são verdadeiramente as idéias que lhes foram dadas pelos Divinos Instrutores da Raça; foi a Revelação verdadeira que lhes foi transmitida e a imagem da Idéia Mãe, o trabalho que teria que desenvolver o ser sobre a Terra e quais eram os meios sobrenaturais a seu alcance para fazê-lo.
O Filho de Cafh há de ter idéias bem definidas. A crença do Filho em Deus há de ser algo fundamental.
Falo da crença em Deus em um sentido transcendente porque, sem dúvida, se duas pessoas se põem a um nível de discussão e uma diz: "Deus é o todo" e a outra diz: "Deus é o que criou todas as coisas", a que crê em um Deus criador, essa é uma idéia, uma ideologia. Outros têm outras idéias, e assim sucessivamente, porém não é o caso.
A verdade de Deus é o conhecimento fundamental, esse conhecimento seguro que existe na alma de que há um princípio fundamental do Universo. Agora, se esse princípio fundamental do Universo emanou todo de si mesmo, todo o Universo é emanação do mesmo. Logo, poder-se-ia dizer que Deus criou todas as coisas, porque em si, Deus não tinha mais que substância, e dessa substância criou todas as coisas.
Os que crêem em um Deus criador dizem que Deus criou de Sua essência ou de Seu pensamento. Tudo é o mesmo. O importante é crer nesse Deus transcendente e real, na existência de um princípio cósmico invisível do qual procedem todas as coisas. Essa é a base fundamental.
Que um Filho creia que Deus tem um aspecto, ou que Deus não tem outro aspecto, ou que não tem aspecto, isto é uma coisa que cada um pode tomar segundo sua inclinação e segundo a educação que tenha recebido, porém a base fundamental permanece intacta.
O homem há de reconhecer que, como foi posto sobre a Terra, frente à humanidade e frente ao cosmos, com sua razão, com sua capacidade emocional e compreensiva, não pode abarcar os mistérios de Deus em sua totalidade. Por conseguinte, sempre fica ante ele o mistério da graça e do livre arbítrio.
Sua mente pode alcançar até um ponto com o livre arbítrio, mas há coisas que é impossível que ele capte e, se o faz, é através de um estado superconsciente: a graça.
Uma crença imutável, fundamental: nenhum homem viu Deus, nem pode compreender a imensidade de Deus.
Se nenhuma pessoa pode compreender isto, logo, é necessário, até certo ponto, o auxílio daquele que já conhece, de quem já escalou a Senda ou vem de outro plano, que conhece a Verdade. É o mistério do Ser Divino que vem até nós. Todas as religiões crêem em um Ser Divino: em uma reencarnação, em um Filho de Deus.
Esta é uma crença fundamental. O homem abarca até certo ponto, porém depois necessita de ajuda; alcança um ponto, volta a fazer outro pedacinho de sua senda espiritual e de sua ascensão, sozinho.
A crença fundamental é indispensável: é a transcendência divina, para além de todas as coisas. Existem no mundo as forças do bem e do mal que desaparecem quando o ser alcançou um estado de superação. No mundo tem que lutar com o bem e o mal.
Algumas religiões separaram o bem e o mal com um corte: a matéria é o mal e o espírito é o bem.
Esse ponto de vista se esfuma por si mesmo. Reconheço que o bem é a presença do Ser Divino no ser e o mal é sua ausência em nossa alma.
Quando se tem essas verdades fundamentais nas mãos é quando se vê a grandeza de Deus, a pequenez do ser humano e os meios para alcançá-la.
A nossa vida, que se distingue da vida do mundo, ensina-nos que o homem alcança a liberação através da Senda, não através da senda dogmática, revelação imposta, unidade arbitrária, e sim, através do esforço místico que leva a alma à sua liberação.
Este é o nexo de Cafh.
Cafh é um caminho místico e transcende os quadros dogmáticos estabelecidos, para realizar Deus através da mística da Renúncia.
Não desconhece o valor dos dogmas, da Revelação da Unidade, mas reconhece que, sem o esforço místico, ninguém poderá chegar a uma liberação.
Cafh tem uma doutrina universal, ou seja, a que está em todas as religiões, e tem a doutrina de sua experiência, de seus Filhos.
Muitos confundem uma doutrina com outra. Por exemplo: em nenhuma ensinança se impõem crenças fora da crença na Divina Encarnação, no Caminho Místico da Renúncia. Além disso, não impõe crenças. Eu defendo a reencarnação, mas na ensinança de Cafh não há nenhuma que refira ou assevere que essa é a verdade.
As doutrinas dizem que isto é justo ou dizem o contrário, porém Cafh não se define, não impõe uma crença. A alma é livre; até que não se tenha uma prova divina, não se pode assegurar a verdade.
A reencarnação deve ser certa, senão nada haveria que provasse o Plano Divino. Mas quando se efetua, isto não se pode esclarecer. Não há certeza de que os seres venham uma só vez. E Cafh não o afirma. Nenhum ser veio afirmar que não existe o regresso da alma à Terra.
É necessário que saibam distinguir a doutrina de Cafh das doutrinas de outros caminhos.
A doutrina imutável de Cafh se estabelece sobre a mística, ou seja, sobre o esforço da alma para sua realização interior.
É bom que leiam livros. Mas alguns lêem livros e afirmam o que o livro diz, querem formar para si todo um conceito dessa idéia, sem rejeitar ou refutar. Não somente isso, senão que mudam nossos princípios, porque essa doutrina que eles expõem não está escrita nos princípios fundamentais de Cafh.
Quantas vezes pessoas têm vindo dizer-me: uma alma má pode perder-se como alma. Isso diz a Sra. Blavatsky. Eu a respeito, mas não creio nisso. Jamais acreditarei que uma alma possa perder-se como alma.
Também há outros que afirmam que a alma humana em si não é uma participação completa de Deus, ou seja, que o espírito é indivisível, mas que a alma é algo completamente separado, ilusório. Cafh não crê nisso. Cafh crê que a alma humana é parte do espírito divino.
É bom que tenham conceitos claros e fundamentais de sua doutrina, porque não se pode admitir que um Filho pertença a Cafh e que não possua as noções fundamentais de sua doutrina. Aos do mundo, deve-se orientá-los.
A doutrina é muito importante; há que entesourá-la no coração, meditá-la muito, que seja o tema de meditações, amá-la intensamente e reconhecê-la como a única que nos pode dar a salvação.
Se reconhecermos que nenhuma religião é universal, deveremos crer que todas, quando chegam ao ponto mais alto e sublime, são verdadeiras. São essenciais quando formam almas grandes, ou seja, quando desenvolvem uma mística e a Mística é a única e verdadeira realização de Deus sobre esta Terra.
Nenhuma religião pode salvar-nos se a realização não vem através da Mística, que é ajudada pelos Protetores, pela Santa Mãe e pela imensidade do Princípio Cósmico que nos assiste.
Para desenvolver este conceito, recomendo-lhes que leiam bons livros, para que possam elucidar a Verdade.
Às vezes, aborrecemo-nos com os livros; há tantas coisas! Mas por aí, encontramos a luz da Mística, da Verdade e basta uma frase para dar-nos a satisfação de haver lido todo um livro que nos parecia inútil, que não estava de acordo com nossas formas de pensar.
Muitos esperam a nova religião. Se assim fosse, esta não seria mais que uma religião nova que viria somar-se às outras.
A verdadeira religião é a sublimação das religiões, a realização das almas privilegiadas de todos os setores do mundo; a verdadeira tradição que alcançaram todos os grandes místicos que chegaram à realização.
O importante é não encerrar-se em um quadro ideológico e doutrinário, e assim, a Mística da Renúncia nos dará a perfeita liberação.
Ensinança 2: Vida de Oração
Verdadeiramente, são muito ditosas em poder orar neste lugar, que é verdadeiramente privilegiado.
A essência da vida de Ordenação é a oração, e se bem que a vida do Ordenado seja uma oração contínua, porque ainda quando dorme segue orando através dos seus sonhos e bons desejos, o lugar de oração propriamente dito é de inestimável valor. Quanto tempo faz que temos nossa capela aqui e já está perfeitamente magnetizada?
A Divina Mãe recebeu a homenagem de seus Filhos e daqui irradia sobre o mundo. É outra casa de oração que irradia sobre as almas.
Bem sabem que os seres do mundo, enquanto tudo lhes corre bem, enquanto tudo tem solução e é felicidade na vida, não se recordam, às vezes, do lugar de oração. Mas quando têm um sofrimento, quando estão aflitos, aonde vão? À igreja, ao templo, a um lugar de oração. E nós, os Ordenados, em todas as nossas casas, temos um lugar exclusivamente dedicado à meditação, à oração, para que as almas que não estão presentes recebam, todas, consolo, alívio, fortaleza em suas necessidades.
A oração, além do mais, é tudo para nós. Digo a oração singela, não as grandes orações, estados interiores, mas a singela oração de pedir, de olhar nossa Divina Mãe, ainda que seja uma imagem, nada mais do que uma imagem, e dizer-lhe todo o sentir de nossa alma, necessidades, afãs, alegrias, dissabores, nosso bem e nosso pequeno mal. Pedir sempre é, para a alma, um consolo e fonte inesgotável de paz.
Recordem o que disse Santa Teresa: "A oração das almas consagradas é como a chuva que cai do céu, mas às vezes, essa chuva não é mandada por Deus, e então a alma tem de tirar água do poço".
Voltem as almas consagradas à oração singela, de coração a coração, sobretudo agora, que para esta Comunidade vem a época do recolhimento, em que cessa o trabalho forte e podem dedicar-se mais à estrita Observância e à oração; este ano mais do que nunca. É bom começar por esta oração falada, de viva voz, e é a oração que se faz aqui, na capela.
Agora recordo algo: espero que agora, que não têm preocupações, não as veja cabecear de noite, estimadas Filhas. Vejam que parecem esses passarinhos sobre a árvore, que estão direitinhos e, por aí, cai-lhes a cabecinha.
O C.G.M. disse que no assunto das coisas quebradas havia sido enganado e isso era o que mais lhe doía. Que não era tanto o valor das coisas, como o das palavras.
Acrescentou: “Filhas, sejam exatas em suas palavras: “Foi feito ou não foi feito.” “Sim ou não”.
Aqui, o C.G.M. deu às senhoritas algumas instruções para os meses de férias e acrescentou: “Mas, desejaria, sobretudo, que aproveitassem estes meses de paz. Vê-se que a Divina Mãe mora em seus corações, mas eu falo desse outro contato vivo com a Divina Mãe, que se consegue com a oração, recitando orações vocalizadas. Há que recitar muitos salmos para, em uma palavra, fazer como se a Divina Mãe nos chamasse de férias e dissesse-nos: "Venham Filhas". Ela as atende, fornece-lhes as coisas e as senhoritas falam à Sua Boa Mãe.
Em realidade, Ela é a síntese da maternidade, é a coroa da Divindade, a força da fé, esperança dos que virão, exemplo de nossa vida consagrada de Ordenação; vamos esconder-nos em Seus braços.
É bom que, como nossa vida é rígida, tenhamos um pouco de expansão e sentimentos com Ela, tenhamos mimos, que nos estreitemos com o Seu Celeste Coração.
Ela está desejosa de estar a sós conosco; continuamente vigia nossos atos, inspira nossas palavras e dirige nossos movimentos.
Está desejosa de estar conosco em um contato vivo, humano, de dependência, ansiosa de comunicar-nos os tesouros de Sua graça e coração.
Reavivemos em Suas mãos nossas promessas de amor; Ela está desejosa de que nós, em uma palavra, vamos a Ela.
Nossa Divina Mãe, seguramente, não só está como ser encarnado. Como ser de amor, tem uma predileção especial pelas Filhas Ordenadas da Sagrada Ordem de Cafh. Ela me disse especialmente.
Assim que, peçam-Lhe por todos os que necessitam e serão ouvidas. Digam-Lhe todos os pequenos pesares e ânsias; digam-Lhe suas penas e desejos, porque todos os temos, ainda os desejos santos.
Tudo o que esperam para o ano que vem, todas as obras que desejariam cumprir; todas as crianças a quem desejariam beneficiar e Ela as ouvirá.
Digam-Lhe todos os projetos para que Ela sorria benevolamente ou sacuda a cabeça; mas sempre ficaremos contentes porque Ela conhece nossas aspirações: o Colégio em Córdoba, o asilo para meninas, o desejo de levantar uma escola de ofícios e Ela escutará benevolamente, como os pais escutam as fantasias de todos os filhos.
Acerquem seus corações a Seu Celeste e Adorável Coração.
Ensinança 3: A Imagem da Divina Mãe – 12/12/53
Qual é o significado das imagens que adornam os templos e os santuários? Como pode a Divina Mãe ser representada assim, tão corporeamente material e em atitudes tão diferentes umas das outras? Quer seja no rosto puro e cândido de uma menina que leva em si todos os sonhos por realizar, ou como uma mãe com um menino em seus braços, ou ainda como a Virgem aos pés da cruz de Seu Filho, em cujo rosto se reflete toda a dor do mundo, sempre está ali a Mãe Divina, a Mãe que é em si o Cosmo, os universos, os mundos, os planetas; o homem, enfim, com todo seu bem e seu mal, sua dor e seu gozo.
Divina Mãe! Ela tomou essas formas para aproximar-se mais do mundo e Seu símbolo mais sublime é Maria, a Iniciada Lunar, a quem coube a missão divina. Que entendemos por Virgem Santíssima, a Mãe de Cristo? É o ser que a Divina Mãe escolheu, a Mãe do Universo, para que encarnasse nele Seu Filho, o Cristo.
Mas, qual é o valor real dessas imagens? Elas estão ali, sobre os altares e santuários, adornando-os, mas não têm valor real até que os devotos as vistam com suas orações, com sua adoração contínua.
Filhas minhas! Vesti essa imagem de tão formosa expressão que possuís em vossa capelinha, mas vesti-a com vossas virtudes, com vosso silêncio e recolhimento, com vossa Realização.
Filhas da Renúncia! Compreendei que a verdadeira Renúncia não consiste em deixar o mundo, os familiares, os amigos, o trabalho. Não, Filhas, não! Essa é a renúncia externa, esse é um valor positivo e o mundo, hoje em dia, está pleno de valores positivos. Mas, não! A renúncia verdadeira, divina, é a Renúncia Interna, aquela que é de vossas almas, aquela que é constituída pela realização plena dos valores negativos, aqueles que o mundo não vê, não conhece.
Filhas minhas! Fazei que o tempo não exista para vós! O passado não vos pertence, está morto; o presente, tampouco e o futuro, menos ainda: todo o tempo está depositado nas mãos da Mãe. Haveis deixado o tempo do mundo e estais na Eternidade. O trabalho que realizais, aquele que o mundo vê, não é de importância, não conta para a Mãe. O trabalho que importa é aquele que vos vai despojando de vós mesmas, é o trabalho que só vive em uma renúncia contínua. Recordai que não tendes nada, nada, pois tudo haveis entregue à Mãe, o bom e o mau, o puro e o impuro.
Ela abriu-vos a porta e não vos perguntou nada. Somente bastou a vossa oferenda. Não vos perguntou se éreis puras, boas, perfeitas, ricas ou pobres. Nada disso olhou; simplesmente vos tomou, porque vos destes. Não importou se o voto era temporário, solene ou perpétuo, a todas falou por igual.
Filhas Ordenadas de Embalse: Dai-vos conta da graça maravilhosa que vos foi outorgada?
Ela vos tomou dentre a multidão sem ter em conta o que éreis, unicamente porque respondestes ao Seu chamado, entregando-vos. E como clama Ela ao mundo que se dê assim, que escute Sua Voz por um momento!
Mas, atentai! A Mãe Divina vos escolheu. Portanto, trabalhai, trabalhai sem descanso, mas dentro de vós mesmas! Estais mortas para o mundo, mas agora trabalhai por esse mundo na Obra da Mãe e, sobretudo, orai muito. Que vossas vidas sejam de contínua oração, de recolhimento, de silêncio, porque agora a Mãe Divina vos está estendendo a mão para que depositeis nela vossa pequena gota de sangue. Refleti: não é vossa missão a mais maravilhosa, que pode iluminar o mundo neste momento? Pensai um pouco no que vos coube fazer, pois a salvação do mundo não estará nas mãos dos cientistas, dos artistas ou dos políticos e sim nas daqueles que servem à Mãe, despojando-se de si mesmos.
Vede que missão vos coube! O mundo de hoje compreendeu, mas não seguiu a obra de Cristo. Cristo veio, mas os homens não seguiram Seu exemplo. Aproxima-se agora o momento da nova Encarnação da Divindade, a Divina Encarnação, que fará que cada homem realize a si mesmo, convertendo-se em um pequeno Cristo.
E como faz a Mãe para descer sobre a Terra? Toma um núcleo de seres que estejam preparados a dar seu sangue para moldar o Corpo Divino. Vossa missão é transformar-vos em mãezinhas desse corpo. Oh, vede se não é maravilhosa vossa tarefa e quão perto está a Mãe de vós! Detende-vos para refletir um pouco e vereis, na luz que Ela vos dá, o divino de vossas posições e a graça que vos foi outorgada. Quantas mulheres, jovenzinhas, há no mundo, que lutam na obscuridade, sem encontrar onde depositar sua fé, seus anelos, suas aspirações, suas virtudes! Quantas jovens não desejariam encontrar o que vós tendes e deixar tudo para ir em busca disso. Pobres almas que devem lutar e cair, e que buscam no mundo das sombras!
Orai muito e renunciai, porque nessa renúncia, essas almas encontrarão o que buscam. Que o amor mova todas as fibras de vossos corações para oferendar vosso sangue em holocausto dessas almas que se debatem na miséria e na obscuridade; entregai vosso sangue à Mãe para que Ela possa descer sobre a Terra e essa Divina Encarnação possa oferecer ao mundo uma vida nova.
Sois as mãezinhas dessa Encarnação e em vosso trabalho repousará Seu Corpo. Trabalhai pois, nele. Fazei como o pintor que esboça primeiro um quadro, faz um rascunho, depois outro, e outro, até que chega o dia em que a idéia genial, a verdadeira, reluz em seu interior e se plasma na tela, dando nascimento à obra mestra.
Assim vós, Filhas, deveis trabalhar para entregar vosso sangue à Mãe, pois sem esse sangue nada pode ser realizado, e ele é o barro com o qual trabalha a Mãe Divina para dar-lhe em seguida o sopro da vida. Lançai-vos nessa oferenda à Mãe e vereis, então, que se trabalhardes com amor e afinco, as pedras do mundo se converterão para sustentar a Obra Divina.
Ensinança 4: Adoração feita pelo Mestre na Abertura de um Retiro – 21/01/54
Mãe Divina! Pedimos-Te, Mãe Amada, que o cumprimento estrito e fidelíssimo da Observância nos aproxime de Ti, faça de nós, parte de Ti, ser consubstanciais Contigo. Que a Observância perfeita reja nossas vidas de tal forma, que nos transforme ativa e verdadeiramente em nada. Que possamos dizer: "Mãe, eu não sou, Tu és; não sou eu que vivo, Tu és a que vives em mim!"
Que possamos, Mãe, ser tão simples, ter tanta necessidade de ser simples, que nos esqueçamos de nós, que não pensemos tanto em nós mesmos, em nossos problemas, em nossos defeitos, em nossas dificuldades, no lugar que possamos ocupar, no que possamos merecer. Trabalhar com a mesma alegria nas humildes tarefas.
Nós não somos nada. Somos como uma mesa, uma cadeira, um carro. A mesa foi formada com madeiras cortadas, tiradas de outra maior; o carro com suas rodas, seus parafusos, seus eixos, foi todo agrupado e tirado de algo maior; assim nós mesmos, que ante Teu sopro desaparecemos e já nada fica do que éramos.
Por isso, Mãe, devemos amar somente o cumprimento do que Tu nos ordenas através dos Mestres, dos Superiores. Obedecer a sua voz com tal simplicidade e rapidez que em nada intervenha nosso eu, nossos interesses: isso é para o mundo. Mas nós temos a Observância que é a prática de todas as virtudes juntas e somente devemos aspirar a seu perfeito cumprimento.
Dar-nos aos Mestres e Superiores com a fé e a confiança, com a integridade e sinceridade do Filho cabal e simples, que vai à Sua Mãe, pois sabe que Ela é a única que o pode consolar. Ó Mãe amada, amor nosso, esperança nossa! Outorga-nos, Mãe, esta virtude, para que sejamos mais Teus, para que Tu, Mãe, sejas verdadeiramente nosso único amor. Para que saibamos escutar a voz de nossos Superiores, que é Tua Voz, para que nos abandonemos em Teus braços como a criança recém-nascida, que amemos sem reprovações e busquemos ser corrigidos, para que a Morte Mística se transforme num prelúdio, em um céu antecipado.
Bendiz, Mãe, neste Retiro, Tuas Filhas Ordenadas, Teu Seminário, onde reine a Observância de tal forma que, as que hoje são duas, amanhã sejam duzentas e depois, duas mil. Teus Filhos Solitários e Patrocinados do mundo, para que se cumpra Tua Obra Divina sobre a Terra.
Ensinança 5: A Devoção a Nossa Divina Mãe - 05/10/55
A vantagem que nos dá a devoção a nossa Divina Mãeé a facilidade de contato com a Divindade. Deus é Deus. Deus é algo abstrato, que com a nossa pobre mente não podemos compreender nem penetrar. A idiossincrasia do homem de nossa época exige algo que se adapte a nossa humanidade: uma ponte entre a terra e o céu.
A nossa Raça alcançou o mais elevado grau no nível intelectual; além, não pode ir. Mas, ao inclinar-se tanto para a razão, deixou de lado, estática, a intuição. Para ter a força de orientar-se em direção a ela e desenvolvê-la para a nova Raça, esperamos Maitreya.
Estamos acostumados a comunicar-nos por meio dos sentidos e a viver para o exterior. O homem, em seu progresso, tem uma trajetória ascendente, que é a de sua inteligência. Mas a trajetória de sua intuição ficou estática. Por isso o homem desenvolve suas ciências, tudo pode explicar. Mas, a Divindade, esta deixa-a ali: não pode explicá-la, compreende-a intelectualmente, porém não a vive. Chega o momento em que a mente fica impotente ante os porquês da vida e se submerge na mais profunda desolação, porque em sua oração desvincula o divino do humano.
O homem deveria orar enquanto trabalha, sofre ou goza.
Deus reside no que está mais além. Para a razão é algo abstrato. Não podemos penetrar nesse mistério sem que a Mãe Divina nos introduza nele. Ela é a manifestação de Deus, a que está mais próxima de nós, por nossa idiossincrasia.
Sejamos, portanto, devotos da Imagem da Divina Mãe e, assim como as religiões têm sua Jerusalém, sua Meca, nós temos a Divina Mãe.
Sejamos verdadeiramente devotos da Divina Mãe; que Ela seja nossa Mestra, Confidente, Conselheira, nossa Amiga. Tudo devemos contar a Ela e tudo Ela solucionará se confiarmos Nela. Não há problema que Ela não nos solucione.
Devemos fazê-La descer do altar e tê-La a nosso lado, em todo momento. Fazer Dela algo real e vivo, não algo abstrato e distante.
Que a Mãe Divina seja a obra de arte da vida espiritual, que cada Filha crie sua própria imagem da Mãe e que A vista com tudo o que ela queira e aspire ser, com todo o ideal: a pureza, a bondade, a obediência, o silêncio e a fidelidade que almejamos para nós. Ponhamos Nela nossas virtudes. Que criemos Suas mãos, Seus pés, Seu rosto, de acordo com nosso ideal de beleza. Que tenha as mãos que eu amo. Que Ela vá sempre conosco.
Vejamos Nela a Ordenada perfeita, tal qual a sonhamos.
Por um ato humilíssimo de amor, Ela mesma nos tomou pela mão para conduzir-nos à Eternidade. Não façamos Dela algo abstrato e inacessível. Para chegar ao abstrato, ao Infinito, devemos cruzar a ponte que une o humano com o divino, e essa ponte é a Imagem de nossa Divina Mãe. Sem passar por Ela, não podemos chegar.
Essa imagem está em tudo o que nos rodeia. Na natureza, nos seres, numa árvore.
A Dama Vye deu uma vez ao C.G.M. uma imagem de Jesus elevando Seus olhos ao céu. Esta imagem era a reprodução de uma pintura feita por uma mulher. Esta mulher estava para morrer quando Jesus apareceu-lhe e, mostrando-lhe o céu, disse-lhe que ela morreria quando houvesse terminado de pintar Seu rosto tal qual o via nesse momento.
A mulher se curou e começou a obra, mas nunca acabava, porque sempre tinha algo para retocar e aperfeiçoar. Quando deu o último toque, haviam-se passado vinte anos e então morreu.
Nós, como ela, devemos alcançar uma imagem perfeita da Mãe e quando isto suceda, poderemos morrer, pois estaremos perfeitamente identificados com Ela.
Ensinança 6: O Mestre Te Chama (Magister Ad Est Et Vocat Te) - 10/12/55
"O Mestre te chama" foram as palavras de Marta a Madalena, quando esta chorava sobre a tumba de Lázaro. Ao Mestre, mais que a morte de Lázaro, parecia interessar-Lhe saber onde se encontrava Madalena. Parecia dizer: "Alma consagrada, levanta-te, não chores por coisas humanas". O Mestre quer nossa fé absoluta, nossa dedicação, que todo nosso amor seja para Ele. Para isso, a Mãe Divina nos tirou todas as preocupações ao dar-nos Seu Divino Filho por Esposo.
O Mestre quer primeiro a prova da fé e, depois, opera o milagre da ressurreição. Quer que a alma sempre esteja pronta ao Seu chamado, a dar-Lhe sua fé, sua dedicação, na íntegra.
Madalena, chorando ante a tumba de seu irmão, simboliza a alma que, em seu aspecto humano, volta os olhos para o mundo e chora com ele, deixando o Divino.
“Almas consagradas: abri bem os olhos e com o coração nas mãos, estai sempre dispostas ao chamado do Mestre". O Mestre está aqui e te chama. Ele quer que a alma que foi consagrada a Ele tudo esqueça. Depois fará o milagre da ressurreição de Lázaro.”
Por mais distraídos que estejamos, voltemos sempre para lançar-nos aos pés do Divino Amante. A alma deve acercar-se a Ele, dar-se, para que Ele possa dar-lhe todo Seu amor e ternura. Ele está sempre ali, esperando a alma. Não vai até a alma, e sim espera que ela O ame, para acudir. Isto nos fala da grandeza de Seu amor, da beleza de Seus sentimentos.
Por isso, a nossa é a mais extraordinária das vocações. Dentre toda a humanidade, fomos escolhidos uns poucos para que, livres das preocupações do mundo, levemos uma vida toda dedicada ao culto do amor ao Filho que a Divina Mãe nos deu por Esposo.
O Mestre está sempre ao nosso lado.
Não é o maior dos milagres, haver Ele escolhido o mais imperfeito, o mais humilde para amar, quando o nosso amor, o entusiasmo que sentimos ante o Divino é como a flor de um dia? Pois sempre tornamos a cair e, não obstante, Ele segue chamando-nos, Ele que, como Filho da Divina Mãe, possui todos os mundos, o céu e os anjos, e escolheu a nós.
Sempre tenho presente Santa Teresa de Jesus que sentia quase tangível a presença do Mestre durante o dia, depois da aridez na oração. Ela disse que ainda nas épocas de maior secura e aridez, quando não podia orar e o Nome de Deus nada despertava nela, sentia, no entanto, uma Presença, que Alguém estava ali e, às vezes, era tão forte, que quase podia tocá-Lo. Assim também, o Mestre está sempre ali, olhando-nos, chamando-nos. Quando a alma é verdadeiramente escolhida, consagrada, nunca perde essa Presença.
Somente as almas consagradas podem ter essa Presença Divina a seu lado, através da atenção contínua.
Essa Presença nos submerge na humilhação de nossa miséria, de nossa debilidade, instabilidade e, ao mesmo tempo, enche a alma de um sentimento de gozo, já que, dentre todas as belezas do Universo, escolheu nossa alma, a nós, pobres homens da Terra, cheios de trevas, de sonhos, de misérias.
Milagre que só o Amor pode compreender!
Ensinança 7: Parábola da Samaritana - 17/12/55
A alma consagrada há de estar sempre ao lado do poço para dar de beber ao Mestre quando vem. Nunca Ele há de encontrá-la descuidada ou sem provisão. "Estai sempre preparadas, Filhas minhas."
A Samaritana foi ao poço e ali encontrou o Mestre. Este lhe disse: "Dá-me de beber", e ela, surpreendida, perguntou-Lhe como, Ele, nazareno, pedia a ela de beber. O Mestre respondeu-lhe que, se ela Lhe desse de beber, Ele lhe daria a Água Eterna que saciaria sua sede para toda a Eternidade.
Ele tem a água da vida eterna, porém mendiga nosso amor para saciar Sua sede. Tudo tem, possui os mundos e o Universo todo, mas mendiga o nosso amor.
Por isso, disse à samaritana que, ainda se acabasse de pecar, mas se Lhe entregasse o coração, dela seriam as águas e as graças eternas: "Que são teus pecados diante de Mim?" Que importa nossa miséria, se nem ela pode separar-nos Dele quando Lhe damos de beber?
Ele é o Divino prisioneiro de amor que, encerrado, contempla por entre as grades de Sua janela as crianças que brincam embaixo, na rua, animando seus jogos e seguindo seus olhares.
Se Lhe damos de beber, surgirá uma fonte que leva à Vida Eterna.
Ensinança 8: As Bodas de Canaã - 02/01/56
Aquele que queira orar há de imitar nossa Divina Mãe. Ela há de ser nosso modelo na oração, nossa Mestra de oração.
No Evangelho, a Virgem Maria oferece um exemplo perfeito da oração: as Bodas de Canaã.
Grande haveria de ser a intimidade entre Maria e os desposados para estar sentada tão perto que pode inteirar-se de que, por uma imprevisão, haviam ficado sem vinho e compreendeu a vergonha que isto significava para a família. Aproximou-se de Jesus e disse-lhe simplesmente: "Eles necessitam de vinho". A isto, respondeu-lhe o Filho: "Minha hora não chegou ainda".
Mas ela insiste com firmeza e logo volta ao seu lugar, em silêncio.
Pouco depois, o Mestre chama os criados e lhes ordena que tragam algumas tinas com água, as quais bendiz e transforma a água em vinho, com grande alegria dos desposados.
Tudo se pode pedir ao Esposo Divino e tudo Ele dará à alma consagrada, mas há que saber pedir.
A oração há de ser viva e contundente. A alma deve perguntar a si mesma: a) quê, b) como e c) quando deve pedir.
Primeiramente, não se consegue o que se pede porque não se sabe pedir.
A alma faz continuamente uma trajetória de um pólo a outro. Vai da teorização à matéria. Quando seu estado é de euforia, de grande alegria, cria imagens, ilusões, fantasia e nisso perde toda a alegria. Constrói castelos no ar. Quando está deprimida se afunda de tal modo na matéria, na sua miséria, que até se esquece de orar. Pede muitas coisas, demasiadas e sua oração não é contundente, porque se detém para pensar se não é demasiado material ou pessoal aquilo que pede.
Por isso Maria, a Virgem Divina, é um modelo perfeito de oração. Em todo o Evangelho, jamais se a vê pedir, salvo nas Bodas de Canaã. Ela sempre está partilhando a dor do Mestre: acompanha-O aos pés da cruz e ainda no ápice da carreira pública de seu Filho, quando ela chama à porta e vão dizer a Jesus que Sua mãe e Seus irmãos estão lá fora. Ele não a reconhece, pois responde que Sua mãe e Seus irmãos são aqueles que ouvem Sua palavra. Ela não é ouvida nem fala a não ser nas Bodas de Canaã. Mas quando o faz é porque sabe o que vai pedir e permanece firme em seu pedido. Mais ainda: exigeser ouvida. Sabe que o que pede é necessário e sabe que seu Filho pode dá-lo. a) O que pede? Não pede nada de extraordinário, nada espiritual, nada místico: pede algo material, comum, porém necessário. b) Para salvar a honra de seus amigos. c) Por isso levanta-se com firmeza e vai até seu Filho e,ante Sua negativa, ela insiste. Tem o direito de insistir, sabe que Ele pode dar. Quando Ele manda trazer as tinas com água se cumpre a essência, o substrato da oração: a transmutação. Não importa que o pedido seja material. Nas Mãos Divinas se transforma: dá saúde, solução econômica.
Assim têm que ser as Filhas do Altar Divino: adorar sempre em silêncio, mas quando se pede ao Esposo Divino há que fazê-lo com firmeza, com insistência, seguras de que Ele tudo pode dar.
Então, seu pedido há de ser continuado, sem intermitências, criando uma onda de vibração tão forte que chegue ao coração mesmo do Esposo. Não há que deter-se para duvidar se é necessário ou muito material, se vale à pena incomodá-lo por algo aparentemente mundano. Pedir como a Mãe Divina: não mendigava, não era uma pedinte, mas quando pedia era contundente.
Em seguida, calar e abandonar o pedido à Vontade Divina.
Insistir ainda ante a negativa do Mestre. Fazer como Santa Rosa de Lima que travava verdadeiras batalhas com o Mestre. Ela lhe dizia: "Quero esta alma, dá-me esta alma." E quando Ele lhe respondia que era um pecador perdido, ela redargüia: "Não importa, quero que me dês esse pecador, quero sua alma." E seu pedido, sua fé de amor, chegava como uma flecha acesa ao coração do Mestre e Ele lha dava.
As senhoritas têm que aprender a orar. Sabem orar, mas façam da Mãe Divina sua Mestra, leiam em Seu livro sempre aberto as Ensinanças e conheçam o segredo para fazer da oração algo vivo e contundente.
Ensinança 9: Parábola do Mestre onde manda Seu servidor convidar Seus amigos para um banquete que Ele dará essa noite - 14/01/56
O servidor volta com a notícia de que ninguém pode comparecer. Um por causa de um compromisso anterior, outro por outra coisa e outro, por outra. Então o Mestre, com grande dor, manda que seu servidor vá à praça e convide todos os mendigos e necessitados.
O Divino Mestre chama as almas, as que são seus amigos, que estiveram a Seu lado. Chama-as constantemente, quer que estejam sempre dispostas a acudir ao Seu chamado em um instante.
Ele as tomou, tirou-as do mundo, de sua miséria e encheu-as com as graças da Sua amizade, mas quer que elas estejam sempre prontas ao Seu chamado. Quando elas se envolvem com o mundo, elege as mais pobres e miseráveis e as convida a Sua ceia. Essas são as poucas almas escolhidas que só podem manter-se nesse lugar através de seu esforço e da oferenda de todo seu ser.
Por isso, o Mestre diz algo que parece incompatível com o Seu amor e misericórdia: "Odeia teu pai, tua mãe, teus irmãos, amigos e companheiros." Odiar o pai e a mãe, ou seja, o mundo físico, o sangue que é a raça, a nacionalidade, a religião. Os irmãos, ou seja, o mundo da personalidade com os seus costumes, hábitos, impulsos, os sentires, estudos, cultura, com as suas paixões e desejos. Os amigos e companheiros, ou seja, as ilusões, os ideais da mente. Que nada disso se interponha entre Ele e a alma e a impeça de acudir ao Seu chamado.
O humano e o divino não podem existir na alma ao mesmo tempo. Por isso, o Mestre diz: "Odeia, aborrece o mundo", porque se o mundo não morre em nós, não poderemos estar prontos para o Seu chamado, porque sempre haverá algo que o impeça, que obrigue a alma a adiar a resposta ao chamado divino.
Escolheu-nos para a nossa Vocação de Renúncia, afastou-nos de tudo para que, mortos para o mundo, estejamos prontos a acudir. Através da morte do mundo em nós, todos os nossos atos se tornam sobrenaturais e divinos e podemos atender ao divino convite.
Ensinança 10: Parábola dos Discípulos que Iam a Caminho de Emaús - 21/01/56
Creio que a vida das almas consagradas a Deus e a oração são uma só coisa. O estado perfeito se resume em oração.
A vida de oração continuada se alcança pelo cumprimento dos votos.
A alma se faz todo um problema com a oração, porque sempre vai ao mais difícil, ao passo que a oração é algo simples, algo que está ao alcance de todos.
A oração é união com Deus. Não dá a visão dos mundos superiores, nem a cura de enfermos e sim, dá a participação nas dores do Esposo Divino.
A verdadeira união não é a do gozo nem do êxtase, mas aquela em que partilhamos todas as dores e sofrimentos do Esposo. Esta união é a mais elevada de todas.
Certa vez Enrique Suso perguntou a Cristo por que tinha de sofrer tanto no físico, na moral, de toda forma e Cristo respondeu-lhe que era porque queria "protegê-lo com um cerco de espinhos para que não mais voltasse ao mundo." Sofrer, padecer, ser desprezado, para participar com o Divino Esposo em Suas angústias e dores.
A oração é o estado natural da alma consagrada. Para consegui-lo, há que buscar o silêncio, praticá-lo. O homem tende a falar sempre, a dissipar-se no exterior, mas a alma que busca a Deus deve tender a dizer tudo a Deus, a que sua conversação seja cada vez mais breve e simples. Quem está acostumado a falar com Deus diz o que tem que dizer, em poucas palavras.
A oração se consegue falando ao Divino Esposo.
A Santa Catarina de Siena dizia o Divino Esposo: "Quero que tua conversa seja com os anjos”.
Não vamos pensar que a oração é um êxtase, um arroubamento contínuo, com os braços levantados para o céu. Isto é para algumas almas extraordinárias. A verdadeira união com Deus é estar continuamente em Sua Presença, contando-Lhe tudo, fazendo Dele nosso Amado Esposo, nosso Amigo, o Superior que nunca se equivoca, o Diretor Espiritual a quem contaremos o mais íntimo e secreto. Ele é o nosso secreto Amante. Nosso primeiro pensamento ao levantar-nos é para Ele e o último, ao deitar-nos, é para Ele.
Não podemos perder nem um minuto. Tudo quanto desejamos, as luzes, as graças, o amor de que necessita nosso coração, haveremos de pedir a Ele. Temos de fazer o hábito da resposta para que não falemos com os homens, mas com Ele.
Santa Teresa vivia nessa Presença contínua e era tão real que, às vezes, enquanto costurava ou trabalhava, ainda na aridez ou na luta, sentia um estremecimento, como de Alguém que estivesse a seu lado.
Se estamos nessa Presença, todas as distrações fugirão e os maus pensamentos não poderão aproximar-se.
Havia um noviço junto aos discípulos de Ramakrishna, que não estava muito seguro de sua vocação e queria uma prova. Um dia, quando estavam todos reunidos em meditação, ele quis pensar mal para perturbá-los, porém começou a sentir uma grande intranqüilidade e desassossego. Quando o contou a seu Diretor, este lhe explicou que era natural que isso lhe sucedesse, pois, como poderia ter ele um mau pensamento na proximidade do Mestre?
Ao deixar o mundo, teremos ganho o dom de união, já que nossa vida de disciplina e o Raio de Estabilidade dão mais facilidade para que a natureza seja dominada.
Cristo só foi reconhecido pelos Seus dois discípulos quando partiu o pão, quer dizer, fez violência a si próprio.
Ensinança 11: Educação das Crianças - 4/03/56
Há que preparar-se com a oração para que a Mãe nos guie durante o ano na educação dos meninos.
Peçamos-Lhe que limpe nossa mente e coração de toda idéia preconcebida com respeito aos meninos: "Se o menino é bom ou mau, sujo, grande ou muito pequeno ou mesmo repulsivo. Se os que a Direção de Menores envia têm isto e os de Villa del Dique têm aquilo, ou se os de Villa del Dique são melhores que os de Embalse.” Tudo isto pode ser verdade, mas não interessa para o nosso trabalho.
Devemos tomar os que vêm com a mente limpa, como os que a Divina Mãe nos envia.
Limpar-nos de toda a impureza, para que nossa alma seja como um límpido espelho onde a Mãe possa refletir Sua imagem. Assim, tudo quanto a criança receba, será Dela.
Há que pedir à Mãe que nos encha de verdadeiro amor pelas crianças. Não o amor ideal que se sente quando se fala dos meninos, quando se lê um livro ou se escuta uma conferência, mas o amor real, que sempre está ali, ainda em presença do menino sujo, rebelde e, às vezes, mesmo repulsivo ou que possa chocar-nos. Precisamente com estes há que envolver-se mais, pois são os que Ela envia, são os que devemos receber e neles fazer o trabalho.
Tudo isto que digo não é somente para as professoras e diretoras, mas para todas as Filhas, porque todas elas intervêm no trabalho com as crianças. Se não fazem o trabalho de educação e ensino, trabalham para elas, oram por elas, cuidam de suas roupas e da casa onde vivem, aprendem e educam-se. Todas são Professoras Integrais, ou melhor, uma só Professora Integral, através da qual a Mãe se expressa nas distintas fases do trabalho na escola.
Trata-se, não somente de educar a mente da criança, seus instintos, mas suavizar seu coração, sua alma, dar-lhe um sentido da vida, encaminhá-la para o bem.
Não importa que o menino esteja só um ano conosco, porque um ano de verdadeiro trabalho basta para prepará-lo para a vida.
As ensinanças recebidas não se apagam jamais. Ainda que aparentemente não se veja o fruto, o trabalho fica ali, está feito.
Não devemos entristecer-nos se não vêm os do ano passado, nem pensar que os deste ano não virão no ano que vem. O importante é fazer bem o trabalho deste ano. Darem-se todas em amor. Dizerem a si mesmas: "Este ano tenho que preparar-me para educar, ensinar os meninos, é a minha missão deste ano. No ano que vem, Deus dirá."
Façamos uma oração. Peçamos à Mãe: "Limpa minha mente e meu coração, prepara-me para o trabalho ou, melhor dito, sê Tu a força diretriz que está detrás de mim. Serei Teu instrumento. Tu serás a cabeça, a que dirige e eu serei a que trabalha. Pedimos-Te luz, compreensão e amor. Pedimos-Te uma bênção, uma bênção muito especial, porque ainda que eu tenha uma vocação muito especial, sou humana, por mim nada posso. Dá-me paciência, sobretudo muita paciência para ensinar. Dá-me rotina para ser, todos os dias do ano, a mesma Professora Integral, estar sempre na mesma disposição de ânimo, sem altos e baixos”.
Que o menino que temos a nosso lado saiba captar qual a Vontade de Deus em sua vida e possamos escrever essa Vontade de Deus, indelevelmente, em sua alma.
Ensinança 12: Acerca do Consolo e da Aridez na Oração - 11/03/56
As almas consagradas, as almas de oração, sempre querem e crêem que hão de ter consolos e gozos divinos continuamente na oração. Os homens do mundo necessitam dessa graça divina pois, quando oram, buscam e recebem esse consolo. Eles o necessitam como um estímulo. Mas nós, no entanto, que a tudo temos renunciado, não necessitamos disso.
A verdadeira oração não é a de devoção sensível, mas a de aridez e obscuridade. Que há de melhor do que buscar nos livros santos, exemplos sobre a oração?
Lê-se nos Evangelhos que, quando José e Maria iam com Jesus de Nazaré a Jerusalém, para celebrar a Páscoa no templo, ao regressar, não viram o menino durante todo o dia e pensaram que estaria com seus parentes. Mas, ao não achá-lo, começaram a percorrer as caravanas, perguntando onde estava e, durante três dias, procuraram-no afanosamente e com dor.
Seria de perguntar como, José e Maria que eram Iniciados, que tinham constantemente a luz divina em sua presença, tiveram que perdê-la e sentir-se angustiados? Como é possível que almas consagradas, que durante anos tiveram gozos e visões, vejam-se privadas do bem que possuíam? E, no entanto, o dizem as Santas Escrituras, é palavra evangélica.
O que tem de fazer a alma nesses momentos? Somente buscar, assim como Maria e José procuraram Jesus, e perguntar-se, como eles o faziam: "Por que se haverá afastado de mim? Não lhe teremos dado suficiente amor? Haveremos sido pais pouco amorosos, já que ele foge de nós”?
Onde Te escondeste Amado,
e me deixaste com gemido?
Como o cervo fugiste
havendo-me ferido,
saí atrás de Ti clamando
e havias ido.
Se nesses momentos a alma se mantém firme e, ainda que não sinta Deus, "quer", nesse querer, nesse esforçar-se, está a oração. E onde o encontraram? Encontraram-no no Templo, rodeado pelos doutores, aos quais responde com sabedoria sobre a lei e eles ficavam maravilhados. Então, seus pais lhe perguntaram por que os havia deixado. Ao que respondeu: "Mãe, devo ocupar-me das coisas de meu Pai".
Que maravilhosa resposta! Apesar desta resposta Ele os segue submisso e submete-se a eles. Mas eles não o haviam entendido, se bem que Maria guardou suas palavras no silêncio de seu coração. A alma também pode sentir algo em seu coração, ainda que não o saiba nunca. É uma luzinha que está ali, que permanece apesar de tudo. Mas essa luz, através do esforço na aridez, sobe ao templo da mente, da compreensão e transmuta-se em luz iluminativa.
O amor sensível se transforma em um amor de luz, de conhecimento, de iluminação. Qual é o Templo? O Templo não está na sensibilidade, mas na compreensão iluminativa, onde o amor sensível se transforma em amor de luz, de compreensão que abarca todo o Universo.
É quando o Mestre, que havia vivido na intimidade da alma, no gozo do amor desconhecido, partilhado somente com o Amado, transforma-se no Mestre de Luz, Sabedoria, que ensina a alma a projetar seu amor sobre todos os seres.
Pela compreensão que nos traz a aridez, partilhamos a missão do Iniciado.
Onde está a alma heróica que queira, que possa viver continuamente sem distrações, que esteja disposta a viver toda a vida neste estado? Essa alma participaria da obra do Mestre Divino sobre a terra. As almas que não tiveram grandes períodos de aridez não são experimentadas. Não são almas místicas. Deus busca primeiro ser amado e deixa-se tomar, mas logo foge para que a alma aprenda a conhecê-Lo e adquira através Dele, a Verdadeira Sabedoria.
Muitos santos são devotos deste sublime mistério do Menino Perdido, de José e Maria procurando o Menino Jesus e achando-o no Templo. Ana de Jesus era muito devota deste mistério, porque ela era uma alma de oração. Ela sabia o valor da aridez na vida espiritual. O ser ama a Deus, mas à maneira humana, quer encerrá-Lo e possuí-Lo a seu modo. A alma quer aprisionar Deus humanamente, porém a natureza de Deus é divina e tem que regressar a seu plano. Deve pois, a alma, buscá-Lo no Templo da Sabedoria, e ali compreender Sua missão e compartilhá-la. A compreensão somente chega na aridez. O Divino Esposo quer sair da prisão em que a alma O encerrou e transmutar o sentimento em conhecimento iluminativo, levar a alma à meditação sem imagens, de Idéias Luminosas.
Quando a alma experimentou esta luz, não pode esquecê-la. Depois da obscuridade, a luz que chega é tão potente como a alma nunca poderia ter imaginado.
Quando Deus abandona a alma na aridez e no desamparo, é quando a alma começa a ter um vislumbre da morte mística. Antes disso, seu gozo é um gozo sensível. É nessa aridez que a alma aprende e tira a ensinança que poderá dar aos seres. No gozo e no consolo, a compreensão se consome na União Divina, nesse amor de intimidade, mas na aridez, a alma colhe o fruto que poderá guardar para o inverno e as épocas de escassez.
A aridez é a calda que conserva o fruto para o momento propício em que poderá ser dado como alimento às almas.
A oração sensível é o fruto doce do momento. Não falo da aridez dos primeiros tempos da vida espiritual, da luta entre a sensibilidade mundana e a sensibilidade espiritual. Isto é mau e há que tirar dali a alma com doçura. Falo dessa aridez muito superior da alma que já passou essa parte da vida espiritual, em que soube conquistar seu bem e, em seu gozo, quer aprisioná-lo dentro de si. Dessa aridez de períodos longos e cheios de distrações em que a meia hora de meditação parece transcorrer sobre espinhos, em que parece à alma que não faz nada. Se a alma se mantém ali através do esforço, desenvolve sua vontade através da busca.
A alma tem que buscar. É quando conhece a si mesma.
É bom que os diretores saibam que quando a alma entra nesta aridez já tem doze anos, é crescida, como Jesus. Vai por um caminho seguro. Saibam os que dirigem almas, saibam ver nessa aridez, o dedo de Deus. Essas distrações obrigam a alma a esforçar-se, a buscar Deus, a conhecê-Lo, compreender as coisas superiores. É na aridez onde se prova verdadeiramente a vocação.
A alma consagrada não fez um voto para alcançar gozos e deleites. Fez um Voto de Renúncia.
Ensinança 13: Fazer o Bem às Crianças - 17/03/56
Temos que fazer todo o bem que possamos, e bem, às crianças.
Temos que aplicar nossa ensinança em sua educação. Ainda para dar a esta uma orientação psicológica, etc., é bom ir buscar na fonte dos livros sagrados. Lê-se nos Evangelhos que, quando Jesus entrou em Jerusalém com os Seus discípulos, a multidão o aclamava e as crianças o rodeavam e não O deixavam seguir. Então, os Seus discípulos queriam afastá-las, davam-lhes palmadas, empurravam-nas. Jesus disse-lhes: Sinet parvuli venite ad me. – "Deixai que as crianças se acerquem" – e pôs-lhes a mão sobre a cabeça. Isto atravessou os séculos como mensagem para os mestres, educadores, zeladores, docentes.
Havia contradição entre a atitude de uns e outros (Jesus e Seus discípulos)? Não. Cada um cumpria a sua missão específica. Para Jesus, Seus discípulos eram Seus filhos, Sua vida, Seu sangue. Não esquecer que eram homens que haviam deixado tudo. Não esqueçamos que ali estavam João e Pedro, a quem disse: "Eu vos farei pescadores de homens", e eles atiraram fora suas redes para segui-Lo. Não esqueçamos que ali estava Mateus, que deixou seu livro de contas no meio.
Os discípulos tinham que testemunhar com a sua vida e o seu sangue as palavras do Mestre. Ele lhes havia dito: "Aquele que vos ouve, a mim ouve. Aquele que vos ama, ama-Me. E aquele que vos faz dano, a mim o faz." Jesus podia "dar-se ao luxo" de ser doce, compreensivo, mas Seus filhos tinham o dever, a obrigação, de ser severos para abrir o caminho ao Divino Mestre. Nós também formamos um conjunto harmônico, um só Corpo, a mestra única.
Nosso fim é educar bem as crianças. Por isso, tem que haver uma só diretiva e cada um ter diferente atuação. Ou seja, que não vale ter nenhum conceito pessoal, mas sim uma só diretiva.
Muitas vezes, pensa-se: "Esta é a melhor maneira de educar uma criança." Outro diz: "Há que ser mais severo", mas essas são "minha opinião" . Isto também ocorre comigo. Dura alguns meses, um ano e depois vê-se que essa não era a maneira adequada.
Às vezes, vendo uma atuação, pode-se pensar que seria melhor de outro modo, mas não devemos intervir no trabalho de outro e sim, compreender que cada qual deve atuar no lugar que lhe corresponda, de acordo com a necessidade e a tarefa que lhe cabe realizar. Assim, veremos que haverá aquela que é o "papão" (ogro). Sempre há um "papão", alguém que a criança sabe que é inapelável. Aquela que o menino sabe, lhe dirá: "até aqui" e não se retratará.
Falando da necessidade de que haja um "papão": visitando certa vez as capuchinhas, uma irmã muito boa, a irmã Teresa, disse-me: "Veja, senhor Bovisio, o papel que me tocou: o de papão. Cada vez que há que repreender uma menina, chamam-me. Devo ter a cara adequada".
Assim, também a Diretora ou a Superiora podem atuar com severidade ou com doçura, segundo o momento, mas como esse contato com o menino é passageiro, podem dar-se a esse luxo. "Eu também posso dar-me a ele". Porém, aquele que está dentro, no trabalho, é diferente. Cada um, na classe, há de ter um caminho ou linha de conduta a seguir, já traçado e, ao pé do canhão, perseverar.
A professora, na classe, como tem que trabalhar a alma mental da criança, tem um campo mais amplo e pode ser um pouco companheira, um pouco amiga, um pouco irmã e "mestra", um pouco doce, um pouco severa, um pouco compreensiva e, sobretudo, professora para ensiná-la.
A classe e o internato são duas funções completamente diferentes. Ninguém deve intervir no trabalho do outro. O que é a cabeça não pode ser a mão e as mãos não podem ser pés.
Também está a que tem a tarefa da aula, onde tem que chegar o campo mental do menino e onde ele tem que encontrar compreensão, amor, doçura. O menino sente que uma é mais bondosa ou mais afetiva, mas em realidade, todas são afetuosas, ainda que ele não o saiba.
Cada um de nós tem que representar um papel, como no teatro, porém, tudo é um conjunto único. Naturalmente que o menino necessita de um escape. Ele não o sabe, mas responde a uma direção sábia.
Por isso, ele crê que uma lhe concede, é afetuosa e com ela pode ter um escape. Não podemos ser tiranos, tiranizar a criança. Ela necessita de liberdade mais que ninguém, porque sua mente vai despertando, seus sentimentos vão se expandindo e seu corpo físico está se desenvolvendo. Apesar da liberdade, há que discipliná-los para formar caráteres fortes. Ensinar as crianças a serem úteis e terem uma defesa na vida. Que saibam que a vida as submeterá a restrições, que amanhã estarão sujeitas a um trabalho, a um horário, a um chefe. Dar-lhes a liberdade, mas discipliná-las. Na hora de estudo, que estudem. Na hora dos jogos, dar-lhes ampla liberdade para jogar. As meninas necessitam brincar, preparar coisas para suas bonecas, etc. O menino necessita correr, saltar, gritar.
Há um problema sério que se apresenta com os meninos e não há que assustar-se por isso: o problema do instinto carnal. Certa vez, conversando com um Filho espiritual que colaborava na educação, este falou de outro colaborador, cuja opinião era de que, para dominar esses instintos, há que ser severo e castigá-los. Porém, isto levava os meninos a ocultar o vício por temor; tornava-os falsos. Eu também era dessa opinião, porém, aquele colaborador não pensava assim.
Ao perguntar-lhe, o C.G.M. qual era o seu método, levou-o a sua sala. Ali, observando, viu o êxito que dava seu método. Este professor defendia a idéia de que a paixão se tira com a paixão. Combater os vícios dando-lhes um ideal que, ao fazê-los sofrer e amar, transmute essas forças. O menino que ama e sofre, faz-se puro. Um menino ou menina de 11 ou 12 anos, enamora-se de alguém que passa, da professora, de um ideal distante e sofre, enlanguesce, tem os olhos tristes. Há que despertar a parte afetiva, amorosa, para gastar as energias do instinto.
O menino que sofre e ama é puro. Por isso há que despertar neles um ideal que os faça sofrer, já que o sofrimento amoroso os purifica.
Ensinança 14: Sobre a Vaidade - 24/03/56
Dizem os Santos Evangelhos que, quando Jesus estava predicando e curando, Maria, a mãe dos Zebedeus, pegou seus filhos e subiu o monte onde estava o Mestre, prostrou-se diante Dele, adorou-O e disse: “Senhor, promete-me que no céu meus filhos se sentarão, um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.” Jesus olhou-a e disse: “Serão eles capazes de beber o cálice que eu hei de beber”?
Sempre acontece o mesmo. A alma renuncia a tudo, mas crê ter certo direito espiritual, crê que por haver sido chamada, tem direito às graças divinas. Isto faz despertar na alma a vaidade espiritual. Sim, é verdade que fomos chamados, nossa investidura é divina. Porém, nós seguimos sendo humanos. Recordemos o que disse Gandhi: "Os homens são sempre homens; os valores são das instituições".
A Ordenação é o mais sublime, mas nós somos humanos.
Essa vaidade é a que faz os seres espirituais se sentirem superiores, diferentes dos demais homens. Mas, recordemos que nossa Ordenação vale como investidura que nos transforma de homens em deuses sobre a Terra, que nos dá um poder sobrenatural, que nos enche de graças, mas debaixo dessa investidura, "eu sigo sendo um mísero vermezinho." É muito triste ver como a soberba espiritual se apossa das almas sacerdotais.
Como lhes dizia, hoje foi lida em todas as igrejas de La Plata, uma pastoral em que o Arcebispo se atreveu a dizer que essa peste (paralisia infantil) é devida a que não se respeitaram os sacerdotes.
Como é possível que a soberba espiritual separe tanto os seres, fazendo que esses maus e pobres sacerdotes se sintam superiores aos demais e culpem os inocentes pelo mal dos homens?
Pobres sacerdotes! Esse pobre sacerdote, porque é digno de lástima, confunde sua humanidade com sua investidura e crê que lhe devem algo. Cuidado, Filhos, nós podemos cair nisso! Nosso único direito é o de sofrer. Pode-se caluniar-nos, vituperar-nos, desprezar-nos. Essa é a glória, é a confirmação da oferenda da Ordenação. Ser Filhos, sacerdotes de sangue.
A Mãe não quer que nos matem, só quer o nosso sangue, que encha gota a gota a taça da oferenda. Padecer e ser desprezados, é a nossa glória, como dizia São João da Cruz.
A doutrina da Igreja é pura. São os homens que a põem a perder. A Igreja exerce uma tirania pelo temor. A pior tirania é a tirania espiritual. Porque se a tirania social tira e limita a liberdade material, a tirania espiritual mata a alma.
Necessitam-se almas sacerdotais. Grande é a messe e poucos os trabalhadores. Na realidade, há poucos sacerdotes verdadeiros, verdadeiros diretores de almas, confirmados com sua dor e seu sangue. A Ordenação se confirma com a dor. Não creiam que, por havermos abraçado a Ordenação, ficamos livres das calamidades e sofrimentos. Esta seria a maior das separatividades. De nós, deve-se poder dizer: "Como? Gente tão boa e lhe acontecem tantas coisas! "
.Pergunto-me: "Sereis capazes de beber o cálice do Senhor? "
Ensinança 15: Palavras do Mestre em uma Cerimônia de Votos Solenes - 12/05/56
As almas predestinadas foram escolhidas pela Divina Encarnação ainda antes da criação do mundo. A Divina Encarnação tomou-as por Esposas para que elas A ajudassem na redenção do mundo e fossem Suas co-redentoras das almas.
A vocação da alma é toda divina, nada humana: leva o toque divino, do Filho da Divina Mãe. Como floresce e desperta na alma? Vemos a menina que caminha pela mão de sua mãe, confiante e, um dia, de repente, tudo muda nela: transformou-se em uma mulher. A chama da vocação que a alma traz desde que a Divina Encarnação a elegeu, despertou. Antes se apoiava na mão da mãe e, agora, independentiza-se, pois despertou nela seu apoio divino.
É então que o mundo da família, dos pais, tudo se levanta contra ela e tem que lutar para defender-se. Lohengrin, quando toma Elsa por esposa, o faz com a condição de que nunca lhe pergunte seu nome. E ela, ao ceder à tentação, perde seu Amado Divino. As coisas divinas não têm explicação humana.
Filha, não tenha mais coração. Deixe que o Esposo Divino o arranque e ponha o Dele em seu lugar. Ramakrishna dizia que não tinha mais coração porque o havia entregue à Divina Mãe.
Sejam todos os momentos em que esteja longe Dele, momentos de agonia. Que todo seu consolo seja estar junto ao Esposo. Desde agora, sua vida será um morrer a cada instante, para conquistar a Vida Eterna. Ponha suas mãos sobre as palmas das mãos do Esposo e sinta o sangue de Suas feridas. Apóie sua fronte em Seus espinhos e acerque seu coração ao coração ferido do Divino Esposo, para sentir Suas batidas de amor. Carregue sobre seus ombros o corpo morto de seu Esposo, o corpo da miséria, da dor, das lágrimas dos pobres seres do mundo. Compartilhe os sofrimentos do Esposo Divino.
Antes da criação, a senhorita já havia sido eleita para ser Esposa da Divina Encarnação. Antes que os sóis, antes que se pensasse na possibilidade de uma humanidade, as almas chamadas a serem co-redentoras foram criadas com a Divina Encarnação. Levante o corpo de seu Divino Esposo. É um homem morto. Veja a palidez de Seu rosto, Seus olhos carregados de sangue e lágrimas, que não querem olhar pelos que olham as vaidades do mundo. Incline-se e toque Sua fronte, Sua fronte com espinhos, para que fujam os pensamentos vãos. Ponha Seus braços sobre suas costas e sinta o peso desses braços pelas mães, pelos enfermos, pelos moribundos. Acerque-se a Ele e sinta o bater de Seu coração, para que a introduza em Seu coração, em Sua chaga e a envolva na chama de Sua dor e de Seu amor. Já não tem mais coração, Filha. Faça como Ramakrishna, como Ana de Jesus, que num rapto de amor, deu seu coração para não tê-lo mais. Faça como as viúvas hindus, que tomam o corpo de seus esposos mortos para subir junto com eles à fogueira. Tome o corpo de seu Esposo e suba. Desde hoje está morta.
Seu Esposo é um Deus Divino. Não esqueça que Ele morreu para sua redenção, nem um instante. Que digo? Um instante? Se quando não está com Ele, tudo é agonia para a senhorita.
Levante-se, Filha e venha desposar a Divina Encarnação, o grande Maitreya. Nosso amor tem um só rosto. Hoje, conhece seu nome. Nosso amor é único, tem uma só janela, tem uma só porta. Não é para ser compartilhado. Os votos de hoje são somente uma promessa e uma esperança que verá ao exalar o último suspiro.
Ensinança 16: Recolhimento e Reserva de Energias - 19/05/56
A vida do Ordenado é de recolhimento e de reserva de energias.
Não só temos o Raio de Estabilidade físico, material, do qual não devemos sair, senão que há outro raio magnético, íntimo, da alma, que é sagrado. Do Raio de Estabilidade não devemos sair. Temos que mover-nos dentro dele (clausura). Pois bem, desse Raio de Estabilidade magnético da alma, não temos que sair por nada do mundo. É nossa intimidade que devemos à Divina Mãe, por nossos Votos de Renunciamento. Somos lanternas acesas diante do altar e dessa luz vive o mundo. Não podemos deixar de arder, de consumir-nos, para manter a chama e, se saímos de nosso recolhimento íntimo, deixamos apagar a lanterna.
A chama já pertence ao mundo e não temos o direito, não podemos permitir que ela deixe de abrasar um só instante, aos pés da Divina Encarnação. Bem sabemos quanto custa acendê-la de novo quando deixamos que se apague. E quão facilmente se apaga! E, no entanto, saímos de nosso Raio de Estabilidade interno, deixamos de aproveitar esse dom divino da Mística da Renúncia, que só possuem as almas que renunciam. Porém, esse dom não é nosso. Devemo-lo à humanidade, porque seu fruto é assistência aos enfermos, ajuda aos necessitados, direção para as almas. Mas, como saímos de nossa intimidade? As vias de escape são três: nossos pensamentos, nossa vontade e a falta de reserva de energias (que se traduz integralmente em falsos conceitos de caridade). Nós somos mortos – não dizem as Santas Escrituras: "Deixai que os mortos enterrem seus mortos"? – deixamos o mundo, os seres amados, recordações, tudo. Que temos, portanto, que fazer com o pensamento ali? Quando pensamos no mundo, tocamo-lo com a recordação do que fomos ou do que fizemos. Abrimos um caminho vibratório, desde a Casa da Mãe até o mundo, por onde nossa força escapa e a força do mundo irrompe na Comunidade. Não! Há que cortar as asas do pensamento e frustrar a imaginação. Uma só Idéia, um só Ideal: A Mãe e Sua Obra.
Que tenho a fazer em minha cidade ou em minha velha casa? Com os parentes, com os que foram meus amigos? Por melhor que seja uma recordação do mundo, é veneno para nós.
Também nossa vontade. A vontade humana foi um meio que me serviu para chegar até aqui, mas agora já não posso querer nada. Devo-me só à Divina Mãe. O Ordenado já não quer nada. Por nossos votos renunciamos a nossa vontade, votamo-nos à Mãe. Por isso, através de nossos desejos, ainda que santos, escapa a alma de sua sagrada intimidade. Não somente não desejo nada e entrego-me à Vontade da Mãe através da Obediência ao Superior e ao cumprimento minucioso da Observância que desfaz minha própria vontade, mas ainda não devo desejar coisa espiritual alguma. Nem a virtude, nem o conhecimento espiritual, se isto me dá algo que posso chamar meu. Não tenho nada, não desejo nada. Isso fica para os homens do mundo que desejam e podem desejar ser melhores, alcançar virtudes. Eu me entrego à Divina Mãe e desejo o que Ela deseja. A perfeição de minha alma está em Suas mãos. Faço o esforço e cumpro meus deveres. Ela quer que me veja sempre imperfeito? Ela quer que eu seja o mais ignorante, o último da Comunidade? Aceito com amor Seus desígnios e não desejo nada para mim. Se eu soubesse que com a perfeição iria alcançar algo para mim, prefiro mil vezes, ficar sempre na mais completa imperfeição e ignorância. Como disse São Paulo: "Não sou eu quem vive, mas Deus que vive em mim".
A força que posso dar não me pertence. É a força que a Divina Mãe gera em meu interior. Como posso esbanjar a força da Mãe? Que mais posso desejar se Ela vive em mim? Eu nada posso, mas Ela tudo pode em mim.
Assim permaneço no recolhimento de minha vida interna e Ela pode cumprir em mim Sua Obra de redenção, uma nova forma de salvação universal. É o nosso, um novo caminho de salvação e aqui está sua única salvação, mas seguem vivendo para o exterior. E onde pode haver paz mais verdadeira que no interior? Nossas energias já não são nossas, não nos pertencem. É a Grande Corrente que vibra em nós. Devemos cuidá-las religiosamente. O olhar, a voz, o ouvido, os sentidos, todos são outras tantas vias de escape. Por isso, devemos guardar a Observância na modéstia dos olhos, no silêncio, no refrear tudo o que signifique desgaste interno e externo de energias. Pelos olhos, em um olhar, vai-se nossa força, que já não nos pertence. A voz é uma corrente vibratória por onde também escapa energia. Nosso corpo é um emissor e um receptor, porém, ainda temos um escape de energias que às vezes não se vê de imediato com claridade. A Interpretação diz que guardemos as coisas que estão a nosso cuidado. Pois bem, tudo o que usamos está a nosso cuidado. Nós não temos nada. Dizem-nos: "Guardem isto, são seus livros, seu relógio, sua lanterna, sua roupa", mas, em realidade, algo é nosso? Não. Só o temos a nosso cuidado. Não temos direito algum de emprestar nada, de dispor desses objetos, segundo a nossa vontade. Se nos pedem algo, temos o direito de dá-lo se não é nosso?
San Martin de Tours deu a metade de sua capa a um pobre. Santa Catarina de Siena se despojou de sua roupa interior de lã com um fim parecido. Mas nós não podemos. Somos tão divinamente pobres que não podemos dispor de nada, nem de nossa roupa. É que, por esses objetos (postos a nosso cuidado), escapa energia da Mãe. Rompe-se o círculo magnético de nossa intimidade.
Isto pareceria um dilema. Ir contra a caridade? O que é mais importante? O que devo escolher? A caridade ou o cumprimento dos Votos? É um dilema.
Nossa missão é muito mais ampla. Se cumprirmos, se nos encerrarmos, nossa caridade abarcará o mundo inteiro: assistimos e curamos os enfermos, ajudamos os necessitados, guiamos as almas.
Nossa renúncia é: Não! Não! E Não!
A vida dos homens é fazer, ir, vir, dissipar-se. Mas a do Ordenado é estar, concentrar-se, negar-se, desfazer o que os homens confirmam, não por egoísmo, mas para cumprir uma missão de maior amplitude.
Dar, dar e mais dar.
O Raio de Estabilidade magnético interno é um dom da Mística da Renúncia.
Somente os que praticam a Renúncia participam desta mística divina.
Se saímos de nosso Raio magnético de Estabilidade, malgastamos nossa energia interna e não cumprimos perfeitamente nossa missão, que sabemos é: saúde para os enfermos, assistência para os necessitados, direção para as almas.
Nosso corpo é um receptor e um emissor: continuamente estamos dando.
Ensinança 17: Somos uma Reunião de Almas - 9/06/56
Um dos maiores gozos da vida espiritual é a união das almas. Os seres humanos buscam sempre companhia porque o homem não pode viver só. Sempre necessita de alguém que o acompanhe: a própria vida é uma sucessão de feitos que reúnem os seres com laços de sangue, de circunstâncias, de trabalho. Pois bem, o homem tem esse extraordinário privilégio de comunicar-se com outros seres, mas tem a grande dor de ver que a separação é sempre inevitável.
A união dos seres implica, já de per si, em uma futura separação, porque a vida sobre a Terra é uma sucessão de fatos que são alheios à vontade do homem. Mas Deus reservou aos que seguem o Caminho Espiritual uma reunião que está além do tempo, da alegria de estar juntos por um momento: é uma união que começa na Terra e termina na Eternidade.
Nosso Regulamento diz que "somos uma reunião de almas", quer dizer que este laço é eterno porque é sobrenatural. Há coisa mais extraordinária que a de saber que encontramos muitas almas das quais nunca nos separaremos? Na terra há, todavia, algo que é um pálido reflexo dessa união: a amizade. A amizade é o único que espiritualiza e eleva a reunião dos seres. Esse laço está além das coisas materiais. São Francisco de Sales disse: "Amar, sem a necessidade de amar esse ser, nem por nada material, nem por laço de sangue, mas amá-lo".
A reunião das almas que seguem uma Senda Espiritual é uma pura, nobre, desinteressada amizade. Porém, o que a distingue é a Eternidade, o sobrenatural e isto é o que faz que ela persista através do tempo, do espaço, dos acontecimentos.
Se bem que sejam poucas as almas que nos precederam no além, não há nada tão vivo como sua presença e elas nos esperam nesse mundo que não tem princípio nem fim. Ainda para aqueles que não as conheceram, sua presença está viva na lanterna, em uma pequena obra, numa parede levantada, numa pedra, num pequeno detalhe a nosso redor (a chaleira da cozinha que Violeta comprou). Mais ainda: ressoam suas palavras. Parece que se ouve chegar o carro de Santiago Rébora...
Na verdadeira reunião de almas, os anos fazem com que a aproximação seja maior, e isto não é mais do que um ensaio. Muito mais viva será esta reunião quando as encontrarmos em espírito, no conjunto harmônico do Corpo Místico de Cafh. Este é um milagre de amor e realização.
Há que deter-se nessas palavras: "reunião de almas". Tudo está ali, não podemos separar-nos. Chega a mim através da palavra do Diretor Espiritual, do companheiro, do Superior.
Tudo está ali como uma luz que ilumina nosso caminho. Essa voz chega a mim continuamente, sua luz vive comigo e isto não se compara a nada do que existe sobre a terra. Ainda que não nos voltássemos a ver, este laço, esta presença, fazem-se mais íntimos e reais.
Às vezes um Filho vai a seu Diretor para dizer-lhe suas penas e pesares; porém, quando se está longe, a comunicação é mais expansiva, com uma saudação, um silêncio que parece esquecimento. Olhamo-nos frente a frente e olhamos o caminho a percorrer para chegar ao cume, e perguntamo-nos quanto nos falta ainda.
Isto ultrapassa todas as ditas e o temor do mundo. Também sobre a Terra o ser quer eternizar esse instante de união através da compreensão mútua, mas o momento passa e fica-se amargo e vazio, mais vazio do que antes, porque havia um prazer pessoal e o prazer é alheio ao espírito e ao seu segredo.
Mas a vida espiritual nos revela esse segredo: as almas só podem eternizar sua união no amor espiritual. Daí que, ainda que nunca nos tenhamos visto, vemo-nos e conhecemo-nos e parece como se estivéssemos há cem anos juntos. Há uma discreção amorosa para perdoar os defeitos e as faltas, há compreensão imediata, união, fusão de alma com alma.
A dita da amizade é o poder ver-se, unir-se intrinsecamente, porque o que amarga é o pensamento de não ver-se mais. A Renúncia de Eternidade nos dá este bem de reunião de almas. Em um momento nos dizemos:
"Tua vida é minha vida, teu amor é meu amor", e isto permanece para sempre.
Ainda os que se foram vêm ver-nos e dizem-nos: "Ainda estamos aqui. Crês que teu véu não é meu véu, que tua capa não é minha capa?". Tudo é da Divina Mãe. Nós somos sempre jovens; escolhemos a mesma vida; temos a mesma animosidade – não a animosidade adversa, mas a que dá vida, que através dos pequenos inconvenientes de palavras ou de opinião, afirma o amor mútuo. Passará o tempo, virão acontecimentos, mas sempre estaremos unidos, sobrenaturalmente. Ainda quando cruzarmos o vale escuro da morte, estaremos unidos, porque nossa reunião é reunião de almas.
Ensinança 18: Este é o Regulamento de Cafh - 11/08/56
São as palavras inicias de nosso Regulamento. Não diz: "Este escrito ou normas"; diz: "Este". O Regulamento é algo espiritual, abstrato, indefinido, não escrito, contrário ao que se possa imaginar.
Nosso Regulamento não começa diretamente com as normas, mas diz: "Este é o Regulamento de Cafh". Parece que com isso, quer significar que não tem forma, nem lei, que não quer encerrar-se em algo definido. Esta primeira frase é como um selo de espírito e recorda as palavras de Paulo aos Coríntios, quando diz: "Vós sois carta de Cristo". Quer dizer que cada um de nós é, ele mesmo, a lei de Cristo. A palavra divina está viva através de nós. Nós somos a expressão de nosso divino Regulamento. Somos o Regulamento de Cafh. No momento em que pomos os pés na Senda, transformamo-nos de homens humanos, em divinos. Das leis humanas passamos às leis divinas e espirituais. O Regulamento de Cafh não é um conjunto de leis impostas, mas o modo espontâneo de viver daquele que abraçou o Regulamento. Isto não está disposto ao acaso ou determinado por coletividades ou povos, mas sim, por uma lei natural e divina que permite fazer do renunciamento uma realidade. Todo aquele que abraça a Renúncia vive segundo o Regulamento. Todas essas normas as ditou a nosso coração a Divina Mãe. É a Lei Eterna que toma forma através dos atos de nossa vida, que nos leva à conquista da Renúncia libertadora.
As leis têm sentido no momento em que são necessárias, porém, se depois nos atamos a elas, escravizam-nos e induzem-nos a lutar contra elas. Mas, quando são espontâneas em nós e surgem como uma necessidade da alma, transformam-se em nossa segunda natureza. Então, podemos queimar o Regulamento que isto não desaparecerá de nós. Porque a Lei Divina que nos foi ensinada como uma técnica ascética para alcançar o que nos propusemos, é parte de nós mesmos, sou eu mesmo, eu a elegi por Vocação.
Sentimos a necessidade de viver nossa vida de renúncia. Não obstante, há que lutar com a natureza humana. Se bem que a aspiração seja divina, a natureza humana obscurece até o ideal mais puro, o sol mais brilhante e o ser decai um pouco, obscurecido pelas paixões correntes. Quando falamos de paixões, não queremos dizer as más paixões, e sim, uma mudança de idade, de costumes. É porque não temos ainda o dom de estabilidade divina que é necessário escrever as normas. Por isso, as almas têm normas escritas em seu Caminho, porque essas normas são como um ponto de apoio, uma recordação. Não é que tenhamos que abrir o Regulamento para saber como comportar-nos. Ainda se este desaparecesse, não deixaríamos de viver assim. Porém, ao obscurecer-se a luz integral da alma, abrimos o Regulamento para renovar o fervor.
Para as almas vocacionais, não existe a ensinança escrita, porque a Divina Mãe fala ao seu coração. É a quintessência da Revelação de Deus, de todos os caminhos místicos, o símbolo sagrado de nossa raça: a Cruz sobre o Círculo.
Só quando o discípulo está preparado é que esta voz fala ao seu ouvido e ensina-lhe a Idéia Fundamental da Raça: cruzar a ponte da razão e desenvolver a intuição divina. A Mãe Divina diz à alma: "Essa ponte é o teu esforço, tua ascese. Eu estarei a teu lado. Quando a tenhas cruzado, Eu desaparecerei e tu também desaparecerás e seremos um".
Esse é o símbolo de nossa Raça. Temos que conquistar a razão para voltar a ser o que éramos. Se caímos, é para voltar a levantar-nos com nossos próprios meios e conhecer-nos a nós mesmos.
O Regulamento é a essência de nossa vida espiritual. Renunciar quer dizer despertar e para despertar necessitamos do esforço, de normas de vida, tal como no-las dá nosso Regulamento, para cruzar a ponte que nos levará à intuição.
Precisamos de um Regulamento escrito para que nos desperte cada vez que o sonho racional nos arraste à nossa tumba de homens. O Regulamento não permite que nos detenhamos. Faz-nos contemplar o ilusório do que temos deixado. Essa ponte que temos de cruzar está cheia de cadáveres, mas o Regulamento nos empurra. Como a fraqueza humana tende a amortecer a lei escrita na alma, o Regulamento, que está escrito em nosso coração, que é a expressão de nossa alma, é escrito para os homens.
Porém, ainda assim, o homem esquece essa lei, passa por épocas de grande obscuridade. Então, os Superiores recordam à alma a lei escrita: repreendem-nos, seguem-nos os passos, recomendam-nos a Observância.
O Regulamento necessita estar escrito, até que chega o dia em que já brota espontaneamente da alma, pela graça santificante que mora nela. É a expressão de nossas obras. Então, já não somos da multidão, uma alma que sempre necessita de um chicote que a desperte. Ganhamos a vigília verdadeira do espírito e estamos por atingir a outra margem da Eternidade.
Ensinança 19: Os Bens de Cafh Serão Intrínsecos - 18/08/56
Cafh está destinada a cumprir uma missão providencial, social no mundo, segundo as palavras de nosso Regulamento.
A Mãe quer, assim, dar-nos a solução para os problemas e os males do mundo.
Nossa era produziu uma grande civilização. O homem, com seu esforço, alcançou grande progresso, comodidades. Porém, tudo custou muito e o homem tem, sempre, que recorrer a espantosas matanças e grandes guerras. Os bens materiais alcançados são mantidos e conservados com a dor e o sacrifício.
Por isso, o homem necessita ter um novo sentido do que é a posse, do que é e do que não é, e esta solução a achará nos bens reais da alma, intrínsecos e não extrínsecos.
Os bens espirituais são os bens intrínsecos. Os bens intrínsecos não são dons, nem posses anímicas, nem morais, mentais ou sentimentais.
O bem anímico e o espiritual não são a mesma coisa. Há uma diferença fundamental entre eles.
Vejamos: quem deixa tudo, renuncia a sua família, comodidades, etc, é heróico e realiza um ato extraordinário. Faz tudo, ou crê que o faz, por amor à Divina Mãe. Mas, quiçá, desenvolva depois em seu interior uma posse, uma adesão psíquica (adquire para si, bens anímicos): ajudar a humanidade, a oração, alcançar a suprema liberação.
Em um livro escrito por um médico famoso que foi à Índia, este relata que visitou um grande ser e, conversando, os dois, ao entardecer, alguém disse a esse sábio: "É tanta a paz e o sossego que experimento aqui, que não desejo a liberação". Ao que o sábio respondeu: "Essa é a liberação".
Na vida de Renúncia, pode ser que se deseje a liberação, porém o desejo não é liberação. É querer possuir algo para si e, ainda que seja um bem anímico, é uma posse.
A oração, por exemplo, é algo que vem a nós porque nossa vida nos predispõe a isso: o horário, a Observância, a psicotécnica que se realiza através dos métodos.
Acumulamos energia (como o cachorrinho que, quando é desatado, salta e corre). Nós, ao adquirirmos a fortaleza, conseguimos o que desejamos. Essa é uma lei infalível e natural. Adquirimos um poder e cremos que temos algo moral, um dom de força.
Temos também o dom de sensibilidade.
Nossa vida nos dá esse dom. Adquirimo-lo através da gota de sangue diária que se derrama em nosso coração como um licor místico. Como não podemos escapar, tudo projetamos ali. Adquirimos uma expansão de emoções tão grande, que ninguém pode imaginá-lo. A aridez dá uma maior capacidade ao nosso coração. Tudo temos encerrado e esse amor se expande na medida em que se contrai e transforma-se no missionário que atrai as almas. Uma palavra, um fato qualquer, expande nossa sensibilidade.
Mas, se nos damos conta dessa nossa capacidade, podemos chegar a crer que possuímos algo.
No aspecto das coisas mentais, adquirimos verdadeiros dons, mas como é muito difícil usar o intelecto sem cair sob o jugo da razão, quanto menos sabemos, melhor para nós. Há que pagar um tributo pelo que se sabe. A alma faz-se escrava do que sabe e custa a desprender-se disto.
Se deixarmos de saber, começaremos a ver sob o foco da mente superior e saberemos sem saber, iluminados por essa luz.
Ao entrarmos no Seminário, dizem-nos para deixarmos tudo o que aprendemos, para assim perdermos a tirania da razão. Ao romper a cadeia, fica a essência divina, que transmuta tudo em um poder superior. Deixamos de ser professores, doutores, etc; perdemos assim um conhecimento limitado e alcançamos um conhecimento universal. Rompemos um fio e é-nos dado um mais forte.
A razão passa a ser nossa servidora. Fazemos trabalhos manuais e aprendemo-los rapidamente. Mas o perigo está em pensar que temos um poder ao dominar a razão, que podemos manejar o mundo, amar a todos. É uma verdade negativa que nos encerra e esmaga-nos.
Há o exemplo da nação que junta trigo e guarda-o. Quando há falta de trigo, vende-o a um preço elevado. Mas, vem um ano bom para outras nações e, para manter o preço elevado, a primeira arma uma guerra, prejudica as demais para que não possam semear e tenham de comprar dela.
À Igreja acontece o mesmo. O bem possessivo nos esmaga. Se o bem não é possessivo, não se guarda nada. O cão come até fartar-se, mas logo que está satisfeito, não faz nada se outro cão come de sua comida. O homem guarda e prefere que apodreça, antes que dá-lo. (É o caso do café no Brasil e da United Fruit Co.).
O bem moral, a oração, é o mesmo: pedimos pelos que nos interessam e aos demais que os parta um raio.
Cristo chamava a todos para que se aproximassem, mas a Igreja aproxima os que lhes são aditos, promete-lhes o céu e os outros, manda-os ao inferno.
Nós haveremos de pedir pelos que conhecemos, porém tudo o mais há de expandir-se como se expande o raio de sol, que não pergunta a quem aquece.
Haveremos de pôr o cântaro, para que todos bebam água.
Se o fazemos possessivamente, a oração não somente nos encerra a nós mesmos, como àqueles que amamos. Se amarmos unicamente Cafh, criaremos outra religião, outro círculo. Temos de chegar aos que não conhecemos, porque nosso amor é da Divina Mãe. Amar aos que não nos amam, sentir por todos e, se alguém está doente ou se um ônibus sofre um acidente, não podemos pensar em nós somente, mas em todos.
A Ensinança tampouco há de ser guardada. É uma má interpretação do silêncio. Falaremos, daremos de acordo com a compreensão dos outros, de acordo com o seu alcance. Colocar-nos-emos no lugar do comerciante. Faremos mal a ele se lhe damos a Ensinança do papel, com seus detalhes e nomenclaturas. É falsa caridade.
A Ensinança possessiva é a que se guarda e não se dá. Se se a guarda não é nossa: é nossa por amor de expansão. Haveremos de dá-la até aos mais céticos. Isso é sabedoria: é o bem intrínseco.
O Bem Espiritual é negativo. O único Bem Espiritual é a paz, simplicidade, a desaparição dos compostos: princípios intelectuais, psíquicos, etc.
O único e verdadeiro Bem é o do Espírito.
Ensinança 20: Um Programa Social de Renunciamento - 15/09/56
Nosso Regulamento, ao dizer que devemos ser obedientes às leis do país onde vivemos e respeitosos com a religião do mesmo, dá-nos todo um programa social de renunciamento.
O Filho que renunciou há de deixar de pensar e de sentir, para ser. A Renúncia nos faz morrer para a vida exterior, para o modo de pensar, de sentir, de atuar, para que sejamos – só depois de haver assim morrido – seres. O importante é ser; é a realização espiritual. Porém, esta realização espiritual, esta contemplação e ação de nossa vida de renúncia, seria vã e inútil se estivesse dedicada unicamente ao nosso aperfeiçoamento interior. E, ademais, este aperfeiçoamento interior se efetua de dentro para fora, quer dizer, que a alma que verdadeiramente progride, tem como base fundamental, desde o início do caminho, o sentir de que não pode haver perfeição para ela, se esta perfeição não se comunica a toda a humanidade.
O Filho, que fez Voto de Renúncia, tem por missão transcendental, apesar de afastar-se do mundo, que seus resultados diretos cheguem às almas como resultados sociais.
Agora: como se pode combinar esta força que chega ao mundo, com esses dois conceitos de nosso Regulamento, de que devemos obedecer à lei e respeitar os ideais alheios? Dá a impressão de que, se somos almas que queremos levar a liberação, temos que fazer uma revolução, mudando as leis, religiões e crenças. Isto dá a impressão de uma rebeldia frente aos valores estabelecidos. É natural que, se vivemos a vida de renúncia, queiramos levar uma perfeição interior às almas, mudando o mundo. Tudo parece contrário às palavras de nosso Regulamento, mas não é assim.
Esta é a questão: a lei exterior dos homens e governos do mundo é externa, portanto é imperfeita e, com o tempo, terá que ser suplantada pela lei universal e única, interior e anímica.
Ao obedecer, levamos sobre nossos ombros a cruz dos homens, cruz tão pesada porque é exterior. Essas leis não levam o homem mais que à destruição. Há uma temporada de paz, porém é aparente. Os seres do mundo, quando falam, demonstram horror pela guerra, dizem que não deveria existir. Antes da Segunda Grande Guerra mundial, os que falavam com Filhos de Cafh, diziam sentir horror à guerra. E o que aconteceu? Veio um descontentamento coletivo, provavelmente pela influência do espírito, já que, se emanamos forças espirituais, isto traz uma desconformidade coletiva. Mas, como não estão educados na Senda Espiritual, em lugar de se sentirem descontentes de si mesmos – e isso os induzisse à Renúncia e à posse interior que é a única verdadeira – como não são capazes disto, projetam este descontentamento para fora e comunicam-no ao mundo. Por isso, os que estão descontentes se tornam belicosos.
Alguns sentiam horror porque se castigava um animal. Não compreendem certos hábitos nossos, da América. Mas, quando começou a psicose da guerra, raciocinavam mui diferentemente: queriam matar porque era justo.
Esqueceram as palavras de Cristo: "Se teu inimigo te bater, tens que dar a outra face." Mas o povo quer ter seus direitos e, por isso, os povos se atacam uns aos outros.
Todas as leis levam a isso. Mas temos que dar um remédio radical, que não é o de ir contra a lei externa. Quando o homem reconhece que sua energia tem que expandir-se de dentro para fora, todas as leis perdem seu valor. Não nos importa se governa Paulo ou Francisco, porém sabemos que o que os pôs ali foram as nossas ações. Pode ser bom ou mau, tudo é resultado de nossas ações.
A lei verdadeira é a lei interior. Por isso, nosso Regulamento não contradiz a lei espiritual, porque, se somos respeitosos com as leis de um país, mas somos interiormente o que temos que ser, o mundo se transformará.
E, somente a Renúncia o transformará.
Poder-se-ia perguntar se isto é dizer muito. Não. Todas as religiões o proclamaram. Porém, consideremos bem as palavras do Regulamento. Diz: "respeitosos", e não que devemos aderir à lei.
A religião e a renúncia são contrárias. A religião é a vestidura da renúncia espiritual. As religiões nos indicam que ali houve uma chama que deu vida a um ser, uma imagem. Mas, quando dizemos "respeitosos", não quer dizer que devemos aderir a ela. Todas as religiões se basearam sobre a renúncia, sobre a realidade interior e espiritual. Seus fundadores eram verdadeiros enviados de Deus. Não obstante, eles não deram uma regulamentação exterior, não fundaram a religião. Tudo se baseia nisto: "Refugio-me no Buda, no método, dharma, sank." Isto quer dizer, realização espiritual através da Ensinança dos Mestres. Dharma é método, não religião. "Adiro ao sanga, baseio minha vida espiritual em uma renúncia total". Os que vêm depois, fazem disto uma religião, mas não o Buda. Ele cala, não revela os mistérios do além, limita-se a explicar como liberar a alma nesta vida e é sempre através da renúncia. Buda disse que tudo é dor e sofrimento, que somente abandonando-se a Deus, vence-se a dor. O mesmo sucede com o cristianismo.
A religião cristã é uma poderosa armação. Os povos cristãos fizeram a guerra mais destruidora do Universo. Se se pensa um pouco, pode-se perguntar: isto faz sentido com o Sermão da Montanha? Ali disse Cristo: aquele que perde, ganha. Bem-aventurados os que pedem, os pobres. A palavra de Cristo se baseia no renunciamento: "Toma tua cruz e segue-me. Quem queira seguir-me, deixe pai e mãe." Tem que lutar contra os valores afetivos, basear-se na renúncia. Nós (Cafh), não fazemos nada mais que afirmar o que disseram todos os grandes Mestres, mas suas palavras foram desvirtuadas com as explicações teológicas e religiosas.
Nossa obediência e respeito não são mais do que meios de compreensão porque, se uma comunidade nos diz que seu caminho é bom, ou se votamos em um presidente, nem por isso vamos segui-lo. Para nós, não tem valor. O valor fundamental está na Lei Única, interior. E se nós praticamos nosso Voto de Renúncia, já ganhamos uma parte da grande batalha para a salvação do mundo. Se essa renúncia se faz efetiva através da dor, será fruto de salvação para as almas. A elas aderirão muitas outras. A salvação não virá se condescendemos com uma lei ou a desprezamos e sim, com a Renúncia, se se abandona tudo o que é exterior e possessivo. Voltar-se para o interior, morrendo ao que é aparente, que se contradiz e muda, que se choca, aproxima-se e distancia-se. Nossa lei está no interior. Há que demonstrar ao ser humano que é essencial para ele embelezar e salvar sua alma. Quem perde sua alma, perdeu tudo.
Nossa lei tem que basear-se sobre a Renúncia que se expande até os seres. Assim, o respeito às leis e religiões se transforma em um método e esforço que, em lugar de levar-nos ao descontentamento e rebeldia, faz-nos compreender que as leis externas mudam continuamente.
A que não muda é a Renúncia. É uma verdade espiritual.
Parece mentira que aqueles que se julgam serem espirituais, deixem-se arrastar pelo descontentamento, injustiça e justiça do mundo.
A Renúncia, ao fazer-nos mortos para o mundo, segrega-nos dessa coletividade, tira-nos dessa psicose coletiva. Dá-nos a paz e a compreensão de que esse mal pode ser afastado no futuro, através do verdadeiro desprendimento das coisas externas, não de pensamento e especulação, mas deve ser real e integral.
Ensinança 21: As Virtudes Interiores - 22/09/56
Sempre deveremos ter bem presente que todas as virtudes são essencialmente superiores e que tudo quanto ajuda à virtude exteriormente não é a virtude, mas um método para adquirir mais uma determinada virtude.
A alma que busca Deus tem que estar sempre muito atenta para não cair no equívoco de confundir o exterior com o interior, sobretudo quando se trata de virtudes. Não confundir a virtude sólida e verdadeira, com os atos exteriores que ajudam e fomentam essa virtude no interior, mas que não são a virtude em si.
A virtude interior é a que vale, é a única verdadeira. Aquele que queira seguir o conselho dos virtuosos do mundo nunca chegará a isso, porque eles dizem: o importante é ser bom interiormente. Mas, apesar de dizerem isto, vê-se que os métodos, a vida dos que dizem isto, é tão contrária à virtude verdadeira, que se percebe claramente que a virtude no mundo não é mais do que uma teoria racional.
O Filho sabe que o método que há de praticar exteriormente, é dado pela Ensinança. No conto "O Menino Celeste", vê-se que o anjo que perdeu suas asas não pode tornar a voar sem alguém que lhe ensine. Assim, também a virtude não pode ser adquirida só pelo fato de desejá-la e amá-la. É necessário um método exterior para poder alcançá-la. O perigo está em confundir a virtude interior com o método exterior que se pratica. O método não é a virtude. O método nos dá um hábito de virtude exterior, porém, se não se adquire essa virtude no interior, essa virtude, essa vida exterior, é contrária à verdadeira virtude espiritual. Isso seria uma fraude contra Deus, porque estaríamos demonstrando no exterior o que não possuímos no interior.
A virtude perfeita é a que mora interiormente, mas que também se demonstra no exterior. Uma virtude que não se demonstra no exterior, é muito possível que tampouco exista no interior. Mas, a virtude exterior que não se possui no interior é um hábito nocivo e terrível para a alma.
Esta nossa vida, que é feita de métodos para adquirir virtudes, tem que ser um reflexo da vida interior da alma, do coração. Nosso exterior tem de ser um espelho fiel de como procedemos interiormente.
Atenção! Sempre existe o perigo de que a alma caia no hábito exterior, em prejuízo da virtude interior.
A Observância é o mel da vida de Comunidade, é o néctar da alma que aspira à perfeição. Amoldando-se a alma à Observância, conhece a felicidade mais perfeita, possível de adquirir, porque quem cumpre com fidelidade e amor a Observância, sabe que essa é a sua melhor medida da virtude interior e espiritual.
A verdadeira Observância é o espírito da Observância, de perfeição de Observância. Correr ao toque da campainha é formoso, guardar o silêncio, falar ao iniciar o recreio, comer como está indicado, como se nos ensina. Porém, cumprir com fidelidade e pontualidade não é possuir nem adquirir a virtude da Observância, porque Observância, espírito de Observância, é ver como se procede interiormente com ela.
Por exemplo: Observância é estar contente e alegre no recreio. Porém, há quem sabe entreter com amor seus companheiros, mas, às vezes, pode-se cair no defeito de entreter-se a si mesmo. Por exemplo: se falo do que me interessa e meu companheiro quer falar de outra coisa e sigo falando sobre o meu assunto. Aí se falta à virtude. Como o que põem diante de mim porque é a Divina Mãe quem o preparou e por isso me é agradável. Mas se ponho ênfase muito especial em comer, o que está presente é a gula e não a Observância.
Isso se vê em seguida. Se algo me agrada mais, se olho se o prato é mais ou menos abundante, não como por amor à Divina Mãe, ficou um ressaibo de gula. Às vezes, na conversa, faz-se uma alusão à comida. Ali se vê o espírito com que se comeu. Pelo gesto ou a alusão, vê-se que não se tem a virtude da mortificação.
Exemplo da modéstia dos olhos: pelos olhos, vê-se o estado da alma. Se há modéstia dos olhos é porque se venceu a curiosidade, é porque se está olhando no interior. Às vezes, quando o Superior está perto do Filho, este guarda muito a modéstia dos olhos; mas, quando está longe, dá uma olhadela e vê tudo.
O trabalho manual para nós é como a oração, é parte integral de nossa Observância. O Ordenado tem poucas horas de trabalho manual, se descontamos os feriados e as datas festivas. Por quê? Porque se supõe que rende cem por cento, que vale por dez, vinte e cem.
Mas, também alguns Filhos praticam a virtude do trabalho com as mãos, porém não põem ali o pensamento, amor, essência e virtude.
Acaso o trabalho rende porque se trabalha pesado? Para mover uma pedra, vale mais a força ou a habilidade, certo jeito? Não. O trabalho tem que ser acompanhado com o amor, a vontade. Há que pôr a virtude interior. Não basta fazê-lo porque nos mandam. Há que acompanhá-lo com a luz interior, senão é estéril.
Os atos exteriores não são mais do que incentivos para a virtude interior, sobretudo quando se trata dos votos, que são a essência da Observância.
Na maior parte do dia, o Filho cala e seu silêncio é a voz com que fala à sua Divina Mãe. Mas, que valor tem este silêncio se, em um minuto que fala, ofende a um companheiro ou sente-se ferido por uma observação? É como aquele que junta o precioso mel em um copo e, depois, o come de uma vez, sem saboreá-lo. Podemos ter fidelidade à Mãe e esta virtude nos dá a grandeza dos anjos do céu. Mas, de que nos vale, se não fazemos o que temos que fazer e sempre guardamos algo para nós? Quando vamos dar a última gotinha, guardamo-la.
Temos uma grande fidelidade, mas o coração reprova quando nos ofendem, julgamos os Superiores se cremos que não procedem com justiça. Assim, conservamos a personalidade.
Pode ser grande a Obediência, mas, às vezes, tem suas obscuridades. Se há algo que nos desagrada e o Superior esquece de nos dizer, calamos. Por que não se interpretam as palavras, não ditas pelo Superior? Limitamo-nos estritamente ao que foi dito.
É que a verdadeira virtude está no interior. O exterior não é mais do que o método que conduz a ela.
Já que consagramos nossa vida à busca das virtudes para poder encontrar a Divina Mãe, não podemos mudar nada. A Observância é interior, a modéstia é a ausência de tudo que não quero saber, porque não me corresponde. O espírito de sacrifício é não deixar transparecer o que me agrada ou desagrada, o trabalho de que gosto ou não gosto. Amar as ordens e não apenas suportá-las, buscando-as e transformando-as no bem de nossa vida. Não se encontra a Divina Mãe com a doçura, mas com a dor da repreensão que faz sofrer mais, estar com o pobre e o necessitado, padecer e ser desprezado. Estar com o que leva a pior parte, participar de sua vida e dor. E como se pode fazer isto, senão com a adesão à dor, resistência, oferenda? Estas são as virtudes das almas consagradas.
Esta é a vida que dá inveja aos anjos, vida admirável, que é sinal de que a salvação dos homens está no espírito. Este é o método que conduz à Divina Mãe. Porém, tem que ser um reflexo da virtude que existe na alma, no coração. É a essência da luz que se leva dentro do coração, e só então será perfeita, porque não estará nem dentro, nem fora, senão que viverá no coração e derramar-se-á ao nosso redor sobre os que nos rodeiam: Humanidade, Cafh, Comunidade.
Ensinança 22: A Direção Espiritual - 6/10/56
Este é para nós, um tema de comum interesse. Aqui foram explicados os conceitos que o Mestre Santiago tem sobre a direção de almas e quais são suas modalidades particulares para que nós participemos, compreendamos e identifiquemo-nos com a sua idéia. Tudo isto é particular e nada tem a ver com o modo de dirigir de outros diretores, que levam os Filhos a um estado de perfeição. Tampouco quer o Mestre Santiago mudar ou contradizer as diretivas dadas pelo Regulamento e a Interpretação. Não. Cada Diretor Espiritual tem sua modalidade.
Se nos colocamos na posição de um Superior, o único caminho é o que indica o Regulamento e a Interpretação. A modalidade do C. G. M. não é uma contradição nem uma crítica a nada. É simplesmente sua modalidade. "Porque, disse, os seres humanos são como as flores. Cada flor tem seu tipo, seu perfume, seu tempo para florescer, e o pior seria crer que há que seguir um caminho unilateral. Isso é impossível."
Quando uma alma se entrega a um Diretor Espiritual, não é esta uma eleição feita por ela ou pelos homens. É algo misterioso e divino, desconhecido para o homem.
A lei da união das almas não pode ser explicada racionalmente, não pode ser definida pelo que "eu penso ou tu pensas". Vem de Deus.
O C.G.M. também pensa que, quando lhe é dada uma alma para dirigir, é porque ela tem estado unida a ele desde outros tempos. Ele não sabe de onde nem quando nem como, porém não pode imaginar que se possa dirigir uma alma em um só dia. Vem de antes, desde a distância dos tempos.
Claro que esta é uma opinião pessoal porque a Direção é algo de Deus. Parece-se com o amor que brota quando quer.
"Quando recebo uma alma para minha Direção, essa alma é minha e eu sou seu. Não é esta uma relação de dependência, mas de união estritamente." Se houvesse dependência, ele não poderia ser seu Diretor. O amor é o único que dá a união espiritual. Não há dependência entre eles. Esta compreensão é fundamental. Isto quer dizer: "eu compreendo essa alma e ela me compreende, e o que ela recebe de mim será a única norma ideal de que necessita para alcançar a perfeição".
Opinião do C. G. M.: "A Direção Espiritual começa na Eternidade e termina na Eternidade. É a União".
Por isso, ainda que a alma vá até o último rincão da terra, isto não quer dizer que terminaria a Direção Espiritual. Não pode haver algo que seja e não seja, ao mesmo tempo. Quando se amou, não se pode deixar de amar. A alma pertence ao seu Diretor até que alcance a perfeição. É o único bem e finalidade a que se pode aspirar.
O Diretor Espiritual e o Superior são duas coisas diferentes. O que o Superior diz e ensina é magnífico e extraordinário. Porém, se o Diretor Espiritual tem uma alma, dirige-a durante todas as horas: "Eu tenho que estar contigo, pertenço-te em espírito".
A alma não pode ter véus para ele. Não são esses véus de palavras, mas os véus da voz do coração. Tem que haver sinceridade interior.
O Diretor continuamente ensina sua alma, dá-lhe sua ensinança. A influência é física, astral, mental e espiritual. Tem que chegar a ser sua imagem, seu exemplo. Assim a alma se translada a Deus.
A Ensinança é Universal (primeiro tipo) quando é dada aos homens através das revelações das grandes religiões e está escrita em toda parte.
A Ensinança de Cafh (segundo tipo) é dada para os Filhos. A do terceiro tipo é mais secreta, profunda, íntima e é dada na Direção Espiritual: de alma a alma.
Por isso, não há que estranhar se não se é chamado periodicamente, porque, às vezes, é melhor assim, senão essa conversação se torna rotineira. Como o Diretor é, antes de tudo, ensinante, poderia cair em um hábito, o que seria um peso e não uma ajuda.
O C.G.M. tem seu método: dirige com uma repreensão, diz uma palavra quando se está em conjunto. O principal é pensar muito nos Filhos e estar a seu lado quando o necessitam. Prefere que lhe peçam Direção.
Ele dirige, pondo-se sisudo e batendo no ombro. O C.G.M. disse que não tem o dom de comunicar-se com a palavra como outros Diretores Espirituais.
Dar a Ensinança ideal para cada um.
Conceito pessoal do C.G.M.: Se um Filho o procura e diz que tem distrações na oração, ele lhe dá o remédio uma vez. Não gosta de repetir as coisas. Voltar a dizer o que já foi dito seria perder tempo. O que se diz muitas vezes se gasta.
Há almas com quem falou uma só vez na vida e nada mais. Se continuasse ensinando, tudo seria uma repetição. Há Ensinanças Eternas: as do Diretor Espiritual hão de ser Verbo para o Filho.
Não há que sentir-se desamparado se não se conversa com o Diretor. Pode ser um gosto e nada mais.
Há que escutar a voz do Diretor quando se está sozinho e meditando. Quando está longe é quando está mais perto e durante o sono também nos ensina e orienta, se temos a verdadeira disposição. Seu método é de poucas palavras.
O C.G.M. está convencido de que, assim como a mãe dá vida a seu filho, não só falando-lhe, mas tendo-o junto a seu peito, assim também ensina o Diretor.
A Ensinança, ele a dá sempre: nos passeios, durante as refeições. Dá aos Filhos sua própria força e magnetismo.
Os primeiros Filhos sentiram a necessidade de estar a seu lado. A influência do pai no filho é fundamental. Assim também, o Mestre e o discípulo têm que ter uma mesma tendência espiritual, os mesmos gostos. Assim como os que se casam gostam das mesmas coisas, o mesmo ocorre com as almas que caminham juntas para a perfeição espiritual. Identificação total. O Diretor tem que ser exemplo. Porém, isso há que ver, porque é fácil equivocar-se. Sempre se pensa que o Diretor Espiritual, o Superior, têm que ser santos e que se deve imitá-los. Isto é um engano. Todos somos flores diferentes, de temperamento diferente. Uma pessoa fleumática, por exemplo, não pode imitar uma de temperamento nervoso.
A imitação é interior. Fora, está o homem com seus hábitos, etc. Imitamos o homem que realizou Deus em seu interior. A imitação está no seio mesmo da Divina Mãe, no lugar mais secreto.
O Diretor Espiritual não há de ser um guia, e sim aquele que prepara o caminho, tira as pedras e os escolhos.
As almas não querem ser tocadas. As rosas, quanto mais tocadas, mais cedo murcham. Há que regá-las, tirar o mato, mas sem tocá-las muito.
Há quem acredite que o Diretor Espiritual lhe dará a União Divina. Esse é um mistério que se realiza sozinho. O Diretor Espiritual é a imagem do Grande Diretor Espiritual.
A União de Amor há de ser unicamente a do Diretor Espiritual e a alma que dirige. Ele é a imagem do Grande Diretor Espiritual que nos dirige desde o além. Ele é a porta para ir à Divina Realização.
Ensinança 23: As Crianças no Colégio - 17/12/56
Esta Conferência foi dada pelo C.G.M., baseando-se em algumas observações escritas que, a seu pedido, fez-lhe a Dama Superiora Delegada, Sra. Amélia de Bovisio. Considerou aquelas observações que se referiam exclusivamente à educação e ao trato dispensado aos meninos no colégio.
O trabalho que a Divina Mãe deu a esta Comunidade é a educação dos meninos. Disse a Dama Superiora Delegada que o nome que tomamos de Professoras Integrais é muito formoso, mas se não se preenche todos os aspectos que esse nome implica, leva ao riso.
O colégio, desde o início, tem dado um trato, sobretudo maternal, aos meninos. Nós éramos as serventes e eles os donos da casa. Assim se os educou, de tal forma que sempre ficará neles a recordação da ensinança e do amor que receberam. Isto podia ser enquanto eram poucos, mas à medida em que iam aumentando em número, pudemos comprovar que padecemos de vários defeitos. Neste ano, a Divina Mãe nos colocou frente a uma prova duríssima. Tão dura, que passarão outros dez anos antes que possamos apagar seus efeitos. Tardamos dez anos em levantar o que temos da obra e agora, devemos começar de novo. Começar de novo não é fracassar. É o melhor que pode ser dado ao ser, sobretudo ao ser espiritual. A Divina Mãe quer de nós um espírito totalmente novo, não de entrega, mas de superentrega.
Vejamos: as Filhas são excelentes educadoras dos meninos, mas quando são poucos. Pois ao serem postas à prova com muitos, fracassam, perdem o controle e o domínio das crianças. Isto se comprova nos pátios estragados, na higiene das crianças.
Outras escolas, consideradas muito boas, têm uma pessoa para cada 40 ou 50 crianças e as atendem perfeitamente. Nós não temos mais que 10 e fracassamos.
Um fator observado pela Dama Superiora Delegada: as Filhas amam os meninos, mas seu amor é mais potencial do que ativo. Amam coletivamente, mas frente a um caso individual, perdem a paciência, a orientação, o campo visual, e isto redunda em prejuízo da direção individual da criança.
Por exemplo, falta o aspecto maternal do amor se, ao cair um menino, perguntam-lhe se estragou algo, antes de verificar se se machucou. Há também o aspecto dos jogos. Em nosso Colégio se fomentaram os jogos. Um colégio onde não se brinca, é um cárcere. Mas, segundo observou a Dama Superiora Delegada, nos jogos dos nossos meninos há ódio, rancor. No ímpeto de ganhar, agridem-se uns aos outros.
O C.G.M. considera necessário vigiar a criança, não durante o sono, mas, sobretudo, enquanto está se expandindo, nos jogos. Vigiar suas reações, orientá-la, repreendê-la.
Não há que vigiá-la da cadeira. Isto é, descansar e deixar que ela se desenvolva sozinha. Não. Nos jogos, temos que estar ao pé do canhão, muito atentos. Não podemos descansar, pois ali está o nosso trabalho. Introduziu-se o costume do apito, mas isto não é tão efetivo como a vibração da voz. É mais cômodo, mas a criança necessita jogar dentro do nosso raio de magnetismo.
Educa-se a criança com o exemplo e a palavra. Nosso exemplo é de Renúncia, porém, nossas palavras nem sempre estão à altura do uniforme que vestimos. Muitas vezes, dizem-se palavras grosseiras aos meninos. Com isto, coíbe-se-os e, pouco a pouco, transformam-se nisto que os chamamos.
Tudo isto salta à vista, agora que somos mais. Por isso, ao sermos mais, nossas responsabilidades são maiores, frente a estas crianças que a Divina Mãe nos deu para que as eduquemos.
Temos que multiplicar-nos, desdobrar-nos, no verdadeiro sentido da palavra. Não digamos: "Não posso." Isto não se enquadra nas Filhas da Divina Mãe, que tudo podem. Temos de ser como uma mãe em seu lar: tem tempo para tudo, o tempo não existe. Somos Professoras Integrais, quer dizer, mães, professoras, irmãs, amigas, tudo o que as circunstâncias requeiram.
Sobre isto, temos de meditar bem. Os Irmãos Salesianos têm perto de 800 e as da Madre Cabrini são apenas 6 ou 8 para atender 800 e cuidam-nas muito bem.
Temos de chegar a essa força integral das Filhas da Divina Mãe, dizer: "Ela está em meu coração. Adiante."
O corpo é fraco, cansa-se, adoece, mas a Divina Mãe está a nosso lado e dali tiramos força para tudo.
Todos os Filhos são muito bons, têm o verdadeiro espírito, mas, está muito em potência. Um tem uma virtude, outro padece de um defeito. Se um é observante, falta-lhe sentido comum. Se sabe administrar, não tem espírito de trabalho. Tem que aparecer a semente do que o Mestre semeou. Saber organizar, administrar, uma verdadeira Filha da Divina Mãe.
Que neste Retiro saibamos morrer, que todo o passado fique na terra e tornemos a começar, desde a Mãe, não em parte, mas num todo, em uma só peça, porque partindo Dela, tudo se pode. Que tenhamos verdadeiro desprendimento, que não estejamos sempre pensando no que fazemos bem ou mal, que nos esqueçamos disso, e teremos forças para dirigir a nação argentina, a ONU, se for necessário. Do contrário, necessitaremos toda uma vida para fazer algo.
Este ano há que fazer novas modificações. Esperemos que sejam para o bem e que, depois das lágrimas, façamos a colheita com alegria.
Nós não podemos ter dificuldades, pois tudo deixamos. Isso é para o mundo. Nossas dificuldades são somente as do nosso adiantamento espiritual, da alma. Não temos problemas interiores e isto há de manifestar-se exteriormente, em capacidade para solucionar tudo.
O Voto de Renúncia é a alavanca que pode mover a Humanidade para salvá-la. Mas deve ser uma força efetiva e contundente, real, ativa e não apenas potencial.
Ensinança 24: As Vocações de Comunidade - 18/12/56
Tsong Kappa disse que os primeiros sete anos de uma Comunidade são os mais difíceis, porque são os anos em que se forma o espírito da Comunidade. Nos dez anos que se seguem, forma-se o Corpo Místico da Comunidade. Mas, depois de 50 anos, a Comunidade é inamovível.
Isto quer dizer que o princípio é a base e que as primeiras almas deverão ser bem formadas porque são o fundamento de tudo.
Nossa Comunidade é como um jogo de xadrez em que cada alma desempenha um papel. Porém, é necessário que todas reúnam em si todos os aspectos da vida de Comunidade.
Das Távolas de Solitários, o C.G.M. pode dizer que já estão formadas e ele poderia despreocupar-se delas. Mas, não pode dizer o mesmo das Comunidades que ainda têm que fazer-se. Se levarmos em conta o curto tempo que têm, pode-se dizer que já se fez muito, porém há muito ainda por fazer.
Nos começos, o mais importante é cimentar a vocação e eleger as vocações.
Este é um dos maiores e mais difíceis problemas. Saber quais são as almas destinadas para a vida de Comunidade é um dos mistérios mais profundos da Divindade. Tem-se podido ver que, almas de grande vôo, de sacrifício e oração, postas na vida de Comunidade, fracassaram; e outras, mais simples, eram as verdadeiramente chamadas.
O importante é saber quais são as eleitas. Como se pode dizer sim ou não a um aspirante? O C.G.M. não quer prová-las para depois, se não servirem, voltarem ao mundo. É reticente com respeito a isso. Tem um medo terrível, porque sua pouca experiência lhe ensinou que ninguém toca este fogo sem queimar-se. Ninguém põe os pés no Santuário da Divina Mãe, sem padecer depois, de uma ferida tão terrível e profunda, que não se sabe se poderá curá-la. Estão feridos de morte, ainda que não tenham dado o voto, que não tenham compromisso.
O que mais haveremos de cuidar é de não ferir. Mas, se eles preenchem todos os requisitos para a Ordenação, devemos recebê-los? Que fatores nos levam a fazê-lo? Esta é uma responsabilidade de todos. Não temos nenhuma visão para dizer se uma alma serve ou não. Portanto, haveremos de recorrer à oração. A segunda arma é a paciência. Recomendamos à Mãe estas almas e, para que não interfira nossa personalidade no pedido, é bom desconhecer o nome da alma. Há tantos fatores que despertam uma simpatia humana, sempre falsa e contraproducente frente aos mistérios de Deus.
Há que orar impessoalmente. Nossa arma é a oração. A Mãe é a única que pode dar a solução verdadeira.
Falemos das almas que têm vocação, mas que, quando estão dentro da Santa Casa, não têm paz nem força para corresponder à sua vocação. Por que não correspondem? É culpa delas, nossa, dos Superiores, que não sabem levá-las pelo verdadeiro caminho? Tivemos e temos almas que estão nesse ponto.
Descartemo-nos daquelas almas levadas pelo entusiasmo, que confundem a Ordenação, acreditando que a Ordenação é ser Superiores, dar ordens.
Falemos dos jovens com verdadeira vocação. Haveremos de observá-los muitíssimo, que suas idéias não variem de um dia para outro, que não se deixem esmagar pela tristeza.
Há que estimulá-los para que correspondam. Ainda que a alma seja idealista, porém, se vemos um verdadeiro amor à Divina Mãe, ajudá-la-emos, guiá-la-emos para que corresponda. Não vamos prová-los e logo mandá-los ao mundo para ver se podem encaminhar-se de outro modo.
Oremos pelas vocações. Somente a Mãe pode iluminá-las.
Cuidemos nós da Observância. Não somente renúncia interior, mas exterior. A renúncia interior também a pode praticar o mundo, mas nós haveremos de ser modelos de ascética e renúncia. Temos a graça de viver, que ninguém tem no mundo: renunciar.
Imagem da renúncia viva: interna e externamente. Isto é o que nos dá a força para atrair as verdadeiras vocações. Santa Teresa dizia: “Quando uma Comunidade está bem formada, as irmãs mornas passam. Mas, para formar uma Comunidade nova, mandem boas sujeitas”. Se formos bons sujeitos, as almas que vierem não fracassarão. Os homens são mais débeis. As mulheres sabem impor-se mais, têm mais espírito de sacrifício, não são tão sentimentais quanto os homens.
Que Deus as ilumine e ilumine-nos, para que as saibamos guiar quando estão conosco. Dar-lhes essa cutilada e pôr-lhes o coração da Divina Mãe.
Todos haveremos de chorar pelos que fracassam, porque todos somos responsáveis frente à Divina Majestade.
O ponto fundamental em nossa vida de oração é: eu nada posso, mas que minha vida, meu espírito de renúncia seja tão perfeito, que ninguém se desiluda ou perca sua vocação por minha causa, por culpa minha, que eu não lhe ponha nenhum obstáculo com minha falta de Observância.
As almas sofrem quando vão ao mundo, porque não puderam encontrar aqui o fruto que buscavam. Se a vocação houvesse sido falsa, teriam esquecido. É como aquele que lê um livro e esquece-o. Mas elas sofrem porque este era seu primeiro amor espiritual e o perderam. Elas padecem um inferno neste mundo. Não há maior inferno nem martírio pior que perder a primeira ilusão e, mais ainda, quando a ilusão é espiritual.
Oremos também pelas almas dos que faleceram e padecem. Há Filhos que não sabem o que se padece no além. Se o víssemos, morreríamos de terror.
Peçamos pelos ternos jovens que têm o grande fervor de tomar o caminho da Renúncia. Que Deus apague neles a idéia, se não são chamados. Mas, se vierem, que correspondam ao Amor Divino, e nós, ensinemos-lhes a corresponder à graça que receberam. Essa graça é tão imensa como Deus mesmo, por isso, não há voz humana que possa descrevê-la. E, como disse nossa Divina Mãe, um perfeito Ordenado de Comunidade pode transformar o mundo. E não há ninguém, nem Gandhi, tão grande como ele, que tenha uma missão tão extraordinária.
Oremos. Operem os Superiores quando for necessário. Que não nos venha o respeito humano, nem o temor de ficar mal frente a eles, porque se os fazemos sofrer, vão responder.
Ensinança 25: A Observância - 19/12/56
A Observância é a maior e mais valiosa pérola que têm os Filhos de Cafh, sobretudo os Filhos de Comunidade.
Somente a Observância pode dar-nos a segurança de que correspondemos à vocação, de que cumprimos bem nossos votos, e de que morreremos amparados pelo Amor de nossa Divina Mãe. Um Filho observante não perece, está no coração da Mãe, já vive a hora eterna. A Observância é o sinal indelével de que somos Filhos da Divina Mãe, é a essência exterior de nosso Voto de Renúncia. Ela demonstra que somos os portadores da Mensagem Divina. Aquele que se sacrifica e renuncia a si mesmo, que demonstra sua renúncia com todos os atos de sua vida, está na senda verdadeira. Esta é a nossa mística.
A Mãe nos deu esta força negativa para a expandirmos sobre o mundo. Porém, ela se faz efetiva com o esforço continuado que nos dá a Observância. No homem, a liberdade aumenta sua personalidade e essa personalidade fortalecida é uma força que se desperdiça para a salvação. Mas, nossa vida, de uma aparente não liberdade, libera-nos do jugo da força sensitiva e faz com que essa força se expanda a todos. Nós nada necessitamos, nem psíquica, nem espiritualmente, porque nosso alimento é a Divina Mãe. Como não gastamos nada, tudo se derrama sobre a Humanidade. A vida divina não gasta para subsistir, como o faz a vida humana.
Assim se compreendem as palavras de Cristo: "Eu sou Pão de Vida Eterna, uma fonte de água viva que mana continuamente e aquele que bebe desta água, não morrerá jamais".
É o segredo da vida de Cristo que podem conhecer aqueles que tudo oferendam a Deus através da Observância diária, que elimina todo o humano e transforma-nos em água viva.
Mas apesar desta extraordinária missão, às vezes, esquecemos a Observância! Há um momento do dia em que deixamos de ser deuses sobre a Terra e voltamos ao humano, por um descuido, uma falta de atenção, uma sombra de humanidade na alma. Como pode haver algo que nos separe de nossa Observância, se ela é o meio de liberação para nós?
Se estivéssemos dispostos a dar a vida para salvar a Humanidade, Deus não o quereria, pois Ele quer a gota de sangue diária da Observância. A Observância há de ser cumprida com toda a dedicação e alegria. Negar um ato de Observância é mil vezes pior que negar-se a dar a vida pelos demais. Dar a gota de sangue da Observância todos os dias da vida é fazer efetivo o martírio da Renúncia, ser holocausto para a salvação da Humanidade.
Às vezes, acontece que sabemos cumpri-la, mas resistimos subconscientemente. Não cumprimos algo que se deveria cumprir. Isto deixa um travo de tristeza em nossa alma.
Mas, o amor subjugará nossa natureza. O amor intenso tudo transforma e torna-se uma fonte de delícias. Amar o cumprimento é possuir esse grande bem. Assim se alcança o êxtase do cumprimento da Observância. Quanto mais negativo o ato de Observância, mais doce será como oferenda. Há o exemplo do Filho que, ao fazer a penitência no chão, sentia grande repugnância, porque isso lhe parecia tão impróprio para um homem. Mas, um dia, ao estar nessa posição, sentiu-se suspenso no ar, lançado sobre o mundo, no céu, e compreendeu que era esse ato de amor que o colocava acima de todos os seres do Universo.
Ao vencer-nos a nós mesmos, a Observância se transforma em um ato místico, redunda em benefício do ser que o pratica. A Observância, para ser perfeita, há de ser uma unidade absoluta. Todos os seres falam da Unidade quando mencionam a Vida Espiritual.
Cafh quer que sejamos uma reunião de almas, sem aspectos diferenciados, todas uma mesma coisa, para expressar o amor e o desejo de salvação para todos.
Acontece, porém que, na Comunidade, como vivemos juntos, vêem-se em seguida todas as nossas virtudes e os nossos defeitos. É como em uma família, onde todos se conhecem por esse contato contínuo. Cada qual caminha, ri, fala a seu modo. Porém, nossa Observância é a que elimina essas diferenças e distinções. Para alcançar a unidade de conjunto, hão de desaparecer todas essas formas, boas ou más, hão de ser uma só coisa. Por exemplo: um Seminarista não comia pão e fazia-o com grande suficiência. Esses costumes não valem nem contam.
Para entrar na Observância, há que unificar-se em tudo. Não há nada melhor do que, quando alguém pergunta: "Quem é este Filho?", não o reconhecem.
A base da Observância é que não haja diferenças: deixar ainda os melhores costumes para ser como a Comunidade. Imitar os Diretores e Superiores, para deixar o próprio modo de viver e fazer. Quando, por esta imitação, a casca fica fora, a Observância se torna fácil.
Muito temos vencido, porém muito ainda falta vencer. Não devemos saber se tal ou qual Filho foi operário ou teve uma carreira superior, se é de tal ou qual cidade. Deve-se tirar de si essa película.
Mais ainda: há que chegar a nem se dar conta de que isto é a Observância, tão natural isto deve ser em nós. Então haveremos progredido.
Podemos fazer uma reverência, baixar a vista sem dar-nos conta, espontaneamente, sem pensar.
"Eu sou a Observância." Fazer outra coisa seria como o peixe fora da água.
O reverso do perfeito cumprimento da Observância, achamo-lo no fato de que nos dói quando a obediência nos manda fazer algo na hora da Observância. Então, esta Observância é um prisão mental. Sentiremos o mesmo se a obediência o mandar, porque a Observância é o Espírito da Renúncia. Pode-se sentir ter que estar de guarda e não participar da Comunidade, mas isto sem que intervenha a personalidade.
Pode-se chegar ao êxtase e, contudo, não estar seguro de chegar à vida eterna. Mas, se se cumpre a Observância à perfeição, pode-se estar seguro de alcançar a vida eterna aos pés de nossa Divina Mãe.
A Observância é penhor de perseverança. Através dela, Deus nos dá a visão dos mundos.
Exame para ver como a cumprimos: sou eu a Observância, ou ela é a minha irmã?
Pedir pelas Daminhas do mundo que chegaram ao ponto crucial, muitas das quais não compreenderam o que é a Vida Espiritual de Cafh.
Ensinança 26: Sobre a Meditação - 20/12/56
Esta Conferência foi dada em caráter de Direção Espiritual. Advertências foram feitas sobre a forma como o C.G.M. entende a oração, como quer que a pratiquemos e quando é o momento para mudar de método na oração.
Os Filhos confessam que, na hora regulamentar de meditação, passam por aridez, distrações e são vencidos pelo sono. Isto é algo de vital importância para nós e deve ser objeto de muita atenção.
O exercício é indispensável até que a alma não se tenha identificado com ele. Não é que depois não o necessitemos, senão que não nos damos conta de que o estamos fazendo, tão natural chega a ser em nós. Quando sabemos costurar ou tricotar, fazemo-lo tão mecanicamente, que a mente não acompanha o movimento. Mas, se erramos, há que voltar a prestar atenção.
O exercício de meditação, ao possuir a técnica, é feito instantaneamente, porém nunca chega a ser um obstáculo. Se se transforma em um obstáculo, veremos que não é porque possuímos a técnica e sim, porque descuidamos o exercício por muito tempo e assim, desperdiçamos o tempo.
Isto acontece também aos que alcançaram estados notáveis na meditação. Este exercício nos permite transcender, quando o aprendemos tão bem que o fazemos instantaneamente. Transcender é possuir.
Meditação Discursiva: Os homens conversam levados pela emoção do momento, respondendo à vibração mental do povo, raça, cidade onde vivem.
A Meditação Discursiva ensina uma conversação mais íntima e egoente. Para isso, requer todas as nossas potências e reconcentração. Nos principiantes, vê-se muito bem que não sabem conversar, mas que respondem a essa vibração mental do lugar onde nasceram ou instruíram-se. Nada têm a dizer à sua Divina Mãe, mas se encontram um amigo, tudo lhe contam.
Para entrar dentro de nós mesmos e não conversar simplesmente como homens, mas guiados pela intuição, é preciso praticar a Meditação Discursiva.
Teríamos que começar com o Exame Retrospectivo e voltar a falar como em nossa infância.
A criança sabe falar com seres imaginários. Parece que tem alguém a seu lado. Assim, sai-se do encerramento mental da civilização e da cultura em que se viveu. É bom invocar o Nome Divino, dizendo: “Minha Divina Mãe, amo-Te Mãe Divina”. Porém, não se deve perder muito tempo com isto porque, muitas vezes, não é mais que uma repetição do que se aprendeu, não é uma conversa entre a Mãe e a alma na intimidade. Para possuir a verdadeira técnica da Meditação, há que despojar-se dos velhos hábitos de conversação.
Há que aprender a conversar a sós com a Mãe e contar-lhe tudo quanto nos ocorre, coisinhas, tudo. Assim, chega-se à conversa com Deus, toca-se uma mola desconhecida até então, que está no mais secreto do coração.
Quando se chega a isto, compreende-se como o ser desperdiça a conversa.
Como podemos aborrecer a Meditação Discursiva se nunca a possuímos? Ouvimos acaso a voz dos Mestres, essa Voz Divina que não se parece com nenhuma outra? Quando isto acontece, tem-se toda a mente e o ser ali. Quando há obscuridade, sofremos e desesperamo-nos.
Para isto, deve-se tirar o véu que cobre a alma, falando e contando à Mãe o que nunca dissemos a ninguém.
Há que dar vida a esse ser com quem vamos falar. Ao dar-lhe vida, possui-se a oração.
O resto é uma conversa humana que se faz pesada e insuportável, com o tempo.
O mesmo acontece com a Meditação Afetiva.
A Meditação Afetiva é: fortalecer a imaginação, o espelho mental através do qual se refletem as imagens que queremos observar.
Muitos Filhos fazem a Meditação Afetiva como se fosse uma pintura. Fixam a imaginação em uma imagem. Isso é devido a que sempre voltamos a cair no humano e habitual. A idéia ou imagem é algo panorâmico, objetivo. Porém, a Meditação Afetiva requer que cheguemos ao irreal, não-existente, algo que não pode ser transladado ao cenário do mundo. Esse algo que a Meditação cria, pode subsistir enquanto está em nós. Porém, ao refleti-lo fora, deixa de existir.
Na Meditação, queremos despertar uma afetividade, senti-la e, por isso, é necessário o exercício ativo da Meditação Afetiva. Com este exercício se educa a alma, para que possa elevar o plano do sensitivo a um estado superior, espiritual.
1) Esta seria a primeira parte do exercício.
Quadro: Vejo a montanha e sinto-me encantado com sua beleza. Vejo Kaor, o lago a meus pés. Sinto que, ante esta vista, minha alma se expande.
O exercício quer reproduzir a mesma sensação de quando o vemos materialmente.
Outro quadro: A Divina Mãe, Seus olhos de pomba, Sua boca de Santa, Suas mãos que dão a bênção e sinto alegria.
O habitual é, assim, transladado a um estado anímico ou imaginário, que é sempre objetivo.
2) A segunda parte se efetua quando essa sensação ou o quadro voltam sozinhos a mim: quando criei minha imagem e ela está fora de mim.
Temos o exemplo de quando ouvimos uma canção e depois, estamos trabalhando, e eis que ouvimos o estribilho sem havê-lo recordado, ou sentimos a Mãe a nosso lado. É que lhe demos vida, está fora de nós, já não é nós mesmos. É uma força que está em nós e repete-o maquinalmente. Essa é a Meditação Sensitiva.
Pois bem: temos a sensação, porém isto passa. Lembremos o exemplo da Irmã de Caridade, que assiste o doente com entusiasmo, depois isso passa, segue assistindo-o e fica apenas a caridade. E o hábito que se adquiriu faz com que não se sinta nada. Ante nós, fica somente o objeto, que significa o nome de Deus.
Isto acontece conosco com as crianças. Não podemos estar com a afetividade contínua, porque é impossível. Quando se consegue o objeto através da sensação, tudo desaparece e fica o objeto. Por isso, repetir um quadro para voltar a sentir a sensação, não é o real. Há que repetir até sentir a sensação. Depois, já se alcançou o que se quer e fica o objeto simplesmente.
A sensação não é mais que o primeiro escalão da meditação. Por isso, se insistimos, chegamos a não sentir nada. Custa fazê-lo.
A verdadeira Meditação Afetiva é a imagem. Não se deve carregá-la com sensações, mas fazê-la subjetiva (não objetiva). Que tenha força interior.
Para que a imagem seja subjetiva, não deve sair da imaginação potencial. Por exemplo: se fazemos um desenho, todos podem vê-lo. Mas, se nos surge a idéia do desenho e retemo-la sem fazê-lo, a afetividade pugna por fazer a imagem. Porém, se retemos essa força, detemos o cavalo da mente, impedimos seu desenvolvimento. Essa potência fica na alma. É quando conquistamos a Meditação Afetiva. Assim, a imaginação deixa de ser humana e as forças se reservam para quando delas se necessite. É necessário não responder ao instinto e sim, à vontade.
Então, a Meditação Afetiva se transforma em negativa: não vejo, não sou, não quero. Estou aqui, e nada mais. Por exemplo: o Estandarte da Mãe, sem forma, somente está, está, está. Se deixarmos que a sensibilidade voe, gasta-se e não fica nada. Há que guardá-la, ainda que custe.
Quando se tem grande entusiasmo em servir Cafh, a sensibilidade é gasta pelos sentidos inferiores.
Mas a Meditação Afetiva há de levar-nos a outro estado de superposse.
Perguntas: Como é minha Meditação Afetiva? Gasto minha sensibilidade?
Não quero gastar o que sinto, guardo-o escondido. Mantenho em mim os elementos que dão vida ao quadro. Guardo alegria, afetividade.
Se vejo uma criança e quero tocá-la, guardo isso para que os nervos não gastem essa afetividade. A Meditação Afetiva guarda para o momento oportuno.
Se fizermos assim, depois, durante o dia, guardamos forças sempre.
Quando se gasta a alegria, sente-se depois a tristeza de não tê-la. Mas, se é guardada, nós a temos sempre.
A aridez indica que o parafuso se ajusta bem. É a vontade que ajusta o parafuso e retém as forças no coração.
Esse fastio é bênção, há que bebê-lo, cuidá-lo, não afrouxar, nem deixar que vá atrás de alguma coisa sensível ou do mundo, porque ele nos dará a chave inglesa que regula, tira e põe as energias do coração. Faz-nos donos do coração.
Ensinança 27: Os Superiores - 21/12/56
Os Filhos de Comunidade são muito poucos e houve muito esmero em educá-los, porque supomos que serão os Superiores do futuro.
Hão de ser Superiores em todos os aspectos. Por isso, o C.G.M. os corrige tanto, já que deles depende o porvir de Cafh.
Quando morreram os primeiros Filhos, ficaram os outros, com os quais foram fundadas as primeiras Távolas de Solitários e o C.G.M. se perguntava se não esqueceriam as Ensinanças quando surgissem dificuldades em suas famílias e avançassem em idade.
As almas que podem conservar o Espírito de Cafh são as consagradas, os Ordenados de Comunidade. Elas não envelhecem, não têm as preocupações que têm as pessoas do mundo, nem perdem a agilidade da mente. Não morrem nunca e são substituídas por outras almas que têm seu mesmo espírito e imagem, conhecimento e capacidade.
A maioria das almas consagradas deve ser formada para dirigir almas. Não deverão ter falhas.
A direção da Comunidade há de recair sobre o Superior, mas, como ainda somos jovens, o Superior é somente uma parte. Há que saber não só dirigir, ser capaz, mas saber dar a subsistência aos Filhos. Não lhes deve faltar nenhuma dessas qualidades: estar bem centrado, mental, emotiva e praticamente. Os Filhos podem ser "São José de Cupertino", mas não o Superior.
Há que saber dirigir os Filhos em todos os sentidos. Não somente saber falar, mas pensar em tudo, porque o C.G.M. não estará sempre atrás dos Filhos.
A ruína da Comunidade pode ser um Superior prático, mas com pouco sentido comum, intelectual. Não. Tem que ser capaz em tudo, ver tudo.
Não tem o direito de descansar nunca, não no sentido de que tem que trabalhar, e sim, no da atenção, da observação.
Deve obedecer sempre às necessidades dos Filhos, seu progresso espiritual e vigiar as necessidades econômicas da casa.
Para ser integral, o Superior há de ser sábio, bom e capaz. Dizia Santa Teresa: "Saber olhar o céu, mas ter os pés bem fixos na terra." Saber falar de Teologia e Ascética Mística e saber quantas batatas há na panela. Todos os grandes fundadores olhavam e tinham em conta ainda as coisas mínimas.
A Obediência do Superior há de ser absoluta. Ele se deve aos seus Filhos e à Observância. Um Filho pode faltar à Observância, é repreendido e passa. Mas, o Superior que deixa passar uma falta de Observância, desobedeceu à Lei Divina.
Uma Superiora de um convento de Capuchinhas tinha a manga um pouco larga e perdoava muito. Quando morreu, todos a julgavam uma grande santa. Certa irmã, estando um dia na rouparia, ouviu um grande ruído e viu uma mão queimada sobre o guarda-roupa e uma voz lhe dizia que estava padecendo infernos. Era a voz da Superiora.
Um Superior não pode fazer-se agradável aos Filhos: é preciso que aperte, às vezes, um pouco. Não buscar a simpatia dos Filhos. Assim se mantém a Observância. O Superior também há de oferendar esse sacrifício e é até bom quando lhe demonstram que não lhe têm tanta simpatia e consideram-no um pouco duro. Desse modo, essa simpatia se transforma de humana, em divina.
A grande missão do Superior é capacitar todos os Filhos a aprender aquilo que não sabem. A ensinança há de ser, por isso, contínua: nos recreios, passeios, conferência particular, direção espiritual.
Quando o C.G.M. era jovem e perguntou que estudos deveria realizar, responderam-lhe que estudasse tudo aquilo que fosse proveitoso para as almas. Tudo o mais não vale nada.
Deve-se ensinar os Filhos, e continuamente. Assim se capacitam, não somente para compreender, mas para dar a Ensinança. Têm que saber expor a doutrina de Cafh: o que o Filho não sabe, é por culpa do Superior.
Os Filhos hão de saber distinguir uma Ensinança Universal, de uma particular de Cafh.
Formar almas verdadeiras, que abarquem com um divino sentimento, todos os seres. Por exemplo: uma Professora Integral. Isto há que demonstrar com fatos, todos os dias, não afrouxar. Têm que ser fortes de coração. Que não lhes entre o sono da preguiça humana.
O Superior deve conduzir as almas para o seu fim, com amor, a repreensão e até com atos drásticos e extremos, se necessário: vale mais a alma da obra, que a contemplação com uma pessoa. Há que operar o tumor, para que não se estenda ao corpo.
Pobre do Superior que acredita que os Filhos devem recompensar com amor, seu trabalho!
As coisas se fazem com o trabalho da direção e não somente com o trabalho das mãos.
Quando um Superior vai e olha, já ganhou o dia. Porém, há de conhecer os pequenos e grandes trabalhos, conhecer o sacrifício para ser um bom Superior. Simone Weil disse que "há que trabalhar para conhecer o sacrifício de alguém." Assim se conhecem as reações internas que o trabalho traz.
Por isso, fazem-nos fazer rodízio. Temos que aprender os ofícios de baixo, porque dali se vê tudo. Há o exemplo da mulher rica que dizia que, na cozinha, sabiam melhor, como era o movimento de sua casa, do que ela mesma.
O Superior tem que pôr uma couraça sobre seu orgulho, seu amor próprio, seu coração, porque é ali onde vão pegá-lo. É natural que, como é um ser humano, tenha suas debilidades e que os golpes caiam ali.
Se o Superior se apega por carinho aos Filhos, necessita de uma couraça para o coração, porque por aí tem que repreendê-los, sabe que não querem o golpe e sofre. Não fazê-lo, seria debilidade e um grande mal.
Quando têm personalidade, é tremendo como sofrem se os mudam depois.
Tudo isto se necessita para ser um bom Superior: vigilância mental, do coração e dos Filhos.
Nossa responsabilidade é grande, por isso temos de fazer um exame de consciência e ver como se ensina a doutrina, como vão os Filhos pelo caminho místico, que tenham capacidade e saibam defender-se na vida.
O Filho de Cafh tem que ser um conjunto integral de mente, matéria e força posta em ação. Os Superiores são os Mestres de almas que hão de levá-las pelo caminho da luz. O Superior que ora, mas não tem capacidade de trabalho, é um mau Superior.
Há de ser a imagem da Divina Mãe, não em sua personalidade e em seu aspecto exterior, mas como expressão de Cafh, com fatos, obras e na Comunidade.
Ensinança 28: Sobre a Nossa Vida de Trabalhadores - 22/12/56
O momento em que a humanidade vive é de grande importância, porque não se dividiu em classes, e sim, em dois setores que estão dispostos à guerra e a destruírem-se mutuamente: o homem que produz e o homem que explora a produtividade.
Os Filhos de Cafh, que vão atuar na salvação da humanidade, têm que conhecer este problema a fundo.
Houve uma época em que o homem que trabalhava era unicamente um homem de trabalho e existia uma dependência entre o dono e o trabalhador, existia uma cultura, uma compreensão, e direção entre ambos.
Com a cultura, com a escrita, as coisas mudaram: o operário já não é um ignorante, um analfabeto. Agora se prepara o grande choque, porque nada deu a solução. O cristianismo lutou durante dois mil anos pela paz e a fraternidade, mas fracassou. Por quê? Porque predicou o renunciamento total dos bens materiais, o que é impossível para a capacidade do homem. É uma renúncia ideal, que deu o fruto maravilhoso da caridade: cerrar os olhos a um moribundo, atender o enfermo, dar o que se tem para os pobres. Mas o cristianismo fracassou.
Agora, o operário elevou seu nível, pois sabe ler e é capaz. Quando em uma igreja, ouve repetir as palavras de um São Francisco de Assis, Vicente de Paula, Dom Bosco, quando lhe contam que eles fundaram hospitais, casas de anciãos para a velhice, ele se sente indignado e não quer esse dinheiro nem essa ajuda, porque diz que é dar-lhe o que é dele, o que lhe pertence e isso não é caridade, é um insulto. É dar-lhe como caridade, o que lhe roubaram.
Mas a Igreja não pode dar outra coisa, porque se uniu aos poderosos estatais do mundo e não pode voltar atrás. Só lhe resta contemporizar, impedindo que se roube mais o operário. Nenhum operário está com a Igreja, atualmente.
O Papa Leão XIII disse: "Perdemos a classe operária." E o Papa atual (Pio XII) poderia dizer que "Hoje temos o operário contra nós".
Este seria o primeiro ponto: a posição católica, como solução, fica afastada.
O segundo ponto seria: a idéia materialista do Comunismo. Renunciar e dar tudo, para enriquecer o Estado. Ao invés de trabalhar para um patrão, o operário trabalha para o Estado. Isto quer dizer que poderá estudar, comer, mas se lhe tira essa satisfação individual de gozar do que ele mesmo criou.
Em Cafh, fizemo-nos trabalhadores para demonstrar que, unicamente pela participação progressiva, o operário pode chegar à posse de suas mais elevadas possibilidades. O Capitalismo, o Capitalismo estatal e a distribuição caritativa dos ministros da Igreja, não têm feito mais que fomentar a luta pelo salário, pela superprodução e pelo monopólio.
O problema é este: o operário é retribuído pelo seu trabalho, mas a retribuição é sempre inferior ao valor real do que uma pessoa pode produzir.
O operário tem uma alma exatamente igual à do homem mais rico do mundo. É um ser egocêntrico e individual.
A única participação possível é a que se pratica em Cafh. Não pode haver um renunciamento total a todas as coisas materiais, pois para isso haveria que desaparecer como ser humano.
O ser humano, pela renúncia, não possui, mas participa: não possui, mas tem o que lhe pertence.
Não pode haver ordem no mundo, enquanto exista o salário. O dono é patrão, mas não é dono absoluto, mas participante.
Por exemplo: nós construímos nosso colégio e todos participamos. A obra não é de ninguém, mas o trabalho é de todos. O operário deve ser assim: não tem um salário, tem o que é seu. Nem o patrão nem o operário existem, senão que cada um ocupa seu lugar.
O aumento de salário não soluciona nada, porque o patrão, em seguida, aumenta o que produz.
Nossa idéia é a verdadeira. Não somos nem políticos, nem sacerdotes, para predicar nossa idéia. O que fazemos, é vivê-la.
Demonstramos assim, ao mundo, que a felicidade está na singeleza da vida e não na abundância dos bens.
Nós não podemos viver no mundo, mas vivemos na Comunidade como operários não assalariados, porém participantes e esta é uma superposse anímica do que se realiza.
O operário perdeu o amor ao trabalho, porque tudo é para o outro, nada é seu. Então, gasta mais do que podem dar-lhe suas possibilidades anímicas.
Para compreender isto, há que conhecer o Raio de Estabilidade, o magnetismo do lugar. Damos força e recebemos bens. O trabalho não tira a energia, ao contrário, dá fortaleza. O operário se cansa prematuramente, porque nunca está no mesmo lugar e, portanto, não se arraiga. Quando o ser trabalha gasta energias, porém, gera uma pilha elétrica por meio da qual essas forças voltam a ele. Cada vez que mudamos, temos que construir um novo gerador.
A verdadeira posse está em permanecer em um lugar e criar amor a esse lugar. Assim, vigorizam-se os músculos e vive-se plenamente.
A segunda participação é possuir o bem magnético do Raio de Estabilidade. Saber onde estão as coisas, não perder tempo procurando-as. Porque não damos felicidade somente com o que possuímos, mas permanecendo no Raio de Estabilidade.
Nós impregnamos o lugar com nossa capacidade e ele nos devolve as forças da terra; e a superposse não é somente do ser humano, mas vai além.
O operário do mundo desconhece o valor das coisas: $10,00 para nós, são como $100,00 para outro.
O operário, ao ter que trabalhar para um terceiro, não produz o que deveria, cansa-se e, ao não produzir o que deveria, tudo aumenta e o mundo se arruína.
O operário desconhece o poder da resistência: para que lhe aumentem, declara-se em greve e surgem lutas entre os delegados operários e os patrões. E, enquanto isso, ele não recebe o seu salário. O operário é a vítima. Não consegue nada porque, se aumenta o salário, aumenta o custo de vida. Ele tem que impedir esse aumento, porém é necessária uma superfortaleza: a resistência passiva que Gandhi praticou – não usar, nem adquirir o que é aumentado. Se aumentarem o ônibus elétrico, vamos a pé. É o espírito de sacrifício, mas ainda falta para que a humanidade o compreenda. Os ingleses deixaram a Índia porque deixou de ser um negócio para eles. É a terceira etapa que o operário tem que conhecer: o retorno à simplicidade da vida.
O operário tem que deixar de pensar que a felicidade é ser como o patrão, ter um escritório. Sabemos que aquele que o conseguiu foi dos maiores exploradores. Não. A maior posse é o bem magnético e que, além do operário que trabalha, tem a obrigação de ajudar os necessitados. Tem que aumentar em possibilidade de sacrifício, resistência, domínio de sua natureza. Assim é o trabalhador Ordenado. Deixamos o mundo para ser uma expressão viva da vida. O mundo de amanhã será do homem que trabalha, porque compreendeu...
Ensinança 29: Santa Francisca Romana - 23/12/56
Não se pode deixar passar o Retiro sem lançar um olhar para o nosso Povo, para a Eternidade, de onde nos vem todo consolo e assistência. Sobretudo, para aqueles guias que nos acompanham e nos ajudam a cruzar rapidamente a ponte.
Hoje, recordamos nossa Santa Protetora, Francisca Romana, para que a imagem de suas virtudes sobre a Terra nos permita ser seus companheiros nas Távolas Invisíveis do Céu.
A vida dos protetores sobre a Terra nos dá a pauta de que também nós podemos imitá-los e que eles, por sua virtude, deixaram atrás de si uma esteira de força magnética, que nos dá a força para imitá-los.
Os escritores, ao falar dos fatos, das pessoas que acompanharam os Santos, perdem de vista o ponto fundamental e central de suas vidas, o que é real e de vivo interesse. Não penetram na alma para ver a flor magnífica que ali se abriu.
Havemos de buscar em Santa Francisca Romana, como desenvolveu a virtude central de toda sua vida, essa virtude que dá força e vida à alma e projeta-a sobre todas as almas, para vivificá-las.
A castidade foi a virtude primordial de Francisca. Era mental, moral e física. Era um dom divino.
Todos os fatos de sua vida tomaram transcendência, ao redor dessa virtude. Ela alcançou um grau tão alto de renúncia, através dessa virtude. Sua renúncia foi absoluta, de tudo o que se possa possuir sobre a Terra.
Santa Francisca é muito de Cafh, porque sua renúncia é a que se praticará nos tempos futuros. Toda a força de sua renúncia está em sua castidade.
Imaginemos o martírio que deve ser para uma alma tão casta e desejosa de pureza, ser atada à lei do matrimônio.
Quando tinha nove anos, olhando um dia o céu, disse à sua mãe: "Sou a Esposa de Cristo", mas os seres do mundo pensam que isso são coisas de crianças e não lhes dão importância. Assim, um dia, sem que ela intervenha, é casada com um homem idoso, que não sabe o que é a vida espiritual e conhece todo o mal e o vício do mundo.
O primeiro martírio de Francisca foi este: quando os pais arrojam sua pureza ao lodo humano. Seus pais nada sabiam o que se ocultava na menina. Depois de sua morte, uma velha criada testemunhou que, ainda em fraldas, Francisca chorava desesperadamente quando a tocavam. Mas seus pais riam-se dessas demonstrações de pureza. Mas, os destinos divinos assinalam que, por esse caminho, chegará à plenitude do renunciamento.
Essa alma de 12 ou 13 anos, ao ser atirada à carniçaria da vida, cai gravemente enferma. Ninguém sabe qual é o seu mal. A presença de seu esposo é para ela como a morte. Mas há uma alma, sua cunhada Vanosa, que a compreendeu. É a companheira de sua vida espiritual. Vanosa diz ao esposo que não se acerque de Francisca, pois assim ela poderá salvar-se da morte.
Afastada do problema matrimonial, Francisca melhora. Mas, uma febre devoradora a consome. Uma noite, Aleixo, o santo romano, aparece-lhe e diz-lhe que é preciso sacrificar-se: "Deus te quer mãe. Começarás a ser mãe e a levar pesada cruz." Quando Vanosa vem no dia seguinte, Francisca lhe diz que está bem e que a acompanhe à igreja para dar graças a Deus.
Tem depois seu primeiro filho e seus sentimentos são purificados pela maternidade. Apesar de que seu Diretor Espiritual lhe diz que o matrimônio é seu dever, para ela esse é seu martírio e sempre escarra sangue quando seu esposo se aproxima dela.
O matrimônio é pecado, por mais santo que seja, e ela o sente assim. Mas, desse martírio, brota-lhe a fortaleza para fazer-se mãe de todos os seres.
É quando verte o amor para os membros doloridos de Cristo: enfermos, necessitados.
Seu grande desejo era consagrar-se a Deus em um lugar afastado, mas compreende que Deus quer que ela cure a humanidade.
Começa sua missão para as almas. A todos, ela cura com o óleo de sua lanterna, que ainda hoje se conserva.
Apesar de sempre lutar para voltar à pureza da infância, o Senhor a escolheu para que, através desse pecado matrimonial, pague pelo pecado de todos os seres. Uma vez Cristo lhe disse: "Eu te escolhi para que pagues por aqueles que fazem o mal e, como Esposa minha, sejas mãe de todos".
Começa a desmoronar-se tudo ao seu redor: morrem-lhe dois filhos e um é levado como refém pelos inimigos políticos de seu marido.
Não obstante, ela tem uma grande força interior e, tudo quanto lhe tiram, ela o considera como Vontade de Deus. Mas Deus, em meio à dor, dá-lhe um anjo para que a acompanhe durante toda a sua vida. É seu filhinho morto que lhe aparece, para dizer-lhe que lhe enviará um companheiro. É quando também lhe devolvem seu filho Batista e seu esposo maltratado e arruinado.
As pessoas a chamam, o Anjo de Deus, e ajoelham-se e beijam o solo por onde ela passa. Quando se eleva em êxtase, Cristo lhe fala e diz-lhe que, se bem que na Terra ela seja mãe e esposa, no céu é toda Sua, porque cumpriu a Vontade que Ele lhe impôs.
Suas companheiras, muitas vezes, ao vê-la em êxtase, diziam que parecia o corpo de uma virgem. Como seu esposo é ancião, ela pensa que já cumpriu sua missão humana, mas ele é obstinado e clama pela esposa que Deus lhe deu.
Seu confessor manda que ela cumpra com seu dever, mas todas as vezes que ele a toca, baldes de sangue saem de sua boca.
São anos e anos de martírio. Deus não a deixa morrer. Ela tem que ser a imagem mais pura da Renúncia e da castidade. Ao fim, o esposo a manda com Deus, pois é muito inútil, mas muito santa.
Nesse dia, eleva-se em êxtase, porque já nada pode separá-la de seu anelo.
Parece dizer-nos: “Padeci muito. Todo o sonho de minha vida era reunir ao meu redor almas virgens e, agora, o consegui”.
“Não quero que nada as toque e que cuidem a flor maravilhosa que o Senhor lhes deu. Que embelezem essa flor com a vida interior de castidade e afastamento e, sobretudo, com a Renúncia, que é a coroa de todas as virtudes.”
Temos de recordá-la muito, sobretudo quando temos tentações, não tentações grosseiras, mas de ira, gula, preguiça, indolência e, em seguida, a força de Francisca virá a nós.
Muitos dons nos tem dado Deus. Porém, o maior de todos é o de podermos manter-nos puros e castos, e dizer: Ego sum Sponsa Tua.
Todos reconhecem a riqueza deste dom, prenda segura de nossa renúncia e Observância.
Imaginemos Francisca estendendo-nos a mão para cruzar a ponte que conduz daqui para a Eternidade.
Ensinança 30: A Porta Santa - 30/03/57
A Divina Mãe foi quem deu ao Ordenado a graça de sua Vocação. E esta divina Vocação conduziu o Ordenado até a Porta Santa da Casa da Divina Mãe. Foi a Divina Mãe a que afastou os obstáculos, rompeu os laços com o mundo e os sentidos. Ela foi quem fez o trabalho. Tomou-nos nos braços como crianças inocentes e introduziu-nos na Casa do Mistério e do Amor. Mas, uma vez ali chegados, mostra-nos a outra Porta, secretíssima, de Seu adorável Santuário. Porém, ali, Ela não nos levará. Haveremos de ir sós. Para cruzar esta diminuta porta, haveremos de tomar toda a força de nossa alma, de nossa vontade. Uma vez que a alma se consagrou, não somente tem obrigação de ser fiel ao Voto, mas há de chegar ao máximo da perfeição, que é penetrar nesse secretíssimo santuário.
Não somente haveremos de cumprir, senão que haveremos de entregar-Lhe todo nosso coração, temos de ser misticamente totais, incondicionais e eternos. Não devemos ser somente bons, mas perfeitos. Ainda assim, na maioria das vezes, o Filho Ordenado admira essa Porta, mas não se decide penetrar ali, na Felicidade.
Se tudo demos, rompemos as cadeias que nos ligavam ao mundo. O que nos detém agora? Temos de fazer, sem vacilar, esta segunda oferenda, íntima e profunda, uma verdadeira conversão.
Como é possível que a alma generosa esteja ali duvidando, deixando passar os dias e os anos, sem decidir-se a dar o salto? Acontece o mesmo que àquele que tem de pôr-se nas mãos do cirurgião e, por temor à operação, segue sofrendo. E perguntamo-nos: Como é possível que, depois de tantos sacrifícios, não penetremos no santuário íntimo da Mãe? O que nos detém é uma pequena coisa que se faz habitual: uma amizade, um olhar, uma condescendência de vaidade, um apego de comodidade. Temos fome e não sabemos mortificar nossa gula; temos sede e vem-nos o desespero de tomar água. Qualquer coisa pode reter-nos fora do Santuário da Divina Mãe.
A alma consagrada há de ser total em generosidade. Basta romper uma vez, para vencer. Há que dizer: dou-me hoje, começo hoje. Não sejamos como os servidores que sempre limpam e não conhecem o rosto de seu Rei. Nossa missão não é estar no átrio, mas sim, penetrar no Santuário da Divina Mãe. Não nos pode importar nada, nem saber ou não saber, nem ter ou não ter, nem fazer um trabalho ou outro, suportar uma companheira com paciência ou não.
Há almas santas que querem saber se estão cumprindo com sua entrega total à Mãe. Muitas almas dizem que têm aridez, tristezas, que não sabem concentrar-se, têm sono, inconvenientes na oração. Tudo isto é muito comum nas almas consagradas, mas... há um porém: a alma que está toda entregue pode ter grande aridez, mas sempre tem luzes divinas, relâmpagos de compreensão em que a Divina Mãe se faz presente.
Se a aridez não está matizada por estas luzes, é porque a entrega não é total, pois a contemplação é o fruto das almas consagradas e todas hão de recolhê-lo.
Quando a aridez não tem nunca o sinal divino, é indício de falta de entrega, porque a aridez santa é retribuída pela Divina Mãe com o consolo.
Não há que dizer nunca que há tanto que fazer que é impossível manter a mente e o coração tranqüilos. Porque, se assim fosse, haveria que deixar toda a ocupação, porquanto todas as ocupações do mundo nada valem, comparadas com um minuto de entrega.
É de muito mais valor, para a alma, viver a vida interior do que trabalhar muito e escrever muito. Todas as atividades externas são boas, se são dirigidas desde o interior, sem pôr nada nosso.
Como fazer para penetrar por essa porta que ela tem aberta? Fazer-nos pequenos, sem apegos, sem gostos, por santos que sejam. Poderemos ter tentações, aridez, mas virá a luz da contemplação.
Não esqueçamos que podemos fazer muito, mas que o principal é entregar-se, dar-se ao Divino Amor, ser pequeninos, para passar por essa Porta.
A Mãe nos traz, mas a realização de amor e entrega é nossa.
Ensinança 31: Amar à Divina Mãe - 6/04/57
Nosso trabalho principal é viver a vida interior e isto não é possível sem a oração. Por isso, a oração é nossa finalidade e obrigação principal.
Quando o Cavalheiro Iniciado chega à Divina Mãe para realizar as Místicas Bodas, pergunta-Lhe: "Onde estavas Tu, Amada minha?" e Ela lhe responde: "Estava escondida em teu próprio coração. Por ti criei o Universo, sofri e lutei. Tudo fiz por ti".
Se bem que nossa vida não exclua o trabalho e os deveres, tudo isto é nada, comparado com o divino exercício de estar em união com a Divina Mãe.
Todos esses são atributos, mas nosso único trabalho é a oração, porque Ela tudo fez para chegar a morar em nosso coração.
Não quer isto dizer que haja duas vidas: uma de trabalho e outra de oração. De atividade e de rechaço da atividade. O principal é viver no interior. Tudo o mais é consequência desse estado interior.
Nossa vida está inspirada nesse divino trabalho de amor e oração. Nosso ofício é amar a Divina Mãe.
Ao começar o Caminho Espiritual, aprendemos a orar, a fazer o exercício da meditação e, nesse esforço, chegamos à paz e à Vida Interior.
Depois, aconselhados pelo Diretor Espiritual, deixamos esse exercício, porque parece que oramos com mais elevação e, às vezes, esquece-se esse exercício.
Mas, deve-se ter em conta que a natureza é débil e que afrouxamos na oração ao trabalhar e estar ocupados.
Porém, nossa vida é toda espiritual e temos horas estabelecidas para pôr-nos em contato com a Divina Mãe. Mas, o que acontece? Ocorre que perdemos o tempo, adormecemos, lutamos contra as tentações da vontade. Que lástima que percamos esse elo que nos mantém ligados à Escada Eterna! A Mãe quer dar-nos uma luz, uma iluminação especial, mas isto, não para que esqueçamos em seguida o exercício, mas para que o ativemos e o aperfeiçoemos mais. Este exercício educa nossa vontade e ensina-nos a ser simples e humildes para que conquistemos o que uma vez perdemos.
Não deixemos o exercício por considerá-lo desnecessário. Sempre é bom descer alguns degraus para tornar a subir e fazer-nos pequenos, para que seja a Mãe que nos eleve até Ela.
O exercício é o cajado, o apoio dos momentos humanos. Mais ainda: é até preferível rejeitar a contemplação e fazer o exercício porque, se a contemplação é verdadeira, será como um fogo que virá, apesar de tudo.
O único que a Mãe espera é a nossa humildade, que nos consideremos pequenos. Não ir nunca à meditação sem havê-la preparado. Santa Teresa nunca ia à oração sem seu livro de orações.
É bom ter os próprios passos, um método singelo, adaptado à nossa alma, mas não há que divagar (o Regulamento recomenda o método: “pela disciplina exterior, alcançaremos a disciplina interior”).
É bom ter um quadro generalizado, semanal ou quinzenal (que esteja dentro do trabalho que se está executando no momento).
O C.G.M. divide a meditação em três pontos generalizados:
Invocação: "Pedi e ser-vos-á dado." Aquele que não pede o pão a Deus, não tem direito ao pão de cada dia. Pedir é, já de per si, um movimento de humildade e isto nos abre as portas da oração.
Com respeito à missão para com as almas desencarnadas: pedir à Mãe que nos permita ver o que estas almas padecem. Sabemos muito pouco, só Ela pode ensinar-nos e mostrar-nos esse grande padecer dos que estão no além.
Nosso modo de orar e pedir há de ser espontâneo e sincero. Nossa mente compreende a importância da missão, mas esquece facilmente porque é humana e débil.
Depois, entrar no Quadro Imaginativo. Não buscar cores, imagens, que seja fácil. Buscar sensações para ser rápidos, porque nossa meia hora voa e temos que "tirar o pão do forno".
Quadro: Vejo-me na rua, vem um carro, creio que vai atropelar-me e assusto-me. O medo quando estou só no quarto, à noite. Vem um amigo, toca-me sem que o veja e sobressalto-me. Essa é minha arma de trabalho.
Às almas – como tenho a ajuda da Divina Mãe – levo-lhes paciência, humildade, mortificação, o que tenho feito durante o dia.
Por exemplo: pode-se tomar o trabalho sobre as almas que se tenha que dirigir.
Não se pode dizer que não se tem vontade e que a hora passa sem que façamos nada. Há que ter um método.
O sono: a verdadeira oração tira o sono. É como quando lemos um livro interessante e não adormecemos. Mas, se é aborrecido, adormecemos.
A Mãe está em nosso coração e reclama-nos os minutos e a vida. Não podemos perder o tempo. Ela nos pede o esforço, é o único que podemos dar-Lhe e, então, Ela virá com Sua luz e compreensão para elevar-nos.
Não esquecer: não deixar o exercício da Meditação. Se bem que o C.G.M. aconselhe quietude – às vezes, quando isto acontece – há que voltar ao exercício.
Sejamos esforçados e tenazes. Se a Mãe dá dez, dará cem, mil e muito mais.
Ensinança 32: O Mistério da Divina Encarnação - 13/04/57
Como homens que somos, estamos acostumados a fazer separações. Por isso, falamos de épocas e datas determinadas para a Encarnação de um Salvador da humanidade, como se cada Iniciado que vem, fosse diferente do outro. Em realidade, o Verbo Divino, a Encarnação Divina, é um só e o ato de Redenção se está cumprindo ininterruptamente sobre a humanidade.
O Verbo Divino está sempre presente. Não desce à Terra de forma intermitente. E a humanidade não se redime por períodos determinados ou muitas vezes (quando encarna um Iniciado Solar), senão que a Redenção também é única e contínua.
O sangue de Cristo é derramado, todo, uma só vez e não por partes. Se bem que a Encarnação Divina seja única, como o é a Redenção, às vezes, quando a evolução da humanidade o requer, faz-se mais palpável, manifesta-se através de diferentes expressões.
Quantas serão as diversas expressões da Divindade encarnada sobre a Terra, que não sabemos! Mas, delas tomaremos três: Rama, Buda e Cristo.
Antes que viesse Rama, o homem vivia preso a seus instintos, estava bestializado. Rama o ensina a dominar seus instintos, a ser homem divino. Rama lhe deu a força, esse poder de vencer a besta. Fez com que o homem visse o poder de que era possuidor: o pensamento. Rama o ensinou a pensar (esta é a força).
Quando o homem conheceu que podia pensar, viu que tinha instintos, paixões. Os instintos e as paixões estavam nele, mas ele já os via.
Então, encarnou Buda que, com sua suavidade, sua beleza, sua harmonia, sua doçura extraordinária, ensinou o homem a dominar o pensamento, a mente, as paixões, mediante o poder da vontade. (Buda é a vontade).
Mas, não somente era necessário ao homem o domínio de seu pensamento, mas também a força de seu coração, do sentimento.
Ao tomar uma nova forma humana, a Divina Encarnação se fez muito semelhante à humanidade, para viver em si sua própria dor. Aparece o Cristo.
Cristo ensina aos homens o poder do coração, a força do amor. Cristo, com Seu holocausto, ensina aos homens que a Redenção pode ser realizada individualmente.
A nós cabe, agora, ser pequenos Cristos, vítimas de holocausto, hóstias propiciatórias no altar da Mãe.
A redenção individual não se conquista pela ação, nem pelo pensamento, nem pela virtude, nem pela fantasia, mas com a Renúncia de Holocausto.
"Creio que isto é o que ensinará o Maitreya, a nova expressão da Encarnação Divina: a forma, a maneira em que devemos converter-nos em pequenos Cristos, em pequenos holocaustos, em pequenas hóstias”.
Nós, que não temos nada, que nada somos, que nos apoiamos em nossa única expressão que é a Renúncia, somos os precursores do Maitreya.
Temos que esvaziar nosso coração de todo sangue humano, ser um nada, para que Deus viva em nós. Queremos viver a dor da humanidade, tomar a dor dos que desejam, dos que sofrem, porque estamos vazios de tudo. Porque não possuímos uma só virtude, nem um só pingo de santidade, nada, absolutamente nada e estamos desnudos de tudo.
De pé, Filhos e Filhas minhas! Cingidas as túnicas, bem cingidas, descalços os pés, apoiados no bastão, comendo bem apuradamente a dor da humanidade, o Cordeiro Pascal, para sair ao encontro do Mestre que chega.
Ele chega e ninguém vai ao seu encontro. Mas vós, não: "Estamos prontos, Senhor, tudo deixamos, nada temos". Essa há de ser nossa Páscoa, agora e sempre, essa doce oferenda, a doce renúncia nossa, a renúncia dolorosa que prepara a nova Páscoa que esperamos.
Ensinança 33: Como Fazer a Adoração pelas Almas Desencarnadas - 29/06/57
Certa vez, uma alma consultou o Superior acerca de como "entreter-se" na hora da Adoração. Queria saber como passar a hora, como meditar e orar.
Como a missão que nos cabe é muito extraordinária, chama a atenção que isto aconteça, porque o amor teria que suprir a deficiência de capacidade para orar. Contudo, há que saber e ter umas normas de como dedicar nosso tempo às almas que passaram ao além.
Se a alma ama, a hora voa. Chega e vê a Divina Mãe rodeada de todos aqueles seres que clamam a Ela, pedindo liberação. Assim, a hora voa.
Uma alma de muita oração dizia que a oração tem a característica de não contar as horas e os minutos. Se bem que o Senhor permita, às vezes, que a alma passe por momentos de aridez e encontre dificuldades – devido a isso, tem que ir à oração com método. Pode vir uma distração, mas o melhor meio para que a oração dê fruto é o que podemos pensar e sentir através da imaginação.
Exemplo: o pai de uma Filha. Ela pediu ao C.G.M. que orasse por seu pai. Em uma visão, o C.G.M. pode ver o pobre velhinho que tomava o ônibus de Bel Ville, que buscava sua companheira e não a encontrava. Ao pedir informações, disseram ao C.G.M. que nos últimos meses, vivera ali com sua senhora. Não se dava conta de seu estado.
Há que caminhar ao lado desse ser e dizer-lhe que o caminho que faz não existe, que é ilusório.
São os elementos físicos que levou com ele ao além, e essa é a causa de sua tristeza e dor. Assim, passaram-se duas horas ao C.G.M.
Primeiro: oferendar a oração pelas almas mais abandonadas, que ninguém recorda e que sofrem. Pensar nos seres desencarnados que ainda crêem estar aqui com um corpo. Isto é o mais desesperante, porque o pior é crer que se vive sem que assim seja, querer participar dos bens físicos. Devemos ser seus companheiros.
Exemplo: inundação. Mortes e danos que causa. Eles não se dão conta de seu estado. Continuamente vêem suas casas derrubadas, seus haveres perdidos. Clamam os desesperados: "Deus meu, Mãe!"
Necessitam de alguém que os ajude. Havemos de vê-los com os olhos da alma e da fé. Escutá-los, através da compreensão que nos dá a doutrina espiritual.
Temos que auxiliá-los: "Sou uma alma que veio para estar a teu lado, para dar-te a mão neste duro transe. Não te afogaste nunca. Se pudesses dar-te conta, em um só instante estarias no outro mundo".
Imaginar que vamos pelos campos e que tudo está cheio do desastre. Temos de chorar com eles: "Compreendo tua dor neste momento em que perdeste o preciosíssimo dom da vida, porém sou o Mensageiro, o Portador de outra vida, mais feliz e sem morte".
Exemplo: avisos fúnebres nos jornais. O ancião que, ao anoitecer, olhava as nuvens e via ali desenhados os rostos dos anciãos e jovens, e imaginava que são as almas que sobem ao céu.
Via a similitude das imagens, ao pensar em todos os seres que deixam de viver.
O tempo da Adoração é muito pouco, breve para a grande missão que temos de cumprir. Por isso, não devemos distrair-nos.
Exemplo: o Saltério com suas maravilhosas expressões, que nos permitem acompanhar as almas desencarnadas. Dizer: é como se acompanhássemos a alma através do fogo e da água para ir ao descanso.
De Profundis: ali, essa profundidade é maior que a da hora da morte. A alma não sabe onde está, nem qual é seu destino. "Desta profundidade chamo, Senhor, para que escutes minha voz e atendas-me".
Repeti-las ao seu ouvido, ensiná-las a pronunciar conosco, como fazia nossa mãe ao pôr-nos em seus joelhos quando éramos crianças e queria ensinar-nos as orações.
"Perdemos o caminho, mas se olhamos a Ti...", sentir que a alma se expande, que perdemos a noção do tempo, e que essa hora teria que transformar-se em todas as horas da vida.
Ensinar-lhes o canto de louvor, tomando-as pela mão. Tudo se desvaneceu: Sic transit gloria mundo noctem... Dizer-lhes: "Chegou a hora da mais profunda obscuridade, mas tenho uma palavra secreta. Repete comigo esta fórmula de meus votos: ‘Renúncia ao mundo’."
Assim, essa alma se entrega voluntariamente.
Temos que estimular-nos a nós mesmos com imagens, figuras, para fazer bem a obra.
O Filho do mundo pode ter dificuldades, mas o Ordenado há de suprir essas deficiências com seu amor. Que seja tão grande esse amor, que supra todas as missões do mundo.
Ir com fervor e amor à Adoração. Carregar a hora com os suspiros e prantos dos que caminham na noite e assim, essa obscuridade será abençoada com a doce paz, porque este não é um fruto pessoal e sim, uma carga voluntária de amor.
Seria suficiente que uma só alma pudesse receber nossa mão, para penetrar no Umbral da Luz.
Ensinança 34: A Casa que se Mantém sem Sustento - 6/07/57
Há muitos anos atrás, o C.G.M. perguntou a um santo homem: "Como a alma se dá conta de que chegou a uma verdadeira compreensão espiritual?" O bom homem respondeu: "Quando a casa se mantém sem sustento".
Esta frase é a síntese da vida espiritual de Cafh.
Quando a alma chega a sustentar-se por si só, quer dizer, quando não necessita de apoios, pode-se dizer que conhece a Verdade e já não voltará a ser enganada pelas verdades parciais e aparentes.
"Creio que a substância da vida espiritual de Cafh é tirar da alma o engano do consolo, do falso conhecimento. Há que fixar a alma sobre si mesma, sobre a base santa da Renúncia."
O homem que quer a verdade está cansado de percorrer santuários, da aparência enganadora do que é o divino sobrenatural.
Todos os valores atuais hão de caducar para que a humanidade se encontre a si mesma.
Todos os caminhos espirituais e religiosos nascem da luz e do amor, do sacrifício e da renúncia. Todos os Fundadores não prometem mais que a dor, a cruz, puramente. Buda, São João da Cruz, Santa Teresa, Ramakrishna, El Kabir, prometem o estado do nada.
O homem comum busca o consolo, o sobrenatural, por isso as religiões se envolvem em dogmas, cerimônias, doutrinas.
Ainda a própria doutrina redentora de Cristo deve ser tomada num sentido cósmico. Senão, leva-nos a uma idéia enganadora da Verdade.
O homem quer, mendiga o pão do consolo, por isso é explorado e enganado. Quer que lhe digam: Eu te perdôo. Quer que lhe prometam um céu.
Nossa doutrina nos quer valentes e fortes, baseados na Renúncia, que fixa a alma em si mesma. A Renúncia é ausência de consolos humanos e divinos. Dá-nos, assim, a claridade de uma Ensinança única e não nos envolve em muitas ensinanças e conhecimentos.
A Renúncia desenvolve em nós um estado de auto-realização e sentimento.
A Casa há de ser uma Verdade espiritual, fixar-se por si só e sem apoio. É uma doutrina concisa que nos faz tremer frente à realidade e não nos permite atrever-nos a revelar às almas a realidade. Mas, quando a alma se entrega à Divina Mãe, não podemos enganá-la, não podemos deixar que creia que necessita de um apoio para conquistar a liberação espiritual.
A alma não há de esperar nada, a não ser realizar a si mesma, frente à expressão divina da Verdade.
Não podemos pedir consolo, se sabemos que este é apenas um paliativo para nossa cegueira e debilidade. Quando falamos de miséria humana, não nos referimos ao pecado, mas à miséria humana que está feita para a morte, a velhice, a enfermidade.
Nossa missão não nos dá consolo, senão que nos descobre a Verdade: "Não poderás encontrar nenhum consolo que te sustente. A Realização Espiritual está em ti, na medida em que vives tua renúncia."
Quando não renunciamos, queremos tecer sutilmente com a mente, para justificar nossa falta de renúncia.
A ilusão mental nos engana com a crença de que alguém necessita de nós.
Há que esmiuçar os sentimentos. Não permitir que, através deles, a mente forje fantasias, enlace razoamentos. O único real, é o punhado de cinzas.
Nenhum sentimento é real, senão através da Divina Mãe. Nenhum conhecimento é verdadeiro, porque o verdadeiro conhecimento é a estabilidade na entrega de uma alma à Divina Mãe.
Temos que fazer-nos de aço, resistentes, fortes. Muitos renunciam, mas logo se atam a ataduras sublimes. A felicidade está em rechaçar tudo quanto nos afaste da Renúncia.
Comparemos a alma a um avião supersônico e, através da velocidade, o aviador parece perder a noção do tempo, da memória, da realidade física, para viver em um estado de imensidade, em que nada conta. Isso dizem os aviadores.
Estão na imensidade, mas nem por isso perdem o controle do avião. O subconsciente se torna mais atento.
Ainda que a alma que renunciou pareça fria e sem coração, vemos quão resistente é seu coração e que sua sensibilidade abarca todos os seres que foram, que são e que virão.
Ainda que não tenha cultura, vemos em suas frases a potência de seu conhecimento. Sua palavra é vida.
Não necessita de consolo e perdão para ser redimida, porque se redime por si mesma.
É claro que para alcançar isto há que lutar. Porém, nossa força é a Verdade.
Assim, se a Divina Mãe viesse dizer-nos: "Não tens salvação", eu acreditaria que estou salvo, porque em minha alma adquiri o conceito de Eternidade.
Não há martírio maior que viver sem consolo: esse é o holocausto real e o maior, que nos dá a compreensão da imensidade do sentimento e da razão.
É tremendo pensar que não temos nada nem ninguém. Por isso, a mente volta ao passado, que alguém se recorde de nós. Mas, essa ruptura, ao realizar-se, faz-nos abarcar a humanidade. Há o exemplo de quando estávamos com o C.G.M., num feriado, e olhávamos as crianças no refeitório. Ele nos fez ver que, dentro de 50 anos, haveria outras Filhas e outras crianças, que não teriam memória de nós.
É preciso que esta experiência não seja atenuada pelo que virá, que não se comecem a infiltrar em Cafh conceitos de consolos humanos, transformando-a em um canal de dogmas, indulgências e consolos.
Temos que lutar por esta verdade integral de Renúncia, para que ela seja a herança dos que virão e não lhes aconteça como em outras religiões que, embora tivessem grandes fundadores, logo grandes almas desfiguraram suas verdades.
Nossa verdade é: a casa que se mantém sem sustento. Se a realizarmos em nós, não perecerá.
Ensinança 35: Votos Temporários de uma Alma - 09/57
Palavras pronunciadas pelo Cavalheiro Grande Mestre, ao tomar o Voto Temporário de uma alma:
"Alegra-me muito recebê-la. De que seja eu quem a receba. Recomendo-lhe que faça à perfeição estes seis meses de Seminário. Olhe bem tudo. As menores coisas, ainda as mais insignificantes, as coisas mínimas.
Segundo faça seu Seminário, assim também será sua vida de Ordenada.
Uma só coisa encontrará aqui: a paz do coração.
Aquele que não encontra a paz na Vida de Comunidade, é porque não é chamado por Deus, não é para a Vida de Comunidade.
A Renúncia é felicidade, Filha minha."
Ensinança 36: Palavras do Mestre numa Cerimônia de Votos Solenes - 3/10/57
Apresentar-se diante do Santo Altar para fazer o Voto de Renúncia, no dia em que se comemora a festividade de Santa Terezinha, é um verdadeiro acontecimento da alma, uma verdadeira festa da alma, porque se há alguém que possa ensinar-nos o cumprimento do Voto de Renúncia, em todos os seus aspectos, até chegar ao martírio místico, ao holocausto perfeito, esse alguém é Santa Terezinha.
A vida de renunciamento, para alguém que não a conheça, pode parecer que é chegar a um gozo perfeito, a uma união perfeita com Deus. Em uma palavra, a uma felicidade possessiva, a uma felicidade sensível. Nada é mais falso e nada está mais fora de lugar do que isso, mas é bom que o mundo não conheça os verdadeiros gozos da Renúncia, para que se mantenham sempre ocultos os segredos do Rei Divino.
A Renúncia, em si, é chegar a uma não posse de todas as coisas, ainda daqueles bens místicos, ainda daquelas satisfações místicas, dons espirituais que parecem, por via ordinária, o fim de toda a vida. Isso ensinou Santa Teresinha.
Ela vai passando por todas as etapas místicas, através da Renúncia. Mas não se detém no êxtase. Diz bem o Baghavad Gita: "Ó santos que estais atados ao samadi!" A Renúncia verdadeira não é ficar em êxtase, mas transcender o êxtase e viver em perfeito abandono nos braços da Divina Vontade.
Santa Teresinha assim o ensina, porque não se detém no êxtase como tantos grandes santos, que não chegaram à realidade. Ela vai muito além. O êxtase, ao fim, é uma trava também.
A Renúncia, posse divina, é algo mais além, rejeita as posses, ainda as espirituais, para deixar a alma nesse vazio absoluto que só é digno de ser preenchido pela imensidade divina. Santa Teresinha é o melhor exemplo de renúncia, porque não se detém nunca, transcende até o próprio êxtase, para chegar a essa perfeita simplicidade, ao abandono nos braços de Deus: não querer nada, não ser nada, não possuir nada, nem intelectual, nem espiritualmente, que é a verdadeira renúncia, a super e mais transcendental felicidade.
No exemplo de Santa Teresinha, vê-se que ela não chega a esta renúncia por um dom sobrenatural, já que passou por todos os estados pelos quais é necessário passar, como a mais humilde das almas consagradas, para chegar a esse fim sublime.
Por que teria que percorrer todos esses passos? É como aqueles que dizem: Já que minha alma é um todo com o Universo, por quê faz falta passar pelas provas?
Santa Teresinha não quer que esta recordação seja uma palavra, uma ideação. Vemo-la nas mais duras das etapas purgativas da vida espiritual. Logo que põe os pés na senda monástica, começa a prova: ficará às escuras. "Nenhuma sensibilidade sentia em meu coração. Era eu como um brinquedo do Menino Jesus." Esperava que, um dia, voltasse a tomá-la ou que, se não o fizesse, ficaria sempre esquecida, abandonada.
O martírio de um coração jovem não tem comparação com o martírio de quem já sabe como é a vida. A capacidade sensível das crianças, dos adolescentes, é imensa. Têm uma imensa capacidade de amar e sofrer.
Pensem que verdadeira dor era a de Santa Teresinha, como ela o disse: "Acreditava-me abandonada pelo céu e a terra. Nem um raio de luz havia para mim. O céu de minha alma permanecia escuro e nublado".
A Superiora dava-lhe duras repreensões.
No entanto, essa alma se tempera nessa purgação, nessa aridez. Ela mesma o confessa a cada passo: "Não teria trocado por nenhum tesouro do mundo a amargura, a tristeza dessas horas. Acreditava que minhas irmãs não me reconheciam." Isso é dizer muito.
Não obstante, Teresinha está ali, passa pela vida purgativa. É o primeiro passo da renúncia, o passo mais doce da renúncia, porque algumas coisas se esquecem, mas as penas, a aridez que nos custou, não se esquecem nunca, ficam gravadas na alma e no coração, como se houvessem sido gravadas com fogo e ouro.
Porém, chegado o dia de sua vestidura, a Divina Mãe lhe concede o hábito, e a vida iluminativa começa para ela.
Está toda de branco; receberá um véu branco. Sua alma se ilumina toda. Já desde antes da cerimônia da vestidura, sente que algo diferente invade seu coração. Então, atreve-se a pedir ao Divino Esposo que lhe dê um pouco de neve. O tempo está que não promete neve, porém, ao sair ao pátio, está todo branco de neve. Uma luz nova chega a ela.
Depois que nos afastamos e renunciamos a nossa parte afetiva, sensível, carnal, começa então uma nova época para nós.
Também a atadura do voto abre um horizonte novo, uma luz nova para a intuição, para a alma. Não será o êxtase um voar pelos ares, e sim, essa luz que ilumina nossa alma.
Teresinha passa esta etapa. De todas as pequenas coisas da vida conventual tira ela felicidade, louvor de glória, sua canção admirável de amor que teria que chegar a todas as almas, por tantos anos.
Começa a ter essa luz de interpretação do Evangelho, que a faz a mulher intérprete do Evangelho por excelência. E desta via iluminativa, Teresinha tira forças, não para o êxtase nem para esse gozo perfeito que virá com o êxtase, que ela já pressente, como uma melodia de desposórios, mas para prepará-la para a renúncia a esses bens perfeitos e espirituais.
De que vale que eu compreenda que Deus está em mim, em meu coração, se minha carne e meu sangue respondem ainda à minha condição humana? Se minha carne e meu sangue não se liberaram?
É que ainda estou vivendo em uma condição humana. Essa liberação virá unicamente com o cumprimento dos deveres, com os Votos. É algo que se conquista, que se alcança e, quando se alcança, tudo o que se fez para alcançá-lo, não existe, nem tem valor. Porque esta transcendência não tem princípio nem fim; nem caminhos, nem etapas, nem consumação.
Teresinha quer ser uma alma humilde, quer chegar a essa profunda renúncia passo a passo, hora a hora, com esforço após esforço de vontade. Sabe que Deus não se conquista com exercícios, mas que o exercício é indispensável para a alma, até que as portas do céu se abram.
A luz que nos dá a Divina Mãe, que nos faz ver com uma luz superior à nossa inteligência, a beleza e profundidade das Ensinanças, das admoestações dos Superiores, de nossas normas. Essa luz divina dá uma força, temperando com um conhecimento que será a luz de toda a nossa vida espiritual, mística.
Até que, como lhes dizia, um dia virá a contemplação, porque não pode ser que uma alma não tenha um momento de Divina União com Deus. À Teresinha, chegou este estado admirável. Também para ela chega essa flecha que fere seu coração e a inunda em um mar de dor e felicidade.
O mundo não existe, tudo desapareceu. Somente permanece o perfeito amor.
Isso lemos em muitas vidas de grandes seres.
Lemos as biografias de Ramakrishna, Vivekananda, Brahmananda, Ramana Maharishi, Aurobindo, e vemos como eles chegam ao êxtase supremo. Mas alguns permanecem no êxtase, voltando continuamente a ele, e outros o rechaçam, como fez Santa Teresinha.
Vão mais além.
O êxtase, ao fim, é uma experiência, resultado de um gozo profundo de Deus na alma, mas não é a divina renúncia. A perfeita renúncia é a de permanecer em paz, não desejar nem o êxtase. Como disse a Sra. Gaudelle a Ramana Maharishi, quando viu a beleza natural que a rodeava: "Que bem se está aqui! Isto é tão belo que se chega a não desejar a suprema liberação!" E Maharishi lhe respondeu: "Essa é a suprema liberação".
Santa Teresinha pronunciou estas frases nos relatos de sua vida, frases que o confirmam plenamente: "Não desejo ser como os grandes santos que voam muito alto. Sou uma pequena alma". Há o exemplo do caso dos alfinetes. Uma freira pediu-lhe alfinetes e ela se impacientou. Ante a estranheza de sua irmã por tal reação, ela disse: "Acha estranha minha imperfeição? Eu nem a perfeição desejo".
Isso é o grande, o mais sublime: não desejar nem a perfeição espiritual. Que altura de renunciamento!
Seja essa a divisa de todos os Filhos no dia dos Santos Votos: tomar de Deus as grandezas, mas transcender essas coisas. O Voto de Renúncia é uma perfeita conformidade com Deus e Sua vontade: renúncia às grandezas do espírito, para ir ao campo de uma imensidade tão grande, onde somente Deus existe.
Deus é a própria imensidade: eu sou com Ele a felicidade, a perfeição, a luz. Eu não sou nada e Ele é tudo. E Santa Teresinha o ensina: "Quis fazer-me pequena e não quis imitar as grandes almas que sobem muito alto".
Seja esta, Filha, a palavra de ordem de sua vida espiritual. Abandone-se nos braços de Deus, nas mãos da Divina Mãe. Ela a levantará e fará de si uma perfeita expressão de Sua Divindade e Admirável Vontade.
Ensinança 37: Vigília de Votos Perpétuos - 02/58
Em um dia tão solene como o de hoje para esta Comunidade, não fazem falta as palavras. Mas, não posso deixar de dizer duas palavras a estas duas Damas.
A Renúncia não se pode expressar. Melhor não falar da Renúncia. O que é sim para o humano, é não para a Renúncia.
A Renúncia é a lei dos contrários. O que é positivo para o humano, é negativo para a Renúncia.
O que é potencial para o humano, é ativo para a Renúncia.
Quando uma lâmpada está acesa aqui, aparece obscuridade no astral. Quando a lâmpada se quebra aqui, aparece no astral. Quando o ser é criança e está nos braços da mãe, tem vida astral. Depois, à medida que se faz homem e vai se carregando do humano, vai endurecendo e até seu físico vai assumindo essa dureza. Isso o prova a própria conformação do crânio. Então, é quando vive neste plano e esquece o astral.
Quando se faz ancião, começa a esquecer estas coisas e dizemos: que velho está, que não recorda nada, não sabe nada. É que começa a viver outra vez no astral.
A grande renúncia dos Filhos começa ao chegar ao Seminário.
Ao renunciar aos sentimentos: deixar o lugar em que viveu durante 20 ou 25 anos. Renunciar ao sorriso de mãe: há algo maior para uma mulher que renunciar a ser mãe?
Renunciar à maternidade é renunciar a si mesma. Seu seminal é puramente astral e espiritual porque, ao renunciar a um filho, fazem-se mães de todos os filhos do mundo e de muitas almas. Todos os filhos do mundo são seus. Ao renunciar a seu lar, fazem-se donas de muitos lares, têm ascendência em todos os lares.
Quando termina o Seminário, começa a renúncia dos sete anos: a renúncia ao saber. Deixam-se os anelos de conhecimentos: conhecer novos idiomas, novas leis, buscar em livros, viajar. Até as pessoas que nos vêem dirão: "Não sabem nada." O saber para o mundo é o não saber para a renúncia.
Como consequência disto, adquire-se um novo saber.
O Ordenado não pode ter um título porque ele sabe tudo: sabe falar, sabe ensinar. Aonde vão, os Ordenados sabem desenvolver-se, sabem trabalhar, sabem produzir.
A Renúncia é tão imensa que se a alcança por etapas.
Todos os seus atos, até agora, foram sucessivos atos de renunciamento, que não são mais que a preparação para a Grande Renúncia. Disto não se pode falar, porque até então, a alma tinha compreensão espiritual de todos os seus atos de renunciamento. Mas agora, terá que renunciar ainda a esses atos de compreensão do renunciamento. Desta renúncia, é melhor não falar.
Ouvi um locutor que dizia, que desaparecerão os exércitos humanos. Se um só homem, com a força atômica, pode destruir o mundo, uma só alma consagrada pode salvá-lo. Para que querem muitas vocações, se uma só alma que se entrega de verdade pode salvar o mundo?
Ensinança 38: Apresentação do Cavalheiro Delegado - 23/05/58
Quero que conheçam o desenvolvimento de Cafh.
Como todos os Filhos de Cafh formam um só Corpo, é bom que se saiba o que a cada um corresponde fazer. Não crer que o trabalho de um é mais ou menos importante que o de outro, pela maior ou menor solenidade do voto emitido.
É bom que tenham sentimentos luminosos e idéias claras, e por isso, quero que conheçam a situação de Cafh na atualidade.
Nesta Assembléia de Plenilúnio, os Mestres estiveram presentes por um ato puro de amor e isto nos fez ver que o sentir dos Mestres há de ser o sentir dos Filhos, e a compreensão dos Mestres há de ser a compreensão dos Filhos.
A Mensagem deste ano não é mais que o epílogo do que os Mestres fizeram chegar.
Deve haver unidade na vida do Patrocinado, do Solitário e do Ordenado, porque Cafh é uma só Obra, um só princípio e um só fim.
Formar um Corpo Místico é o mais difícil, porque sempre o homem crê que faz algo próprio, diferente dos demais e equivoca-se.
Daí a importância da unidade na Comunidade. Para isso, é preciso não conceder nada a si mesmo. Creio que é suprema obra de caridade tratá-las com disciplina, com mão de ferro. Hoje, exijam de si mesmas, o máximo; deixem a caridade de lado, para que tudo seja Observância e, assim, amanhã poderão ser todas caridade e amor. Matem a caridade com a Observância.
Este ano, a Divina Mãe nos fez ver um pouco o fruto de nosso trabalho, não para vangloriar-nos, mas para que A glorifiquemos.
Dada a característica da Obra, eu – C.G.M. – quando comecei a obra, não acreditei que pudesse ascender a mais de setenta almas. No entanto, hoje esse número se duplicou muitas vezes.
Pensava assim, porque a característica de nossa educação espiritual é individual e não vai à massa. Chega à massa através do indivíduo.
Na Argentina, hoje, alcançamos uma cifra cume.
Antes, tardava-se anos até que se fundasse uma Távola. Hoje, em um ano, no Brasil, formaram-se quatro Távolas.
Antes, para formar a primeira Távola, tardaram quatro anos: a primeira, em 1938; a segunda, no ano de 1941; e em 1942, a terceira.
Ensinança 39: Adoração pelas Vocações - 28/11/58
Recorremos a Ti, Mãe nossa, recorremos ao Teu Celeste Coração, para que seja somente dali que nos venha Tua Palavra de bênção e Tua ajuda.
Como poderemos nós atrever-nos a penetrar no sublime segredo das Vocações, senão através de Ti? Tu que és – ó Mãe nossa! – a única luz, a única verdade de todas as almas. Somente a Ti, ó Mãe, podemos pedir para que elejas, entre as almas, aquelas que hão de levar o estandarte espiritual no mundo e para que, entre todas elas, ainda elejas as almas que hão de levar o estandarte espiritual de Cafh.
Tu sabes quais são as predestinadas a Cafh. Somente Tu podes indicar-nos qual o seu nome. Por isso, ao não ter outros meios humanos para conhecer este admirável destino, recorremos ao auxílio divino, a Teu Divino Auxílio, para que Tu nos guies com mão segura, com Teu conselho certeiro, desprendido nosso coração de simpatia e antipatia para com as almas predestinadas.
Creio que entre os seres humanos, estes Filhos aqui presentes, são aqueles que mais podem pedir-Te esta graça. Pedem-na a Ti, não por seu valor, mas por sua consagração. Esse admirável mistério das Vocações das almas foi descoberto e confirmado através de nossos Votos, que são o ato que confirma nossa Vocação e a Vocação sobre esta Terra, quer dizer, o laço consagratório de união entre a alma e Deus.
Por isso, atrevemo-nos a pedir-Te, ó Mãe, para que nos descubras as vocações espirituais, para que indiques às almas predestinadas o caminho para acercar-se a nós. Por isso, viemos bater ao Teu Celeste Coração. Tu conheces o nome de todas as almas que terão de ser consagradas a Deus, conheces isto com Teu amor, com a luz do Teu Celeste Coração.
Pedimos-Te, esta noite, pelas vocações dos Filhos de Cafh. Cafh já mandou seus Filhos a todas as cidades e a vários países, para proclamar Teu Divino Amor, a grandeza de Tua Obra espiritual sobre a Terra. Faz que estas almas consagradas, missionárias de Teu Nome Adorável, tenham a força, a virtude, o conselho divino, para guiar as almas que lhes foram confiadas e que se confiem a elas.
Faz, ó Mãe Divina, que sejam muitas e cada vez mais, as almas que venham buscar na Grande Corrente de Cafh a Porta Interior para seu desenvolvimento espiritual.
Faz, sobretudo, Mãe, que estas vocações sejam cuidadosamente custodiadas. Nunca saberemos, Mãe, se as almas que caíram aos primeiros passos, nunca saberemos se eram verdadeiramente predestinadas, ou se, ao serem predestinadas, afastamo-las de seu caminho espiritual por falta de compreensão, de amor, de verdadeira correspondência.
Não somente Te pedimos muitos Filhos para Cafh, ó Mãe, mas toda a virtude para poder guiá-los pela senda espiritual.
Traz muitos Filhos, ó Mãe, às nossas Távolas de Patrocinados, essas Távolas que são a porta que leva à realização de nossa vida.
Protege essas almas que começam a Senda, porque aquele que começa o Caminho Espiritual, no início, sempre tem grande força humana, mas Tu dás a força do entusiasmo divino.
Faz que encontrem o pão que necessitam, o conselho que lhes dê a segurança, afaste-os do perigo e faça-os fortes nas primeiras dúvidas e provas pelas quais têm de passar aquelas almas, não sabemos se por falta de vocação, ou pelas circunstâncias da vida.
Faz que essa semente, que foi depositada no coração, floresça como uma grande vocação universal, que dê frutos copiosos na intimidade e no segredo dessas almas.
Chama muitas almas para que essas Távolas floresçam, para que façam invioláveis os Raios de Estabilidade onde foram fundadas e sejam semeadoras vivas de outras vocações espirituais. Pedimos-Te hoje, que bendigas as vocações de Cafh, as que ingressaram recentemente. Que sejam fortalecidas no amor, na fé e, sobre todas as coisas, sejam fortalecidas na fidelidade.
Pedimos a Teu Celeste Coração pelas vocações das almas consagradas.
A essência de toda religião e o culminar de todo caminho místico é a oferenda da vida a Deus e sempre há no mundo almas generosas com isto ou aquilo, mas que querem dar toda a sua vida.
O mundo não poderia subsistir sem as almas consagradas, porque elas são a única ponte entre o céu e a terra, entre a construção espiritual e a destruição humana.
Pedimos-Te, Mãe, por todas as almas consagradas inteiramente à Divindade, em todo o mundo. Que todos os caminhos e religiões possam levá-las ao cume da consagração. Que todas as religiões tenham muitos religiosos e religiosas, todos consagrados a Deus. Que os caminhos místicos e espirituais tenham muitas almas que abandonem tudo o que é do mundo e só busquem a Eterna Verdade. Não importa a qual religião pertençam, nem em que país se encontrem. Eles são nossos irmãos de sangue espiritual: na Índia, na Europa, na América, há um laço comum, há uma oferenda comum, que nos faz irmãos.
A Ti pedimos pela consagração dos Filhos de Cafh. Leva as almas predestinadas à Ordenação.
Entre os Filhos de Cafh, aqueles que hão de ser sacerdotes, guias de seus irmãos, exemplo para todos aqueles que confiam em nossa Obra.
Dá a estas almas, sobretudo, o dom incomparável dos votos, desse laço de união Contigo, que transforma a miséria dos homens, a pobreza da carne, a limitação dos sentidos, afetos, que transforma em uma luz brilhante de compreensão, obediência, fidelidade e dá uma consagração real e verdadeira.
Faz que as almas consagradas a Ti, que escolheram esta Senda, sejam fortes nos primeiros passos, nas provas que sempre a recordação e a carne apresentam. Que saibam distinguir entre os pães espirituais dos Filhos de Cafh que estão no mundo, que são reflexo desta verdadeira felicidade espiritual, que não se estabelece nem no intelecto nem em nada, senão que se estabelece sobre sua renúncia total.
Faz que nossa vocação, ó Mãe, seja tão absoluta e extraordinária que as almas consagradas compreendam que a conquista das almas só se realiza através de nossa entrega, renúncia, morte mística.
Isso Te pedem hoje, todas as almas consagradas, a Ti, ó Mãe, isso pedem a Teu Celeste Coração.
Pedimos a Teu Celeste Coração pelas vocações espirituais que nascerão nesta obra de Cafh, neste nosso Colégio.
Tu nos puseste aqui para cumprir uma missão educacional, mas detrás desta missão está a divina missão de instruir as almas, de despertar o sentido espiritual nessas almas a nós confiadas.
Quantas almas, Mãe nossa, serão conquistadas e irão à Vida Espiritual na vida, fruto do trabalho destes Filhos consagrados a Cafh, em Tua Santa Casa?
Pedimos-Te, ó Mãe, por estas almas que preparamos para a vida espiritual, com toda a força de nosso coração e amor, para que as guies pela senda da vida, que afastes delas as tentações, que as ajudes nas necessidades materiais da vida, para que nunca percam de vista a luz divina que lhes foi confiada. Viveram em contato com almas consagradas, sentiram o Poder da Grande Corrente. Por um instante, estiveram unidas à União Substancial de nossa consagração de Renúncia.
De coração, pedimos-Te que estas almas mantenham o fogo espiritual, que se encaminhem, não que estejam consagradas a Cafh, porque isso seria egoísmo. O único que Te pedimos é que sejam espirituais, que levem o fogo de Cafh, que lhes infundimos, ao mundo, na vida, sociedade, trabalho, naquele campo dentro do qual terão que desenvolver-se na vida. E, se alguém fosse destinado para o caminho de Cafh, guiá-lo até a hora em que possa voltar a nós, não voltar em espírito, mas como alma de Cafh, um ser de infinitas possibilidades.
Hoje Te pedimos, na capela de Teu Colégio, dentro do Raio de Estabilidade de Tua Távola de Ordenados de Embalse, que bendigas nosso trabalho espiritual, que entregamos para o bem da humanidade.
Pedimos-Te pelas vocações espirituais das almas que moram no mundo astral. Dá-nos uma força tão admirável de concentração, um dom tão sublime de oração e de oferenda para as almas desencarnadas, que possamos penetrar nesse outro mundo e escolher as almas que são destinadas para Cafh. Não o puderam fazer na Terra e pensam e desejam fazê-lo no além. E Tu sabes como essas almas necessitam de oração e ajuda, sobretudo de nós, para poder voltar a orientar-se nesse mundo de obscuridade e trevas terríveis e contínuas e tremendas mudanças. Tu nos deste – pela força de nossa vocação, confirmada pelos votos, pela oração continuada em ação, estudo e concentração mental – Tu nos deste o poder de auxiliá-las, levá-las por essas sendas que elas, intimamente, desejaram seguir e não puderam realizar.
Cada uma das orações de um Filho consagrado é uma porta que se abre para uma alma desencarnada.
Hoje queria pedir-Te por uma alma e Tu mo confirmaste com uma carta. A Sra. ... me escreveu que tivera um sonho no qual essa pessoa viera ao Cerro e que o C.G.M. a esperava aqui, perto da Capela, enquanto Révora lhe abria a porteira para que passasse.
Admirável confirmação a meus desejos.
Demonstraste-me isto outras vezes: como, através do contato de nossa oração e sacrifício, vêm incorporar-se no mundo astral, vêm incorporar-se a Cafh astralmente!
Quantas almas mortas em acidentes fatais foram liberadas desse tremendo pesadelo de uma morte violenta!
Dá-nos essa força para que possamos dar Tua consagração de renúncia para guiar essas almas a esse lar de paz, que é a Távola astral dos Filhos de Cafh.
Abre a porta para que venham fazer parte da Sagrada Corrente de Cafh, que muitas sejam orientadas para o nosso caminho.
Que nós possamos ter sempre essa força de sacrifício e renúncia, para dar a mão a estas almas desejosas de luz, de proteção espiritual e da senda de Deus e da Graça.
Ensinança 40: Recomendações Sobre Educação - 29/11/58
Quero deixar-lhes hoje, algumas recomendações. Tivemos este ano, como temos tido todos os anos, uma nova experiência. Ou, melhor dito, todos os anos – e assim é sempre – vão-se aprendendo, no trabalho que a Divina Mãe nos encomendou, algumas coisas novas. E todas as Filhas vão se pondo em condições de servir verdadeiramente a Divina Mãe através da assistência aos meninos deste colégio. Há algumas meninas também, mas a finalidade deste colégio é a educação dos meninos.
As senhoritas que estão cuidando destas almas, destes meninos, têm de estar sempre vigilantes, atentas. Vêem que o menino é um feixe de surpresas. No momento menos esperado, é quando fazem uma travessura, uma picardia. Quando fazem algo indevido, é quando menos esperamos. Nesse momento, revelam-nos um pensar e um sentimento que não imaginávamos neles. Têm que extremar a atenção. Tenho-lhes dito, muitas vezes, que esta atenção não pode ser trabalho para um Ordenado, como o pode ser para um homem do mundo, que gasta tanta energia, que depois tem pouca. Mas nós, que estamos todos dedicados à Divina Mãe, e podemos concentrar todas as nossas energias Nela, não teríamos que descuidar nada nesse trabalho.
Temos que ter cem olhos, mãos, força, visão e capacidade e, sobretudo, tem de haver, na Filha Ordenada, um dom extraordinário de assimilação de experiência, quer dizer, que uma experiência basta, plenamente, para uma só vez e não necessita duas vezes para aprender.
Então, verão que no ano que entra, as coisas serão ainda melhores, diferentes. Os problemas que tivemos este ano, não se repetirão. Teremos problemas novamente, mas não se repetirão.
Faremos, portanto, um balanço deste ano.
Notei que entre as crianças houve um pouco de nervosismo, rebeldia, mas não uma rebeldia infantil; era um pouco de crianças grandes. Bem: este caso não tem que se repetir, porque isso está totalmente em nós, estimadas Filhas, no sentido de que temos que dar absoluta importância a todos os meninos e, do mesmo modo, não fazermos uma idéia de que, por serem de pouca idade, calam. Os meninos têm compreensões inauditas, extraordinárias, das quais nem nos damos conta. "Bem, escapo, vou para minha casa", dizem. É uma reação nervosa que nós temos de controlar em nós mesmos. "Quando repreendo o menino, estou serena? Faço eu sempre como a serpente que diz: vou picar-te, mas não o faz?" Isso é o importante.
Não deve haver um só menino que diga: "Vou embora." O menino que disser isso, é mandado para casa.
Os meninos repetem sempre a mesma música. As senhoritas devem fazer como eu tenho feito, e não se repete. É uma coisa desagradável. Seus olhos devem ser clarividentes, ver bem os meninos. Não vejam o menino que têm diante de si, mas todos, sobretudo os que estão atrás. Os que têm perto são os melhores e os dóceis. Os travessos estão escondidos, escapam, estão atrás das pedras. Que não cheguem à estrada. Se vão até os fundos, correm perigo e já estamos bastante escarmentados, para confiar que os meninos estão seguros. Não queremos que volte a acontecer. Há o caso de Hugo, quando estava dançando em cima do poço negro, nos fundos. Se não saísse um Filho, cairia e ninguém o encontraria (há dois poços negros: o nosso e o do vizinho). Pensem nesse grande perigo.
As estradas estão recém-pavimentadas. Pensem no que pode fazer um menino que vai para a estrada. Os meninos vão e vêm. O perigo na estrada, por onde passam carros, caminhões. Pela lombada vem um carro sem que ninguém se dê conta. Pensem nisso, para que não tenhamos motivos para recriminar nosso coração. Os meninos correm perigo no momento menos pensado. Não há que pensar em vigiar, mas vigiar, estar em cima e não permitir que nenhum se afaste de nós. Recontá-los continuamente, para saber o número dos meninos.
Terminamos bem o ano. No fim, sempre se soluciona tudo, porque as coisas saem mais ou menos bem e nós estamos unidos.
Agora, demos graças à nossa Divina Mãe. Que, ao ter santificado suas mãos e pés, seja dado às senhoritas infundir bons sentimentos na alma destes meninos, porque esta é a confirmação de que nosso trabalho não é educacional, e sim sobrenatural. O que ensinaram como mães, não o esquecerão nunca. Terão momentos de desvio, de obscuridade, porém as ensinanças surgirão e, sobretudo, o carinho que lhes temos dispensado.
Terminamos nosso trabalho e depositamo-lo nas mãos de nossa Divina Mãe. Agora, fechemos a porteira, bem fechada. Vigiem bem a clausura e o Raio de Estabilidade, e recolhamo-nos no silêncio e na oração.
De onde nos vem a força para fazer tantas coisas, essa fonte inesgotável para distribuir em toda parte o que os seres necessitam? Vem de nossos votos, de nossa renúncia e, sobretudo, de nosso amor interior, do amor de nosso coração. E, já que temos essa graça, fechemos todas as portas, sobretudo as de nossos sentidos.
Estiveram um ano ali, ao pé do canhão. Agora, é necessário que volte essa paz, fechar os olhos e não desejar nem querer ver o que fizeram, para estar na tranqüilidade dos sentidos e poder sentir o amor da Divina Mãe e ver o adorável Filho que ela leva em Seus braços.
Estar sem qualquer pensamento que nos afaste de todas as nossas obrigações. Porque, quando costuramos, fazemo-lo maquinalmente; podemos errar, mas logo nos reconcentramos mais no interior. Aproveitemos as horas de solidão: hortens corda sor mea Sponsa... e vem Esposa, minha Irmã, dar graças, a graça espiritual, e permaneçamos sós, a alma e o Espírito.
Demos graças a Deus, a fim de que nada perturbe a paz de nossa alma. Chegou a primavera e o Senhor vem: Surge amica mea et vedi. Levantem a face comigo, ao retiro interior do silêncio e da verdadeira entrega.
Encontraremos bonificação sublime para os nossos trabalhos, preocupações, por nossa luta no trabalho com os meninos e com os pais. Tudo encontraremos ali, mas muito sublimado.
Quando morre uma pessoa, depois não nos damos conta de seus defeitos. Assim são as obras que nos custaram trabalho, sacrifícios. Depois se embelezam, dão gozo e alegria, e não se conhece o rancor.
Essa é a única chama dos antigos Cavalheiros, que diziam: "Minha força está em minhas feridas, em meu sangue derramado, em minha dor, ali, no sofrimento sublime." Encontramos nisto, a verdadeira realização.
Unicamente o sangue da oferenda, as feridas que a Divina Mãe nos permite fazer, não são laços que nos atam e sim, laços de Sua Vontade. E assim, as mãos feridas se transformam em nossa fonte de luz e alegria.
Fechem as portas da clausura e do Raio de Estabilidade. Submerjam-se todas no amor da Vida Espiritual, na paz interior, na face que se transforma em olhar amoroso e em singela volta para Deus.
Tomem novas forças para o ano que vem. Terão muito trabalho. Esqueçam o inverno da noite e vejam a primavera do amor.
Ensinança 41: O Exame Retrospectivo - 25/04/59
O exame retrospectivo que nos ensinam quando começamos a Senda de Cafh, é uma das bases fundamentais da Renúncia. Não exatamente o exercício que leva ao exame retrospectivo, mas o exame retrospectivo em si.
O exame retrospectivo de Cafh, apesar de que muitos digam que há uma similitude, não é o exame de consciência. O exame de consciência é um belo exercício, onde as potências da alma tornam a ativar a vontade e o sentimento porque, como a alma vai recordando os fatos ocorridos durante o dia, torna a vivê-los e senti-los, entusiasma-se pelo amor que lhe infundiu algo que fez, ou sente aborrecimento por um mal que tenha feito. Detém-se especialmente sobre certos fatos relevantes que recorda e, à medida que os vai rememorando, considera-os. A vontade e o sentimento se põem em atividade para revivê-los e senti-los.
Mas, o exame retrospectivo é completamente diferente. Não é um exame de atividade e emoção, compreensão e sentimento, mas um puro ato de renúncia.
O exame retrospectivo de Cafh, como puderam observar, não é nada mais que uma volta de todas as potências da alma em si. É um deter-se no momento mais importante de nossa vida, como é aquele em que nos entregamos ao sono, para entrar no mistério da noite. Antes de entrar no sono, realiza-se uma reposição de energias, uma eliminação de elementos daninhos, para entrar nesse estado completamente livre de toda a atadura, verdadeiramente entregues à morte, à Eternidade.
Quando a alma se acostumou a este belo exame, o hábito concreto interior para o exame em si, que se vai fazer à noite, já não tem tanta importância. O que tem importância é o modo de viver da alma através de seus exames retrospectivos. Quero dizer, e isto é o fundamental, que todas as vezes que nossas potências se expandem para fora, há um hábito interior que nos detém, imobiliza, que retrai a atenção da mente e torna a fechar as comportas da emoção, para que vejamos os fatos, o fruto de nossa obra, com outros olhos. Sair do foco, ao olhá-los de longe.
À medida que a alma vai avançando nessa entrega total de si mesma à Divindade, faz-se impessoal. Todos crêem que é analisar a si mesmo, ver o filme, ver o que temos feito durante o dia. Essa é uma irrealidade. O homem crê que tem algo, sofre. Essa é a ilusão da posse, mas através do exame retrospectivo, quando penetra na Renúncia, vê que esses fatos não são nada mais que a composição de vários fatos, nos quais, ele em si não toma quase parte, porque outros fatores se põem em jogo. Assim, faz-se impessoal.
Vemo-nos dentro de um conjunto de coisas, fatos, onde não somos mais que uma pequena parte de um grande todo. A Renúncia é cada vez mais segura, os fatos não são nossos, mas o resultado de vários fatores, de uma força posta em movimento. Na Comunidade, o exame é mais da Comunidade que nosso. À medida que passa o tempo, é o de toda Cafh e não o nosso. E, com o passar do tempo, é o de Cafh frente ao mundo, à Eternidade, da Obra que há de cumprir e que lhe cabe cumprir no futuro.
Creio que, depois de dez anos de vida de Comunidade, temos direito a um exame retrospectivo de conjunto.
Muitas vezes, se nos isolamos, não vemos mais que sombras, reflexos, mas na renúncia faz-se impessoal, de conjunto, e toma uma claridade surpreendente, extraordinária.
Vemos a importância das obras, então, através da realização deste conjunto de seres, obras e tudo o mais.
Em dez anos de vida de Comunidade, estimadas Filhas, realizamos muito, sem dúvida, e isso é o que consideramos, e não o que queremos realizar.
A Obra da Divina Mãe está patente em nós e nos confirma em nossa vocação.
A Vontade Divina é muito diferente do que nós cremos.
O C.G.M. teve uma visão, na qual via mulheres que desciam deste cerro para levar a Palavra de Deus ao mundo. Não acreditava que seriam Filhas Ordenadas. Surpreendeu-me e pensei que tipo de mulheres seriam. E, como se a Divina Mãe quisesse confirmar-me que esse não era um sonho, fez-me ver os belos parques que agora existem, porque sempre Deus se vale de um detalhe para dizer-nos se algo é verdade ou não. Desde então, quantas coisas se passaram, cumpriram-se, que não pensávamos, nem imaginávamos!
Quero explicar qual é o verdadeiro sentido da Ordenação de Mulheres.
Antes, jamais pensei que seria uma instituição sobre a qual se teria que fundar – fundar-se para o futuro – a segurança de Cafh. Sempre pensei que as Ordenadas seriam boas mulheres e que procurariam fazer todo o bem possível. E admiti até pessoas casadas, porque acreditava que se poderia harmonizar uma vida com a outra.
O pensamento da Divina Mãe era outro. Logo dei-me conta de que esse não era fundamento para Cafh.
Neste último ano, estive fazendo averiguações: por que são tão poucas nossas Filhas?
Ao fazer averiguações, procurei penetrar na vida íntima desses seres, nas Congregações.
Disse-me uma boa pessoa: "Nossas Congregações aumentaram muito. Mas, quando se aumenta em número é porque se deixa à parte o espírito. Quando se fundam os institutos, são poucas. Quando os fundadores deixam de existir, os compromissos aumentam e tem-se que ir afrouxando a disciplina, o verdadeiro espírito. Então, reúnem-se muitas almas, mas o verdadeiro espírito já não existe. Se a idéia é pura, teriam que ser poucas".
A alma, a de vocação, nem sempre tem a força cabal para a perfeita Renúncia, para fechar todas as comportas da alma.
Estas Superioras me faziam ver muito bem: "A Congregação tem colégios, casa, se o senhor observa – diziam-me – têm uma infinidade de escapes. Falam com muita gente, saem à rua, têm contato com seus familiares, vão à sua casa, também têm desejos, escapes que fazem que o verdadeiro problema interior seja tampado, porque têm uma infinidade de escapes que lhes fazem esquecer seu problema principal".
Poderíamos ter muito boas jovens, mas teríamos que conceder uma infinidade de coisas que não permitem amalgamar o verdadeiro espírito da Ordenação. Por quê?
Sabemos muito bem que, se não está o espírito, depois de mortos os fundadores, aconteceria o que ocorre em outras obras, quando admitem pessoas que têm outros compromissos e outras coisas. A Obra unicamente vai adiante, quando os que solucionam os problemas são os da casa.
Só depois de tanto tempo, dei-me conta disto. Temos de ser unicamente mães, irmãs, esposas da Divindade, para manter o verdadeiro espírito da Renúncia, porque Cafh não tem mais que uma Mensagem, que se resume em uma palavra: Renúncia. Tudo o mais são recheios.
Então, comecei a terrível tarefa para um homem: de fazer a Vontade Divina e fazer destas mulheres, almas verdadeiramente consagradas.
Eduquei-as no verdadeiro espírito da entrega.
Voltando ao exame retrospectivo. Vemos a alma lutar contra suas necessidades humanas e formar-se no verdadeiro espírito da renúncia ao humano, afetos, comunicações, para entregar-se somente a Cafh: esta é sua casa, sua vida. Se bem que esta não seja mais que uma expressão: fora, tudo se dilui através das possibilidades do passo dado.
Isto não pode juntar muitas almas. As Filhas poderiam ser muitas, poderiam ser umas trinta hoje, se tivessem todas as suas distrações e tudo o que pode servir de escape para a humana natureza. Porém, a obra seria humana e não divina. É preferível ter poucas Filhas e fundadas na Renúncia, e não muitas que pratiquem a Renúncia por temporadas.
Vejo que a Divina Mãe foi construindo este Corpo de Mulheres para que fossem o fundamento de Cafh, para que esta fosse a sua verdadeira preocupação e que não tivessem outra família que a de Cafh. Depois da morte dos fundadores, seguirão tendo a mesma idéia da Renúncia, da santidade; que a única santidade é a que se baseia no fundamento da Renúncia.
A alma teria de ter uma força tão grande que somente pudesse viver de Deus e não dos homens. É fácil juntar almas, mas firmá-las na Renúncia, no verdadeiro espírito, é muito difícil. Custa fazê-lo, custa uma enormidade.
Porém, fazendo o exame retrospectivo, vemos que o espírito se forma pouco a pouco, a satisfação do que temos conseguido e do que temos feito através dos anos. E vemos a aridez do coração que está em Deus e podemos ver-nos ali, como uma parte deste Corpo Místico, deste divino conjunto.
Este ano seguirá. Esta Comunidade dará um passo mais adiante; nesta Comunidade haverá algumas almas que serão plantadas como árvores de vida, para que somente sejam uma semente.
Tomem forças espirituais; há que fazer-se invencível para esta nova etapa de realização. Que cada uma das senhoritas se sinta como parte de todo o conjunto do Corpo Místico de Cafh e possa conseguir uma verdadeira força interior que a faça fundadora, oração verdadeira, que tudo se baseie na Renúncia. Que sejam daquelas poucas que sabem fechar todas as comportas, para abrir as comportas da Divindade.
Não ter escapes é o mais difícil, mas é o único que nos pode fazer verdadeiros Ordenados.
Ordenado é uma palavra tão grande como o Universo, queridas Filhas. Abarca todos os confins do infinito. É uma verdadeira luz no mundo.
Quando compreenderem a imensidade desta palavra, em um minuto, através de um verdadeiro exame retrospectivo, sentir-se-ão iguais a Deus, não por soberba, mas porque serão embargadas pelo Seu espírito criador, por Sua misericórdia. Cada uma das senhoritas se transformará em mãe da humanidade. Mas, pode esperar algo o mundo de hoje, onde vemos que a ciência se transforma num fator de ruína? Só pode confiar nas almas espirituais, que tudo deram voluntariamente, para transformar-se em imagens vivas e transparentes da Divindade. Isto é o que nós damos, desde nossa Comunidade. Verão, Filhas pequeníssimas, quantas forças lhes foram dadas. Aqueles que não podem imaginar que existem sobre esta terra, divinizaram-se através da lâmpada divina. Quantas revelações receberão as almas, no momento mais obscuro de nossa vida de Comunidade.
A cada momento, espera-nos uma nova revelação, porque é como se em nossa vida, o Verbo Divino se revelasse a nós em cada instante, seja através de uma grande compreensão ou de uma desolação interior, porque tudo o que é grande, é divino.
Tudo tem um sentido novo através das mudanças que vêm e passam; comprovam que já nada existe desse ser antigo, porque se estivesse no mundo, o mundo não seria nada, seria inconsubstancial.
Façam o exame retrospectivo, que se torne impessoal, que abarque o conjunto da Eternidade criada, da vida.
Ensinança 42: Nossa Vida de Holocausto - 16/01/60
Apesar de nossa entrega total, sempre está a personalidade humana que se manifesta em nós, através de ações sublimes, mas que, por sublimes que sejam, não são nossa missão. Nós não haveremos de ser mais que a chama que arde aos pés da Divina Mãe.
Fomos retirados do núcleo dos Filhos de Cafh que atuam no mundo, para que não sejamos mais que isso: a Chama de Cafh.
Se um Filho do mundo vai ao Superior e diz: "Gostaria de fazer um Colégio, ou de privar-me de ir ao cinema este ano, ou de inverter minhas economias deste ano numa obra X", dizemos-lhe efetivamente: “Faz o senhor muito bem, é essa uma obra magnífica e tem o apoio de Cafh para que a realize”. Assim, estas almas vivem seu holocausto e contribuem efetivamente para a Obra de Cafh.
Mas, para nós, tudo isso não vale nada. Nós, por nossos votos, já não somos seres humanos, mas seres divinos.
A característica da Ordenação, sobretudo da Ordenação de Comunidade, é que tudo foi virado do avesso. Nada do que antes era importante, nada do que antes tinha valor, nada do que considerávamos sublime, já vale agora.
A Mãe não quer nossas obras e sim, nossas vidas. "Nossa única realidade é o holocausto".
Se desejo ser professor, não estou cumprindo minha vocação; se desejo ser enfermeiro, não estou cumprindo minha vocação; se desejo submeter-me às mais duras penitências, não estou cumprindo minha vocação.
Unicamente se deve desejar fazer a Vontade da Divina Mãe.
O Ordenado não tem nada, não quer nada, não deseja nada, não espera nada. Simplesmente é.
Quando estávamos no mundo, podíamos ajudar as almas, proteger uma criança, salvar uma família.
Porém, agora, nada disto vale para nós. São ninharias que o vento faz voar. Nossa missão é outra: redimir a humanidade, através do holocausto perfeito e continuado.
Se penso que gostaria de fazer a fundação na América do Norte ou na Colômbia, ou qualquer outra coisa que me agrade, nesse momento, a chama de meu holocausto se apaga aos pés do altar da Divina Mãe. Ainda que, de todas as maneiras, o que se faz é, ao fim, sempre a Vontade da Divina Mãe, eu fiz sempre o que menos pensei ou desejei.
No momento em que a personalidade atua, apaga-se a chama do holocausto. Mas, quando em seguida a alma reflete e abandona-se novamente, volta a acender-se.
Tudo isto, à margem de nossa fidelidade interior, que no fundo sempre está. A Divina Mãe, através de nós, chega ao mundo. Negar-nos a morrer, negar-nos a ser perfeito holocausto, é como impedir que a Divina Mãe leve a luz da redenção à humanidade. Tudo haveremos de oferendar à nossa Divina Senhora. Haveremos de permanecer no calvário de nossos secretos padecimentos interiores. Isto é precioso.
Quão responsáveis devemos ser de nossa missão! Cada vez que a mente ou o coração vão atrás dos passarinhos da fantasia, a chama de nosso holocausto se apaga. Estamos negando às almas, a divina redenção da Mãe.
Uma alma que se consagrou a Deus ainda muito jovem, teve, em um momento de sua vida, um desejo de mundo. Disse a si mesma: "Que lindo seria estar no mundo por isto ou aquilo", e teve a graça extraordinária de ver o rosto da Divina Mãe com tal expressão de dor e de morte, que nunca pode esquecê-lo.
Cada vez que nos deixamos levar pela ilusão e a fantasia, cada vez que um desejo de vida, um desejo de mundo, cruza nossa alma, o rosto de nossa Divina Mãe se cobre com a palidez da morte, revive em si, pode-se dizer, todo o tormento da Divina Encarnação.
Por isso, imaginemos, cada vez que nos deixamos levar pelos passarinhos da cabeça ou quando algum desejo se faz presente em nós, esse divino rosto transfigurado pela dor, coberto com a palidez da morte. Porque Ela sofre um tormento de morte, cada vez que Lhe negamos nosso holocausto.
Demos nossa vida à Divina Mãe. Demos-Lhe todas as batidas de nosso coração. Pensemos na angústia que sentirá quando note que esse bater de nosso coração entregue se detém. Pensemos que Ela está dentro de nosso próprio coração. Que sente tudo, que percebe tudo e, qual não será Sua angústia, ao perceber uma dúvida, uma vacilação, ao perceber que Lhe negamos algo. Dizendo melhor, é o próprio coração da Divina Mãe que bate em nosso peito e que, através da oferenda perfeita, do holocausto continuado, expande-se a todas as almas.
Ensinança 43: Cerimônia de Votos Solenes - 30/01/60
Emitir um Voto Solene é um ato, no caminho de realização dos Filhos, de extraordinária importância, de vital importância, de única importância. Pessoalmente, não creio nos votos sucessivos; creio no voto dado no momento da primeira entrega, do primeiro ato de amor que nos une à Divina Mãe. Mas, creio na importância extraordinária dos votos que nos responsabilizam frente a nós mesmos, frente à Sagrada Ordem e seus componentes e frente à humanidade.
Por isso, o Voto Solene é de extraordinária importância.
A alma que se apresenta frente ao altar da Divina Mãe para realizar esse holocausto maravilhoso, oferenda o melhor pedaço de sua vida, a parte mais extraordinária de sua exteriorização humano-divina.
Filha! Chegar a emitir o Voto Solene, dar irremissivelmente à Divina Mãe sete anos de vida, é um ato que causa inveja aos seres divinos, aos próprios Divinos Iniciados.
Somos um pobre ser humano, feito de barro, de carne e de sangue que, pela oferenda, transforma-se em um ser sobrenatural. Acaso, não é um ser divino aquele que oferenda os melhores anos de sua juventude, que renuncia a toda possibilidade de vida, que dá um adeus a todas as ilusões do mundo, que apaga a lanterna de todas as ilusões, um adeus a todos os disfarces da vida, de aparência transitória, que oferenda todas as possibilidades e esperanças das mudanças e sucessões da vida?
Sete anos representam a juventude; são muitos, os melhores anos desta vida que tem tão pouco de lindo, de belo, entre as poucas coisas que alegram o coração dos seres, e as senhoritas Lhe dão os sete anos mais maravilhosos.
O Voto Perpétuo será uma confirmação desta magnífica oferenda, uma marca, mas é agora que a alma surge em todo o seu esplendor, porque dá o melhor dela à Divina Mãe.
Sabemos muito bem quantas ilusões encerra o mundo, e que escondem mais tristezas que alegrias, mas a Humanidade tem o consolo da ilusão. Hoje, Filha, está entregando a ilusão à Divina Mãe.
Quando começa a vida, tudo se faz cor-de-rosa e, se bem que, no íntimo, saiba-se que muitas coisas não serão como se espera, encontra-se, não obstante, um pouco de alegria nessas ilusões.
A partir de hoje, não haverá mais ilusões. Ela tomou o melhor de sua alma, o coração especialmente. Hoje, não haverá nem a ilusão de crer que se é bom.
Isso é muito importante na Santa Ordenação. Todos temos uma parte má, que nos seres consagrados se vai eliminando pouco a pouco. Mas, desgraçadamente, há seres neste mundo que têm uma parte má que é tão poderosa, que não poderão vencê-la. Mas há uma Misericórdia de Deus.
Uma mãe disse: "Ah, minha filha! És tão nervosa, distraída, rebelde". Tantas coisas assim ouvimos dizer, porque a mãe não tem a coragem de dizer que todas as manifestações exteriores são um indício de um grande mal que há no interior.
Na Ordenação, isto não é possível, porque aqui se descobre, limpa e tira. É tão ordenada nossa disciplina que, se houvesse uma alma que tivesse essa desgraça (porque ter esses defeitos é uma desgraça) – houve algumas aqui que a tiveram e foram devolvidas ao mundo – essas almas poderiam dizer o que sentem, porque essa é sua única triste herança e porque isso é o que elas são. As almas já não têm direito a essas ilusões que lhes fazem mais suportável a vida. Aqui, tudo sai fora.
Esta é, verdadeiramente, a morte das manifestações exteriores e é glória quando uma alma se oferenda, dá-se à Divina Mãe.
Hoje, é como se a senhorita morresse, porque está dando o melhor de si mesma: a juventude, a ilusão, a vaidade humana, a possibilidade de variantes da vida. Porém, além dessa tumba, uma vez ressuscitada, voltará a viver com uma vida toda extraordinária e divina.
Acaso crê, que um só suspiro, oferendado à Divina Mãe, possa se perder? Que uma ilusão de seu coração, uma fantasia de seu pensamento possa se perder? Não. Nada se perde. Tudo se transformará, tomará um brilho especial, novo, será coroado com a auréola divina que diviniza o holocausto.
Todos somos de carne e osso, mas sua oferenda apaga todas as imperfeições, distrações da mente e, muito particularmente, a Divina Mãe as toma como um ramo de flores e transforma-as em flores eternas.
Sua ilusão do dia se transformará em uma realidade. As ilusões de sua infância serão dadas à humanidade, serão a realidade da humanidade.
Formosa morte que a faz tão fulgurante, tão real. Antes estava sujeita às variantes da vida, possibilidades, aparências.
A senhorita será sempre a senhorita, a Filha da Divina Mãe, a chama que brilha diante do altar, a mãezinha de todos os que estão perdidos, dos que penam.
Imagine que Deus lhe deu a missão de iluminar os que estão perdidos na noite escura. Divina e extraordinária missão! Dê-se hoje toda, inteira, já que resolveu consagrar-se. Que sua oferenda seja total, real e verdadeira: verdadeira morte.
Tome sua espada, hoje, para abrir seu coração, para que não fique nem uma gota de sangue e seja toda do Celeste Coração da Divina Mãe.
Seja a rosa de ouro, secreta semente das almas eternamente consagradas ao Eterno Amor.
Levante-se para ser o apoio de todas as mulheres, para transformar as cinzas num resplendor divino, na fogueira de Kaor que brilha sobre toda a humanidade, sobre a nova Raça. Fundadoras de uma humanidade melhor, de homens mais felizes e melhores.
Ensinança 44: O Coração da Divina Mãe - 06/02/60
Os Filhos Ordenados (e todos os Filhos de Cafh) hão de entregar todo seu coração à Divina Mãe ou, melhor dito, o coração do Filho há de ser o Coração da Mãe Divina.
Sobre as alturas da Vida Espiritual, sempre está a entrega da intimidade do sentimento, do amor, e um coração humano oferendado à Divindade, transforma-se em um coração divino.
Os corações dos Filhos hão de ser Corações Celestes da Divina Mãe. Desde o coração dos Filhos, há de irradiar o amor sobre toda a Humanidade.
Como devemos fazer para que estas não sejam figuras imaginativas, explicações intelectuais? Como fazer, a não ser dar todos os momentos de nossa vida e que nosso coração seja o da Divina Mãe?
Quantas coisas e complexos, quantas contrariedades e quantas coisas diferentes tem este nosso coração humano!
Todas as vezes que ele bate – e bate continuamente – é como se anunciasse uma nova forma de sentir ou de expressar-se, ou como se estremecesse pela paixão, ou se doesse pela preguiça, ou se adormecesse pelo esquecimento de nossos deveres sagrados e de nossas obrigações. E, no entanto, é o coração da Divina Mãe que anuncia Seu Amor e não devém. Podemos pensar que é a Vontade da Divina Mãe, porque não bate sempre da mesma maneira, não é sempre uma mesma expressão de silêncio, de paciência e rotina. Parece que é a prova e é o destino, e é a participação do Ordenado com os corações desesperados do mundo.
Mas, eu não creio que seja assim, senão porque sempre deixamos infiltrar ali nossa personalidade, deixamos que o mundo penetre, que o passado e o porvir tomem seu lugar ali, quando não há de existir ali, nada mais que a Eternidade.
Com uma observação vigilantíssima e observante, podemos chegar a esse ritmo perfeito, a esse silêncio divino, a essa rotina que não pode mudar, a essa paciência que vence a mente, sentimentos, a todas as coisas exteriores. Ou, melhor dito, o coração celeste do Filho Ordenado, quero dizer, o da Divina Mãe, está envolto em uma aura divina, toda espiritual. Essa aura, que envolve o Coração da Divina Mãe com o nosso coração, não pode deixar que nada e nem ninguém penetre ali. Porém, é verdade tudo isto?
O Filho Ordenado consegue um domínio exterior de si mesmo, admirável e divino domínio de tudo. É observante em sua vida, disciplinado em todos os seus atos. Sua entrega é de dia e de noite. Mas, que há detrás desse véu impenetrável do coração? Esse coração está entregue, mas no fundo, há sangue. Há solidão ali. Porém, esse sangue bendito, todo celeste, é todo celeste ou há algo humano de paixão, de desejo? Ou há algo de vida, do passado, que envolve esse sangue? Ou há sonhos de porvir que o turvam, quando ali não pode penetrar absolutamente mais que o olho divino da Mãe? Porque, esse é o mistério admirável da alma em contato com a Divina Mãe. Essa é a realização sublime do Voto de Silêncio: a alma e o Amor Divino, a alma e a Mãe Divina.
Não obstante, apesar de ser um segredo tão admirável, os pobres Superiores, Diretores Espirituais, pelo hábito que têm, vêem, às vezes, algo do que se passa nesse coração: um ruborizar-se ao ler uma carta, uma emoção demasiado profunda em contato com pessoas que deixamos atrás e que só pode perceber o olho avisado do Diretor Espiritual, as tormentas silenciosas que se passam na alma e que ninguém vê, através do choque de nossa personalidade com a personalidade de outro.
Infinitos detalhes que permitem descobrir que o coração não está todo entregue. Que a alma se deu toda, mas que escondeu uma pequeníssima parte ali. E até que essa parte não seja toda entregue ao Amor da Divina Mãe, até que este resíduo profundo e interior não seja oferendado, não podemos dizer que nosso coração é o coração celeste da Divina Mãe, que transcendeu, que nada tem a ver com as coisas humanas.
Este coração está feito através das batidas humanas do passado e do porvir, da dor, esperanças, desejos, amor, de tudo isso que constitui a vida e que a faz formosa. Mas, essa era a oferenda que Ela pedia e que nós Lhe demos e que, às vezes, é como se acendesse uma luz que não é a luz da Divina Mãe, essa luz incandescente, que não tem sombras, que não tem mudanças, nem intensidade, nem depressões, nem nada.
Para que nosso coração seja todo dado à Divina Mãe, o trabalho tem que ser intenso, completo e continuado.
Como lhes disse, ali não pode entrar ninguém. O olho humano pode ver algumas coisas, mas o trabalho, a alma o faz sozinha, em contato com a Divina Mãe. Tudo quanto demos foi feito em conjunto, na Comunidade, através dos votos, oferenda, conselhos dos Superiores. Mas, esse último trabalho é individual. A alma tem que dar-se por si mesma, tem que fazer o último por si mesma: essa pequena fase pessoal e própria e essa divina herança da vida. Porque, isso que a alma guarda no coração (recordação de uma boa obra realizada, sacrifício de uma vida, de um afeto) isso não é a parte divina e sim a última parte, que tem que ser entregue para que a Divindade possa expressar-se toda, integralmente, sem figuras, expressões humanas, coisas vividas.
Na vida espiritual e na realização da alma com a Divina Mãe, não há vivência, mas Eternidade. Não há tempo, passado, porvir, mas duração. Não há mudança nem sucessão, mas expansão eterna e continuada. Isso é o que temos de oferendar à Divina Mãe, como última expressão de nosso amor a Ela.
Esse é o mistério de nossa vida de silêncio, que tem de realizar-se no íntimo de nosso coração: oferenda do tempo, da vida, de tudo o que somos, fomos e podemos chegar a ser.
Há uma expressão, Filhas minhas, que lhes dará a pauta e dir-lhes-á se seu coração se transformou no coração celeste da Divina Mãe e, nesse momento, é quando, totalmente esquecidas de si mesmas, saberão sentir toda essa permanência de passado e de tempo, através das almas que não participam da obra que têm que realizar.
É tão perfeita e divina a realização da alma com a Divina Mãe que, quando tudo entregou, não deixa de amar, sentir, sofrer, mas tudo isto, não o sente por si mesma, e sim, pelos outros.
Quando nos damos conta de nossas misérias e dores passadas, entristecemo-nos, choramos, mas quando estamos satisfeitos conosco mesmos, quando ficamos tristes pensando no que não fizemos ou no que demos, é porque estamos sempre olhando nosso coração humano. Mas, no dia em que sentimos todas essas emoções e pensamentos refletidos em nós e já não nos produzem nenhum sentimento, mas indiferença, então teremos a pauta de que nosso coração é o da Divina Mãe.
Já não trabalha o coração ao redor de nossas emoções e modo de ver, mas está trabalhando por outros, refletindo o problema dos outros. É um refletor divino que se acende, e enfoca os problemas do coração da humanidade. É quando o Filho abre seu celeste coração, oferenda-o e o dá à humanidade.
Uma Filha perguntou-me sobre o Voto de União. Mas, se este é o Voto de União, o último, sublime e divino. A entrega desse sentir por mim, pensar por mim, algo que ainda expressa o "por mim"! Quando a alma, seja homem ou mulher, Filho ou Filha, haja chegado a esse momento em que se esqueceu de si, a esse estado permanente de consciência, já não recorda seu passado, não a emocionam seus defeitos, já não lhe interessam, há indiferença frente a si mesma, porque não se lembra de si, então, nesse momento, realiza-se o Divino Desposório com a Divina Mãe, que é quando nós damos o coração a Ela e Ela nos entrega o Dela, e transformamo-nos em sacerdote.
Sacerdote é aquele que sente pela humanidade. Como podemos ter o direito de dizer-nos Salvadores da humanidade, se não realizamos essa obra em nós mesmos, se quando vamos às almas, damos-lhes tudo o que está em nós?
Quanto mal fazem os sacerdotes no mundo porque guardaram algo para si, não fizeram esse último voto de união e de oferenda. Fizeram-se sacerdotes, mas não dão mais que o reflexo de si mesmos. Se estão passando por algo, dão isso às almas, essa é a oração que lhes dão. Assim, não cumprem com sua missão divina, porque o verdadeiro sacerdócio da alma é dar-se puramente. Não podemos realizar-nos se temos algo próprio. Mas, quando no coração não há nada que o moleste, nem a menor sombra que empane o coração da Divina Mãe, então transmite a luz celeste, a Luz Divina.
Quando virá esse momento em que a alma se desposará com a Divina Mãe? Tem que chegar; não podemos ficar esperando que chegue. Tem que ser hoje, Filhos, Filhas, neste momento, se são capazes de dar seu coração, de não terem nem pensamento, nem emoção, mas transmutar tudo na vivência de toda a humanidade.
Esse é o mistério do amor, do sacerdócio, da união, a realizar-se no Coração Celeste da Divina Mãe.
E não há outro. Esse é o maior. Tudo o mais são correntes que vão e vêm como o mal, são sucessões de dias e de noites. A única verdade não é o voto, a oferenda, a vida, e sim, a oferenda íntima e secreta da alma, do coração, à Divina Mãe.
É coisa de um momento, Filhas, Filhos. O punhal tem que estar bem afiado e o talho tem que ser bem profundo. A mão não deve tremer, a mente tem que estar vazia e, então, tudo está feito. Um pouco de sangue, um pequeno tremor, uma lágrima, e a alma morreu, já não existe mais. E cada um de nós se transformou no Coração Celeste da Divina Mãe.
Ensinança 45: Oferenda de Vida - 13/02/60
O que distingue essencialmente a vida dos Ordenados e, sobretudo, a vida dos Ordenados de Comunidade, dos demais Filhos e seres do mundo, é a oferenda de vida, da força vital e do ser. Por isso, a virtude que os Ordenados de Comunidade (especialmente) mais hão de amar e mais hão de defender, é a virtude da castidade. Pela virtude da castidade, os Ordenados se transformam virtualmente em seres privilegiados sobre a Terra, seres divinos sobre a Terra, seres que completam, transformam, divinizam, eternizam o Voto de União.
Falar da virtude da castidade a Ordenados de Comunidade não é coisa fácil, nem é coisa conveniente. Porque, pelo método de vida que eles têm, pela participação constante que em sua vida diária eles têm na vida divina, é quase impossível que haja algo que seja contrário a essa virtude sublime e extraordinária.
Por isso, é minha intenção hoje, falar da castidade, não como uma virtude vulgar, mas falar da castidade como uma Virtude de Oferenda, como uma Virtude Sublimante.
O Ordenado de Comunidade é casto, sobretudo porque, transforma sua presença humana em uma Presença Inconsubstancial e divina. Ir à Comunidade, entrar nesta vida santa e extraordinária é, em uma palavra, perder não somente a personalidade corrente dos seres, mas aquelas características todas que distinguem os seres humanos entre si.
Poder-se-ia dizer que o que constitui, sobretudo, a atração dos seres humanos entre si, é a distinção como característica de cada ser. É como se, através da diversidade das atrações humanas e físicas, sobretudo, os homens encontrassem o meio para o seu gozo material.
Por isso, o Ordenado, com sua presença, faz a primeira oferenda à Divina Mãe. O Silêncio, o Método, a Rotina, o modo de vestir, de falar, são todas expressões desta sublime castidade de Comunidade. Sobretudo e, apesar de tudo, o modo de vestir. Embora haja um refrão muito antigo, que diz que o hábito não faz o monge, todavia, ajuda. Quando uma pessoa está revestida com os caracteres que expressam ao mundo e a outros o seu estado, é muito difícil que esta pessoa não esteja compenetrada de sua condição. É muito difícil que leve o véu sem que se sinta compenetrada deste mistério da Presença Divina, compenetrada de divindade e castidade, que não sinta a emoção de participar da vida da Divina Mãe. É esta presença continuada do Filho que faz que perca toda característica individual e transforme-se unicamente em uma figura expressiva do Servidor da Divina Mãe. Essa participação é presença de castidade.
Apenas com sua figura, o Filho ou a Filha, já são uma presença de castidade para todos os seres.
Com o correr do tempo, essa presença se faz cada vez mais impessoal. O impessoal no Filho é sua presença de castidade. Quando se ouve uma pessoa dizer que viu vários Filhos e não sabe distingui-los, quer dizer que percebeu a presença de castidade do Filho. Somente fica a figura, a figura do Ordenado de Comunidade.
Isso é o que faz e ajuda a fazer o hábito e que, sobretudo, faz o hábito interior do Filho que, ao não ter possibilidades de expressões humanas, transforma as emanações de sua figura material em uma só expressão: o magnetismo de oferenda.
A presença continuada das senhoritas e dos senhores, ainda dentro de Cafh, é presença de castidade, de uma verdadeira oferenda de suas forças vitais.
Esta castidade de presença, ao ser contínua, transforma-se em uma participação à castidade dos grandes seres, que têm os destinos da humanidade.
Sempre estamos no mesmo. Vejam que há diferentes correntes nas idéias religiosas. No budismo, para realizar a Deus, deve-se ser casto, absolutamente casto, evitar o matrimônio. Outras correntes, como a evangélica, dizem que não; que o homem tem que realizar a Deus através da vida natural, quer dizer, do matrimônio.
Isto é grande e bom, porém, não é toda a verdade. A verdade é que os seres humanos têm que procriar (Cristo o disse), mas Cristo é casto, os apóstolos e os que O seguem são castos. Quer dizer que, se todos os seres têm que render-se à força humana, há, não obstante, um número, entre todos os seres, destinado a uma vida sobrenatural sobre a terra.
Os seres humanos, levados à vida natural, têm que seguir a vida do matrimônio, têm que entregar suas forças vitais. O comum dos seres tem que seguir essa senda; porém, uns poucos não têm que seguir a lei natural.
Aos primeiros, disse Cristo: "Ide procriar." Mas, a seus discípulos, disse: "Deixa pai e mãe..." E isto não admite mais explicações.
Portanto, o Filho, com sua oferenda vital, participa da Vida Divina dos seres divinos que foram, que são e que virão; dos que foram castos e abandonaram a vida comum, para seguir uma vida de castidade.
Os Filhos Ordenados de Comunidade participam da vida divina de todos os movimentos espirituais da humanidade. Em uma palavra: constituem a seleção, a participação com as almas divinas que hão de salvar, que hão de redimir a humanidade.
Quero dar uma idéia geral. Idéia filosófica da doutrina da castidade.
A castidade, pois, no Filho de Comunidade – ao ser divina, missional e salvadora – cumpre todo o exercício sacerdotal e divino dos Filhos mandados pela Divina Mãe para a redenção do mundo.
Nossa castidade é de presença, é participante, é a expressão viva da reversibilidade sobre a Terra.
Uma verdadeira castidade na Vida de Comunidade é expressão perfeita de Vida de Comunidade. Não posso explicá-lo, Filhos.
Uma Filha que chega à Comunidade, oferenda sua força vital. Através de sua participação, vai perdendo sua personalidade física.
Esse é um trabalho que leva tempo. A mulher é feminina, é a expressão do feminino sobre a Terra. Mas, na Comunidade, perde essa característica, seu modo de olhar muda, sua voz tem um timbre diferente. Todas têm um mesmo modo de expressão. Porém, há aquela que ainda não chegou a isso. Falta-lhe algo do polimento de sua castidade.
Por exemplo: a forma de caminhar. Conhece-se a mulher pelo seu modo de caminhar. Aqui já não é mais feminino. Muda. É uma expressão de direitura frente aos seres do mundo. Endurece-se um pouco. Sua expressão é um pouco mais dura, seu caminhar é mais varonil. Isso é reversibilidade.
O que distingue o homem no mundo é a rudeza. O homem tem modos rudes. É a expressão de seu aspecto viril. A reversibilidade, que dá o dom da castidade, faz que seja mais suave no modo de falar. Suas mãos perdem essa característica varonil: no homem são as mãos. A mulher tem mãos que são mais de homem.
Os homens do mundo não compreendem. Dizem: "São todos iguais." Mas, somente nós sabemos da transformação que se efetuou.
A reversibilidade é expressividade. O homem tem que mudar sua expressão. Tem que mudar seu trabalho e só então, poderemos falar de uma castidade de holocausto, absoluta, de vida.
O holocausto da castidade é a renúncia que o ser faz aos gozos mais inocentes e mais legítimos da mente e do coração. Aqui, começamos a planear mais alto.
O holocausto de castidade é algo tão sutil e extraordinário, que somente pode conhecê-lo aquele que o sente e o realiza. É uma morte de nossa visão intelectual, uma morte de nosso sentir do coração, morte de tudo o que constitui a vida exterior dos seres humanos. Tampouco se pode expressar com palavras, porque não tem expressão.
Um exemplo: um Filho de Comunidade que permaneceu vários anos em uma Comunidade. Quando chega o momento de ir-se, oferenda imediatamente esse divino amor à Divina Mãe. Isto é castidade. Renunciar a esses gozos, ainda santos e divinos.
Outro exemplo: um Filho Ordenado foi posto num trabalho que ele faz com todo o amor e também tomou-se de carinho pelos meninos que lhe confiam. Amanhã, é afastado disso: renunciar a saber como estão esses meninos. Isto é castidade de holocausto.
Outro exemplo: um Superior que foi afastado de Filhos a quem muito queria. Isso é oferenda de castidade, holocausto de castidade. São gozos pequenos. Não posso desejá-los, mas o são.
É o sal de nossa vida.
A castidade é a força que move nossa vida espiritual. Toda Cafh está fundamentada e cimentada em nossa castidade. Esse é o maior e mais precioso tesouro que podem ter os Filhos de Cafh.
Falar disto é muito vão porque se sente com o pensamento e sente-se no interior, e não se pode expressar.
Que posso desejar, a não ser pedir à Divina Mãe que Ela viva em nosso coração e faça de nosso coração um santuário de castidade? Não podemos pedir à Divina Mãe uma castidade física, porque não pode ser de outro modo, mas peço à Divina Mãe que nos conceda a espiritualidade desta divina virtude – a parte divina e sublimante desta divina virtude – que faça que nossa presença seja presença de castidade, que nossa participação à salvação do mundo seja participação de castidade, que faça que nossa vida, desprendida de todas as coisas do mundo, reflita-se em todos os aspectos da vida, para manter esse dom de castidade. Que faça de nossa castidade a força, a alavanca de nossa oferenda, um coração forte para a castidade, porque somente os corações fortes sabem ser castos.
Que abrande todos os modos exteriores, que nos dê mãos fortes para a misericórdia e a caridade. Que em todas as nossas expressões humanas desapareça o rastro do pessoal para que estejamos em Sua Divina Presença. Que nossa presença no mundo não seja mais que uma expressão de castidade, de pureza verdadeira. Pedimos-Lhe que essa castidade seja continuada, que nosso método, disciplina, permaneçam conosco. Que os fantasmas impuros não venham tentar nas horas impuras, para que a carne não seja perturbada nessas horas de trevas e esses fantasmas se ausentem de nós. Que os anjos nos rodeiem para que nenhuma força estranha nos perturbe quando não estamos no domínio de nossa vontade.
Ensinança 46: O Corpo Místico da Comunidade - 26/06/60
O Corpo Místico da Comunidade adquire toda sua força espiritual e inconsubstancial por meio da imobilidade, da penetração e da transformação. É indispensável que este Corpo Místico da Comunidade seja uno. É imprescindível que este Corpo Místico da Comunidade seja a viva expressão de nossa Divina Mãe e de Sua Obra Redentora sobre a Terra.
Para que este Corpo Místico esteja livre de toda mancha, livre de toda luz que não seja a Luz Fundamental, é indispensável que aqueles que o formam, aqueles que emprestam sua vida para dar-lhe vida, aqueles que dão todas as suas forças espirituais para que seja a vida do Espírito sobre a Terra, é indispensável que desapareçam, que não sejam. Essa transformação e esse aniquilamento da personalidade, para a subsistência do Corpo Místico sobre a Terra, é o trabalho admirável que fazem os Filhos através de sua renúncia, de sua entrega, através de seu holocausto.
Porém, é necessário que este Corpo Místico, que está alimentado por esta chama extraordinária de renunciamento, tenha também uma unidade que se represente no mundo, uma imagem que se reflita sobre a humanidade. Que tenha um aspecto exterior, que faça mais fácil o contato do divino com o humano.
O próprio Corpo da Comunidade, essa parte do Corpo Místico que se põe em contato com o exterior, consegue isto pela imobilidade, a penetração, a transformação.
A personalidade humana – que é tão provida de atributos diferentes, que continuamente põe para fora uma de suas personalidades para que atue em diferentes e determinados momentos – faz que os seres sejam diferentes uns dos outros, porque às vezes se expressam de um modo e outras vezes de outro: cada um tem modalidades de personalidades sobrepostas que os distingue continuamente dos demais.
Aqueles que formam o conjunto de um Corpo Místico são uma só coisa, quer dizer, hão de ter uma só expressão, um só movimento exterior – e esse movimento único exterior faz que sejam aniquilados todos os seus aspectos individuais e pessoais – e se expressa através da Vontade Única, da Observância. E isto é e vive nos Filhos, através da imobilidade.
Estar imóvel é tudo o que é necessário, Filhos e Filhas, para que o Corpo Místico da Divina Mãe se expresse no mundo de uma única forma. Não é verdade que não temos nenhum interesse em que sobressaiam nossas personalidades? Para nós é indiferente. Se tivéssemos esse pensamento, a Divina Mãe não nos haveria escolhido para fazer parte do Corpo Místico.
Se alguém se expressasse deste modo, ficaria tão fora de lugar, chamaria tanto à atenção que, em seguida, seria rechaçado pelo Corpo Místico da Divina Mãe. Todos têm uma só vontade: é a Observância.
Mas, há uma coisa que pode transparecer ainda, que são os resultados de nossas personalidades anteriores, que se expressam através de movimentos mecânicos: o modo de correr, de sentar-se, de estar em pé. Para que esses movimentos mecânicos retornem a seu foro interno, é necessário que o Filho adquira a imobilidade. Não é somente permanecer dentro da clausura, continuamente frente à Presença Divina, que nos orienta, a todos, para uma única missão. É necessária a imobilidade muscular, dominar as reações habituais, consequentes de nossa vida no mundo, para que tudo seja uma perfeita expressão do Corpo Místico sobre a Terra. Que alguém, que tenha visto um Filho Ordenado, uma Filha Ordenada, tenha visto todos. Que aquele que veja uma Ordenada ou um Ordenado, diga: são todos iguais, caminham do mesmo modo, etc. Que ninguém possa dizer: prefiro este senhor ou aquela senhorita.
Como lhes disse, esta imobilidade mecânica faz que o ser se expresse exteriormente como se não tivesse expressão, somente como se fosse a imagem refletida da Divina Mãe sobre a Terra.
Custa um pouco adquirir a imobilidade. Aos senhores, que têm todas as facilidades que lhes dá a Comunidade, não lhes custa tanto adquirir este admirável dom. O Ordenado de Comunidade há de pensar sempre: "Não somente estou na Presença da Divina Mãe: hei de ser a estátua e Ela há de ser a vida. Hei de ser a vestidura e Ela, o corpo que a anima”.
O mundo expressa tudo por seus movimentos. Quando vemos o mundo, compreendemos seu estado mental, sentimental. Portanto, a expressão exterior dos Filhos e das Filhas de Comunidade, há de ser um só movimento: o movimento que expressa a Divina Mãe sobre a Terra. Estar rígido, não fazer trejeitos, não dar voltas de um lado para outro. Tudo isso ajuda a adquirir um mecanismo novo de expressar-se. Esta imobilidade, que seria dureza de expressão no mundo, no Filho – que tem que expressar algo divino – transforma-se em algo grandioso, resume em si o ritmo do Universo, o ritmo do Coração de nossa Divina Mãe. Porém, este inconsubstancial, esta forma única, essa fidelidade que não se pode romper nem ver e, no entanto, existe com toda a sua força, adquire-se por penetração. Não somente participando da vida dos seres, porque o Filho ou a Filha de Comunidade não podem apenas participar, mas fundir-se, penetrar. Não pode haver dois corações, dois pensamentos, senão um só pensamento, uma só ação.
Digo, penetrar nos Filhos, companheiros da Comunidade, porque é o único modo para que desapareça completamente o ser pessoal. É indispensável cumprir a missão para a qual fomos destinados, trazer um novo sentir da vida. Ensinar aos seres, não as felicidades, mas a Felicidade. Dar aos homens a rota a seguir, não as diversas vias. Para tanto, é necessário que nosso Corpo Místico seja santo, vivo. Que se perpetue.
É desesperante olhar a vida espiritual, do ponto de vista pessoal. As obras espirituais necessitam, às vezes, uma eternidade para que se cumpram. Uma Távola necessita quase dez anos para estabelecer-se e quase vinte para expandir-se.
Tremo frente a esta obra divina que devo realizar. É necessário que haja um ser que faça a Obra e isto só se consegue através do Corpo Místico e se penetramos um dentro do outro.
O Corpo está sempre forte e vigoroso. Nós somos o sangue que penetra ali e seguimos fazendo a obra que outros deixaram e seguimos vivendo e trabalhando sempre. Que importa quando morreremos? Estamos prontos para defrontar-nos com tudo, com tudo quanto traz a expansão espiritual.
Não há corpos. É um só Corpo, o da Divina Mãe. Naturalmente que isso o conseguimos, através do pequeno trabalho de cada dia, assimilando-nos àqueles que têm gostos diferentes dos nossos, sendo agradáveis com aqueles que não nos são simpáticos. Esta é a obra de penetração. Isto faz da obra, um Corpo único, de conjunto. Que importa se eu morro neste momento, se no momento em que morro, vou penetrar no corpo de outro para que seja o C.G.M. sobre a Terra?
Nunca morremos. Voltamos sempre a fazer e seguir a obra que temos feito. As senhoritas e os senhores penetrarão no corpo de outra Filha ou Filho que se está formando e está para vir. Nossa participação é penetrante,viva. Desaparece o corpo físico e a expressão de nosso ser, para haver um só corpo.
Na Comunidade, não há um Superior, Assistente, Diretor, Mestre: é tudo o que o próprio faz. Como posso dizer: eu faço melhor as coisas que outro? Ou: esta coisa não está bem? Hei de dizer: hoje saiu bem. Como posso dizer: a outra senhorita, ou o senhor ou a Filha? Este é um mal, se sou eu quem o faz? Se ela me diz algo desagradável, sou eu quem lho transmitiu. Se eu também estou obedecendo e se obedeço. Se trabalho, estou orando; e se oro, estou trabalhando. Se eu estou no mundo, não estão também comigo ali? Não há dois. Nosso Corpo é uma única expressão, somos uma só coisa e uma só vida. Naturalmente que esta compreensão penetra na alma pouco a pouco. Chega o momento em que esta idéia é tão nossa que não pensamos que um pensamento é de outro: o outro sou eu.
Então, isto nos dá a força de coesão, força existente através das mudanças. A reversibilidade da mudança se transforma, em nossas mãos, em uma força atuante, que continuamente se expande e vai além dos limites humanos: chega ao infinito. É a única forma de fazer algo pelos seres humanos. Fazendo-nos divinos, podemos realizá-lo.
Na vida de Comunidade, a mudança é o sal de nossa existência. Em uma vida de contínuo auto-controle, dá a impressão de que a alma se acostuma sempre a um ritmo. Mas não, milagre divino do Corpo Místico da Divina Mãe. Esta inconsubstancial forma se expressa, não obstante, sobre o mundo, em mil expressões. Opera também em nós, como Corpo Místico da Divina Mãe. Mas, qual é o dom de reversibilidade na mudança? Há alguma diferença entre quando se estava no Seminário e agora estar com os meninos? Não há mudança. É a reversibilidade: luz e sombra, ao mesmo tempo, sem que a luz incida continuamente. A vida de Comunidade muda continuamente: hoje estou numa Casa e amanhã desapareci, estou noutra. Sem que ninguém o soubesse, hoje, na hora do silêncio, fiz minha mala e fui embora. Eu sempre permaneço onde estive, nunca vou embora dali. O mudar não é passar para outro lado, transladar-se, senão que estou no Corpo da Divina Mãe e não fiz mais que ampliar-me com Ela.
Estas mudanças contínuas são muito mais difíceis para a alma se adaptar, devido a que a alma esteja dentro de um método, de um ritmo determinado, devendo transformar-se sem que ninguém se dê conta. Essa é a assimilação da vida única do Corpo Místico da Divina Mãe, que se reflete continuamente.
Minha obra muda sempre. Hoje estou aqui e amanhã, com os Filhos que estão no mundo. Essa mudança não tem que ser feita como um esforço, tem que ser natural. Temos que dizer a nós mesmos: "Hoje és isto e amanhã serás a mestra que leciona. Tudo muda, tudo se transforma e não nos damos conta. Tu segues, és sempre a mesma." Isso é a reversibilidade, uma mudança de vida. Mudar através das atividades, sem que nosso interior sofra por isto, mudar sem dar-se conta de tudo isso.
...tocou a campainha. Isso também é reversibilidade.