ÍNDICE:

Ensinança 1: As Lendas das Ordens Esotéricas
Ensinança 2: A Sabedoria Árabe Esotérica e a Mulher Velada

Ensinança 3: O Antigo Egito
Ensinança 4: O Templo da Iniciação
Ensinança 5: Amon nas Escolas Helênicas
Ensinança 6: O Rei Artur, o Santo Graal,  a Távola Redonda e seus Cavalheiros
Ensinança 7: Antigos Cerimoniais Iniciáticos dos Cavalheiros
Ensinança 8: O Cavalheiro da Eternidade                
Ensinança 9: As Provas Iniciáticas
Ensinança 10: As Ordens Militares Cristãs

Ensinança 11: A Corte de Catarina de Médicis
Ensinança 12: Os Oráculos Astrológicos

Ensinança 13: A Magia Ciencista
Ensinança 14: O Martinismo
Ensinança 15: Saint Germain e os Rosacruzes
Ensinança 16: A Revolução Francesa e as Lojas Liberais

Ensinança 1: As Lendas das Ordens Esotéricas

Miguel, o Chefe da Hoste do Fogo, havia purificado entre trovões, relâmpagos e chamas, uma Montanha Sagrada. Por centúrias, brilhou nela um fogo vulcânico de terrível poder que, vomitando lava ardente e pedras calcinantes, formava um círculo impenetrável.
Se alguém pretendesse chegar ali, seria preciso que caminhasse até o Oriente por terrenos malsãos, pantanosos e inóspitos. Depois, encontraria uma terra verde e ondulante que descia suavemente até a margem de um lago de águas salgadas, imóveis e transparentes, dissimulando com sua mansidão, a fúria que desencadeava nos dias tormentosos.
Mais adiante, um imenso barranco, um precipício de fundo indeterminado, faria perder toda esperança de encontrar um caminho, uma senda, para alcançar o vulcão que ao longe se erigia, mostrando sua fronte soberba, sempre coroada de fogo e de brancas nuvens, que ocultavam sua base no profundo do abismo.
Passaram-se os séculos. Os dilúvios se precipitaram sobre a Terra. O planeta se agitou repetidas vezes com terríveis convulsões. E voltou a calma.
Um sudário de neve cobriu os pântanos. O lago salgado secou, tornando-se um deserto arenoso; o precipício se fez mais abrupto e pareceu morto para sempre o vulcão da Montanha Sagrada.
Onde estavam Miguel e suas Hostes resplandecentes? Onde, sua coroa, aquela de fogo, chama, resplendor e morte?
Ainda vivia a ígnea força nas entranhas da Montanha e, se bem não se vissem as chamas, podia-se sentir a vida, a fervente vida, borbulhar.
E um dia luminoso – maravilhoso dia! – no qual o arco íris sulcava os céus desde o levante até o poente, uma procissão de homens, vestidos de branco, pisou pela primeira vez aquelas paragens virgens, jamais pisadas pelo pé do homem.
Mas... eram homens? Anjos? Quem eram?
Os que encabeçavam a procissão, jovens imberbes, delgados, com olhos de sonho e de febre, caminhavam lentamente. A emoção juvenil reprimida, ainda não de todo dominada, fazia-se visível, apesar da lenta marcha, por rápidos movimentos da cabeça.
Seres mais maduros iam no meio da fila. Fortes, graves, belos, com os olhos entreabertos e as mãos brancas, como as mãos da morte.
Porém, os que fechavam a mística procissão, anciãos de barba branca, de cabelo de neve flutuando ao vento, não tinham de homens mais do que a aparência externa.
Quem poderia entender sua linguagem, aquele idioma cujas palavras foram pronunciadas ao pé da Montanha, quando já haviam formado um círculo de homens?
Os anciãos falavam o idioma dos deuses e somente seus discípulos podiam entendê-los. Indicavam-lhes uma senda na Montanha; ocos nas pedras, que seriam celas e moradias; pedras incrustadas no monte, para serem seu estabelecimento e praça: ninhos de águias; ninhos de santos.
Havia no clima aquela solenidade que sempre anuncia a vida ou a morte. Um daqueles seres tinha na mão um grande livro selado: era o Livro da Mãe Divina.
Ao anoitecer, entoaram um canto; as notas do hino místico se elevavam serenamente desde a terra ao céu, com o grito da Mãe, despertando do sono para enfrentar-se com a eternidade. Os anciãos flutuavam no ar e assim, subindo gradualmente, envoltos em nuvens e resplendores, perderam-se entre os véus da noite, aos olhos dos discípulos que escrutavam as sombras.
Aquele foi o Templo, o santuário e a escola. Perfuraram a Montanha como um enxame de abelhas, penetrando até o interior do monte. Construíram o Templo redondo sobre a boca ainda quente da cratera e escreveram o Nome e o Signo da Mãe sobre o pico mais alto desta Montanha.
Sobre as paredes dessas celas de rocha viva foram escritas as ensinanças esotéricas e a realização de cada um dos discípulos dos grandes Iniciados dos primeiros tempos.
E quando um discípulo se levantava no ar para ir em busca de seu Mestre, outro o substituía em sua cela do Templo da Montanha.
Quantos anos passaram? Quantos homens moraram nessa solidão? Quantas almas subiram até o cimo do monte e compreenderam o mistério dos Mantras?
Mas foi dada a voz: morreu Kaor! Não há mais fogo na Montanha. Amanhã cairá para sempre.
Para o Egito marcharam outra vez aqueles seres, em branca fila, em solene procissão.
Quem dominaria o mundo?
O estrondo da destruição e do movimento sísmico que submergia Kaor no abismo ou o Canto da Eternidade que modulavam aqueles seres, caminhando para frente, sem voltar-se, sempre para adiante, para o porvir, para os homens novos, para as novas coisas: para a realização?
O mar e o deserto são irmãos: ambos guardam as relíquias dos tempos passados e a história das civilizações perdidas. São como Deus que esconde sob seu manto as maravilhas de Sua Presença, em Sua passagem pelo mundo.
À margem do mar e à borda dos desertos vivem sempre raças estranhas de homens: algo selvagens, algo encerrados em si mesmos, desconfiados dos demais mortais. Verdadeiros custódios das rochas ou das dunas ondulantes.
Em uma parte do deserto que guarda uma parte da Atlântida perdida, no centro do Saara, vivia uma raça de homens completamente diferentes de todos os demais.
Antes, haviam sido adoradores das mesas de pedra, banhadas com leite e óleo; mais tarde, aderiram à seita do Profeta. Mas, sua verdadeira religião era outra: guardar uma mesa negra e quadrada, lembrança de uma antiquíssima Távola esotérica.
Estes eram os descendentes daqueles primitivos Mestres das Montanhas de Kaor.

 
Ensinança 2: A Sabedoria Árabe Esotérica e a Mulher Velada                  
     

Sabe-se que entre os orientais não somente se admitiam as mulheres na Ordem, senão que até podiam chegar a ocupar o cargo supremo. E foi uma mulher, aproximadamente há 500 anos, que dirigiu os destinos da Távola de Hoggard.
Era uma alta entidade que descia pela última vez ao mundo físico, com vestiduras humanas. Por isso, havia de ser como um símbolo, como uma recopilação da era mental que terminava, deixando passagem à era do sentimento cristão, que despontava.
Abbumi, a mulher que não tem corpo, pois seu corpo foi puro e perfeito, desde menina foi educada e preparada para exercer o sacerdócio da Sabedoria.
Os Cavalheiros, de camelos, de turbantes brancos e capas ondulantes ao vento, ensinaram-lhe os sete idiomas, os sete poderes e as sete formulas mágicas.
A que mais pode aspirar um ser vivente? Fortificar-se cada vez mais naquele místico castelo que é sua única morada, onde a sabedoria e o conhecimento são o pão e o amor, e nenhum alento humano empana aquelas sagradas muralhas.
A mãe de Abbumi morrera quando ela nascia. Seu pai a adorava e venerava, mas o amor entre eles não era mais que uma compreensão expressiva da mente.
O coração dela era frio e branco como o cimo do monte Meru. A morte, a dor, a miséria, o amor e os deleites humanos eram para Abbumi ilusórios escárnios dos véus da Mãe.
Estará ela incluída no número daquelas almas seletas que durante centúrias conquistaram, para a vida esotérica, o fruto da mais pura sabedoria?
Cavalgando pelo deserto avançam dois viajantes, perdidos na miragem das areias. A fome, o cansaço, o desespero, a debilidade e a loucura próxima, logo acabarão com eles.
Oschar, o compassivo, pede ajuda para eles, porém a Mãe do deserto responde: “Deixai que neles se cumpra a lei do deserto”.
Outra vez pede o compassivo: “Deixa-me Mãe, salvar essas vidas”.
Ela responde: “Salva suas carnes, se quiseres. E se puderes, salva suas almas”.
Pressurosamente, o árabe, com seus camelos, corre para salvar os perdidos e, com eles, volta ao Hoggard.
Por que a Mãe acede à súplica de seu discípulo e recebe, e visita os estrangeiros?
Um novo sentimento nasceu nela. Sua alma se fixou em outra alma que a olha implorante e dolorida. Sente piedade e, espantada, pergunta-se: “É este o amor humano?”
Onde está tua Sabedoria, ó Mãe?
De que te valem os segredos que conheces se não consegues dominar os sentimentos de piedade que despertaram em ti e cavalgam desenfreadamente sobre as nuvens da ilusão?
Abbumi conhecerá agora as dores dos homens, suas horas amargas e padecerá pensando como auxiliá-los.
 Hoggard está de luto e o Selo Sagrado, abandonado. Os sábios estão desolados porque a Mãe não acende diariamente sua lâmpada.
Que morra o culpado!
Inutilmente, Oschar procurará salvá-lo e avisar a Mãe. A alma vale mais do que o corpo e o estrangeiro deve morrer.
Esta morte, não obstante, não devolveu a Abbumi sua antiga Sabedoria, porque abriu em seu coração um novo sulco: o do sentimento.
Desde então, uma nova corrente foi engendrada: com a Sabedoria, o Amor.
Desde então, as Ordens Esotéricas se dividiram em duas grandes correntes de força: a do Saber, onde predomina o conceito politeísta de Deus e o culto às ciências; e a do Amor, onde predomina o conceito monoteísta de Deus, com o culto à salvação da humanidade.


Ensinança 3: O Antigo Egito


É necessário repetir uma vez mais a antiga e sempre atual pergunta: existe um Deus Criador ou não existe? Pela posse de idéias claras, próprias, deverá responder a consciência.
No final do século XIX, na ante-sala da câmara mortuária de um biólogo ilustre, haviam se reunido seus amigos, de diversas tendências, como é de imaginar, tratando-se de um homem de fama. Um católico, conversando com um cavalheiro ancião, expressou seu pesar pelo fato de que o moribundo não se reconciliara com Deus. “Crê o senhor, perguntou o cavalheiro, que esteja longe de Deus?” Disse o católico que sim, que era ateu, que havia orientado muitos no caminho da descrença. O cavalheiro insistiu: “Pode-se crer que tão grande ser, tão profundo conhecedor do homem e da natureza, possa estar afastado de Deus?”
Mas, existem ateus? Não se referindo a seres que o afirmam sem haverem refletido, talvez incapazes disso, mas referindo-se a seres em que a questão preocupa profundamente.
Dos que crêem em Deus, pode-se distinguir dois tipos.
Pertencem ao primeiro, os que crêem em um Deus Criador fora deles, diferente deles, que não podem alcançar, com o qual poderão unir-se.
Pertencem ao segundo tipo, os que crêem que o Eu forma parte da Unidade de Deus, e tende, por expansão, a confundir-se com Ele.
É necessário aqui resenhar a razão de ser das correntes monoteístas e politeístas.
Nada se explica afirmando que os primeiros crêem em um só Deus e os últimos, em vários deuses.
A Raça Ária, herdeira dos atlantes, ao desenvolver sua personalidade individual e racional, necessitou aferrar-se ao Eu; e a projeção do Eu dava como resultado o monoteísmo. Um homem perfeito necessitava um molde primordial perfeitíssimo: Deus.
O monoteísmo degenerou, desde então – segundo como o Eu se vincula ou se opõe ao mundo que o rodeia e às potências interiores desconhecidas de si mesmo – em um Deus pessoal. Mas a mente do homem ário, ao traçar uma ponte entre o instinto e a intuição com a potência da razão, podia construir uma infinidade de imagens semelhantes à sua, mais ou menos perfeita; podia criar representações mais ou menos exatas de seu molde divino, levando assim as almas ao politeísmo.
Passado o processo de densificação do ser, do  descenso do Eu, há uma tendência deste a unir-se com outros entes separados: tende à expansão; e isto dá como resultado o politeísmo. Individualiza aspectos do mundo externo do Eu aos quais este quer unir-se.
O fundamental, porém, sempre consiste em considerar que o Imanifestado se expressa pelo Manifestado e que o Manifestado serve de morada ao Imanifestado.
O homem ário, ao ir aperfeiçoando seu próprio Eu, aperfeiçoou sua crença monoteísta e, ao ir aperfeiçoando suas possibilidades de similitude, desenvolveu e aperfeiçoou sua crença politeísta.
O culto politeísta chegou a sua máxima expressão no Egito, antes do culto pessoal de Osíris. Os sacerdotes desenvolveram a mente para conhecer mais e mais; não concebiam o amor como os monoteístas, mas como algo mais elevado, divino. Muitos destes sacerdotes eram de sangue real e o Faraó sempre desposava uma mulher de seu sangue. Isto sucedeu durante milênios. Se não fizessem assim, acreditavam, perderiam o poder divino e real, como aconteceu com  efeito.
Simultaneamente com o politeísmo dos sacerdotes de Amon, no reinado dos nômades negros, tanto na Ásia como na África, predominava o culto monoteísta.
Nos Templos dos Sacerdotes de Amon como nos Templos dos Sacerdotes de Mitânia, de Kush, de Punt e outros, guardavam-se as ensinanças esotéricas de ambas correntes e praticavam estritamente seus ritos.
Mas estas duas forças tinham que travar luta para seu predomínio, e isto aconteceu nos tempos de Iknaton, primeiro personagem histórico da grande era do Egito, quando se encetou a guerra religiosa, chamada dos Dois Sóis.
Nos tempos da XVIII dinastia, apareceram no Egito os primeiros sintomas da crise religiosa que haveria de culminar com a luta dos Dois Sóis: Amon e Aton.
Tutmoses IV se casou com uma princesa asiática de Mitânia e, a esta influência asiática, há que atribuir a importância das seguintes trocas religiosas, já que seu neto, Amenofis IV, quando subiu ao trono, no ano 1375 a.C., começou a luta contra o Templo de Amon; e, como nem ele nem sua esposa Nefertiti, também de origem asiática, fizeram o juramento tradicional ao Deus Amon, foi mais tarde chamado o Faraó herege.
Tinha 12 anos ao subir ao trono e em seguida mostrou-se abertamente adito ao Deus Único que chamou com o nome de Sol Aton e depois tomou o nome de Iknaton (satisfeito está Aton).
A escola esotérica monoteísta ia ganhando terreno: o conceito do Deus Único – não veneravam imagens na religião de Aton, mas um disco solar que estende seus raios terminando em forma de mãos sustentando o Ank, signo da vida – e o conceito da fraternidade universal, animavam-nos. A escola de Amon com suas grandes hierarquias e seu culto de muitos deuses foi suprimida e perseguida, e suas imensas riquezas confiscadas. Seus sacerdotes se exilaram ou se ocultaram. Os sacerdotes – de cabeça raspada – da escola de Amon foram substituídos pelos de cabelos longos de Aton.
Nesse tempo, a arte teve uma grande evolução: as figuras simbólicas e hieráticas são suplantadas pelas figuras reais e vivas; porém, começa-se a representar o Faraó em tamanho maior em relação com outras figuras. Tii, a mãe de Iknaton, parecia simpatizar com as tendências do filho, mas não abertamente.
No 5° ano do reinado de Iknaton, nasce a primeira filha: Merit-Aton. Por essa época, subsistiam outros deuses, ao lado de Aton. Mas este estado de coisas não duraria, pois o Faraó entrou em conflito aberto com os sacerdotes de Amon-Ra. Isto se produziu pouco depois da morte de Tii, de onde se deduz que a ação desta última fosse moderadora.
Para melhor adorar seu deus, Iknaton resolveu abandonar Tebas e construir a Cidade do Horizonte de Aton (Luxor). Em Tebas, ao ficar relegada como cidade de província, debilitava-se o sacerdócio.
É então que o faraó muda seu nome de Amenofis – a paz de Amon – para Iknaton.
A nova cidade foi construída sobre uma ilha no Nilo, a uns 250 km ao sul do atual Cairo.
Pouco depois, nasceu Meket-Aton, protegida de Aton.
Durante o 8° ano, instalou-se na nova cidade. Nasce, então, An-Khes-en-pe-Aton – ela vive para Aton.
No 11° ano nasceu Nefer-neferu-Aton. Começa a se desenvolver a nova religião. Nessa época foi escrito o “Hino a Aton”.
Nota-se aí, a influência de Nefertiti.
Ai-Ra foi nomeado grande sacerdote de Aton.
Durante os anos 13° e 15° nasceram duas novas filhas.
A mãe de Iknaton, Tii, visitou o templo na Cidade do Horizonte de Aton. Morreu pouco depois. Foi enterrada em Tebas.
Com sua morte, desapareceu a moderação: o nome de Amon foi sistematicamente apagado, ainda dos menores objetos. De milhões de inscrições conhecidas, poucas se salvaram.
Até na tumba de Amenofis III, substituíram seu nome por: Nib-Maat-Ra.
Nota-se também um detalhe estranho: a sua quinta filha se chamou Nefer-neferu-Ra e a sexta, Setep-em-Ra; “Ra” em vez de “Aton”, conforme suas quatro primeiras filhas. Desejava um filho varão. Porém, depois das seis “desilusões”, teve ainda uma sétima. Não teve outra descendência que haja sobrevivido à primeira infância. A primeira filha se casou com Smenk-ha-Ra, um nobre egípcio.
O rei da Babilônia pediu uma delas para um de seus filhos: concedeu a quarta. A terceira se casou com Tut-ank-Aton, que seria o Faraó Tutankhamon.
A segunda era delicada de saúde e morreu jovem, assim como a irmã de Iknaton, Beket-Aton.
Como era delicado de saúde, logo construiu sua tumba.
Ao não ter sucessor, as perspectivas de sua religião eram sombrias.
Assuntos exteriores agravaram sua situação, tais como a querela com Babilônia e com os hititas, as aventuras de Aziru, etc. Iknaton desenvolveu uma estranha passividade; deixou sem ajuda o rei de Biblos, Ribaddi, que lhe era fiel.
Aos 30 anos de seu reinado, os faraós celebravam o jubileu. Iknaton o fez aos 30 anos de idade, como se quisesse retroceder seu reinado à data de seu nascimento.
Nessa idade, era débil e descarnado. Decide que todos os deuses, não somente Amon, tenham seus nomes apagados de qualquer inscrição. Somente ficava Aton. Esta medida não foi aplicada muito estritamente. Apagavam-se os nomes de Hathor, Ftha, etc. e até o plural “deuses”.
Enquanto se limitou a apagar Amon, teve somente um clero contra ele; depois, teve todos.
Pareceria que o chefe do exército, Horenheb, em desacordo com a política pacifista de Iknaton, planejou em segredo as campanhas que mais tarde realizaria. Talvez em conivência também com o Grande Sacerdote de Aton, Meri-Ra.
Sem descendência, com grande oposição, até entre seus funcionários, outorgou sua confiança a Smenkara, casado com grande pompa com sua filha mais velha, quando esta tinha 12 anos.
Associou seu genro à regência, e quando eventualmente o sucedeu, adotou o epíteto de “Bem-amado de Iknaton”.
Ter um associado no trono foi uma medida insuficiente. A Síria estava quase perdida, e os grandes gastos para a construção do Horizonte de Aton esgotaram o imenso tesouro egípcio.
Sem dúvida, compreendeu que a religião de Aton não sobreviveria a ele, como realmente aconteceu.
O único que se sabe é que morreu quando tombava seu império. O exame de sua múmia sugere um ataque. Acredita-se que fosse epilético. Teria então uns trinta anos; acredita que fosse o 18° ano de seu reinado, mas encontrou-se uma inscrição que faz menção do19°.
De Nefertiti, nada mais se sabe. Acredita-se que sobreviveu somente um ano ao seu marido. Seu genro e sucessor, Tutankhaton, foi persuadido a voltar a Tebas e sendo abandonada, definitivamente, a Cidade do Horizonte. Há uma época contemporização entre os cultos de Aton e de Amon, porém por influência de Horenheb, chefe do exército, primou Amon.
Aos 40 anos da morte de Iknaton, o clero de Amon recobrou integralmente sua influência. O nome de Iknaton foi apagado; referia-se a ele como “esse criminoso”. As inscrições “Amenofis IV”, não foram tocadas.
O templo de Aton, em Karnac, foi demolido. Iknaton foi sepultado na tumba de Tii. Esta foi aberta e retiraram o corpo de Iknaton. Seu nome foi retirado de todas as faixas, as quais foram recortadas. Apagaram-se as inscrições, depois foi recolocado no caixão.
Esta luta entre Amon e Aton foi chamada, a Luta dos Dois Sóis.
A semente deixada pelos partidários de Aton, de forma curiosa, cristalizou em Osíris, encarnado e morto entre os homens pela salvação do mundo.    

 
Ensinança 4: O Templo da Iniciação

Neste Templo, estudavam-se os livros da Mãe Eterna e foi nele onde, com as Escolas Esotéricas de Amon, chegou ao máximo esplendor, o poder e a sabedoria dos Sacerdotes do deus, com os quais o politeísmo alcançou seu maior fulgor.
O Templo de Amon que se rememorará – cuja influência dos sacerdotes era sentida em todo mundo, apesar de, fisicamente, não o abandonarem jamais – poderia ser localizado a, mais ou menos, cem quilômetros de Tebas, próximo ao Nilo. Era de grande extensão, quadrado, de mármore branco.
Seus moradores, homens e mulheres, viviam em recintos completamente separados por muros altos e largos. E, tanto homens como mulheres, estavam completamente separados do mundo. Realmente mortos para o mundo exterior. Durante muitos anos, viviam em recintos, os quais não tinham janelas que dessem para o exterior.
Para ingressar no Templo, era mister, mais do que a vocação do candidato, ser escolhido. Alguns eram atraídos inclusive psiquicamente. Ingressava-se aos 12 anos.
Tão solene era o passo (pois verdadeiramente morria-se para a vida comum), que os parentes do candidato o acompanhavam como em procissão fúnebre e levavam-no a um recinto externo do Templo, no qual só havia um ataúde vazio, onde era depositado.
Amiúde estes candidatos eram de sangue real. Isto era importante, já que os faraós, na época de esplendor, eram iniciados pelos sacerdotes e estes eram também “reais”, por seu saber, seu poder e seu sangue.
Havia sete recintos.
O ataúde, com o candidato depositado nele, era transportado ao primeiro.
O postulando, para coroar sua carreira, devia passar por sete graus, variando a duração de cada um, e somente a minoria chegava ao cume.
As ensinanças versavam tanto sobre o aspecto físico como o intelectual; nunca somente sobre um deles.
Cumpria-se, sucessivamente, cada grau, em um dos amuralhados recintos já citados.
O primeiro grau, que poderia ser chamado de “renovação física e esquecimento”, estava a cargo de sacerdotes muito experimentados.
Nele, despojava-se o neófito de tudo o que trazia do mundo. Obviamente, de suas roupas e de todo objeto pessoal. Era submetido a provas da vista e da escrita. Eram-lhe arrancadas as unhas para liberá-lo de instintos animais.
Como no caso dos noviços das ordens cristãs, não estudavam. Pelo contrário: procurava-se que esquecessem tudo o que sabiam, o que se conseguia mediante beberagens especiais que provocavam, não somente a eliminação das impurezas do corpo, mas também faziam esquecer todo o aprendido.
Estas beberagens provocavam febres altas e o peso descia muito. Dependia, pois, da constituição de cada um a duração deste grau, que variava entre uma semana ou vários anos.
Quando o candidato estava purificado e havia esquecido tudo o que sabia – ler, escrever, etc., e até de seu nome, de sua família, e de todos os fatos acontecidos em sua vida até esse momento – fazia-se com que adormecesse mais uma vez e era transladado ao segundo recinto.
O segundo grau poderia ser descrito como “desenvolvimento da inteligência”.
Tenha-se presente que aqui entrava o adolescente eleito, purificado e sem noção alguma de sua vida anterior.
Tratava-se de um lugar tão lindo como se possa imaginar. Tudo o que podia dar a ciência e o poderio de um rico império se reunia ali: palácios construídos com os incomparáveis mármores brancos, azuis e verdes do antigo Egito; tão maravilhosos eram que serviam para os sacerdotes estudarem os reflexos da luz solar. Nestes palácios estavam resumidas as mais belas pinturas, esculturas e obras de arte. Os jardins eram indescritíveis e suas plantas eram tão cuidadas, que havia casos em que cada uma delas contava com seu cuidador exclusivo. Aproveitavam-se, para os cultivos, as enchentes de primavera do Nilo. Neste grau, estudavam-se ciência e artes. Religião, não. Desenvolvia-se a inteligência, a flexibilidade mental.
Previne-se contra a possível confusão entre inteligência e espiritualidade: um ser espiritual bem pode carecer de flexibilidade mental e, inversamente, um intelectual carecer de espiritualidade.
Neste grau, ensinava-se a discernir. Depois de um tempo, naturalmente variável, os estudantes possuíam discernimento muito seguro, tanto na ordem científica quanto na estética.
Quando chegava o momento de passar ao terceiro grau, que poderia ser qualificado de “recordação e escolha”, hipnotizava-se o estudante e este passava ao recinto seguinte.
Logicamente, nem todos conseguiam dar este passo, pois para muitos era excessivamente difícil.
Visto que o neófito, tendo entrado no Templo, não saia jamais, estes seres ficavam como o que poderia ser designado “sacerdotes serviçais”, entre os quais se achavam os embalsamadores. Os que não transcendiam o primeiro grau se ocupavam da provedoria e demais aspectos da administração material do Templo.
No terceiro grau, já lêem os Livros da Mãe Divina. Estudam o que poderia ser denominado “psicologia”. Voltam a recordar sua vida anterior.
Mas, neste recinto, setenta por cento fracassava.
O estudo das Ensinanças levava muitos ao conhecimento de que, se o único real era o Uno, de nada servia o “demais”; para que comer ou dormir ou qualquer coisa que não fosse Aquilo?
A maioria se deixava morrer.
A partir do quarto grau eram muito poucos os que fracassavam. Dedicavam-se ao estudo da magia. Para que pudessem oferecer a outros a oportunidade de avançar, adquiriam poderes psíquicos: clarividência, viagens astrais, etc.
Só então, no quinto grau, dedicavam-se à Contemplação.
No sexto grau, estudava-se a Teologia. Reconheciam que qualquer união conseguida é momentânea, tão ligada está à personalidade àquilo que a rodeia.
Quando os sacerdotes impunham um castigo, por severo que fosse, procediam sem temor algum, pois sustentavam que, se o castigado era culpado, necessariamente expiaria por carma sua culpa, de tal modo que o castigo não fazia nada mais que antecipá-lo.
O Templo agora se encontra escondido, sepultado sob as areias. Os islâmicos se encarregaram de fazê-lo inacessível.
Um dos poderes que possuíam os sacerdotes de Amon era o de morrer por êxtase.
Haviam adquirido tal conhecimentos do além, que nada temiam; isto suscitou abusos, sendo necessária uma severa regulamentação.
Para isso, exigia-se que se juramentassem sete sacerdotes, acordando entre si que todos provocariam sua morte, chegado determinado extremo; se somente um se decidisse, os seis restantes também deviam morrer. Este pacto podia manter-se por toda vida ou por um tempo determinado.
Chegado o extremo, os sete juramentados se retiravam para um lugar afastado. Jejuavam, em geral por 40 dias, havendo casos em que o faziam por 27 ou 18 dias. O objetivo de tal prática era debilitar o corpo físico para dispor dele com maior facilidade. Enquanto isso, viviam concentrados sobre a Entidade mais alta concebível.
Passado este jejum, concentravam-se sobre seus centros, começando pelos inferiores.
Faziam-no sobre cada parte de um centro, considerando sua inutilidade. Estes, esvaziados de sua razão de ser, cessavam de atuar.
Procediam assim, sucessivamente, com todos os centros. Quando chegavam ao superior comprovavam que, apesar de tudo, estavam fortemente atados à vida. Faziam então o exame retrospectivo, depois do qual, podiam, já, dar o grande passo.


Ensinança 5: Amon nas Escolas Helênicas

A escola esotérica que, para dar-lhe um nome, poderia ser chamada de politeísta, teve sua máxima expressão no Egito. Eventualmente decaiu, e seus templos foram completamente sepultados sob as areias.
 Os maometanos se encarregaram de impedir que fossem procurados e só recentemente, não faz um século e meio ainda, começou-se a escavação de templos e sepulcros, e a decifrar inscrições, as quais são todas exotéricas. As esotéricas foram destruídas, principalmente após a desaparição da Biblioteca de Alexandria.
No entanto, seu imenso conhecimento não desapareceu completamente da face da Terra, mas, sob diversas formas, em diferentes lugares – quase sempre em contraposição com outra forma de monoteísmo – floresceu até o dia de hoje.
De tudo isso, o que se conservou foi legado à humanidade, em primeiro termo, através das Escolas Helênicas.
Quando a forçada expatriação dos sacerdotes de Amon fez com que estes se refugiassem na Grécia, habitavam este país seres muito primitivos, dedicados, sobretudo, a suprir suas necessidades primordiais.
Pouco tempo estiveram ali os sacerdotes de Amon, mas foi o suficiente para deixar uma semente.
Quando os sacerdotes de Amon regressaram ao Egito, foram por sua vez expulsos os de Aton (monoteístas) e estes também se refugiaram na Grécia.
Dessa forma, pode-se estudar na Grécia, e através de séculos, a influência de ambos.
As duas grandiosas concepções tiveram derivações filosóficas muito importantes: da politeísta derivaria a doutrina da graça. Da de Aton, a do livre arbítrio.
Se supusermos que tudo é ilusão, que tudo não é outra coisa que reflexo, emanação da Divindade Imanifestada, claro está que qualquer coisa – um homem, sua mente, sua alma – não é mais que um reflexo, absolutamente dependente do que não se manifesta. Nada se fará por uma alma, para trocar seu destino, seja santo ou delinquente, sábio ou néscio. Esta concepção, levada ao extremo, conduz ao fatalismo: o ser não é livre, a nao ser como Deus, em sua totalidade.
No entanto, os que crêem no livre arbítrio poderão sustentar: se o homem é divino, se tem alguma partícula de divindade, forçosamente poderá, até certo ponto, determinar-se.
As características das Escolas Iniciáticas gregas foram muito diferentes das egípcias. Tratar-se-á, a seguir, das que seguiram a corrente de Amon, com exclusão da tendência monoteísta.
Com relação às egípcias, nota-se, em primeiro lugar, uma dispersão, tanto nos fins como nas formas.
O sacerdote egípcio estudava toda ciência, todos os aspectos da sabedoria. Os gregos, em troca, estimavam que toda a vida não é suficiente para abarcá-las integralmente.
O Templo egípcio era uno, imenso; o grego, em troca, se bem que fosse completo como centro de cultura religiosa, filosófica e pedagógica, dedicava-se somente a um ramo.
Isto se devia, em primeiro lugar, à constituição física dos indivíduos: os egípcios eram surpreendentemente robustos, resistentes e flexíveis, condições acrescentadas notavelmente pelas drogas e pela cirurgia. Eram também moderados no apetite sexual, sobretudo entre os sacerdotes. Os gregos, em troca, se bem fossem belos, eram pouco resistentes; poucos deles haveriam podido suportar o plano egípcio.
O Egito era um reino muito unido sob seu faraó; a Grécia estava composta de uma infinidade de pequenos reinos e cidades. Tudo nela se dividia.
O primeiro problema que se apresentou aos gregos foi o do sexo. Conseqüentemente, estudou-se em muitos templos, de maneira primordial, a transmutação no que se refere aos celibatários. Estas ensinanças fracassaram porque o grego, luxurioso, refletiu assim: “Se elevarmos os atos materiais naturais, oferecendo-os a Divindade, nós os faremos divinos também”.
Isto estava bem, até certo ponto. Mas não tardou em que fossem cometidos abusos e nada menos que com o pretexto de divinizar atos antinaturais.
Muitos destes seres desenvolveram sua inteligência de forma notável e voltaram repetidas vezes ao mundo físico. Porém, homens inteligentes e capazes fracassaram por atar-se a algum vício (jogo, bebidas, mulheres), e não conseguiram elevar-se, enquanto não puderam vencer estas facetas.
Em segundo termo, estudavam-se a magia e os poderes psíquicos.
Convém assinalar que o grego, no que se refere ao amor à forma, tinha necessidades muito diferentes às dos egípcios. Para ele o ato sexual tinha um duplo significado; muito poucos passavam do primeiro grau.
Quanto ao segundo grau, não existem maiores notícias.
Os que chegaram ao terceiro grau, filosófico, calaram.
Muitas obras dos filósofos gregos chegaram, no entanto, até a atualidade. As de Platão e de seus continuadores refletem a tendência de Amon e da graça; as de Aristóteles e dos seus, as de Aton e do livre arbítrio.
A influência de Platão decaiu durante vários séculos, mas reviveu com Jâmblico e Plotino. Esta doutrina, da graça, muito influenciou a Igreja Cristã, especialmente através de Santo Agostinho. Esta igreja haveria de ser, naturalmente, monoteísta. Contudo, no século XIII, com São Tomás de Aquino, afirmou-se notavelmente nela a doutrina aristotélica.
Após a morte de Cleópatra ficaram, não obstante, alguns tesouros religiosos da glória do Templo de Amon. Mas não caíram em mãos dos conquistadores romanos, senão que foram levados, com o maior sigilo, a um lugar quase inacessível no meio do deserto africano, rodeado de altas montanhas. Foram conduzidos por discípulos fiéis, cujos descendentes os guardaram até hoje. Estes sempre defenderam com êxito seu tesouro; nem sequer os maometanos puderam descobri-lo.
No Oriente não se apagou a recordação de Amon. Julia Domna, filha de um sacerdote do fogo de Emesa, Síria, casou-se com o imperador romano Septimio Severo e, em sua corte, cercou-se de um grupo seleto de seres, cujas obras ainda hoje são recordadas.
Só na Renascença voltou-se a estudar Platão, destacando-se nisso os sábios florentinos do século XV.
As Escolas Esotéricas do Conhecimento e do Amor, continuamente lutam entre si e continuamente fundem-se uma com a outra, buscam-se, porque, através das lutas, estas duas forças terão que se reunir, terminado o tempo de piscis, para formar uma única expressão da Divindade.


Ensinança 6: O Rei Artur, o Santo Graal,  a Távola Redonda e seus Cavalheiros         
             

Em pleno desenvolvimento cristão, as Escolas Esotéricas foram patrimônio, primeiro, dos Cavalheiros Iniciados e, depois, das Ordens Militares.
O esoterismo helênico e romano, que através do neoplatonismo havia regado fecundamente os princípios do cristianismo, foi completamente perdido.
Com o veto de Justiniano às escolas filosóficas no ano 500, os mestres esotéricos se transladaram à Pérsia para preparar ali a semente que havia de transformar-se, na religião islâmica, em exuberantes escolas esotéricas.
Mas nos tempos das primeiras cruzadas, os cavalheiros cristãos voltaram a contatar-se com as Escolas Esotéricas Muçulmanas.
Sobretudo os Cavalheiros Normandos, homens de grande fervor religioso (uniam a um fervente cristianismo, as ensinanças de seus antepassados druidas, gauleses e celtas ibéricos), assimilaram estes ensinanças. Já no ano 800, eles fizeram florescer uma cavalaria cristã esotérica.
As lendas do Cavalheiro andante, do Santo Graal, dos Cavalheiros da Távola Redonda do Rei Artur, datam daqueles tempos.
Estas agrupações esotéricas não eram totalmente judaico-cristãs, mas sim essencialmente cristãs, vivendo sua própria vida; depois, formaram-se Ordens Militares e Escolas Esotéricas.
Os Cavalheiros Iniciados, ao ingressarem na fraternidade, faziam um solene juramento de serem fiéis à mesma até a morte, de ir contra todas as injustiças e de defender sempre o pobre, o desvalido e o desamparado.
A primeira cerimônia que se desenvolvia ante os olhos do neófito era a do juramento.
A promessa é um dom divino e unicamente os deuses podem prometer aos homens; mas é difícil ao ser humano prometer, já que sua natureza alquebra a cada instante as vontades mais fortes; por isto foi dito: “Não jurarás”. Mas quando o homem se avia a um juramento, como o juramento é divino, implicitamente adquire a obrigação de transformar sua natureza humana em divina.
Como a Sabedoria Divina não pode ser manjar de homens vulgares, era indispensável o segredo para que o Véu Divino não fosse levantado por mãos inexperientes.
Diz a Bíblia: “Se vires o rosto de Deus, morrerás”, porque o estudo da Sabedoria Eterna implica possuir um desenvolvimento espiritual adequado, que o ser tem de adquirir, pouco a pouco, com os Iniciados o levando-o pela mão. Além disso, na cerimônia do juramento, o neófito via o rosto de seus companheiros pela primeira vez, e a visão do rosto é símbolo dessa sabedoria oculta, revelada somente a poucos.
Ao jurar, o novo adepto entrava na grande corrente espiritual, mental e psíquica que a Ordem Esotérica havia gerado e seria prejudicial se ele, violentamente, fosse expulso dessa grande corrente na qual, voluntariamente, havia-se colocado.
O ser, para chegar a esse primeiro degrau do Cerimonial, havia forçado a porta do Santuário, pois sem esforço nada se pode conseguir.
O assistente trazia uma hasta de vinho; a hasta deveria ser de corno de cervo e era símbolo da natureza inferior, enquanto que o vinho o era, da força criadora em seu aspecto inferior.
Noé, depois de haver provado o sumo da uva, entra num sono profundo e dele se burlam seus filhos. O homem tem que penetrar nas profundidades da natureza inferior e do subconsciente para conhecer as forças que movem e dirigem todas as coisas.
O Iniciado fazia estender o braço do neófito sobre a taça, estendendo, por sua vez, o seu; as duas direitas se reuniam, enquanto com a espada se fazia uma incisão nos dois braços deixando gotejar os sangues, para mesclá-los com o vinho.
O valor do sangue é inestimável. Todas as substâncias físicas se derramam nele e nele está toda a força e todo tóxico da vida; é a única substância que tem contato direto com o éter astral; tanto é que, em seguida que a força vital não o anima, coagula-se e, por assim dizer, materializa-se. É símbolo, pois, da natureza superior que, sacrificando-se, mescla-se com a natureza inferior, para redimi-la e levantá-la até sua liberação. Outra coisa não simboliza a redenção efetuada por Cristo que verte seu sangue sobre a cruz, o que é repetido todos os dias no cálice da missa.
Mas, a vontade é a que pode efetuar esta redenção, impulsionada pelo amor. A forte vontade do frio aço da espada que fez a incisão.
Depois, iam bebendo, o Iniciado e o neófito, alternadamente, sorvos do precioso licor. Para que a humanidade volte à sua prístina glória espiritual é indispensável esta fusão das partes superiores com as inferiores. Assim está explicado, mais uma vez, o mistério da sagrada eucaristia; da estreita união e inseparabilidade do Espírito com a matéria.
O neófito, ao ligar-se por seu juramento à Ordem, ligava simultaneamente a Ordem a ele. O amor e a união equiparavam os valores e os pares de opostos, e o esforço de um seria recompensado pela dádiva do outro.
Terminado o juramento, o chaveiro se adiantava e quebrava a taça.
Quando o Cavalheiro Iniciado impunha a túnica aos membros da Ordem, tocava com a espada, o ombro direito dos homens, e o esquerdo das mulheres, símbolo da transmutação pela purificação, e entregava-lhes uma rosa. A flor aberta representa os vórtices das forças astrais em estado ativo e desenvolvido.
As túnicas dos membros eram brancas, alaranjadas ou pretas. O branco pertencia aos Pajens e às Donzelas, já que deviam manter mais acentuada a pureza e a inocência da alma, por ter que pisar o lodo do mundo. Os Escudeiros e as Daminhas tinham a túnica alaranjada, simbolizando o orgulho e a glória da Ordem. Os Cavalheiros e as Damas levavam túnicas pretas, significando que haviam morrido para o mundo e viviam unicamente no Eterno.
As túnicas masculinas chegavam até os joelhos e iam postas sobre as armaduras, pois o espiritual não deve interromper a ação. As túnicas das mulheres chegavam até a ponta dos pés, para indicar o pudor e a discrição.
O manto de todos era branco e, aberto, era completamente circular, já que o círculo assinalava Deus manifesto.
A cogula era também circular e indicava o poder espiritual. Os papas, nos primeiros tempos da Igreja Cristã, quando esta era puramente espiritual, usavam cogula branca; porém, quando adquiriram poder material, trocaram-na por uma coroa de ouro. Na antiguidade a coroa pertencia aos reis como poder visível e material, e a cogula aos sumos sacerdotes, como poder invisível e espiritual. Do lado esquerdo do manto, à altura do coração, havia uma cruz vermelha, ficando assim entendido que o adepto dominava os elementos inferiores.
Durante a cerimônia, após o neófito haver pronunciado o juramento, os assistentes levantavam a cogula que lhes cobria a face, para se manifestarem ao novo componente.
Os Pajens e as Donzelas levavam, além da cogula, um pequeno gorro circular da cor de sua túnica, que indicava submissão.
Os Escudeiros e Daminhas portavam um elmo e no centro deste uma borboleta de ouro, libertando-se do casulo de lagarta, significando a aspiração da alma ao conhecimento de todas as coisas.
Os Cavalheiros e as Damas também levavam um elmo e, no centro do mesmo, a cabeça de ouro de uma serpente com a língua bífida para fora – pois a serpente erguida é símbolo da Suprema Sabedoria –  sobreposta por uma cruz.
As vestes indicavam os poderes intrínsecos e pessoais do adepto, enquanto que os atributos manifestavam os poderes ativos do mesmo. Tinham quatro atributos fundamentais: anel, espada, colar e selo, correspondendo aos quatro poderes básicos do ser humano, depositados no corpo físico: no plexo solar, no esplênico, no laríngeo e na glândula pineal, respectivamente.
Tinham, além disso, cavalos marrons e brancos que serviam de veículos. O cavalo é o animal que, na evolução dos seres inferiores, chegou ao mais alto grau de desenvolvimento, e é o laço de união entre o reino animal e hominal. Representava a natureza instintiva, dominada e subjugada pela vontade do homem. A natureza inferior não será destruída, mas dirigida e orientada.
Na Ordem, o cavalo marrom significava o instinto dominado, porém sensível às atrações inferiores que o arrastam continuamente para o mundo. O Escudeiro havia dominado suas paixões, mas voltava continuamente entre os homens para auxiliá-los. O cavalo branco era o instinto dominado por completo. O Cavalheiro o empregava unicamente para seu uso pessoal ou para obras que pareciam, aos olhos da humanidade, semidivinas.
Vem ao caso citar a aparição de Santiago Apóstolo no campo de batalha para defender e levar à vitória as hostes de Ramito, contra os mouros. O guerreiro aparecido no combate usava todos os atributos dos Cavalheiros das Ordens Secretas e Iniciáticas da época: montava cavalo branco, usava armadura resplandecente, flamígera espada, manto branco e um estandarte no qual estava desenhada uma cruz vermelha.
O grande Ser que os espanhóis tomaram por um santo, não era senão um Cavalheiro Iniciado que lhes apareceu, montando seu cavalo e bem apetrechado para conduzi-los, como se fosse um semideus, à vitória.
O anel, a espada, o colar e o selo correspondiam às quatro figuras principais do Tarô.  O selo corresponde ao ás de paus; o colar, a copas; a espada, a espadas; e o anel, a ouros.
O anel correspondia ao plexo solar e indicava o poder de dominar; o domínio (sobre si mesmo, sobre os elementos, sobre as forças naturais, sobre os demais homens que não haviam chegado ao mesmo nível de adiantamento espiritual) está indicado pelo brilhante e o ouro, imagens da força solar e de seus raios dominantes sobre todo o planeta.
A espada correspondia ao plexo esplênico e indicava o poder da força e o vencimento do temor; o corte definitivo que liberta o ser era o conhecimento da própria força que atua como frio e cortante aço, sobre tudo que o rodeia.
No salmo 44, o salmista, ao cantar as belezas do Rei, não se esquece de aconselhá-lo a atar sua espada à coxa esquerda, como se lhe explicasse que o poder da força reside no plexo esplênico.
O colar redondo, que levava estampado o nome de cada membro da Ordem, expressava o poder da vibração, da palavra, do ritmo; corresponde ao plexo laríngeo, o qual, bem desenvolvido, permitia ao estudante perceber as vozes e os sons astrais.
O selo, todo de ouro, com o signo de Ank impresso nele, era imagem do poder criador, similar ao fogo, ponto raiz da mente, fronteira do Espírito com a substância manifesta.
Estes atributos não eram peculiares a todos os membros da Ordem: o selo pertencia somente ao Grande Mestre; o poder criador, o poder da transmutação unicamente era possuído pelo Iniciado. O ser chegava sozinho à Iniciação, sem auxílio exterior, sem acompanhante algum, como imagem de Deus, refletindo-se em Si mesmo.
O anel era próprio de Cavalheiros e Damas; o forte magnetismo do qual estava carregado indicava que estes homens e estas mulheres haviam solucionado o problema interno da diversidade. Eles sabiam que uma única força regia os destinos humanos e universais e dirigiam voluntariamente essa força para o alcance de sua aspiração.
A espada era também levada pelos Escudeiros e Daminhas; do mundo psíquico ao mundo anímico somente se passava pela força. Somente o valente podia cruzar o círculo do temor e apoderar-se da força que dorme latente no plexo sacro de cada indivíduo.
O colar era usado por todos os membros da Ordem; simbolizava os poderes psíquicos que estavam ao alcance de todos os que se encontravam bem adestrados e exercitados.
O colar se relacionava com copas, imagem da matriz feminina e do aspecto material das coisas. O selo, com o ás de paus, imagem do linga masculino e do aspecto criador e espiritual das coisas. Espadas, imagem da união entre o Espírito e a matéria, do resultado de paus e de copas. O anel, ouros, simbolizava o domínio sobre a mente e sobre as coisas manifestas.


Ensinança 7: Antigos Cerimoniais Iniciáticos dos Cavalheiros       
             

Os antigos Iniciados viam no ano, além do movimento do sol através das doze casas zodiacais, o caminho da alma, desde o nascimento até a morte, em busca da perfeição. Por isso, davam tanta importância às festividades anuais, as quais simbolizavam os diferentes passos e aspectos da vida material e espiritual.
Julio César, arbitrariamente, retirou do ano algumas de suas horas, resumindo-as, todas, em um dia a cada quatro anos, no ano bissexto. Mas os estudantes esotéricos sempre protestaram por esta medida que tira valor do ano verdadeiro, o Ano Místico.
Um ano verdadeiro equivale a um ano daiva dos hindus: 365 dias, 5 horas, 30 minutos, 31 segundos; e Dom Alfonso, o Sábio, rei de Castela, atribuiu ao ano 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 16 segundos.
Tampouco o princípio que é atribuído ao ano atual é o que assinalavam os antigos: o ano verdadeiro começa no equinócio da primavera.
O Ano Místico se divide em quatro partes, tal como se divide em quatro etapas a vida espiritual dos Cavalheiros Iniciados.
A primeira, que começa no equinócio da primavera, é inaugurada pela festividade da reabertura do Livro da Mãe. Retorno às coisas que foram deixadas, para sublimá-las.
A natureza abre o livro de sua manifestação e mostra assim sua sabedoria; faz brotar do seio da terra todas as suas flores, precursoras do fruto.
No ritual místico, é a imagem da troca contínua de todas as coisas, da descida do Espírito à matéria, do sacrifício daquele que tem mais por aquele que tem menos, repartindo seus bens.
A simbologia diz que o discípulo voltará a matar sua inimiga quando seja forte, algum dia. Por isso, esta primeira parte do Ano Místico é símbolo também da reencarnação e da lei de conseqüências que faz, por efeitos, voltar à raiz da causa.
Os seres que chegaram a um altíssimo grau de evolução espiritual se sentem impulsionados a voltar periodicamente entre os homens para equiparar com eles seus valores, dando-lhes amor; fazem-se menores, para fazê-los maiores.
Os Cavalheiros, todos reunidos, recebiam a mensagem que os Mestres haviam transmitido ao Grande Mestre.
Muito será pedido àquele a quem muito foi dado.
De pé, com suas espadas desembainhadas, envoltos em seus brancos mantos, recebiam a ordem. Aquele que havia sido designado para cumprir alguma Grande Obra no mundo, abraçava seus camaradas, dando-lhes o ósculo de paz; recebia a bênção do Grande Mestre e se afastava sobre seu cavalo branco para cumprir, sigilosamente, sua missão, enquanto os demais acendiam uma grande fogueira sobre o monte, para que o fogo guiasse o Cavalheiro redentor durante sua caminhada pelas trevas do mundo; os demais Cavalheiros voltavam a seus estudos, seus exercícios, suas concentrações, esperando sua hora.
A espada envolta no manto representa a Mãe Divina, Suprema Vontade, envolta no Véu de Ahehia, a sabedoria manifesta que o Cavalheiro tem de se esforçar para descobrir. Para conseguir a suprema realização é indispensável o sacrifício, a descida aos mundos inferiores e passar por eles sem manchar-se.
A marcha representa a roda das vidas e das mortes; a fogueira sobre o monte, a parte superior do homem, o alto ideal, a vocação espiritual, que sempre o acompanha.
Os cristãos imitaram esta bela Cerimônia Iniciática com as fogueiras de São João, com a festa da Anunciação do Arcanjo Gabriel a Maria.
Os antigos Cavalheiros medievais, depois de sua investidura cavalheiresca, também iam errantes pelo mundo em busca de aventuras, sempre desejosos de encontrar a mulher de seus sonhos ou a taça do Santo Graal.
Wagner oferece imagens maravilhosas: Lohengrin é o Cavalheiro Iniciado que abandona o castelo dos Cavalheiros de Montsalvat para ir defender a donzela, falsamente acusada.
Ainda hoje as Távolas abrem seus cursos para esta data; o tempo da festividade, da alegria, passou; e voltou o tempo da disciplina, do trabalho e do sacrifício. O livro das ensinanças, que estava fechado, abre-se de novo; cada um sacrifica a parte melhor de sua essência interna em beneficio dos outros. Também para esta data, costuma-se iniciar as novas Távolas, sempre com o sacrifício da Távola patrocinadora.
A segunda parte do ano começa com o solstício estival de verão. Os frutos estão maduros e o trigo pode ser convertido em pão. Os Cavalheiros podem preparar seu banquete para consumar as Místicas Bodas de União entre a matéria e o Espírito. Esta cerimônia é imagem da aliança do Espírito com a alma, de dois princípios concordantes que afinal conseguem se encontrar e unificar-se.
Nesta parte do hemisfério, efetua-se a cerimônia, solenemente, no plenilúnio de maio. Repete-se, com mais simplicidade, durante o ano.
Na noite de plenilúnio, todos os membros da Távola se reúnem como se fossem um só. À noite, efetua-se o banquete porque a noite é a mãe dos mistérios, das intimidades e das bodas. Realiza-se no plenilúnio, pois o plenilúnio indica que, mesmo morto, o passado toca o presente para perpetuar-se no porvir. As almas que uma vez se uniram em um mesmo ideal, mesmo mortas, voltarão a encontrar-se e a ser reunidas.
O banquete se efetua em um aposento quadrado onde a mesa posta tem a forma de ferradura. No centro, senta-se o Grande Mestre e à sua direita os demais Cavalheiros, por ordem.
A mesa deve estar posta com as seguintes disposições: traça-se sobre ela, com um cordão branco, uma linha reta sobre a qual estarão colocados os pratos. Outra linha, com um cordão alaranjado, sobre a qual serão colocados os copos; outra, com um cordão preto, paralela, sobre a qual serão colocadas as garrafas; e outra, também paralela, com outro cordão branco, sobre a qual serão colocadas as travessas.
Os pratos da antiguidade eram de prata, talvez para explicar que há metais, como a prata e o ouro, que afastam o magnetismo animal; o prato tinha que ser pessoal, de cada um.
Antigamente, o copo era de madeira especial e estava feito de uma fibra vegetal sutilíssima; daí derivaram todas as maravilhosas lendas relacionadas com o cálice do Senhor e com o Santo Graal.
Já foi explicado que o vinho é imagem da natureza inferior; o Iniciado que bebe o sumo da uva e sabe  transmutar, troca os valores inferiores em superiores.
Terminada a refeição, brindava-se solenemente, como se o lado alegre e festivo de cada alma quisesse se unir em uma só expressão de beleza, para perdurar como entidade guia.
Depois do brinde, o Grande Mestre quebrava a taça na qual havia bebido.
A mesa é sempre sinal de pacto e aliança. O altar de todas as religiões é a mesa dos deuses. Deus faz pacto com Jacob, e como recordação deste pacto, levantam um altar ou mesa mística.
Cristo institui o sacramento da eucaristia no banquete pascal; os cristãos primitivos costumavam fazer um ágape fraternal.
A mesa é, na família, a que reúne ao seu redor todos os membros da casa na hora das refeições. É a hora da intimidade; é a hora em que o pai se reúne com os todos seus filhos; em que a mãe contempla com satisfação toda a família reunida. É a hora da perpetuação da aliança familiar.
No plenilúnio, quando se efetua o banquete, também o sol – imagem do sol espiritual – está em seu nadir; é quando ele também desceu de suas alturas aos infernos para buscar sua amada extraviada; como Orfeu desce aos infernos para buscar sua esposa Eurídice e fazer com ela nova aliança, novo pacto, nova boda.
É desejável que os membros da Ordem acompanhem todas estas cerimônias com espírito de fervor e de compreensão, pois do contrário as mesmas seriam vãs. Que cada um procure fazer aliança com seus companheiros, união de almas, união de sentimentos e de ideais, para que esta união seja a alma futura da vitória do Ideal Espiritual.
No equinócio de outono, festejava-se a obra cumprida, já que a terra dera seu fruto. Era chamada a festa do Rei, porque os Cavalheiros festejavam seu chefe e o Cavalheiro Iniciado.
No solstício hiemal, os Cavalheiros efetuavam a festividade da Renunciação; os mais adiantados abandonavam a comunidade e subiam ao Monte, ao castelo dos Perfeitos. Talvez por ser nesta quarta parte do ano que se desenvolva a última cerimônia visível no plano físico, ela seja a mais rítmica e poética de todas.
Sempre, em todos os setores da vida, em todas as agrupações, há quem se sobressaia, quem chega a um estado de liberação interior. Estas almas instruídas, ainda mantendo o corpo físico, compreendem que nada têm que fazer entre os homens, e um desejo irresistível de solidão e afastamento as impulsiona a buscar uma vida recolhida e dedicada à contemplação.
Na Índia, é conhecida a crença que existe acerca destes seres extraordinários, que vivem em paragens solitárias, escondidos em altas montanhas.
A Sociedade Teosófica fundamentou toda sua obra sobre as mensagens destes Mestres dos Himalaias.
Nas antigas Ordens estava simbolizada esta mística ida sem regresso, com uma esplêndida cerimônia. Quando o Cavalheiro, por seu elevado estado de perfeição, sentia-se impulsionado a abandonar todas as coisas exteriores, o Grande Mestre reunia todos os Cavalheiros e, juntos, cantavam o Hino da Liberação. Imediatamente penetravam na sala duas Damas, com os rostos velados, símbolo dos mundos ocultos, que o eleito ia conquistar, levando um pano azul nas mãos. Despojavam o Cavalheiro de seu manto branco e o cobriam de azul; depois, ele mesmo cortava com sua espada a ponta direita do manto, dividia-a em sete partes, que deixava aos sete Cavalheiros restantes como recordação de si.
Isto é imagem do Cavalheiro Eterno, do Cavalheiro Perdurável; se morre ou não, ninguém o sabe. É o homem que chegou a dominar seus princípios inferiores e superiores, dispondo deles à vontade.
Mas, onde vivem estes seres seletos? Em que parte do mundo?
Estes lugares secretos, onde as Ordens Iniciáticas tinham – ou têm – sua morada oficial, não estão destinados ao acaso, mas correspondem aos sete plexos de força do planeta. Há na Terra sete lugares, não marítimos, nos quais o magnetismo natural é muito mais intenso do que em outros lugares. Naturalmente, é sempre em paragens montanhosas; são inumeráveis as montanhas reputadas sagradas.
Um lugar magnético primário da Terra está no Tibet e, em especial, na região de Shamballa, onde os Lamas Amarelos têm sua principal morada; o lugar europeu mais magnético é na montanha de Monserrat, na Catalunha, onde ainda hoje, os irmãos Rosacruzes têm suas reuniões astrais. Na América, existem vários destes lugares magnéticos e se pode encontrar um nas desoladas montanhas da província de São Luis e outro sobre o lago Hueche Lauquen. Lohengrin descreve um destes lugares, chamando-o de Montsalvat e, para fazê-lo mais inacessível, descreve-o rodeado de águas e o chama “desconhecida paragem”.
Mas, existiam realmente na antiguidade estes castelos iniciáticos? Existiam realmente; e todos os castelos medievais foram copiados deles, destes castelos fundados por Cavalheiros Iniciados.
Pode-se encontrar modelos deles, ou ruínas, na Catalunha e ao sul da Galícia, em Flandres, Normandia e Escócia; e o norte da Alemanha tem exemplos maravilhosos deles, mas de posterior construção.
Naturalmente, as antigas Ordens haviam de ter seus lugares afastados e seus castelos, onde os Cavalheiros Iniciados se encerravam.
Não se falará da Montanha de Kaor, porque, unicamente ali, as ruínas do Templo primitivo podem subsistir, mas sim, pode-se descrever como seriam esses retiros. A uma altura superior a mil metros, em uma região desconhecida e pouco habitada, construía-se um edifício completamente rodeado de muralhas e água; nenhum membro da Ordem conhecia este lugar, além dos que o habitavam e dos Grandes Mestres. Nenhuma mulher, nenhum estranho à Ordem, podia pisar este recinto. No fosso que circundava o castelo, eram alimentados cisnes brancos e negros, símbolo da eternidade, manifestada e imanifestada. Estes Cavalheiros solitários, estes puros guardiães da Sabedoria Eterna, viviam ali com uma pureza e uma serenidade tais, que unicamente em horas de êxtase interior e de perfeita oração se pode ter um vislumbre do que isso significa.
Se esses lugares desapareceram, ainda fica aos Cavalheiros um lugar inacessível e solitário para se esconder e viver sua vida íntima: o inexpugnável castelo do santuário interior.
As quatro estações do ano simbolizam também as quatro grandes épocas que cruzou a Raça Ária desde seu nascimento.
A primeira parte da Raça data do nascimento da Raça Semita-Atlante, há 850.000 anos, até o estabelecimento definitivo da Raça Ária, há 1769 anos (ano 1941).
A segunda etapa corresponde ao tempo transcorrido desde o estabelecimento da Raça Ária até a guerra dos 500 anos, há 868 anos (ano 1941).
A terceira etapa corresponde ao período que vai desde a guerra dos 500 anos até a submersão de Poseydonis, última relíquia atlante, ocorrida há 11.000 anos.
A quarta época data desde a submersão dessa ilha, até os dias atuais.
As quatro etapas do ano recordam, também, as quatro etapas que as Escolas Esotéricas cruzaram.
A primeira etapa foi aquela, esplêndida e áurea, dos Mestres Iniciados. Data desde o tempo do Templo de Kaor, há 868 anos, até a submersão de Poseydonis, há 25.868 anos.
A segunda representa a do poderio e do domínio reinante, época de prata, que durou desde o tempo da submersão de Poseydonis até o reinado de Amenophis IV, há 3.311 anos (ano 1941).
A terceira foi a era sacerdotal esotérica. Nesta etapa, as Escolas Esotéricas já haviam completado seu caudal de conhecimentos. Durou desde Amenophis IV até a fundação esotérica da Ordem Teutônica por Hernan de Salza, no ano 1197.
A quarta corresponde à era cristã e cavalheiresca, da ação e do sacrifício, e vai desde a fundação da Ordem Teutônica até os dias atuais.
O ano também simboliza a vida do homem, que tem quatro períodos principais: infância, adolescência, virilidade e senilidade.
O Ano Místico também há de estimular que se dê ao ano, aos meses, aos dias e às horas seu verdadeiro significado. O homem estulto os deixa correr e, sem dar-se conta, encontra-se com a cabeça branca e as mãos vazias.
Porém, o sábio mede seu tempo. Sabe que cada hora transcorrida é uma possibilidade a menos que tem para seu adiantamento espiritual. Assim como passa o ano, passam também em sua vida as possibilidades, as boas ocasiões, a energia e a clareza mental da juventude, assim como todos os dons que estão ao seu alcance para chegar à perfeição.
Assim, os cerimoniais iniciáticos dos Cavalheiros, dentro do Ano Místico, guardam um ritmo, uma medida e uma estabilidade excelsas, dentro do tempo, esse material do qual está feita a vida, como inscreviam os antigos nas luminosas esferas de seus relógios.       


Ensinança 8: O Cavalheiro da Eternidade

A ordem física é uma imagem da ordem astral.
Existem almas que renunciam no mundo astral à paz e à felicidade dos planos superiores para seguir trabalhando para o bem da humanidade e, em particular, o de seus irmãos da Ordem, aqueles que lutam por um mesmo fim, um mesmo ideal: a reforma de si mesmo e a santificação das almas.
Estes Cavalheiros invisíveis podem ser almas que há muito tempo não encarnam na Terra e também podem ser Cavalheiros desencarnados que se incorporam a este núcleo seleto.
Existe uma formosa lenda que assegura que a missão do primeiro Cavalheiro que morre é a de permanecer no umbral da eternidade, esperando os companheiros para indicar-lhes o caminho.
Este Cavalheiro expectante mora continuamente entre o astral e o umbral do frio e da obscuridade, olhando com seus olhos videntes a hora em que se aproxima o viandante. Quando vê que a morte rodeia um irmão agonizante com seus espessos véus, congrega todos os seus companheiros, faz que se materializem etereamente no lugar onde está o moribundo, para que este cruze o umbral levado por sua mão e auxiliado pela Santa Companhia.
O consolo que a alma recebe, ao ver um ser amigo, distrai sua atenção e passa com mais facilidade de um plano a outro, sem experimentar demasiadamente a dolorosa angústia da troca dimensional.
Porém, há mais ainda. Existem lugares no mundo onde os Cavalheiros das Távolas astrais se encontram em mística reunião com os Cavalheiros mortais que sabem transladar-se em corpo astral. São pontos do planeta que, por seu extraordinário magnetismo ou pelo magnetismo acumulado durante séculos por templos ali existentes, fazem-nos aptos para a solene realização.
Além do deserto de Gobi, sobre as mais altas montanhas do Pamir, há um destes lugares. Alguns crêem que ali se levantou o antigo Monte de Kaor; e ali os Cavalheiros astrais, em místicas assembléias, embalsamam ainda esses ares com seus cânticos sagrados e concentrações sublimes.
No Tibete, em uma alta meseta, sobre um maciço quadrado e negro, também se efetuam estas assembléias astrais. Na Europa, realizam-se sobre a montanha de Montserrat e nas altas montanhas da Escócia; na África, no Cabo da Boa Esperança.
Na América, são vários estes pontos. O principal se encontra no Canion do Colorado, nos estados do norte, e outro sobre uma alta montanha, vulcão já extinto, o Lanin, que nas terras do sul se espelha nas águas tranqüilas do Hueche-Lauquen.
Antigamente, houve um grande centro magnético nas montanhas de San Luis, e conta-se ainda que existia ali um templo sagrado, mas esse centro foi deslocado quase completamente para o sul.
Nestes lugares terrestres, parece que a atmosfera se faz tão sutil, que é mais etérea do que física. Já não existe ali a puna que mata o corpo, mas a puna que destrói as almas que não são fortes nem bastante valentes para afrontar as provas antes de chegar até o lugar de reunião.
Mas o grande ponto de concentração é sempre o Oriente. Quando os Cavalheiros da terra e do céu viajam para o Templo sagrado, existente unicamente no quarto sub-plano do mundo astral, enfocam e se orientam para o Pamir, para a antiga Kaor e, dali, para a eternidade.
Nessas viagens, as últimas visões terrestres que percebem são de altas mesetas, de cimos inacessíveis, de neves virgens, desconhecidas por todos os mortais; e quando a alma, apoiando seus pés sobre a mística escada de corda, olha o lugar que vai deixando, é a luz amarela do Oriente, da Índia, do Tibete, a última aura que vê.
As vibrações transformam os manetras dos Cavalheiros em correntes de vida, em linguagem eterna, que corre de um lado para outro do novo mundo. Ainda aqui, são os Cavalheiros expectantes os divinos sacrificados, aqueles que estendem os braços aos Cavalheiros astrais que vêm da Terra e do corpo físico, para cruzar a chama de Hes.
Sempre eles, os Cavalheiros do Umbral, vigias da eternidade, resplandecentes em sua aura prateada de sacrifício, são os que levam suas taças brilhantes, cheias do néctar das almas, que só podem levar os que tudo deram por amor.


Ensinança 9: As Provas Iniciáticas

Nos antigos Mistérios de Eleusis, efetuavam-se ritos que correspondiam a esta iniciação astral. Os sacerdotes egípcios também simbolizavam estas realizações fazendo o aspirante passar pelas quatro provas. Os cristãos copiaram-nas dos antigos e repetem essas cerimônias nas vestes e profissões religiosas.
As Ordens Esotéricas acreditaram ser inútil repetir visivelmente essas cerimônias que eram completamente supérfluas, pois unicamente o ser que está preparado para elas pode participar, mas sempre nos mundos astrais. Além disso, muitas vezes estes ritos se refletem acidentalmente na vida ordinária do discípulo.
O primeiro, o Cerimonial Dourado, refere-se às quatro provas que o candidato há de superar para chegar às portas do Templo, onde será consagrado Cavalheiro da Eternidade.
As quatro provas estão simbolizadas pelos quatro Cavalheiros que custodiam a entrada nos planos superiores. São similares aos ginetes do Apocalipse, ao espectro do umbral de Zanoni, às terríveis feras que guardam a entrada da Edda Escandinava; numa palavra: são aqueles princípios elementares que mantêm, impulsionam, governam e destroem a vida física: a paixão, a incerteza, o medo e a separatividade.
A paixão, nos seres buscadores do caminho, parece adormecer; como animaizinhos domésticos, os instintos fogem aos raios dos primeiros conhecimentos, dos primeiros vislumbres, das vitórias iniciais. O aspirante quase esqueceu deles. Passam, às vezes, anos sem que dêem sinais de vida; mas um dia, de repente, saltam fora e, desta vez, transformados em feras terríveis. Este retorno das paixões ao ser, lei inevitável de conseqüências que a carne deve ao depósito material que a formou, está simbolizado pela terra, chamando-se prova da terra.
 Se já está acostumado aos planos astrais, o buscador deverá passar pelo grande pântano. Que terrível é o pântano astral! O pé, inseguro, afunda a cada passo; monstros terríveis pululam ali, como se esperassem, ansiosos, devorar o viandante; mas se os Mestres deixam que ele chegue até ali é porque sabem que poderá cruzar incólume. O asco à materialidade em sua forma astral, sem véus, mata as paixões, uma a uma. Quando chega à margem oposta, jamais o instinto voltará a dominá-lo.
A segunda prova é a do ar. Para chegar ao Templo, há de subir as invisíveis escadas que conduzem a ele. O corpo do candidato deve habituar-se aqui à quarta dimensão. De repente, seu corpo, pavorosamente, adquire dimensões imensas e prontamente diminui, até dar-lhe a impressão de desaparecer.
Além disso, as místicas escadas se apresentam em forma de cordas pendentes e sem pontos de apoio. A incerteza é espantosa; parece-lhe, continuamente, que desde ali, precipitar-se-á no abismo, ficando suspenso, até que compreende que ali não há vazio. À medida que sobe, desencadeia-se o furacão. O furacão é imagem da passagem de um estado astral a outro, superior.
A terceira prova é a da água; a do temor. Antes de chegar ao Monte Sagrado deve cruzar o lago que o rodeia; ali, de nada vale nadar (o valor é o exercício de nadar). Quando a imponência do monte embarga a alma, o temor vence e o corpo astral sente que afunda numa água que não afoga, mas gela e paralisa todas as percepções. Mestres e Protetores invisíveis sempre acompanham os candidatos nestas provas, do contrário, dificilmente poderiam passá-las, mesmo os mais adiantados. O temor é o inimigo mortal do homem e até que não esteja plenamente vencido não se pode pensar em chegar muito longe.
A quarta prova desta primeira parte do Cerimonial Dourado é a do fogo. Pense-se um instante em alguém que sonhou toda sua vida em alcançar um ideal e, chegando à véspera de alcançá-lo, só então compreende que, unicamente com a morte, consegui-lo-á definitivamente.
O Templo está rodeado de inextinguíveis chamas. Por ali não passarão incólumes os Cavalheiros; somente “o Cavalheiro”. Inutilmente buscou para si a realização. A realização está além da personalidade. Todo conceito de separatividade será apagado se quiser passar por esse fogo que tudo destrói, tudo consome, menos o Espírito, a Unidade.
A segunda parte do Cerimonial Dourado representa as três tentações mentais, indispensáveis para o reconhecimento da Mãe Divina e para a identificação com Ela.
Estas provas não são para seres vulgares, mas unicamente para as grandes almas.
Jesus, antes de iniciar sua missão divina sobre a Terra, há de passar por estas provas e vencê-las; pois o adepto domina a paixão da carne, a sede de domínio e o afã de riquezas.
Após lutas incalculáveis, o ser cruzou o círculo de fogo; sua imagem já é a imagem de todos os seres, e a túnica inconsútil que veste é o reflexo de todos os poderes manifestos.
Chegou a hora das Místicas Bodas. A Mãe Divina levantará o véu para mostrar seu rosto ao amigo desejado.
Três imagens femininas, de deslumbrante beleza, vestidas de vermelho, azul e amarelo, são apresentadas ao Iniciado. A imagem da Mãe Divina, branca e velada, acha-se na sua presença, surgindo e ressaltando sobre o horizonte de fogo.
 “Que vieste buscar, Peregrino, através de tantos perigos e de tantas provas?”
 “A quem, senão a Ti, ó Mãe Eterna?!”
 “Mas...quem Sou Eu?”, diz a Mãe.
 “És o resumo da vida, da beleza, do encanto, do triunfo da eternidade!”.
Mas as três mulheres o tentam pela última vez, cravando de novo a dúvida em sua alma.
Dizem-lhe: “Não sabes quem se esconde sob esses brancos véus. Por que não pedes que se descubra em tua presença e se mostre tal qual é? Olha-nos tal como somos: a realização, o encanto, a vida, a variabilidade”.
 “Não me peças provas tão grandes...”, diz a mulher velada.
Mas a dúvida entrou no coração do Cavalheiro; insiste em pedir-lhe que se desvele.
Ele diz: “Ainda que tenhas as formas mais horríveis – se fores o sonho perseguido das minhas múltiplas vidas – reconhecer-te-ei”.
 “Assim seja”, diz a Mãe.
Esta é a prova da eleição.
Caem os brancos véus, cai o sudário. E aos espantados olhos do Cavalheiro, apresenta-se a imagem mais horrível que se possa descrever. Um corpo velho, decrépito, que parece carregado de incontáveis anos. Carnes secas, apergaminhadas; um olhar que nada tem de humano.
As três mulheres riem dizendo: “Eis a tua Amada!”.
A Mãe, então diz: “Elege; elas ou eu”.
Se o Cavalheiro sabe suportar a prova da eleição, cai aos pés da Mãe e a adora em sua forma de destruição. Basta isto para que desapareça o pesadelo, e a Mãe Divina recobre seu aspecto de eterna juventude e beleza.
Na Távola astral, esta Cerimônia é dirigida por uma alta Entidade que vem organizando as Ordens Esotéricas há muitas gerações e que já não toma corpo físico sobre a Terra. Ela dirige periodicamente a Távola astral. Em sua última encarnação foi mulher e conserva, no astral, aspecto feminino, representando a Mãe Universal.
O Templo ficou em trevas tão densas e obscuras que são inimagináveis.
Levantou-se a negra pedra da Mãe.
Na escuridão, somente se vê o corpo adormecido da Mãe em seu ataúde eterno. Suspiros, silenciosas sombras e desconhecidos passos enchem o templo e, pouco a pouco vão desenhando as imagens, as sombras daqueles que foram poderosos, daqueles que dominaram a Terra, e que vêm render homenagem à Rainha de todas as formas e de todos os poderes.
“Eu posso dar o cálculo exato. Eu posso dar a soberba ilimitada, indispensável para o triunfo. Eu posso ensinar os caminhos mais seguros para destruir e fazer o homem dono do mundo. Eu sou sombra, mas um dia me chamaram rei de reis, caudilho, dominador, tirano, usurpador”.
”Se quiseres, ensinar-te-emos todas as nossas artes secretas; far-te-emos dono de todas as coisas do mundo”.
“E em troca, o que terei de dar?”, pergunta o aspirante. Aquele que parece ser o chefe desses espectros errantes lhe responde, como disse Satanás a Jesus: “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares”.
Que ele responda como Cristo: “Vai-te Satanás que escrito está: adorarás ao Senhor teu Deus, e somente a Ele servirás”.
Adorarás a Divina Mãe unicamente, e então todas as trevas serão dissipadas. Felizmente passou a prova da sede de domínio.
Ainda terá que passar a última prova mental: a sede de riquezas. Não somente das riquezas materiais, mas também das riquezas do saber.
A Mãe lhe mostrará todo o ouro escondido nas entranhas da Terra, todo o ouro da inteligência e do saber, e lhe dirá: “Toma-o, é teu”.
Ele deverá responder: “Somente a Ti aspiro e desejo”.
Então se aproximam dele os Cavalheiros astrais, para vesti-lo com a armadura que tem esculpida em letras de ouro sobre o peito, a palavra: “Venceste”.
A Sagrada Assembléia dos Cavalheiros Astrais se reuniu em mística roda, sobre a desolada montanha de Kaor, para realizar a terceira e última parte do Cerimonial Dourado, em proveito do novo eleito.
Eis ali o resplandecente Cavalheiro, avançando com sua escolta.
A couraça já não defende seu corpo físico, senão uma armadura de maravilhosas e magnéticas vibrações que circunda seu corpo astral com deslumbrante resplendor. Todos os atributos materiais e símbolos iniciáticos aqui se transformaram para Ele em novas forças de poder e de magnificência.
Seu nome já não está escrito no colar: agora se encontra estampado sobre a matéria astral, para toda a eternidade.
O antigo cavalo é aqui a planta de seus pés que pode dominar o Universo.
A espada reluzente é Foá, posta à sua disposição.
Observe-se o anel que brilha em seu dedo: é uma fonte de forças astrais que desce do céu à terra.
O selo do poder é aquela maravilhosa corrente serpentina que sobe e desce dentro de seu corpo astral com reflexo de todas as cores.
Se pudessem ser repetidos, com vozes humanas, os cantos dos expectantes Cavalheiros, traduzir-se-iam assim: “Bem-aventurado tu, que chegaste ao último dia e foste eleito para Esposo Eterno da Mãe Divina. Foste desposado com Ela. Dispõe-te, pois, à prova do Espírito”.
Sobre a terra, que descansa aos pés da invisível reunião, passa um estremecimento de admiração. E na hora crepuscular, o sol poente irradia e reverencia os Cavalheiros astrais, cobrindo o céu de vermelho sangue.
É a última hora; a hora do Espírito. A hora de compreender tudo para lançar-se depois na obscuridade sem limites, para unir-se com Aquele que não se pode nomear.
Os elementais do ar fogem espantados, sulcando o horizonte vermelho, com raios e relâmpagos.
Da antiga e morta cratera, levanta-se a Imagem Eterna da Mulher Velada.
Dentro de poucos instantes Ele e Ela estarão unidos perduravelmente. Unidos: onde, como?
O Cavalheiro Iniciado avança para Ela; os Santos Acompanhantes ficam atrás. A voz (se assim pudesse ser chamada), fala: “Não sabes tu, desde há quanto tempo espero este instante. Não sabes tu, criatura de um dia, que Eu, desde o princípio do Universo, estou te esperando. Os mundos ainda não estavam feitos, nem havia começado a desenhar-se o plano do Cosmos, quando Eu estava e tu também estavas. Mas Eu era a luz, e tu eras a treva. Desde então, amei-te sobre todas as coisas e por te amar, Eu te perdi; por te amar, dei-te a morte. Não viste nunca a estátua de Kali dançando sobre o corpo morto de seu esposo com a faca sangrenta na mão? Isso não é somente símbolo, é verdade. Eu te dei a morte. Ainda está viva em minha memória a realidade da lenda do Gênese, quando por amor vim a ti com a tentação e com ela te matei. Como Eu era a Divindade, não podia unir-me à humanidade sem destruí-la. Por ti fiz o Universo, as cadeias planetárias e os milhões de mundos que coroam tua cabeça. E, através desses mundos e desses céus, fui te buscando, enquanto tu vagavas em pós da ilusão, na qual me buscavas. Por teu amor, destruí os mundos que fiz, e pus guerra e sangue sobre a Terra; para reconquistar-te, carreguei-me de todos os crimes e de todos os males, e destruí, com um movimento de minha mão, tudo o que impedia nossa união. Quantas vezes, chorosa te chamei, e não me reconheceste! Quantas vezes adquiri formas e aspectos diversos para fazer-te lembrar de mim e tu me rechaçaste? Por ti deixei a Divindade e desci à profundidade da dor e da miséria humana, porque acreditava que, fazendo-me semelhante a ti, voltaria a conquistar-te. Ensinei-te leis e doutrinas e quis morrer como um Deus por teu amor. Mas ainda assim, não me reconhecias. Para reunir-nos, foi necessário que a Divindade se fizesse humana, mas era também indispensável que a humanidade se fizesse divina, ó meu redentor!”
A intuição do Cavalheiro Iniciado se cobre de um denso véu: não compreende e fala: “Por que foi necessário tanto padecer e tanto mal para chegar ao que éramos? Por que esse descer e subir, esse descenso da Divindade à humanidade, para voltar ao mesmo? Por que o crime, o horror e a miséria?”.
“É que, em realidade, Cavalheiro, jamais deixaste de ser o que eras, nem jamais foste o que acreditas. Como um jogo infantil, o Ser Divino, Luz Eterna, quer espelhar-se nas trevas. Não há descenso nem ascensão. Somente existe a ilusão que produz a luz ao refletir-se nas trevas. Os mundos não são mais que sombras de Deus. Nem o bem nem o mal existem; nem o crime nem a dor. Aqueles que morrem voltam a nascer, e o mal de hoje é o bem de amanhã. Quando se destrói e cai uma civilização, é porque uma nova e melhor está em gestação. Quando a arma criminosa abre o peito de um homem é porque um corpo novo, mais formoso, está pronto para ele. Ainda mais: ninguém pode tocar o Espírito nem nada pode danificá-lo; sofre e pena, muda e se transforma, enquanto assim o crê. Mas, imediatamente que se reconhece a si mesmo, em qualquer ponto ou etapa do caminho em que se encontre e possa afirmar: “Eu sou Aquele”, desaparece a ilusão e é reintegrado à sua prístina divindade e essência.
“Pois então, quero destruir de uma vez para sempre a ilusão; quero ser tal qual sou”.
Brilha no céu, que já se cobriu com o manto da noite, o eterno símbolo do círculo e a cruz: a Sagrada Ank.
Os lábios da esposa imortal se uniram com os lábios do Cavalheiro imortalizado.
O eco dos cantos cavalheirescos repercute no Universo.
 “Desde o princípio te conheci, desde o princípio te amei. Os dois éramos Um.”
Quando os olhos se fixam sobre o cume para descobrir as silhuetas dos dois Amantes Perfeitos, vêem que desapareceram.
Somente a chama se levanta, brilhante, sobre o cume do Monte.


Ensinança 10: As Ordens Militares Cristãs


Se agora as ensinanças de Amon são consideradas, não em seu refúgio, mas entre os homens que lutam e sofrem, observar-se-á, durante o século I antes de J.C., que havia infinidade de Escolas, nenhuma delas puramente já devota ao conceito do Não Ser ou ao do Ser.
Nelas predominava uma dessas tendências. Para designá-las, em geral, ter-se-ia: por um lado, a doutrina de Amon, politeísta, platoniana, idealista; por outro, a de Aton, monoteísta, aristotélica, materialista.
Eram estas, escolas fundadas por renigar (renegados) – que não se deve tomar em sentido pejorativo, pois tratava-se de seres, muito deles, Iniciados, que se separaram de escolas mais antigas, puras – que unindo suas próprias idéias às de sua antiga escola, e com as de outras, fundaram uma nova. Destas, costumavam separar-se outros renigar, que, por sua vez, fundavam outras.
Chama especialmente a atenção o fato de que, pouco antes e depois da vida de Cristo hajam florescido tantas dessas escolas. Deve-se sublinhar o caráter eclético das mesmas. Elas prepararam o terreno para a difusão do extraordinário trabalho de Jesus.
Os Iniciados Solares, antes de Jesus, vieram ao mundo de forma inacessível ao vulgo. Jesus, em troca, veio para redimir todos.
O mesmo acontecia com as sociedades secretas: eram quase impenetráveis.
Jesus mostrou, em primeiro termo, que era Homem. E fez o grande sacrifício de dar seu corpo.
Ressuscitando e subindo ao céu, mostrou que o homem também podia elevar-se até Deus. Que a esperança deve chegar a todos. Que cada um pode realizar seu Deus.
Mas o cristianismo não se haveria difundido tanto, pelo fato de que sua doutrina fosse esotérica, se não tivesse um eficiente divulgador: Paulo de Asher.
Paulo deu aos povos as noções que, poder-se-ia acreditar, fossem inacessíveis. Atirou margaridas aos porcos: semeou a mãos cheias. Não ignorava que teria que pagar a divulgação destes segredos com seu próprio sangue. Não se perturbou por isso: sabia que o seu carma não entraria em ação, antes que dissesse tudo o que tinha a dizer.
Paulo toma Cristo como exemplo, como homem que serve para seu propósito. Mas sempre se refere a Ele como o Redentor. Não menciona o homem. Deixa entrever, também, que por trás da união do homem com seu Salvador existe ainda uma possibilidade maior: algo assim como um Nirvana Búdico.
Sua obra foi tríplice:
1°) Abriu um canal entre a Divindade e a humanidade, toda a humanidade. Isto está simbolizado na ferida que Cristo recebeu no lado de seu corpo, da qual sempre emana sangue. Conseqüência disso foi o fato de que, desde então, as sociedades esotéricas não foram mais tão herméticas como antes; sempre há algum escape para ingressar nelas, como no fato de deixarem transluzir alguns de seus segredos. É que o sangue de Cristo se derramou sobre o mundo inteiro.
2°) Estabeleceu que é pelo ato do Redentor que o homem se salva. Este já não necessita esperar a Graça. Já sabe que a Divindade se fez carne para ele também.
3°) É um verdadeiro precursor do que ainda é uma esperança: a união do politeísmo com o monoteísmo – ou seja, a pureza da concepção politeísta com a acessibilidade de todos os homens ao conceito do monoteísmo. Em síntese: a redenção de todos os homens.
O politeísmo como guardião do esoterismo.
Ao iniciar-se o cristianismo e ao afirmar-se como religião monoteísta, absorve o esoterismo que, na dinastia dos Ptolomeus, havia sido recém-introduzido amplamente no monoteísmo.
No primeiro século cristão, o esoterismo puro havia sido introduzido na igreja gnóstica que negava a autoridade suprema do Antigo Testamento. Depois, destruída a igreja gnóstica, o esoterismo foi tomado pela Igreja Ortodoxa.
Viu-se, então, que o cristianismo havia recebido um caudal espiritual imenso.
Após o sacrifício redentor de Cristo – feito compreensível ao povo por Paulo e pelo trabalho doutrinário dos doutores, em especial Santo Agostinho – chegou a ser poderosíssima a influência do cristianismo. Sua expressão, a igreja, adquiriu enorme ascendência econômica e política. Mas, espiritualmente, decaiu do século VI ao X.
Era-lhe necessária uma renovação; e, depois da renovação, favorável e direta das Cruzadas, houve outra, mais dissimulada e mais profunda (conseqüência das Cruzadas): a transladação à Europa das sociedades esotéricas.
Sete grandes seres levaram os conhecimentos conservados no Oriente. A Europa necessitava de conhecimentos e estes seres levaram para isso uma instituição, então desconhecida ali: a Universidade.
Naqueles tempos, cada universidade se dedicava a um só ramo do saber: Bolonha ao Direito, Salerno à Medicina, etc.
As que levaram consigo muitos segredos e, portanto, muito saber, foram as Ordens Militares, especialmente a Ordem Teutônica.
 Nesse momento, encontraram-se, pois, duas grandes forças espirituais na Europa: a igreja e as recém-chegadas sociedades secretas. Aquela, algo decaída espiritualmente; estas, fortes, de um milênio pouco ativo.
Algo havia variado na concepção monoteísta da igreja: o Deus pessoal. Aquilo que o homem podia realizar já não era Cristo, mas a igreja, ou o “Dogma”. O contato com as sociedades esotéricas vivificaria seu conteúdo espiritual.
Esta unidade de ação culminou quando um grande místico e ocultista, Gilberto, monge, foi elevado ao trono pontifício com o nome de Silvestre II (morreu em 1003).
Ficavam unidos ambos sóis: Amon e Aton.
O colégio cardinalício foi assim, um verdadeiro colégio de sábios. Havia que instruir os eclesiásticos. Os regulares não tinham contato algum com o povo: faziam vida piedosa para si mesmos. O clero conhecia apenas o latim indispensável para dizer missa.
As Ordens Cavalheirescas não podiam tomar a seu cargo a tarefa por serem seus membros, seculares. Foi então que um cardeal, mais tarde o Papa Gregório IX, organizou uma Ordem religiosa cujas regras foram tiradas, em parte, das ordens militares.
Como nestas, havia três graus que correspondem às três formas que a Igreja tem para cumprir sua obra: a Mística, o Apostolado e a Ensinança. Os conventos teriam escolas.
O ser escolhido foi Francisco de Assis por ser seu caráter mais adaptável a estes planos. Tinha fama de santidade. Algo astuciosamente, Gregório IX fez sancionar constituições redigidas por ele. Francisco não ficou conforme, mas sem dúvida, o propósito do Papa era bom. Conhecido é o êxito desta Ordem e outras fundadas posteriormente.
Esta união da igreja com as sociedades esotéricas parecia invencível. Mas já havia aparecido, latente, uma divisão: o papado e o império. Algumas das sociedades esotéricas se puseram do lado de um, as demais, do outro. Em realidade não eram tendências puras; porém, as que sustentavam o papado eram mais idealistas, partidárias do Não Ser como suprema expressão. Durante a Idade Média esta tendência era a dos nominalistas: “Tudo é uma só voz”. Contra estes se levantaram os “realistas”.
A importância que alcançaram as sociedades esotéricas fica muito especialmente em relevo ante o fato de que o Grande Mestre da Ordem Teutônica, Hermann von Salza, negociou uma conciliação entre o Papa Bonifácio VIII e o imperador Frederico II. Mais tarde em 1544, Alberto Margrave de Brandeburgo, último Grande Mestre dessa Ordem e primeiro duque da Prússia, fomentou especialmente a educação de todas as cidades do estado prussiano e foi o fundador de escolas onde se ensinava o latim, assim como do Ginásio de Koenigsberg e da Universidade do mesmo lugar. Fez imprimir, em sua corte, livros alemães (catecismos, etc.) e aos servos que queriam dedicar-se ao estudo, deu-lhes a liberdade. Também guardou o tesouro das ensinanças esotéricas herdadas de seus irmãos de religião e as circunscreveu a alguns sábios. Entre as fileiras luteranas nasceram assim as Associações Esotéricas que eram mantidas muito herméticas e das quais se conserva um magnífico documento, nas “Bodas Químicas” de Valentin Andreade, suposto fundador da Rosacruz.


  
Ensinança 11: A Corte de Catarina de Médicis

Suprimidas as Ordens Militares e outras delas, semi-escravizadas, tendo sido toda investigação psíquica destruída pela Inquisição, as Ordens Esotéricas enlanguesceram e encarnaram nos alquimistas do renascimento, refugiados nas diversas cortes da Europa, sobretudo da França.
Catarina de Médicis foi quem os reuniu ao seu redor e possibilitou a conservação da sabedoria esotérica.
De ambição incomensurável, Catarina de Médicis tinha o fim de restabelecer a grandeza da casa real e para isso, empregou todos os sistemas, fossem bons ou não. Autoritária e fatalista, não podia ser guiada nem pelo catolicismo nem pelo protestantismo. Somente diante de um astrolábio, ante os espelhos mágicos e os círculos goéticos, ela inclinará sua soberba preeminência. Sempre enigmática e misteriosa, boa, má ou cruel será (muitas vezes guiada pelas ciências ocultas), alternativa e simultaneamente, esposa, mãe e ditadora. Sem nenhuma das debilidades físicas ou morais características de seu sexo, possuirá as mais altas qualidades de um administrador de Estado.
Encurralada entre o republicanismo huguenote e a tradição católica, saberá guardar o trono dos Valois por meio de combinações, cuja arte ainda hoje provoca inveja aos mais hábeis políticos. Será a autoridade forte, inflexível e clarividente, rápida em suas decisões, não temendo emboscadas, injúrias nem terríveis meios de ação empregados contra ela. Chegará a exclamar: “quanto mais mortes, menos inimigos”; resumindo esta frase de uma carta dirigida a De Gordes, todo seu caráter de mulher, que colocava sua dignidade de rainha-mãe sobre todos os sentimentos.
De moderado coquetismo, além de seu marido e filhos, dela não se conhece outros amores. E ainda estes lhe acordam ímpetos de ternura somente enquanto têm uma idade na qual não podem aproveitar-se deles para relaxar sua autoridade, suprimindo-os tão logo sejam capazes de governar. No entanto, desfalecerá ante seu filho Henrique III, que paga seu carinho profundo com ingratidão. Portanto, ela tem somente um ideal: a coroa da França, sua dignidade e orgulho, tanto quanto seu dever. O cetro reúne, pois, todas as suas alegrias, apesar dos combates diários e das perpétuas duplicidades que tem que criar ou destruir à sua volta. Formada em contato com a turba revolucionária, Catarina é partícipe natural dos Médicis ardentes e lutadores políticos; vive em luta desde a infância, desenvolvida em meio aos ódios desencadeados pelo despotismo de seu pai.
Bárbaros foram os homens para com ela: aos 9 anos, prisioneira em um convento, Batista Cei propõe atá-la, desnuda, sobre os muros de Florença, entre duas ameias, exposta aos canhonaços dos sitiadores e Bernardo Castiglione julga insuficientemente infamante esta proposta, insinuando dar termo à discussão,  entregando-a aos soldados estrangeiros para que a desonrassem, violentando-a. Com estes antecedentes, poderia Catarina considerar que a bondade, a generosidade e a piedade humanas constituem a beleza da existência?
Casada, não foi feliz. Henrique II não a considerou a não ser como um ser útil à perpetuação de sua raça. Sua vibração amorosa, sua admiração e submissão amante foram dadas inteiramente à Diana de Poitiers. Catarina foi o acessório obrigatório, imposto pelas exigências e os interesses políticos de um trono.
A fim de conservar a boa vontade de seu marido, Catarina chegou a viver em grande acordo com a amante de Henrique II. Sua esterilidade – sua obsessão – fez-lhe, no princípio, pôr-se em mãos dos médicos da corte; mas, a ignorância destes fez que se lançasse nos braços dos grandes mistérios, aos quais sentia-se atraída por atavismo de família e raça. À consulta de adivinhos e tarôs, uniam-se beberagens mágicas e poções medicinais de todo tipo.
Quando tudo parecia ser em vão, entra em cena o infatigável e sábio médico Juan Fernel que sacrificou sua fortuna, prazeres e saúde, à ciência médica de sua época e à matemática, com convicção e desinteresse exemplares. Tão grande era o número de doentes que afluíam à sua casa que, às vezes, comia de pé, escutando seus consultantes, ricos e pobres, com enorme paciência.
O remédio que Fernel aconselhou a Catarina – parece ter sido a coabitação durante determinado período – fez que nascesse o primeiro filho, 10 anos depois de casada. E chegaram a 10 os filhos que teve.
Se durante os primeiros anos de seu reinado havia suportado passivamente Diana de Poitiers, sua rival, superou seus ciúmes tão logo foi mãe, encerrando-se em seus deveres de esposa submissa e mãe devota, consagrando-se unicamente aos cuidados de seus filhos. Mas, depois do desastre de Saint Quentin, novamente reaparecerá em cena e, quando todos se desesperam, ela saberá reavivar a energia abatida, arrancar do Parlamento uma forte soma com sua vivacidade e eloquência, e atrair, em um só dia, toda a opinião pública.
Mas todo seu poder está na fé de que ela é uma predestinada e que lhe são enviados mestres para que a guiem. Nostradamus influiu notavelmente sobre ela.
A morte de seus amigos, os duques de Guise, assassinados por ordem de Henrique III, foi duro golpe para Catarina e influiu sobre sua saúde, caindo enferma para não se levantar mais. Uma pneumonia de rápido curso causou sua morte, que se produziu sem grande sofrimento, rodeada de seus servidores, a 15 de janeiro de 1589.
Seu ataúde de chumbo deveu esperar 20 anos para ser transladado à real sepultura – que sob seus próprios olhos, ela havia mandado construir na basílica de Saint Denis – pois, após sua morte foi sepultada com poucas pompas, em terra, o que não era de estilo para com as personalidades da época.
Henrique III compreendeu bem a enorme perda que significava sua morte, e para Catarina foi grande consolo não ver o desmoronamento de toda sua obra política, ocorrido poucos meses depois de haver desaparecido, com a queda dos Valois.
Dela – cuja vida foi tão agitada, dominada pelo desejo de governar, tão intrigante quanto diplomata, indulgente e implacável, supersticiosa e crédula, católica e huguenote, tímida e astuta, sempre impenetrável – aparecem, no entanto, qualidades incontestáveis de energia, fina inteligência e clarividência; estes lhe permitiram não temer jamais os perigos nem os imprevistos dos combates políticos e religiosos, ainda que haja temido os humanos tanto quanto o porvir. Isto a conduziu até os oráculos de astrólogos e magos.
Mas seu maior mérito foi o de haver permitido desenvolverem-se, à sua volta, homens como Nostradamus, Cornélio Agripa, Jerônimo Cardan, os Ruggieri, etc.


Ensinança 12: Os Oráculos Astrológicos

Considere-se aqui, nesta estranha corte de Catarina de Médicis, e em meados do século XVI, os mais importantes oráculos astrológicos de seu tempo: de Luc Gauric e Nostradamus, estreitamente relacionados à família dos Médicis.
O que foi mestre do erudito filólogo paduano Julio Scaliger, Luc Gauric, já era um astrólogo e matemático destacado, cuja ciência era conhecida universalmente. Nascido de uma família pobre, a 12 de março de 1476, em Gifoni, reino de Nápolis, labutou penosamente ao ter que viver do produto de suas lições a filhos de grandes senhores. Depois, dedicou-se ao estudo da astrologia judicial ou estudo da influência dos astros sobre o destino dos seres, ciência à qual levou um novo método de observações horoscópicas.
Justificadas plenamente várias de suas predições, sua fama correu rapidamente, e de todas as cortes italianas, os mais altos personagens vinham consultá-lo. Entre estes, veio, para sua desgraça, Juan II Bentivoglio, tirano de Bolonha. Ante a consulta de seu destino como Chefe de Estado, e a resposta de Gauric de que morreria expulso de Bolonha, o príncipe condenou Gauric a dar cinco voltas de estrapada, suplício cujas conseqüências sofreria durante muitos anos. Porém, o próprio Bentivoglio, ao abrir as portas da cidade ao papa Júlio II em novembro de 1506, deu uma vez mais, razão à arte adivinhatória de Luc Gauric, que conquistou maior popularidade ainda. É então que o papa Paulo III faz seu horóscopo com ele, e Luc Gauric, com surpreendente precisão, prediz a enfermidade e morte deste papa, que se produziu exatamente no dia indicado: 20 de novembro de 1549. Mas, sem esperar a realização da profecia, o papa Paulo III recompensa Gauric por seu saber, dotando-o do bispado de Civita Castellana e conferindo-lhe o grau de Cavalheiro de São Paulo, que Luc Gauric desfaz ao cabo de 4 anos, após a  morte desse papa, radicando-se definitivamente em Roma. Da volumosa obra escrita por Luc Gauric destaca-se a que, seguramente, é a mais curiosa: “Lucas Gaurici geophonensis episcopi civitatensis tractatus astrologicus, in quo agitur praeteris multorum hominum accidentibus propias eorum genituras, ad unguem examinatis – in-4”, publicado em Veneza em 1552.
Na família dos Médicis, os astrólogos haviam encontrado sempre acolhida favorável, de maneira que não é de se assombrar que os pais de Catarina consultassem Gauric, o qual – assim como havia predito a Hamilton, arcebispo de Saint Andrés, que sua prelazia terminaria no suplício – predisse em 1493, a Juan de Médicis, tio avô de Catarina, então cardeal de 14 anos, que chegaria a ser papa; o que efetivamente, 20 anos mais tarde aconteceu, quando tomou a  tiara sob o nome de Leão X. A outro tio de Catarina, Julio de Médicis, disse-lhe que seria licencioso ao extremo, que teria grandes lutas políticas e grande progênie. Como se sabe, Julio de Médicis, eleito papa sob o nome de Clemente VII, foi célebre por suas lutas com Carlos V e Henrique VIII da Inglaterra, como por suas aventuras femininas, das quais teve 29 bastardos.
Convertida em Delfina da França, Catarina quis saber o destino de seu esposo. De acordo com as regras das triplicidades de Diocle e de Avicena, Gauric resumiu suas observações e declarou, para começar, que o Delfin chegaria, certamente, a ser detentor do poder real, que sua chegada ao trono seria marcada por um duelo sensacional, e que outro duelo poria fim a seu reinado e à sua vida. Precisou, além disso, o tipo de ferida da qual morreria Henrique II, no transcurso do anunciado duelo. Mas, como a situação social do príncipe impossibilitava o perigo moral de um duelo propriamente dito, deu-se pouco crédito à predição do célebre astrólogo. Não por isso deixou Gauric de insistir em suas declarações, impressas em Veneza em 1552, ou seja, 7 anos antes do famoso duelo no qual Henrique II receberia a morte. Além disso, havia advertido o rei, por carta, renovando-lhe a predição com luxo de detalhes, recomendando-lhe “evitar todo combate singular em campo fechado, sobretudo ao redor dos 41 anos, já que a essa idade estava ameaçado de uma ferida na cabeça que podia trazer como conseqüência, “a cegueira ou a morte”. Henrique II ficou ligeiramente afetado.
Esta predição, no entanto, causou tal obsessão em Catarina, que chamou em sua ajuda os mais famosos sábios da época, seja para controlar os cálculos do astrólogo, seja para conjurar o perigo anunciado. É assim que recorre a Gabriel Simeoni, astrólogo florentino, também literato de talento medíocre. Porém, Simeoni nada mais era que um pedante ambicioso, sendo, portanto, suas conclusões sobre o horóscopo de Gauric, confirmações banais que não tinham outra finalidade senão a de manter em Catarina a confiança cega que ela depositava na ciência astrológica.
Porém, também se vê nesta corte de Catarina, outro ser que, desde o século XVI até os dias atuais, foi objeto da mais entusiasta admiração e dos mais duros epítetos, autor das singulares “Centúrias”: Miguel de Notre-Dame, mais conhecido com o nome latinizado de Nostradamus.
Indubitavelmente que as 80 edições das “Centúrias”, livro misterioso, denotam ser obra de um cérebro pouco vulgar, que não careceu de leitores ingênuos ou clarividentes. Sem lugar a dúvidas, à margem da superstição ou exagero dos apologistas de Nostradamus, seu nome é realmente digno de ser incluído na lista dos grandes intelectuais do século XVI e XVII, ao lado de Jean Amado de Chavigny e Baltazar Guynaud.
Investido médico à idade de 22 anos na Faculdade de Montpellier, este amigo íntimo de Julio César Scaliger, teve por longo tempo, a cátedra de medicina dessa faculdade.
Depois, sem abandonar a medicina, apaixonou-se pela astrologia, estudou os velhos textos de literatura, traduziu documentos astrológicos da antiguidade, retificou muitos cálculos astronômicos e assim, adquiriu tal renome que se interessaram por ele o duque e a duquesa de Saboya, que o consultaram no Salon-de-Craux, lugar fixado habitualmente para sua residência.
Em 1555, publicou suas três primeiras “Centúrias”, às quais acrescentou as 53 primeiras estâncias da “Quarta Centúria”, com uma epístola a seu filho, César de Nostradamus.
Nesse mesmo ano, Henrique II, que ouvira falar das “Centúrias” e da sorte que Nostradamus lhe predizia nesse livro, surpreendeu-se da concordância existente entre esta predição e a anteriormente feita por Luc Gauric. A 15 de agosto de 1555 fez Nostradamus ir à corte, onde o adivinho lhe confirmou verbalmente os presságios de morte, inseridos sob a seguinte forma e com este teor aproximado na tradução:
“O jovem leão ao velho ultrapassará
No terreno da luta em duelo singular
Em caixa de ouro lhe transpassará os olhos
Duas classes, uma somente, depois (ruptura) morrer de morte cruel.”
Apesar de quão enigmática possa parecer esta redação, é necessário reconhecer que os acontecimentos provaram que era ajustada em seus detalhes e tão precisa como a de Gauric
Morto Gauric a 15 de março de 1558, Nostradamus, definitivamente agregado à corte da França na qualidade de médico astrólogo, converteu-se em conselheiro do rei, acordando em Catarina de Médicis verdadeira simpatia: esta o consultava com frequência por assuntos pessoais e também por atos que Henrique II devia realizar. De acordo com os conselhos do adivinho, ela extremava dia a dia a vigilância e precauções necessárias à segurança do rei. Além disso, as duas predições concernentes à vida de seu marido, tornaram-se obsessivas para ela.
Os preparativos das festas reais de Isabel da França, filha mais velha de Henrique II e de sua irmã Margarida, unidas ao rei da Espanha e ao duque de Saboya, Philibert Emanuel, respectivamente, iam chegando a seu fim, enquanto violentas discussões político-religiosas aconteciam no Parlamento. Estas se davam com ataques a Henrique II por suas relações com Diana de Poitiers e as práticas ocultas de sua mulher – que originaram a prisão de Du Bourg, Du Faur, outros três conselheiros e um presidente, instituindo como juízes dos magistrados prisioneiros uma comissão (arbitrariamente eleita), às ordens do bispo e do inquisidor de Paris – e, enquanto Henrique II castigava severamente aqueles que ele declarava hereges.
A 30 de junho de 1559, nove da manhã, o rei anunciou a abertura dos torneios com toques de cornetas. Após o almoço, declarou que faria parte dos mesmos na qualidade de tenant, ou seja, de defensor, nos combates a serem realizados em campo fechado e ordenou que lhe trouxessem as armas. Depois de lutar com M. de Saboya e M. de Guise, coube a vez ao jovem conde Gabriel de Montgomery, senhor de Lorges. Depois de três corridas, o rei pediu a M. de Vielleville, tenant que o sucederia, permitisse a ele uma revanche, quebrando uma lança suplementar com o conde Montgomery. O rei e o conde se encontraram próximo à metade do trajeto. As lanças, chocando em ambos peitos, romperam-se. Após cada um haver chegado à extremidade oposta à respectiva entrada, deviam voltar a galope ao ponto de partida, o que os obrigava a encontrar-se novamente.
Mas aconteceu que neste regresso M. de Montgomery não jogou, segundo era costume, o pedaço que restava de sua lança partida, enquanto o rei havia jogado a sua. O conde avança rapidamente levando à frente o pedaço de lança que lhe ficava, quando de golpe, a viseira do capacete real foi levantada pela violência com que a parte da lança se chocou com a cabeça de Henrique II. O fragmento havia entrado no olho direito do rei e saía pela orelha.
Assim, de forma acidental, “em duelo singular”, cumpriram-se as profecias de Gauric e Nostradamus, morrendo o rei a 10 de julho de 1559, após onze dias de agonia.
Se Nostradamus não era astrólogo, mas clarividente – cujas profecias lhe foram apresentadas por meio de espelhos mágicos – ou se era vidente superlúcido – como certos autores asseguram – a verdade é que seu oráculo, como o de seu antecessor, Gauric, foi estritamente real, minuciosamente cumprido pela fatalidade, na época e forma que Luc Gauric também havia predito em que morreria o rei, ante a consulta de Catarina de Médicis, sempre tão inquieta ante o porvir.  

 
Ensinança 13: A Magia Ciencista

A magia ciencista do Renascimento e dos tempos de Catarina de Médicis levou, no entanto, à restauração das Ordens Esotéricas.
Em Paris, nos salões e cafés onde se reflete a agitação, a curiosidade e também a credulidade intelectual do tempo, formigam ocultistas de boa fé e charlatães entre os quais, tendo de uns e de outros, está o cartomante Eteilla Alliette, que diz ser aluno do conde  de Saint Germain.
No dizer da baronesa de Oberkirch, jamais os adeptos, os profetas – e tudo aquilo que lhes concerne – foram tão escutados e tão numerosos. A conversa trata quase exclusivamente destes temas. Eles ocupam todas as idéias, estimulam todas as imaginações, ainda as mais sérias. As “Centúrias” de Nostradamus são reeditadas e arrebatam. Luchet calcula em mais de 30 os príncipes europeus, sobretudo nórdicos, pertencentes a diferentes lojas, sem contar o czar Paulo da Rússia, fervente adepto das ciências ocultas.
Sob o nome de “iluminados” designam os teósofos, que descartavam toda magia teúrgica, e os cabalistas, que continuavam (talvez de forma um tanto fantástica) as tradições da alta magia. Cada tendência tinha suas figuras eminentes: Swedemborg e Lavater para os teósofos, enquanto que Dom Pernetty e Martinez de Pasqualis pareciam ser os conservadores mais zelosos das práticas cabalísticas. Claude de San Martin pertenceu sucessivamente a ambas as tendências.
Swedemborg – este sábio universalmente conhecido em sua época – membro das mais importantes academias científicas da Europa, filósofo e místico, descrevia suas visões e suas viagens no outro mundo, publicava suas relações com os anjos e fundava grupos e lojas que deviam, com o tempo, transformar-se, em parte, na igreja swedemborgiana, primeira seita espiritista.
Dom Pernetty, antigo beneditino, navegante entusiasta que acompanhou Bougainville em sua volta ao redor do mundo, descia do norte, em Berlim, para estabelecer-se em Avignon, sob a ordem de seu oráculo cabalístico: a Santa Palavra.
Lavater, pastor protestante, tão tolerante que enviava à “boa mãe, a igreja católica, todos aqueles que não encontravam a paz na igreja reformada”, foi um iluminado, cheio de bondade, benfeitor dos emigrados durante a revolução e autor da “Physionomonia” na qual ele retomou a tese muito antiga de que pela fisionomia é possível conhecer o “homem interior”. Sua influência foi imensa entre os grandes da Terra.
“Eu vi – escreve Mirabeau – cartas de Lavater a soberanos, sob este protocolo: ‘meu querido, meu mui querido’, e vi a resposta dos soberanos, admirando-o, obedecendo-o, rendendo-lhe honra, e a seus partidários reverenciando-o como a um Deus sobre a Terra”.
 O próprio Lavater fez a descrição de uma cerimônia da loja dos iluminados de Copenhague, dirigida por Carlos de Hesse, que permite saber que nessa loja não era um oráculo cabalístico que dirigia os trabalhos, senão uma luminosidade fosforescente, que por meio de sinais convencionais, respondia sim ou não às perguntas feitas pelos adeptos, permitindo-lhes tomar decisões inspiradas em uma intervenção celestial. Em 1754, Martinez de Pasqualis, rosacruz, fundou um rito particular maçônico: “Os Eleitos Cohen” cujas lojas mais célebres foram as dos Filaleteos (alquimistas), os iluminados de Avignon e a Academia de verdadeiros maçons de Montpellier.


Ensinança 14: O Martinismo

É no século XVIII que se alicerçam as Ordens Esotéricas.
Martinez de Pasqualis representa o protótipo moderno do fundador de escolas esotéricas.
Aos 18 anos saiu de Portugal rumo ao Oriente, de onde regressou várias vezes, acreditando-se que esteve no Turquestão, na meseta do Pamir, regressando pela última vez na idade de 42 anos, quando começou sua missão de Fundador, que duraria dez anos, período no qual cumulou de sociedades secretas toda França e países vizinhos, que seriam o teatro da grande revolução que estava se gestando.
De sua ensinança, conhecem-se somente dois manuscritos: “Tratado da Reintegração dos Seres a seu Primitivo Estado, Virtudes e Poderes Espirituais e Divinos”, composto de várias partes, tendo por objeto tratar não o estado atual das coisas, mas o restabelecimento de seu estado primordial – tanto do homem como dos seres em geral. Este escrito oferece sem vacilação, magistralmente, o pensamento de De Pasqualis.
A primeira escola fundada na França foi em Bordéus, na qual se oferecia um conjunto de símbolos, completados por práticas teúrgicas, encaminhadas para conseguir ajuda de Entidades Superiores no desenvolvimento do plano de evolução. Estas operações teúrgicas tinham muita importância nessa escola e todas elas formavam um verdadeiro culto, cujo resultado final era o de levar o homem à reintegração citada.
Este contato com Entidades Superiores, continha o propósito de que o homem conseguisse ouvir o Verbo em seu interior, e segundo seu discípulo Saint Martin, seu Mestre tinha nesse aspecto, poderes muito grandes.
Levava uma vida envolta no mistério: chegava a uma cidade, não se sabia como nem porque, abandonando-a sem que se soubesse quando, nem como. Jamais buscou fama ou dinheiro. Vivia modestamente e passou amiúde situações difíceis, ainda que sempre dignamente, alojando em sua casa membros da Ordem que chegavam a Bordéus. Dali passou a Lion e depois a Paris, fundando novas lojas em cada uma destas cidades.
A primeira foi fundada em 1754 e nela ingressou Saint Martin, levado por vários oficiais da guarnição que pertenciam a ela.
De Paris, seus discípulos mais famosos foram: Cazotte, M. d’Hauterive e o abade Fournié.
Conta este último que foi encontrado por De Pasqualis, que lhe disse familiarmente: “O senhor deveria vir conosco que somos boa gente. O senhor abrirá um livro, olhará a primeira folha, a página central e a final, lendo somente algumas palavras, e saberá todo o conteúdo do mesmo”.
 “O senhor vê caminhar todo tipo de pessoas pela rua; essa gente não sabe porque caminha; o senhor o saberá”.
Suas instruções diárias eram a de elevar-se sem cessar para Deus, acrescentar continuamente as virtudes e trabalhar pelo bem geral.
Esse abade conta que um dia, enquanto rogava a Deus para que o socorresse em suas tremendas lutas internas, ouviu a voz de seu Mestre, falecido dois anos antes, e ao olhar na direção em que saía a voz, viu Martinez de Pasqualis em companhia dos pais do abade, falecidos havia vários anos – uma irmã – falecida há 20 anos atrás – e de um ser que não pertencia ao gênero humano. Poucos dias depois, viu Jesus Cristo crucificado, visão que mais tarde se repetiu, mas saindo vivo do sepulcro, até que na terceira oportunidade, apareceu novamente Jesus glorioso e triunfador do mundo, caminhando diante dele com a Virgem Maria, e várias pessoas.
Suas visões continuaram, mas, pela incredulidade e burla de seus contemporâneos, guardou silêncio.
Ao estalar a revolução de 1789, Cazotte professava os mesmos princípios que a provocaram, porém, em sua maior pureza; por isso, os excessos posteriores provocaram nele vivos temores e, para combatê-los, imaginava mil meios que ao serem expressos, com a mesma sinceridade e expansão que dava a seu proselitismo religioso, provocaram sua primeira prisão, ao serem descobertas todas essas idéias na correspondência que trocava com um secretário da lista civil, chamado Ponteau.
Este ser extraiu grande proveito dos estudos ocultos da Ordem; Cazotte adquiriu especial apreço ao espiritualismo dos textos cristãos, ao Evangelho, sobretudo pela moral que continham.
M. d’Hauterive, grande amigo de Saint Martin, manteve em Lion, conjuntamente com este outro discípulo de De Pasqualis, três anos de estudos sobre astrologia, magnetismo, sonambulismo, sobre os signos e as idéias, o princípio e a origem das formas, as Santas Escrituras, etc.
A marquesa de La Croix foi também aluna destacada, desenvolveu disposições místicas que lhe permitiram conseguir um estado intermediário entre o êxtase e a visão.
De outro de seus discípulos, chamado Willemoz, conta-se que lhe apareceu o Mestre Martinez de Pasqualis, para avisá-lo que os revolucionários viriam tomar posse de todos os seus livros e ensinanças, que guardava em seu poder, o que lhe permitiu salvar, com um dia de antecedência, dois grandes baús, nos quais zelosamente Willemoz guardava a sabedoria, que mais tarde formaria a base das sociedades secretas, do espiritismo, etc.
Na chamada Escola do Norte, destacaram-se, entre outros membros, o príncipe de Hesse, o conde Bernastorff, a condessa de Reventlow e o célebre Lavater, que tanta fama adquiriria depois, na Suíça.
Estes dois últimos, Reventlow e Lavater, mais tarde renunciaram à escola, possivelmente influenciados pelo grande amigo de Saint Martin, o barão de Liebisdorf – seguindo a mística mais pura que Saint Martin preconizava e que o distinguiria de seu mestre Martinez de Pasqualis, cujas escolas eram , antes, de práticas teúrgicas.
Terminada sua missão na Europa, De Pasqualis embarcou rumo à ilha de Santo Domingo, falecendo em Porto Príncipe em 1779.
Os discípulos diretos de De Pasqualis seguiram com os trabalhos da Ordem até o ano de 1782, durante o qual os Martinistas fizeram uma aliança com a Ordem da Estrita Observância do barão de Hund; esta foi inspirada por Saint Martin, dirigida e organizada pelo barão de Hund, sendo os arquivos confiados para a criação do Rito Reformado, a J.B. Willemoz. Seguiram as negociações até 1789, quando foram cortadas devido à revolução.
Pode-se dizer de Martinez de Pasqualis: que foi como uma rajada de ar que varreu a Europa, preparando a Revolução Francesa, ao criar a mentalidade necessária para isso; e que foi o criador do tipo de sociedades secretas que logo haveriam de dedicar-se à política – como os Carbonários, na Itália; os Iluminados, na França e, mais tarde, as lojas que, como a Lautaro, trouxeram o fermento revolucionário à América, enquanto aquelas que fundou seu discípulo Saint Martin, depuraram o ritual e buscaram somente o conhecimento e a União Divina.


Ensinança 15: Saint Germain e os Rosacruzes

As Escolas Esotéricas, antes da Revolução Francesa, dividiram-se definitivamente em duas. As de tipo rosacruz completamente herméticas, partidárias do rei ungido, (monarquia), e as mais liberais, favorecedoras do movimento popular e do livre pensamento. Saint Germain é o último desses  místicos rosacruzes inacessíveis.
De físico medíocre, Saint Germain era, no entanto, muito sedutor, segundo disse Casanova, que se dizia, também era rosacruz. Descreve-o assim: “Era difícil falar melhor que ele. Tinha um tom decisivo, mas de natureza tão estudada que não desgostava. Era um sábio; falava perfeitamente a maioria dos idiomas, era grande músico, grande químico, de agradável figura, e um mestre para conseguir docilidade de todas as mulheres”.
Dono de idiomas, consumado violinista e clavecinista (Rameau ficou maravilhado ao escutá-lo), era da mesma forma, pintor, cujas cores tinham tal brilho, que Latour e Van Loo, pediram-lhe, amiúde e inutilmente, seu segredo.
Segundo se depreende das memórias da condessa de Adhémar, intituladas “Souvenirs de Marie Antoinette” (Paris, 1821) o conde Saint Germain – que havia prestado importantes serviços à França, em vida do rei Luis XV, e isto durante uns 20 anos, durante os quais atuou em diferentes cortes européias tão ativamente como na França – foi visto em ocasiões diferentes, depois de longas ausências, e sempre conservava o mesmo aspecto de um homem de uns 40 anos. A própria condessa relata que se sentiu extremamente impressionada em 1821, ao ver que ela era já uma anciã, e o conde conservava o mesmo aspecto de uns 40 anos de idade e a tez fresca e jovem como quando o viram pela primeira vez.
Grande alquimista, conhecia o procedimento para cristalizar artificialmente o carbono, pois, Iniciado que era, sabia da ciência que transmuta os metais.
Porém, vejamos o reverso da medalha. Parece que o conde não foi só um animador, sua ciência, sua sedução e seu poderio não serviam somente para maravilhar as pessoas. Ele retirava um proveito maior para um plano muito mais sério.
A França continuava, sob a sábia inspiração de Choiseul, a política de Luís XIV, que foi o primeiro a compreender o perigo da nascente Prússia. Ora, a Inglaterra era favorável à Prússia. Saint Germain se ocupava em influenciar o rei em favor do partido inglês e se ofereceu para negociar a paz com a Inglaterra. Luís XV, sem dúvida iluminado por Choiseul, compreendeu seu erro e desaprovou oficialmente seu agente. Mas era tão grande a influência de Saint Germain sobre o rei que, uma vez mais, foi escutado e empregado como espião.
Por que este grande senhor, diletante e alquimista, trabalhava para o rei da Prússia? Os próprios rosacruzes darão a resposta. O conde era rosacruz e esforçava-se para convencer o rei. Conta-se que, por causa da desaparição misteriosa do procurador de Chatelet ocorrida em 1700, Saint Germain deu ao chefe de polícia o segredo do enigma. Sob suas indicações, encontrou-se o cadáver. Nessa oportunidade haveria manifestado ao rei: “Fazei-vos rosacruz e responderei às vossas perguntas de como pude resolver este assunto”. Se isto houvesse sido feito salvar-se-ia a coroa da França, e o rei seria Rei Iniciado.
Sendo rosacruz, tem informações sobre cem assuntos diferentes, o segredo da pedra filosofal e receitas de alquimia. Mas sendo rosacruz deve obedecer a seus chefes.
Saint Germain se assusta com o desenrolar dos fatos e os prediz dia a dia, com a certeza daquele que está entre os bastidores. Maria Antonieta foi prevenida, da mesma forma que o rei. Saint Germain tentou, com seus conselhos não escutados, destruir aqueles que os cortesãos (entre eles Maurepas) davam ao rei – conselhos que deviam produzir (como produziram) os fatos de 1793 e a época do terror sangrento em que a França se viu envolvida. Vista esta época de terror através do tempo, pode-se crer que foi uma coisa necessária para que, passando por essa prova dolorosa, fosse a nova França na qual imperassem – ou tentassem imperar – os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas não foi exatamente assim. Se foi uma coisa absolutamente necessária, foi tão somente no último momento do reinado de Luís XVI, pelo estado especial que as coisas haviam chegado, já não havendo outra solução. Mas, se o rei houvesse escutado os conselhos de Saint Germain, anos atrás, toda essa mudança social que a França tinha carmicamente que efetuar, haver-se-ia levado a cabo por meio de uma inteligente evolução, e não por meio de uma violenta revolução.
Dizem os rosacruzes que dentro de algum tempo voltará o conde à vida pública na Europa, ainda que não se saiba com que nome ou aspecto, e que atualmente vive em corpo físico, num castelo da Hungria.
O rosacruz Charles Webster Leadbeater relata havê-lo encontrado no Corso de Roma no ano 1901, e falaram naquela ocasião mais de uma hora no parque Pinciano. Afirmam que este Iniciado se ocupa da situação política da Europa e que tem a seu cargo, movimentos espiritualistas no mundo, que se desenvolvem em uma atividade cerimonial, como a Maçonaria e, muito especialmente, a Co-Maçonaria ou Maçonaria Mista Escocesa que, espalhada por todo mundo, tem sua sede em Paris com o título distintivo de “O Direito Humano”, e que não se deve confundir com a pseudo-Maçonaria chamada de Adoção.


Ensinança 16: A Revolução Francesa e as Lojas Liberais
                        

Na França, apesar das diversas proibições, a Maçonaria e suas reuniões secretas já haviam aumentado notavelmente durante a primeira metade do século XVIII.
Dividiam-se em diversas lojas. Em Paris, havia várias florescentes; a Estrela Polar, os Irmãos Artistas, a Reunião dos Estrangeiros e outras. Em todas, estudavam-se as ciências antigas, cultivava-se a filosofia, discutia-se sobre problemas físicos e morais, e praticava-se um cristianismo evangélico.
Outros ritos e formas de Maçonaria se haviam difundido rapidamente pela França e outros países até 1700.
Martinez de Pasqualis havia passado pela França de 1767 a 1771 como um meteoro, deixando atrás de si uma infinidade de fundações de caráter puramente ocultista: Rito dos Eleitos Cohen, chamados Martinistas, e que se dividiram depois em dois ramos: os Teurgos, dirigidos por Willemoz e os Místicos, dirigidos pelo conde de Saint Martin, ambos discípulos de De Pasqualis.
Um pouco mais tarde, em 1781, Cagliostro fundou a Maçonaria do Rito Egípcio, admitindo nela as mulheres.
Em Paris, também havia a loja maçônica feminina: O Condor, ramo de adoção, fundado em 1775, dirigido pela duquesa de Bourbon, o qual se dedicava a obras de beneficência. A ela aderiram as mais prestigiosas damas da corte, desde a princesa de Lamballe e a condessa de Polignac até a própria imperatriz Josefina, que ingressou em 1804.
Os nobres e os sábios entravam em massa nestas diferentes lojas, apesar dos vetos da lei e da excomunhão da Igreja Romana. Em outros estados, às vezes eram dirigidas pelos próprios príncipes e, Frederico, o Grande, da Prússia era um deles. As finalidades destas reuniões eram, além do estudo das filosofias, o estudo dos mistérios da Cabala e da Bíblia, as investigações físicas e teóricas alquimistas, e também havia quem se dedicasse ativamente aos assuntos sociais.
Foi nessas lojas da França, onde os sábios e os nobres idearam a Revolução Francesa, que seria executada a Canalha do Terror, em 1793.
Em todo século XVIII, Paris já será o centro desta estranha atividade, ao mesmo tempo oculta e política. Ver-se-ão homens, como Cagliostro, chegarem da Alemanha – onde abundam as seitas maçônicas e trabalham como irmãos – como se o golpe, que deveria ser fatal à antiga ordem, devesse ser levado a Paris – ali, aonde vão e vêm os personagens misteriosos que assombram o mundo por sua ciência secreta, curam enfermos, semeiam o ouro e os diamantes, têm depois conciliábulos com o rei, os ministros, os cardeais e as rainhas, desaparecem, morrem, reaparecem e nos fazem recordar que a Rosacruz preconiza, para sua ação, os meios mágicos, o emprego da pedra filosofal (ao que parece, outorga-se somente aos rosacruzes de segundo grau, como Cagliostro), o dom de idiomas, a obrigação de trocar de país, de nome, de costume, e ainda, de fingir uma morte. Sua ação será assim considerável e todos atuam sutilmente em um sentido bem definido.
A figura de Saint Germain aparece em primeiro plano nos prolegômenos da Revolução Francesa. Sua missão parece haver sido a de dar aos enciclopedistas uma base para a renovação das idéias e das leis, além de salvar a monarquia francesa, vigiando de perto todo o processo de sua queda, esperando sempre uma oportunidade de salvação; mas as circunstâncias não lhe foram propícias, e somente pode continuar com sua missão consoladora de conselheiro.
Todas estas agrupações tendiam, como se viu, para um mesmo fim: a cultura da mente e do espírito, mas, socialmente, haviam-se estabelecido duas correntes fundamentalmente diferentes.
A Maçonaria contemporânea, as divisões do Martinismo e o Rito de Cagliostro tendiam à fórmula constitucional, à liberdade e à nivelação de todos os seres. E essas agrupações atuavam, transformadas, em diversos países, com diferentes nomes: Carbonários, na Itália; Caçadores, no Canadá; Lautaros, aqui na América do Sul, sendo o centro de liberdade dos povos.
Mas, dedicando-se aos problemas da vida, afastaram-se demasiadamente, daqueles do Espírito e, por último, a própria Maçonaria passou do liberalismo ao nacionalismo positivista e dali ao materialismo. A árvore havia dado seu glorioso fruto de liberdade e podia morrer.
Mas outras Escolas Esotéricas queriam manter o antigo espírito do individualismo seleto, da superioridade das atividades espirituais sobre as materiais, da herança dos reis e sacerdotes iniciados. Desejavam reviver e seguir as tradições dos Cavalheiros Templários, e Saint Germain inspirava estes grupos.
Em Paris, os Maçons se chamavam Amigos Reunidos, e haviam selecionado entre eles um grupo chamado os Fileleteus (buscadores da verdade).
Por isso, Cagliostro se negava a assistir à Convenção Maçônica de Paris, reunida em 1775, se antes não queimassem todos os escritos dos Amigos Reunidos.
Estes, inspirados por Saint Germain, dedicaram-se a uma severa reforma. Foi aquela que dirigiu o barão de Hund, fundando em 1751 a Ordem da Estrita Observância. À sua morte, sucedeu-lhe o duque Fernando de Brunswick, íntimo amigo do conde.
Vejamos, finalmente, uma figura que sai do livro da história do século XVIII com sua fina silhueta, emoldurada dentro dos trajes amplos e faustosos do estilo Pompadour, com seu picaresco sorriso acentuado pela peruca empoada e pelas pintas feitas no rosto, para apresentar-nos sua esquecida personalidade: a condessa de Adhémar.
Existem figuras que desempenharam papéis de grande importância para a humanidade, que unicamente aparecem entre sombras e esquecimentos. Quase inadvertidas, entram no cenário do mundo em um momento determinado, levando nas mãos uma lâmpada com a qual iluminam um grande acontecimento, e desaparecem depois, caladamente, como vieram. Existem almas que tiveram a missão característica de educar, amar, estimular, orientar ou trabalhar interiormente em uma Grande Obra, que outros levaram a feliz termo. Uma destas foi a condessa de Adhémar.
 Como foi dito, pouco se sabe dela. O conde de Adhémar desempenhou diversos cargos de importância em diversas cortes européias – entre eles, o de uma embaixada à corte da Inglaterra – e, a toda a parte, sua esposa o acompanha.
Mas o que não se sabe é o verdadeiro caráter, a real orientação interior da condessa; e o que se acreditou saber é, em sua maior parte, reflexo de suposições.
Mas um fato indiscutível ilumina esta vida: foi amiga do conde de Saint Germain, ao qual chamava em tom, entre frívolo e respeitoso: o homem dos milagres. Ela não havia seguido a tendência democrática dos nobres da corte – que, em tropel haviam entrado na maçonaria – e era acérrima inimiga das novas idéias e, por isso, muito estimada, mas não favorecida pela rainha Maria Antonieta. Como o conde de Saint Germain e o barão de Hund, era fervente católica (estes não desejavam se afastar da igreja, já que queriam restabelecer a antiga Ordem dos Templários).
Logicamente, nunca pode dar-se conta das altas finalidades de Saint Germain, que não somente desejava salvar o trono da França do grande desastre, mas caminhava pelas cortes da Europa, buscando o rei que poderia ser Rei Iniciado dos Estados Unidos da Europa, rei de reis.
Em seu caráter um pouco frívolo e um pouco crédulo, a condessa se viu envolvida nos projetos do conde, sem se dar conta, exatamente, do papel que desempenhava, mas isto não foi mais que uma idealização de uma idade de ouro impossível.
A Revolução e o povo ganham a França e, paulatinamente, o mundo. Estes grandes seres desaparecem nas sombras.
A condessa de Adhémar, já idosa, não se pode mover em sua poltrona. Um estranho visitante entrou em seu aposento.
Seus olhos cansados e semicegos não distinguem nas sombras, mas como entre um sonho vê seu visitante: é o conde de Saint Germain, sempre com o porte aristocrático, com o aspecto juvenil de toda sua vida. Ela estremece. Sabe bem o que ele profetizou. Sabe que esta é a sexta e última vez que o vê, e que se aproxima seu fim.
 “E, então?”... a condessa começa com sua voz trêmula.
 “Então”, segue o conde, “terminamos. Fracassamos”.  
 “Fracassamos? Os Bourbon voltaram e a França parece redimir-se!”
Ele ri... Não olha a França; olha o porvir e o mundo, esse formoso século de liberdade que tem pela frente. Todas as bandeiras flamejam ao sol dos magos dos povos.
 “Não condessa; nós terminamos. O Rei Iniciado morreu. Eu volto para minha terra (melhor dito: “meu céu”) e minha corte me acompanha. Vim buscá-la”.
Enquanto flamejam, ao sol de maio, as bandeiras desse século libertador de povos, o antigo Iniciado, seguido dos seus, afasta-se em direção à sua terra de promissão, seu céu.

INDICE:

Ensinança 1: As Lendas das Ordens Esotéricas
Ensinança 2: A Sabedoria Árabe Esotérica e a Mulher Velada

Ensinança 3: O Antigo Egito
Ensinança 4: O Templo da Iniciação
Ensinança 5: Amon nas Escolas Helênicas
Ensinança 6: O Rei Artur, o Santo Graal,  a Távola Redonda e seus Cavalheiros
Ensinança 7: Antigos Cerimoniais Iniciáticos dos Cavalheiros
Ensinança 8: O Cavalheiro da Eternidade                
Ensinança 9: As Provas Iniciáticas
Ensinança 10: As Ordens Militares Cristãs

Ensinança 11: A Corte de Catarina de Médicis
Ensinança 12: Os Oráculos Astrológicos

Ensinança 13: A Magia Ciencista
Ensinança 14: O Martinismo
Ensinança 15: Saint Germain e os Rosacruzes
Ensinança 16: A Revolução Francesa e as Lojas Liberais

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